Posted on

Disfunção sexual: como conduzir clinicamente o climatério?

Aprenda a conduzir clinicamente a disfunção sexual pelo climatério nas pacientes de consultório e ambulatório que apresentam essa condição atual. Boa leitura! 

A essência multifatorial da sexualidade humana já é fato conhecido, incluindo questões psicológicas, biológicas, relacionais e socioculturais, principalmente quando pensamos em mulheres. 

Embora haja uma tendência de inferir que após a menopausa haja uma perda de interesse pelo sexo, este âmbito continua sendo um elemento importante para muitas mulheres na terceira idade. 

Mas algumas barreiras as impedem de buscar ajuda para esses problemas. Frequentemente envolvem inadequação e falhas por parte dos profissionais de saúde, como falta de tempo, escassez de conhecimento específico, preocupações com a própria confiança e habilidades, abordagem algumas vezes ofensiva, desconforto pessoal e estereótipos sobre a falta de necessidades sexuais e comportamentos adequados à idade.

O que é climatério?

O climatério é um estágio fisiológico na vida de uma mulher que marca a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. 

Esse período é caracterizado pela diminuição progressiva da função ovariana, levando a alterações hormonais significativas, principalmente a redução dos níveis de estrógeno. 

Climatério versus Menopausa

A menopausa é o ponto específico no tempo em que uma mulher não menstrua por um período contínuo de pelo menos 12 meses. Ela marca o fim da fase reprodutiva. 

De maneira geral, a menopausa ocorre por volta dos 45 a 55 anos, mas pode variar de mulher para mulher. Após a menopausa, os níveis hormonais se estabilizam em um novo patamar, com níveis muito baixos de estrogênio e progesterona. 

É importante ressaltar que o climatério não é um evento pontual, mas um processo gradual que se estende desde o período pré-menopausa até alguns anos após a menopausa, marcada pela interrupção definitiva da menstruação por pelo menos 12 meses consecutivos.

Durante o climatério, há uma diminuição na produção de estrógeno pelos folículos ovarianos, levando a uma série de sintomas, como irregularidades menstruais, fogachos (ondas de calor), alterações no padrão de sono, atrofia urogenital, alterações no humor e alterações na função sexual. Essas manifestações são resultado direto das alterações hormonais que afetam o sistema neuroendócrino e outras vias metabólicas.

A transição do climatério pode impactar significativamente a qualidade de vida da mulher, sendo fundamental uma abordagem multidisciplinar para o manejo adequado dos sintomas e das questões médicas associadas a essa fase.

Leia também: Reposição de testosterona em mulheres: orientações para médicos sobre o tratamento

Resposta sexual ao climatério

O impacto da idade na função sexual feminina é um tema complexo, pois a distinção entre os efeitos da idade em si, da menopausa e das mudanças associadas ao envelhecimento é desafiadora.

Estudos como o PRESIDE destacam essa complexidade: enquanto todos os problemas sexuais aumentam com a idade, a prevalência de problemas sexuais que causam angústia foi mais alta em mulheres entre 45 e 64 anos (15%) e mais baixa naquelas com 65 anos ou mais (9%), com uma taxa intermediária para mulheres entre 18 e 44 anos (11%).

A menopausa está estreitamente ligada à idade e parece influenciar a ocorrência de diferentes disfunções sexuais. Por exemplo, o ressecamento vaginal e a dispareunia aumentam após a menopausa, principalmente devido à diminuição dos níveis de estrogênio nos tecidos vaginais. Mulheres na pós-menopausa também são mais propensas a relatar baixo desejo ou excitação.

Além disso, a menopausa cirúrgica, em contraste com a natural, pode resultar em maior comprometimento da função sexual. Estudos indicam associações entre a menopausa cirúrgica e problemas como diminuição da excitação e dificuldades orgásmicas, especialmente quando há remoção dos ovários. 

Não apenas as alterações hormonais, mas também os sintomas da menopausa, como suores noturnos, distúrbios do sono e alterações de humor, podem influenciar negativamente a libido. Além disso, mudanças na vida que ocorrem nesse período também podem substituir o efeito das alterações hormonais, como indicado por estudos que destacam a menor influência da menopausa na função sexual em comparação com fatores como saúde geral, saúde mental ou a presença de um novo parceiro.

