A dor no ombro está entre as queixas musculoesqueléticas mais frequentes na prática clínica, e frequentemente está associada a alterações em tecidos moles, como entesopatias e bursites. Essas condições, embora distintas em sua fisiopatologia, compartilham o fato de comprometerem a função articular e reduzirem de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes. Nesse cenário, a ultrassonografia musculoesquelética tem se consolidado como um método diagnóstico de grande valor, pois permite uma análise detalhada das estruturas envolvidas, correlacionando achados morfológicos e funcionais em tempo real.
Além disso, apresenta vantagens como acessibilidade, ausência de radiação e possibilidade de guiar procedimentos terapêuticos, tornando-se ferramenta indispensável para ortopedistas, reumatologistas e radiologistas.
Indicações do exame
A ultrassonografia do ombro está indicada em uma ampla gama de situações clínicas. A dor crônica ou aguda é o principal motivo de encaminhamento, sobretudo quando há suspeita de inflamação nos tecidos moles periarticulares.
Entre as indicações mais comuns destacam-se:
- Dor persistente no ombro, especialmente em movimentos de abdução e rotação
- Limitação funcional associada a processos inflamatórios
- Suspeita de entesopatias em pacientes com doenças inflamatórias sistêmicas, como espondiloartrites
- Avaliação de bursites traumáticas ou inflamatórias, particularmente em pacientes com dor localizada e edema
- Monitoramento de resposta terapêutica após infiltração ou fisioterapia
- Diferenciação entre bursite, tendinopatia e rotura parcial dos tendões do manguito rotador.
A ultrassonografia também pode ser útil como guia para procedimentos intervencionistas, como infiltrações de corticosteroides e punções diagnósticas, aumentando a precisão e reduzindo complicações.
Anatomia ultrassonográfica do ombro
Para compreender os achados em entesopatias e bursites, torna-se necessário dominar a anatomia ultrassonográfica do ombro. Diferentemente da avaliação clínica, em que a interpretação depende de testes funcionais e da resposta dolorosa, a ultrassonografia oferece imagens de alta resolução que permitem visualizar de forma direta tendões, ligamentos, bursas e superfícies ósseas. O exame geralmente é realizado de forma sistematizada, percorrendo estruturas como o:
- Tendão do supraespinal
- Infraespinal
- Subescapular
- E a cabeça longa do bíceps.
Um dos pontos fortes do método é a possibilidade de examinar essas estruturas durante movimentos específicos, o que permite avaliar a estabilidade articular e a presença de conflitos mecânicos. Além disso, a análise das bursas periarticulares, em especial a bursa subacromial-subdeltóidea, oferece informações fundamentais em pacientes com dor ao elevar o braço. A ultrassonografia, portanto, não se limita a imagens estáticas, mas sim integra avaliação morfológica e dinâmica, o que aumenta a acurácia diagnóstica.
Achados em entesopatias
As entesopatias representam alterações na junção entre tendão ou ligamento e o osso. Elas podem decorrer de:
- Sobrecarga mecânica crônica
- Degeneração progressiva
- Ou processos inflamatórios sistêmicos.
No ombro, afetam com maior frequência a inserção dos tendões do manguito rotador, sobretudo o supraespinal.
Na ultrassonografia, diferentes padrões podem ser observados. O espessamento da inserção tendínea constitui achado comum, frequentemente acompanhado por hipoecogenicidade, que indica inflamação ou degeneração local. Em fases mais avançadas, surgem calcificações entesopáticas, cuja presença pode gerar dor intensa e limitações importantes. A ultrassonografia tem grande sensibilidade para identificar esses depósitos, mesmo quando ainda pequenos, o que permite diagnóstico precoce. Inclusive, recomenda-se aprofundar esse tema no estudo da tendinopatia calcária, condição intimamente relacionada às entesopatias do ombro.
Outro achado frequente é a irregularidade cortical ou presença de erosões ósseas na região de inserção, o que indica um processo inflamatório de maior duração, como ocorre em pacientes com artrite reumatoide ou espondiloartrite. O uso do Doppler colorido acrescenta informações funcionais, evidenciando hipervascularização local que traduz atividade inflamatória em curso. Esses sinais, avaliados em conjunto, ajudam o médico a diferenciar entre entesopatia ativa e alterações cicatriciais ou degenerativas crônicas.
