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Reposição de testosterona em mulheres: orientações para médicos sobre indicações e tratamento

Aprenda sobre a reposição de testosterona em mulheres, quando indicá-la e como deve ser realizada a condução do tratamento na prática clínica.

A prescrição da reposição de testosterona em mulheres, conduzida com frequência de maneira off-label, destaca a relevância da familiaridade do médico com essa prática.

Neste contexto, é imperativo que os ginecologistas compreendam os benefícios e as indicações dessa intervenção, a fim de aprimorar suas habilidades na prestação de cuidados às pacientes em tratamento hormonal.

Em meio às complexidades inerentes à reposição de testosterona em mulheres, este artigo propõe-se a orientar os médicos, delineando as indicações e oferecendo detalhes sobre a condução do tratamento na prática clínica.

Papel da testosterona no organismo feminino

A testosterona tem um papel fundamental no organismo feminino, embora em quantidades menores do que nos homens. Nesse sentido, é evidente que as funções exercidas pela testosterona é diferente entre os homens e as mulheres.

Nas pacientes do sexo feminino, por exemplo, esse hormônio é produzido nos ovários e em pequenas quantidades nas glândulas adrenais.

Dessa maneira, a testosterona exerce funções essenciais para o desenvolvimento e a manutenção de diversos aspectos para a saúde da mulher, incluindo:

  • massa muscular;
  • densidade óssea;
  • força física;
  • produção de energia;
  • modulação do humor.

Além disso, a testosterona faz a regulação do desejo sexual e libido femininos, sendo um elemento essencial a ser considerado em abordagens terapêuticas de ginecologistas.

Produção da testosterona na menopausa

A produção de testosterona diminui de maneira gradual durante a menopausa, podendo levar a sintomas como:

  • diminuição do desejo sexual;
  • fadiga;
  • perda de massa muscular;
  • alterações de humor;
  • diminuição da densidade óssea.

Nos gráficos abaixo, é possível notar a queda na produção de hormônios androgênios ao longo da vida da mulher:

Gráfico indicando a produção de hormônios androgênios ao longo da vida de uma mulher.
Declínio na produção de hormônios androgênios ao longo da vida. Fonte: Zumoff B, Rosenfield RS, Strain GW, et al.

A reposição de testosterona em mulheres, entretanto, pode ajudar a aliviar esses sintomas, melhorando a qualidade de vida e o bem-estar geral.

Sendo assim, é importante avaliar de maneira cuidadosa os riscos e benefícios antes de iniciar qualquer terapia de reposição hormonal, considerando as necessidades individuais de cada paciente e acompanhando de perto qualquer intervenção terapêutica.

Leia também: Reposição hormonal em caso de hipotireoidismo

Níveis normais de testosterona em diferentes faixas etárias

Os níveis normais de testosterona em mulheres variam ao longo da vida e podem ser influenciados por vários fatores, como a idade.

Portanto, é crucial que os ginecologistas entendam as estimativas gerais dos níveis normais de testosterona em diferentes faixas etárias:

Crianças e adolescentes

Antes da puberdade, os níveis de testosterona em meninas são baixos, comparáveis aos de meninos pré-púberes. No entanto, há um aumento gradual nos níveis de testosterona durante a puberdade, contribuindo para o desenvolvimento sexual.

Mulheres adultas

Os níveis normais de testosterona em mulheres adultas são significativamente mais baixos do que nos homens. Nesse sentido, os níveis de testosterona total em mulheres adultas variam de cerca de 15 a 70 nanogramas por decilitro (ng/dL).

Mulheres pós-menopausa

Após a menopausa, há uma diminuição na produção de testosterona, podendo resultar em níveis abaixo de 10 ng/dL.

Entretanto, é importante considerar que os sintomas de deficiência de testosterona podem ser mais significativos em algumas mulheres, mesmo quando os níveis estão na faixa normal. Com efeito, o médico deve considerar o tratamento caso a caso, considerando os sintomas e a saúde geral da paciente.

Imagem representativa de médica ginecologista analisando níveis de testosterona em mulheres.
Saiba também: Tipos de DIU e o como identificar a melhor opção para cada paciente

Deficiência de testosterona em mulheres: identificando a causa na prática clínica

A deficiência de testosterona em mulheres pode ter diversas origens, desde processos naturais associados ao envelhecimento até condições médicas específicas.

A menopausa, por exemplo, caracteriza-se pela diminuição hormonal gradual, podendo desencadear sintomas que interferem na capacidade física e vida sexual da mulher. 