A realidade é que a relação entre idade, menopausa e função sexual feminina é multifacetada. Estudos destacam que fatores hormonais, sintomas da menopausa, mudanças na vida e outros elementos contribuem para a complexidade das disfunções sexuais em mulheres mais velhas.

Diagnóstico diferencial do climatério e outras disfunções sexuais

Diagnosticar disfunções sexuais durante o climatério exige uma abordagem cuidadosa para distinguir entre os sintomas relacionados ao climatério e outras disfunções sexuais independentes desse período. 

Para isso, é essencial realizar uma análise detalhada da história clínica, considerando a: 

  • Natureza dos sintomas;
  • Sua duração;
  • Gravidade;
  • Fatores desencadeantes. 

O exame físico é fundamental para identificar possíveis causas físicas, como atrofia genital, infecções ou condições médicas subjacentes. Além disso, uma avaliação psicológica pode ser necessária, já que fatores emocionais como estresse, ansiedade, depressão ou histórico de trauma podem influenciar as disfunções sexuais.

Excluir outras condições médicas preexistentes que afetam a função sexual, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares ou distúrbios endócrinos, também é parte integrante do diagnóstico diferencial. Em certos casos, exames laboratoriais para avaliar os níveis hormonais podem ser úteis para determinar se as mudanças hormonais associadas ao climatério contribuem para a disfunção sexual.

A utilização de questionários e escalas validadas pode oferecer uma avaliação mais objetiva da função sexual, auxiliando na diferenciação entre sintomas do climatério e disfunções sexuais específicas.

Em situações complexas, uma abordagem multidisciplinar com ginecologistas, endocrinologistas, psicólogos ou terapeutas sexuais pode ser necessária para uma avaliação completa e um tratamento mais direcionado.

Ainda, é crucial investigar minuciosamente para garantir que outras condições médicas ou fatores psicológicos não estejam contribuindo para as disfunções sexuais, permitindo, assim, um tratamento mais preciso e eficaz.

Saiba também: Reprodução assistida: o que preciso saber?

Opções terapêuticas para gerenciar a disfunção sexual no climatério

No gerenciamento da disfunção sexual durante o climatério, diversas opções terapêuticas são consideradas para ajudar as mulheres a lidar com os sintomas associados a essa fase de transição. 

Terapia hormonal na disfunção sexual no climatério

Uma das abordagens frequentemente consideradas é a terapia hormonal, que pode incluir o uso de estrogênio ou estrogênio combinado com progesterona. Essa terapia pode ajudar a aliviar os sintomas vaginais, como ressecamento vaginal e dor durante o sexo, além de auxiliar na restauração da saúde vaginal.

É importante a atenção acerca da janela de benefício da administração da reposição hormonal. Segundo a Febrasgo, após 15 a 20 anos decorridos de menopausa a reposição passa a deixar de ser protetora para ser de risco. 

As 3 indicações principais para a realização da reposição hormonal são para prevenção do seguinte: 

  • Sintomas sistêmicos decorrentes da menopausa e falta de hormônios;
  • Manifestações urogenitais: ressecamento vaginal, dor na relação sexual, infecções vaginais de repetição. 
  • Osteoporose.

Medicações específicas para disfunção sexual

Em alguns casos, o uso de medicamentos específicos para tratar a disfunção sexual, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) ou os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (como o sildenafil), pode ser considerado para ajudar na resposta sexual. No entanto, é crucial discutir o uso desses medicamentos com um profissional de saúde, já que podem haver contraindicações ou efeitos colaterais associados.

A terapia física, como exercícios do assoalho pélvico, também pode ser recomendada para melhorar a resposta sexual e reduzir o desconforto associado à atividade sexual.

É importante ressaltar que a escolha da terapia depende das necessidades individuais de cada mulher, levando em consideração seus sintomas específicos, histórico médico e preferências pessoais. Portanto, uma abordagem individualizada, discutida em detalhes com um profissional de saúde, é essencial para encontrar a melhor opção terapêutica para gerenciar a disfunção sexual durante o climatério.

Terapia de fisioterapia com laser 

Para tratar várias condições ginecológicas, como atrofia vaginal, incontinência urinária e distúrbios do pigmento vulvar e vaginal, o uso do laser é uma opção de tratamento minimamente invasiva. 