Achados em bursites
A bursite do ombro, em especial a subacromial-subdeltóidea, constitui uma das causas mais comuns de dor nessa articulação. Frequentemente associada a movimentos repetitivos ou a sobrecarga mecânica, pode também ocorrer em consequência de traumas, infecções ou doenças inflamatórias sistêmicas.
Na ultrassonografia, a bursite manifesta-se por espessamento da parede da bursa, associado à presença de líquido anecoico ou hipoecoico em seu interior. Nos casos agudos, o líquido aparece mais homogêneo, enquanto nas formas crônicas observam-se debris ecogênicos ou sinovite, que tornam a estrutura mais heterogênea. Além disso, bursas inflamadas apresentam compressibilidade reduzida, o que pode ser avaliado dinamicamente durante o exame.
Outro aspecto relevante é a associação frequente entre bursite e tendinopatia do manguito rotador. Muitas vezes, o processo inflamatório da bursa representa consequência de atrito repetitivo entre o tendão e o arco coracoacromial. Por isso, a avaliação deve sempre ser integrada, permitindo identificar não apenas a bursite, mas também a causa subjacente. O Doppler colorido, mais uma vez, auxilia ao demonstrar hiperemia periférica em casos ativos, informação valiosa para definir condutas terapêuticas, como infiltrações guiadas por imagem.
Na imagem abaixo é possível observar:
- (A) Bursite subacromial-subdeltóidea aguda, com líquido distendendo a bursa e espessamento parietal/sinovial (seta)
- (B) Sinovite com hiperemia ao Doppler
- (C) Bursite pré-patelar, em corte sagital, com bursa superficial à patela distendida por líquido hipoecogênico (seta).
Vantagens da ultrassonografia sobre outros métodos
Embora a ressonância magnética seja considerada padrão-ouro em diversas situações musculoesqueléticas, a ultrassonografia oferece vantagens práticas que justificam sua ampla utilização. Primeiramente, trata-se de exame realizado em tempo real, o que possibilita a avaliação dinâmica da articulação e a correlação imediata entre achados de imagem e sintomas relatados pelo paciente. Essa característica aumenta a confiabilidade diagnóstica e contribui para a personalização da conduta.
Outro ponto fundamental é a alta resolução espacial. A ultrassonografia permite identificar alterações sutis, como microcalcificações ou fissuras tendíneas, que muitas vezes passam despercebidas em outros exames. Soma-se a isso a acessibilidade do método: por ser de menor custo e amplamente disponível, torna-se primeira opção em muitos serviços, especialmente quando há necessidade de reavaliações periódicas.
A segurança também merece destaque, pois a ultrassonografia não utiliza radiação ionizante, podendo ser repetida quantas vezes forem necessárias sem risco para o paciente. Além disso, o exame é interativo, permitindo que o médico correlacione diretamente a área de dor relatada com a imagem obtida. Por fim, a capacidade de guiar procedimentos, como infiltrações e punções, aumenta a precisão terapêutica e reduz complicações, o que potencializa ainda mais sua utilidade na prática clínica.
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A ultrassonografia musculoesquelética desempenha papel central na avaliação de entesopatias e bursites do ombro. Por meio dela, o médico obtém informações detalhadas sobre a morfologia das estruturas, a atividade inflamatória e a correlação funcional com os sintomas. O exame é rápido, seguro, acessível e capaz de guiar intervenções, configurando-se como método de escolha em muitos cenários clínicos.
Para os profissionais que buscam excelência diagnóstica, o domínio da ultrassonografia do ombro não se resume a interpretar imagens, mas envolve compreender a dinâmica articular, correlacionar achados e acompanhar a evolução dos pacientes. Dessa forma, investir em capacitação nessa área representa não apenas aprimoramento técnico, mas também melhoria significativa nos resultados clínicos.
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Referências bibliográficas
- Meleger, A. L. Overview of soft tissue musculoskeletal disorders. Disponível em UpToDate. Acesso em: 24 ago. 2025.
- Gillespie, H.; Kissin, E. Bursitis: Clinical manifestations, diagnosis, and management. Disponível em UpToDate. Acesso em: 24 ago. 2025.
- Molina, D. Heel pain in the active child or skeletally immature adolescent: Overview of causes. Disponível em UpToDate. Acesso em: 24 ago. 2025.