Cirurgias como histerectomias ou ovariectomias também impactam a produção hormonal, especialmente quando os ovários são removidos. Além disso, condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP) podem elevar os níveis de testosterona, causando desequilíbrios hormonais.

Outras condições médicas que influenciam os níveis de testosterona em mulheres incluem:

  • distúrbios na glândula pituitária;
  • doenças crônicas;
  • uso de medicamentos.

Contudo, alguns fatores de estilo de vida também influenciam os níveis de testosterona em mulheres, como estresse crônico, exercício intenso e obesidade.

Dessa maneira, a investigação da deficiência de testosterona requer uma abordagem holística, envolvendo histórico médico detalhado, exames físicos minuciosos e análises laboratoriais específicas.

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Avaliação da mulher com suspeita de baixa de testosterona

A avaliação de uma mulher com suspeita de baixa de testosterona envolve um processo meticuloso para compreender seus sintomas, histórico médico e realizar exames clínicos adequados.

Histórico médico e exame físico

Obter um histórico médico detalhado é crucial para entender os sintomas específicos relatados pela paciente. A princípio, informações relevantes para investigar a condição incluem:

  • histórico menstrual;
  • informações sobre a menopausa;
  • exames relacionados a condições médicas prévias;
  • detalhes sobre cirurgias realizadas;
  • medicações em uso;
  • histórico familiar.

Além disso, o exame físico permite uma avaliação minuciosa de manifestações físicas associadas à possível baixa de testosterona.

Indicações para exames laboratoriais

Por outro lado, exames laboratoriais são essenciais para confirmar a suspeita, incluindo a medição dos níveis de testosterona total e livre no sangue. Os exames também podem avaliar hormônios relacionados, como o hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH).

Esses resultados são interpretados considerando as faixas normais para a idade e gênero da paciente, bem como a análise dos sintomas apresentados.

Diagnóstico diferencial de baixa testosterona na mulher

É crucial realizar um diagnóstico diferencial de baixa testosterona na mulher, descartando outras condições médicas que possam causar sintomas semelhantes. Isso envolve avaliar condições como distúrbios da tireoide, anemia, depressão ou outras doenças que podem mimetizar os sintomas associados à baixa de testosterona.

Com base na análise dos resultados, sintomas e histórico médico, um plano de tratamento personalizado é desenvolvido, incluindo terapia de reposição hormonal ou outras intervenções para abordar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da paciente.

Além disso, o acompanhamento regular é fundamental para monitorar a eficácia do tratamento e fazer ajustes conforme necessário ao longo do tempo, uma vez que essa abordagem completa e individualizada oferece melhoria na prática clínica em ginecologia.

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Reposição de testosterona: quando indicar, benefícios e riscos associados 

Antes de iniciar a terapia com testosterona, recomenda-se uma avaliação abrangente dos Distúrbios do Desejo Sexual Feminino (FSD), considerando as múltiplas etiologias como:

  • desequilíbrios neuroendócrinos;
  • problemas de saúde física ou doença;
  • dificuldades interpessoais;
  • distúrbios psicológicos;
  • valores culturais ou religiosos repressivos.

Os tratamentos devem seguir um modelo biopsicossocial e podem envolver opções farmacológicas, terapias psicológicas ou tratamentos multimodais.

É importante ressaltar que o uso de testosterona em mulheres pós-menopáusicas diagnosticadas com Disfunção Sexual Hipoativa (HSDD) é a única indicação comprovada, preferencialmente usando formulações específicas para mulheres.

Uso de formulações masculinas na reposição hormonal em mulheres

Quando formulações femininas aprovadas não estão disponíveis, o uso de formulações masculinas é considerado razoável, caso mantenha as concentrações hormonais na faixa fisiológica feminina.

Contudo, terapias com concentrações suprafisiológicas não são recomendadas, incluindo pellets e injeções.

É crucial realizar testes pré-tratamento e monitoramento regular para avaliar a resposta, uma vez que a interrupção é aconselhada se não houver benefício após seis meses, evitando o uso excessivo. 

Entretanto, outras preparações androgênicas, como dehidroepiandrosterona sistêmica e vaginal, não são recomendadas para o tratamento da HSDD, exceto em condições específicas e com estudos conclusivos.

