Posted on

Como ser eficiente na avaliação cardíaca fetal e na detecção de cardiopatias?

Entenda como realizar uma avaliação cardíaca fetal eficiente do coração e evitar erros ao passar um diagnóstico de cardiopatia indevidamente. Boa leitura!

As cardiopatias congênitas são condições de grande importância na avaliação da vida intrauterina. Ela auxilia no planejamento da via de parto e acompanhamento materno durante a gestação. Saber oferecer um diagnóstico de qualidade é fundamental para o binômio durante a gestação.

Importância da avaliação cardíaca fetal

A avaliação cardíaca pré-natal é de fundamental importância no monitoramento do diagnóstico de uma possível cardiopatia congênita. Esse diagnóstico precoce oferece aos pais a oportunidade de: 

  • Informações prognósticas antes do nascimento;
  • Conhecer opções de tratamento para seus filhos antes e depois do nascimento;
  • Tomada de decisões de manejo para o melhor à família, como interrupção da gestação ou intervenção in utero, caso possível;
  • Preparar a família para possíveis necessidades, como local do parto e cuidados pós natais. 

Ainda, essa identificação promove o encaminhamento do binômio para um centro especializado. 

Recém-nascidos portadores de anomalias cardíacas congênitas que necessitam da perviedade do canal arterial para garantir o fluxo sanguíneo pulmonar ou sistêmico podem ser beneficiados por intervenções pós-natais precoces, como a administração de prostaglandina E1, com o intuito de evitar o fechamento prematuro do canal. 

Da mesma forma, a prontidão para procedimentos de intervenção transcateter, como a septostomia atrial por meio de balão em neonatos com d-transposição das grandes artérias (TGA) ou síndrome do coração esquerdo hipoplásico (HLHS), pode facilitar a rápida estabilização da circulação no período pós-natal.

Além disso, a valvuloplastia por balão em pacientes com estenose pulmonar ou aórtica crítica oferece uma opção terapêutica importante.

Similarmente, a estimulação imediata em caso de bloqueio cardíaco completo logo após o nascimento também desempenha um papel crucial na busca pela estabilidade circulatória.

Todas essas intervenções mencionadas podem contribuir significativamente para melhorar o desfecho clínico dos recém-nascidos afetados por essas condições cardíacas congênitas.

Técnicas de avaliação cardíaca fetal 

A idade gestacional ideal para a triagem das cardiopatias congênitas estruturais é da 18ª a 22ª semana de gestação. 

Nessa fase, a anatomia cardíaca pode ser bem visualizada. Assim, uma pesquisa completa por meio de ecocardiograma enquanto a viabilidade pós-natal pode ser estimada. Nesse caso, é possível identificar: 

  • Arritmias fetais;
  • Miocardite/cardiomiopatia;
  • Insuficiência cardíaca;
  • Obstrução valvar;
  • Tumores cardíacos. 

Segundo estudos multicêntricos, triagens do primeiro trimestre são capazes de detectar cerca de 64% de todas as principais anomalias cardíacas no pré-natal. 

Leia também: como fazer o diagnóstico de restrição de crescimento intrauterino?

Identificação da anatomia anormal

A avaliação cardíaca fetal padrão inclui a avaliação das quatro câmaras e tratos de saída ventriculares, os três vasos e traqueia. A visualização padrão de quatro câmaras pode ser obtida em 95 a 98 por cento das gestações no segundo trimestre. 

Essa avaliação completa favorece a identificar anomalias conotruncais como tetralogia de Fallot, transposição de grandes artérias, dupla via de saúde do ventrículo direito e truncus arteriosus. Essa prática está em conformidade com a Sociedade Internacional de Ultrassom em Obstetrícia e Ginecologia.  

Coração fetal com visão de quatro câmaras. Fonte: Cortesia de Joshua Copel, MD.
quatro-camaras.jpg

As imagens cardíacas fetais devem ser sempre realizadas com a mais alta frequência, permitindo uma maximização da resolução da imagem e taxa de quadros, sendo de preferência > 50 Hz. devido ao movimento rápido do coração, que normalmente bate de 110 a 160 batimentos por minuto. 

Visão de três vasos do coração fetal. VCS: veia cava superior; Arco Ao: arco aórtico; MPA: artéria pulmonar principal. Fonte: Cortesia de Joshua Copel, MD.