O laser age estimulando a produção de colágeno e melhorando a circulação sanguínea na região vaginal. Esses efeitos contribuem para restaurar a elasticidade e a lubrificação vaginal, melhorando assim a saúde e a função sexual.

Na atrofia vaginal, observa-se que o tecido vaginal se torna menos elástico, fino e com menor lubrificação, frequentemente devido à diminuição dos níveis hormonais. O tratamento com laser atua estimulando a produção de colágeno nas camadas mais profundas da parede vaginal. 

Isso pode resultar em melhorias significativas na espessura e elasticidade do tecido, além de promover um aumento na lubrificação, revertendo os sintomas associados à atrofia. 

Por isso, é importante que você como médico esteja atualizado a respeito dessa possibilidade, mantendo um eixo de atuação juntamente a outros profissionais de saúde e sabendo quando encaminhar sua paciente. 

Caso clínico disfunção sexual no climatério

Maria, 52 anos, profissional autônoma. Procura atendimento médico relatando dificuldades recentes em sua vida sexual. Ela menciona diminuição acentuada da libido, dificuldade em atingir o orgasmo e desconforto durante a relação sexual, descrevendo a sensação de secura vaginal e dor leve.

História Clínica da paciente com disfunção sexual no climatério

Maria está na fase do climatério, relatando irregularidades menstruais nos últimos dois anos e a interrupção completa da menstruação há oito meses. 

Ela não possui histórico significativo de condições médicas crônicas, tabagismo, uso de medicamentos de rotina ou cirurgias ginecológicas prévias. Seu histórico emocional não inclui depressão ou ansiedade clinicamente diagnosticadas.

Exame Físico

Durante o exame especular, observa-se atrofia vaginal evidente, com mucosa vaginal fina e seca. Não há outras anormalidades físicas notáveis.

Avaliação Adicional

Exames laboratoriais revelam níveis hormonais consistentes com o climatério, com diminuição significativa dos níveis de estrogênio. Não são identificados sinais de infecções vaginais ou outras condições ginecológicas ativas.

Diagnóstico

Com base na história clínica, exame físico e avaliação laboratorial, o diagnóstico sugere atrofia vaginal devido à diminuição dos níveis hormonais durante o climatério, contribuindo para a disfunção sexual experimentada por Maria.

Plano de Tratamento

O tratamento inicial envolve a prescrição de terapia hormonal local (creme vaginal de estrogênio) para aliviar os sintomas de atrofia vaginal, melhorar a lubrificação e a espessura da mucosa vaginal. Além disso, Maria é orientada sobre o uso de lubrificantes vaginais durante a atividade sexual para ajudar a reduzir o desconforto.

Ela também é encaminhada para terapia sexual para discutir questões emocionais e psicológicas associadas à disfunção sexual, ajudando-a a superar barreiras psicológicas e melhorar a comunicação com o parceiro.

Pensando nisso, um acompanhamento regular é agendado para monitorar a resposta ao tratamento, ajustar a terapia conforme necessário e oferecer apoio contínuo.

Quer se capacitar em ginecologia e obstetrícia?

A ginecologia é uma especialidade médica focada na saúde do sistema reprodutivo feminino. Ela abrange o diagnóstico, tratamento e prevenção de condições ginecológicas, além de cuidar da saúde da mulher em diferentes fases da vida, da adolescência à menopausa.

Para oferecer o melhor atendimento para as pacientes e se destacar no mercado, é importante continuar se capacitando na área.

O Cetrus, Centro de Ensino Médico, oferece uma série de opções de pós-graduação e cursos intensivos. Quer saber mais? É só clicar no botão a seguir.

Referências 

  1. Overview of sexual dysfunction in females: epidemiology, risk factors and evaluation. Shifren et al., 2023. UpToDate
  2. Disfunções sexuais no climatério têm tratamento. Febrasgo

4 Replies to “Sexualidade na menopausa”

  1. Estou encantada com o conteúdo pois estou passando por tudo isso como tive quatro AVC o médico não aconselha reposição hormonal, gostaria muito de uma ajuda

  2. Muito bom o artigo, esse tema é pouco abordado pelos profissionais e muitas vezes as pacientes também têm vergonha de aborda-lo

Comments are closed.