Estudos futuros devem ser mais abrangentes, com padrões rigorosos e relatórios sólidos, para definir os benefícios e riscos da terapia com testosterona em mulheres. Dessa maneira, são necessários mais esclarecimentos sobre os efeitos musculoesqueléticos, cognitivos, e a segurança cardiometabólica e mamária a longo prazo dessa terapia.

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Ajustes nas dosagens de testosterona e considerações individuais

Quando se trata da prescrição de testosterona para mulheres com baixos níveis de testosterona, os ajustes na dosagem são altamente individualizados. 

A testosterona é geralmente associada aos homens, mas as mulheres também a produzem em quantidades menores. Quando há uma deficiência desse hormônio, ela pode ser prescrito para equilibrar os níveis hormonais.

Os ajustes na dosagem para mulheres dependem geralmente de diversos fatores, como:

  • causa subjacente da deficiência de testosterona;
  • idade;
  • peso;
  • condições de saúde específicas;
  • resposta individual ao tratamento.

Além disso, a dosagem precisa é determinada pelo médico, podendo variar de maneira considerável de uma pessoa para outra ao considerar esses fatores.

Imagem representativa de médica ginecologista com especialização em Ginecologia Endócrina e Reprodutiva responde dúvidas sobre reposição de testosterona em mulheres.
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Efeitos colaterais potenciais da reposição de testosterona

A reposição de testosterona em mulheres pode ter uma série de efeitos colaterais potenciais, em especial se a dosagem não for ajustada ou supervisionada de maneira adequada por um médico. Dessa maneira, podem ocorrer algumas alterações, incluindo:

A reposição de testosterona em mulheres pode também influenciar os níveis de colesterol, afetando a saúde cardiovascular, uma vez que aumenta o LDL e diminui o HDL.

Além disso, no uso prolongado ou em doses mais altas podem ocorrer alterações físicas, incluindo:

  • crescimento de pelos faciais;
  • acne;
  • aumento do clitóris;
  • alterações na voz.

Por isso, é importante que o médico esteja atento às alterações físicas na paciente em tratamento com reposição de testosterona, a fim de evitar complicações durante a intervenção terapêutica.

Reposição de testosterona em gestantes

Em mulheres gestantes, o uso de testosterona pode ser prejudicial ao feto e deve ser evitado. Somado a isso, alguns estudos sugerem um possível aumento do risco de eventos cardiovasculares em mulheres que fazem reposição de testosterona. 

Esses efeitos colaterais variam em intensidade e frequência conforme a dosagem, duração do tratamento e a resposta individual. Porém, esse é um tema ainda em debate que demanda mais estudos.

Descubra também: Como responder às principais dúvidas sobre patologias ginecológicas e sexualidade?

Impactos da reposição de testosterona na saúde mental e qualidade de vida

A terapia de reposição de testosterona pode ter um impacto significativo no bem-estar psicológico e na qualidade de vida das mulheres que passam por esse tratamento. Nesse sentido, quando administrada de maneira apropriada e sob supervisão médica, pode melhorar diversos aspectos da vida das pacientes.

Alguns estudos sugerem que a reposição de testosterona em mulheres pode resultar na melhora do humor, reduzindo a irritabilidade e a ansiedade em algumas pacientes. Ademais, tem-se um ganho no aumento da energia e vitalidade, uma vez que mulheres com baixos níveis de testosterona podem experimentar fadiga e diminuição da energia. 

Além disso, a testosterona desempenha um papel importante na libido feminina. Mulheres com deficiência de testosterona, por exemplo, podem experimentar uma diminuição no desejo sexual, e a reposição hormonal pode ajudar a melhorar essa função. 

A melhora da densidade óssea e da massa muscular também pode ser beneficiado. A reposição hormonal pode ajudar a preservar a densidade óssea e a massa muscular, em especial em mulheres na pós-menopausa.

O que considerar na reposição de testosterona na mulher?

É importante ressaltar que os efeitos variam de pessoa para pessoa, e nem todas as mulheres experimentarão os mesmos benefícios. Por isso, a decisão de iniciar a reposição hormonal deve se basear em uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios individuais, considerando o histórico médico, os sintomas e a saúde geral da paciente.

Dessa maneira, a especialização médica é essencial para garantir que a terapia hormonal seja segura e eficaz.

Entenda também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

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Referências

5 Replies to “Reposição de testosterona em mulheres: orientações para médicos sobre o tratamento”

  1. Muito bom o artigo, mas, minha experiencia com implante de testosterona isomolecular tem tido otimos resultados.

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