Ecocardiografia fetal: quais são as indicações?

A ecocardiografia fetal é indicada principalmente para fetos com maior risco de doença cardíaca congênita ou com suspeita de anormalidade na ultrassonografia cardíaca de rotina

Por isso, esse rastreio não é indicado quando o risco de anormalidade cardíaca não é maior que o risco basal da população (≤1 por cento). 

A American Heart Association, a American Society of Echocardiography e a Pediatric and Congenital Electrophysiology Society recomendam que os ultrassonografistas não sejam despreocupados com pequenas alterações em ultrassonografias de rotina. Sendo assim, é importante que o limite para detecção de anomalias cardíacas seja criterioso. 

Perfil de alto risco

O perfil considerado alto risco para (risco absoluto estimado > 2%) incluem:

  1. Diabetes mellitus pré-gestacional (pré-existente) materno ou diabetes mellitus diagnosticado no primeiro trimestre;
  2. Fenilcetonúria materna (descontrolada);
  3. Autoanticorpos maternos (SSA/SSB), especialmente se um filho anterior teve doença cardíaca relacionada ao quadro. 
  4. Uso de teratogênicos cardíacos, como IECA;
  5. Infecção por rubéola no primeiro trimestre;
  6. Suspeita de miocardite fetal;
  7. Gravidez por fertilização in vitro;
  8. Histórico familiar de DCC;
  9. Suspeita de anormalidade fetal não cardíaca importante em exame ultrassonográfico obstétrico padrão;

Translucência nucal fetal > percentil 95  (ou ≥3 mm) na ultrassonografia do primeiro trimestre.

Doppler colorido, Doppler pulsado, imagem em 3D/4D

Segundo uma declaração científica da American Heart Association (Diagnosis and Treatment of Fetal Cardiac Disease | DOI: 10.1161/01.cir.0000437597.44550.5d), um ecocardiograma fetal deve incluir: 

  • Visualizações das quatro câmaras, vias de saída dos ventrívulos E e D, três vasos e traqueia;
  • Aorta;
  • Arco ductal;
  • Veias cavas superior e inferior;
  • Eixo curto e longo;
  • Estudos com Doppler colorido e pulsado;
  • Modo M para avaliação de veias principais, válvulas, frequência e ritmo. 

Pensando nisso, os sistemas utilizados para realização de ultrassonografia fetal devem incluir imagens bidimensionais, modo M e Doppler. 

O Doppler Pulsado utiliza um transdutor (uma espécie de sonda) que emite ondas sonoras de frequência conhecida na direção do fluxo sanguíneo. Quando essas ondas sonoras atingem os glóbulos vermelhos em movimento, ocorre o efeito doppler, resultando em um desvio na frequência das ondas sonoras refletidas. Com base nesse desvio de frequência, o aparelho de ultrassom é capaz de calcular a velocidade do fluxo sanguíneo.

O uso do Doppler permite identificar fluxos sanguíneos anormais, como estenoses (estreitamentos) ou regurgitações (fluxo retrógrado) em válvulas cardíacas, além de outras anomalias, como comunicação entre os átrios ou ventrículos.

A tecnologia 4D é uma técnica relativamente recente, mas demonstrou grande utilidade na identificação de anomalias cardíacas em estágios precoces. Com ela é possível avaliar de forma mais minuciosa as câmaras, válvulas e vasos sanguíneos, bem como o fluxo sanguíneo. 

A visualização tridimensional em tempo real permite que os médicos observem a dinâmica do coração do feto, incluindo o movimento das válvulas e das câmaras cardíacas. Isso pode ser útil para avaliar a função cardíaca e identificar possíveis anomalias na contração. A recomendação é que seja realizada entre a 26ª e 30ª semana. 

Sinais de alerta na avaliação cardíaca fetal 

A avaliação de fluxos sanguíneos e ritmo cardíaco é realizada por meio de ultrassom e é especialmente útil para identificar anomalias cardíacas congênitas antes do nascimento. 

Durante a ecocardiografia fetal, a avaliação dos fluxos sanguíneos e do ritmo cardíaco é uma parte essencial do exame para detectar qualquer problema potencial e acompanhar o desenvolvimento cardíaco do feto.

Alguns aspectos importantes dessa avaliação são: 

  1. Doppler colorido e pulsado;
  2. Avaliação de anomalias cardíacas;
  3. Avaliação do ritmo cardíaco;
  4. Monitoramento e acompanhamento;
  5. Tomada de decisão e planejamento. 

Quanto à avaliação do ritmo cardíaco fetal sabe-se que ele é mais rápido do que o de um adulto. Por isso, mudanças de ritmo como bradicardia ou taquicardia podem indicar problemas ou até mesmo sofrimento fetal. 

Em gestações de alto risco, nas quais existem suspeitas de anomalias cardíacas, a investigação de históricos familiares de doenças congênitas é importante. Por isso, monitorar o feto durante seu desenvolvimento intrauterino e nas principais semanas de detecção de doenças congênitas faz parte dessa triagem. 

Com base nas informações obtidas por meio da ecocardiografia fetal, os médicos podem planejar o parto, o tratamento pós-natal e outras intervenções necessárias para cuidar de um bebê com uma anomalia cardíaca congênita.

Leia também: como é feito o rastreamento de prematuridade?

Principais cardiopatias

As principais cardiopatias congênitas que podem ser identificadas pelas triagens de exames de imagem são: 

  1. Comunicação interauricolar (CIA) e comunicação interventricular (CIV);
  2. Tetralogia de Fallot;
  3. Transposição de grandes artérias (TGA);
  4. Estenose aórtica e pulmonar;
  5. Persistência do canal arterial (PCA);
  6. Coarctação de aorta;
  7. Síndrome de hipoplasia do coração esquerdo (SHCE);
  8. Atresia tricúspide;
  9. Síndrome de Turner;
  10. Anomalias da valva mitral e aórtica. 

Tetralogia de Fallot

A Tetralogia de Fallot é a doença coronariana congênita cianótica mais comum, com uma estimativa de 0,5 a cada 1.000 nascimentos. Sobre o diagnóstico e repercussões cardíacas aos exames de imagem, identificamos a estenose pulmonar, hipertrofia ventricular direita, desvio do septo ventricular e aorta sobreposta

Abaixo vemos uma ilustração da anatomia cardíaca na tetralogia de Fallot, com uma estenose pulmonar e uma comunicação interventricular. 

Anatomia da tetralogia de Fallot. Fonte: Altman, 2023.

Tetralogia de Fallot à ecocardiografia

Melhorias na detecção intrauterina precoce de cardiopatias 

As melhorias no diagnóstico precoce das cardiopatias congênitas têm sido objeto de estudo e pesquisas importantes nos últimos anos.

Muitos países têm implementado programas de rastreamento obrigatório para anomalias cardíacas congênitas em fetos. Isso envolve a realização de ecocardiografias em todas as gestações, independentemente do histórico familiar ou de outros fatores de risco. Isso ajuda a identificar até mesmo casos de cardiopatias leves que podem ser tratados eficazmente após o nascimento.

Pesquisas têm explorado a identificação de marcadores no sangue materno que possam estar associados a anomalias cardíacas no feto. Esses marcadores podem ser detectados em testes de triagem pré-natal, permitindo uma avaliação mais precisa do risco de cardiopatias congênitas.

Curso de atualização em Ecocardiografia e Cardiologia Fetal

Descubra uma oportunidade única de aprimorar suas habilidades e conhecimentos na área da cardiologia fetal e ecocardiografia! O curso Atualização em Ecocardiografia e Cardiologia Fetal do Cetrus oferece um programa abrangente e atualizado, ministrado por especialistas de destaque nesse campo. 

Este curso dinâmico fornecerá insights profundos sobre as mais recentes técnicas de imagem, diagnóstico precoce de cardiopatias congênitas e estratégias avançadas de cuidados pré-natais. 

Junte-se a uma rede de profissionais de saúde apaixonados e prepare-se para oferecer um cuidado excepcional aos pacientes pediátricos e suas famílias. Não perca essa chance de aprimorar sua carreira na cardiologia fetal. Inscreva-se agora no curso da Cetrus e leve sua expertise a um nível superior!

Referências 

  1. Congenital heart disease: Prenatal screening, diagnosis, and management. Joshua Copel, MD. UpToDate
  2. Identifying newborns with critical congenital heart disease. Carolyn A Altman, MD. UpToDate

Sugestão de conteúdo complementar

Aproveite para assistir também o vídeo explicativo de como fazer a avaliação cardíaca fetal: