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Como conduzir o diagnóstico de epididimite através dos achados do exame ultrassonográfico?

Entenda como os achados do ultrassom testicular podem auxiliar os médicos urologistas no diagnóstico de epididimite.

A epididimite, uma inflamação do epidídimo associada a infecções bacterianas ou virais, apresenta desafios consideráveis para os médicos urologistas em seu diagnóstico e manejo. Enquanto a anamnese e exame físico fornecem informações cruciais, a ultrassonografia emerge como uma ferramenta diagnóstica valiosa na elucidação dessa condição.

Descubra neste artigo o que é a epididimite, como fazer o diagnóstico e seu manejo clínico, com especial ênfase nos achados ultrassonográficos.

O que é a epididimite?

O epidídimo tem papel fundamental no armazenamento, maturação e transporte dos espermatozoides. Porém, ao ocorrer a inflamação do epidídimo, ocorre um quadro de epididimite.

De maneira geral, esse quadro não vem isolado, sendo acompanhado por orquite (inflamação testicular) por causa viral, sendo as causas mais comuns de dor aguda em jovens adultos.

Além disso, essa condição pode ser causada por uma infecção bacteriana, como propagação de bactérias provenientes de uma infecção urinária em vigência ou infecção sexualmente transmissível (IST), em especial clamídia ou gonorreia.

Dessa maneira, é possível notar que o predomínio da epididimite aumenta conforme a incidência de ISTs na região, como relação proporcional. Ademais, essa condição é mais comum em homens jovens e adultos.

Contudo, a epididimite pode ocorrer por uma causa não infecciosa, incluindo:

  • traumas;
  • refluxo urinário na uretra;
  • reação a determinados medicamentos, como a amiodarona.

Sendo assim, é necessário que o médico esteja atento aos diferentes sinais clínicos para fazer o diagnóstico da epididimite.

Imagem para representar um médico urologista utilizando ultrassonografia para fazer o diagnóstico de epididimite.
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Sintomas e sinais clínicos da epididimite

Os sintomas e sinais clínicos da epididimite podem variar em gravidade, incluindo:

  • dor testicular, que pode ser súbita e intensa e se estender para a virilha ou abdômen inferior;
  • edema e aumento da sensibilidade, sendo que o testículo e o epidídimo podem ficar inchados e sensíveis ao toque;
  • vermelhidão e calor, uma vez que a área afetada pode ficar vermelha e quente devido à inflamação;
  • disúria, implicando dor ou desconforto ao urinar;
  • em alguns casos, secreção peniana, em especial se a epididimite estiver associada a uma infecção sexualmente transmissível (IST);
  • em casos mais graves ou infecciosos, pode ocorrer febre.

Além disso, esses sintomas podem se desenvolver de maneira gradual ou súbita. Por essa razão, se o médico suspeita de epididimite devido a esses sinais, é importante iniciar o atendimento médico para diagnóstico e tratamento adequados.

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Diagnóstico da epididimite

O diagnóstico da epididimite envolve ultrassom testicular, revelando aumento de volume e hipoecogenicidade em fases agudas, seguido por hiperecogenicidade.

De maneira frequente, o acometimento na epididimite é focal e atinge a cabeça ou a cauda, podendo formar abcessos com gás no seu interior. Além disso, o estudo com Doppler pode apresentar hipervascularização, sendo um sinal de atenção aos médicos urologistas.

Diagnóstico diferencial da epididimite

O diagnóstico diferencial da epididimite envolve a distinção precisa entre essa condição e outras patologias que compartilham sintomas semelhantes.

Causas de dor escrotal consideradas para o diagnóstico diferencial de epididimite

Algumas causas de dor escrotal são consideradas para o diagnóstico diferencial de epididimite, incluindo:

  • torção do apêndice testicular;
  • hérnias inguinais estranguladas;
  • traumas locais;
  • varicocele aguda;
  • cálculos uretrais ou vesicais.

Sendo assim, os médicos devem ter ciência dos sinais característicos da epididimite, em especial a torção testicular que tem diversos sinais clínicos semelhantes à epididimite.

Torção testicular: diferenciando da epididimite

O diagnóstico diferencial primário da epididimite compreende a torção testicular, uma emergência médica que exige intervenção imediata a fim de evitar necrose testicular.

A torção testicular também se manifesta com dor súbita e intensa. Porém, a ausência de sinais inflamatórios, como eritema e edema, pode ajudar a distinguir entre essas condições, uma vez que esses sintomas são mais proeminentes na epididimite.

Ilustração para representar como é a torção de cordão espermático.
Torção de cordão espermático. Fonte: Eyre et al., 2023.

Ferramentas para o diagnóstico preciso da epididimite

Para estabelecer um diagnóstico diferencial preciso da epididimite, são empregados vários métodos de avaliação, incluindo:

  • exame físico detalhado;
  • análise laboratorial de urina para detecção de leucócitos e bactérias;
  • exames de imagem para identificar aumento do fluxo sanguíneo e alterações estruturais no epidídimo, como ultrassonografia escrotal;
  • culturas microbiológicas para determinar o agente infeccioso, quando apropriado.

Além disso, o médico também deve investigar fatores de risco para obter um histórico médico completo, como:

  • atividade sexual recente;
  • infecções urinárias prévias;
  • procedimentos urológicos;
  • manipulações genitais.

Uma vez que o tratamento adequado depende da identificação precisa da causa subjacente, é fundamental o acompanhamento médico para evitar complicações e promover a recuperação completa do paciente.

Exames de urina no diagnóstico da epididimite

Em situações suspeitas, é recomendada a realização de exame de urina, cultura de urina e teste de amplificação de ácidos nucleicos na urina (NAAT) para N. gonorrhoeae e C. trachomatis.

Contudo, é importante destacar que em pacientes sem sintomas do trato urinário inferior, o exame de urina e a urocultura frequentemente resultam negativos. Encontrar um patógeno na urina ou no teste de esfregaço uretral pode dar suporte ao diagnóstico presumido.

Por isso, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam que todas as pessoas examinadas para gonorreia também sejam testadas para:

  • clamídia;
  • sífilis;
  • infecção por HIV.

Essa recomendação é feita uma vez que entre 10 a 30% dos indivíduos diagnosticados com gonorreia apresentam infecção concomitante por clamídia.

Além disso, a ocorrência isolada de orquite, sem epididimite, é rara em adultos. Assim, é crucial considerar a possibilidade de orquiepididimite ao diagnosticar orquite em um adulto.

A exceção ocorre nos casos de caxumba. Contudo, em adultos não imunes, infecções virais como caxumba e outros vírus comuns na infância raramente podem desencadear orquite.

Imagem para ilustrar como é a orquiepididimite, condição rara em adultos sem epididimite.
Orquiepididimite. Fonte: Manual MSD.
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Achados ultrassonográficos da epididimite

Os achados ultrassonográficos desempenham um papel fundamental na correlação com a apresentação clínica da epididimite. Quando avaliados em conjunto, esses achados podem fornecer informações valiosas para o diagnóstico e o tratamento adequados.

Na maioria dos casos de epididimite, os achados ultrassonográficos revelam um aumento do volume e da vascularização do epidídimo afetado.

A exemplo, vemos a abaixo a imagem ultrassonográfica de um paciente que buscou a emergência queixando-se de dor escrotal aguda. Sendo assim, é possível ver o aumento do tamanho do epidídimo com vascularização proeminente à direita, consistente com a epididimite.

Imagem de exame de ultrassonografia revelando aumento do epidídimo.
Ultrassonografia revelando aumento do epidídimo. Fonte: Jeremy Jones et al., 2023.

Desse modo, essa evidência de inflamação localizada coincide com a apresentação clínica típica, que inclui:

  • dor escrotal unilateral;
  • sensibilidade ao toque;
  • possível aumento do volume escrotal.

Por isso, a identificação dessas alterações no ultrassom pode fortalecer a suspeita clínica de epididimite, auxiliando na diferenciação de outras condições escrotais.

Contribuição da ultrassonografia no diagnóstico diferencial de epididimite

A ultrassonografia também pode ajudar a distinguir a epididimite de outras patologias que apresentam sintomas semelhantes. Na torção testicular, por exemplo, os achados ultrassonográficos indicam com frequência a diminuição ou ausência de fluxo sanguíneo para o testículo afetado, uma condição que requer intervenção urgente.

Em suma, a relação entre os achados ultrassonográficos e a apresentação clínica da epididimite é crucial para o diagnóstico preciso. Neste aspecto, a identificação de características inflamatórias no ultrassom, em concordância com os sintomas relatados pelo paciente, fortalece a suspeita diagnóstica e orienta a abordagem terapêutica adequada para essa condição.

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Manejo clínico e seguimento da epididimite

O manejo clínico da epididimite depende da causa subjacente e da gravidade dos sintomas. Assim, se a epididimite for de origem infecciosa, o tratamento com antibióticos é fundamental.

Além disso, os medicamentos prescritos variam conforme a suspeita do agente causador e podem incluir:

  • ceftriaxona;
  • doxiciclina;
  • azitromicina.

Esses medicamentos devem cobrir tanto a gonorreia quanto a clamídia. Porém, se a suspeita for de uma infecção bacteriana mais comum, pode-se prescrever ciprofloxacino ou levofloxacino. Além disso, é importante que o médico oriente ao paciente a finalizar o ciclo completo de antibióticos.

Esquema medicamentoso para tratamento

Em indivíduos com idade inferior a 35 anos, apresentando epididimite aguda presumivelmente adquirida por via sexual, o esquema recomendado para o tratamento da epididimite inclui:

  • Doxiciclina 100 mg a cada 12 horas por 10 a 14 dias;
  • se houver suspeita de infecção gonocócica, adicionar uma dose única de ciprofloxacino 500 mg via oral ou ceftriaxona 250 mg intramuscular.

Por outro lado, para indivíduos com idade superior a 35 anos e epididimite aguda associada a bacteriúria, o esquema medicamentoso inclui:

  • Ciprofloxacino 500 mg a cada 12 horas por 10 dias;
  • ou, como alternativa, ofloxacina 200 mg a cada 12 horas por 14 dias.

Além disso, recomenda-se repouso para reduzir o desconforto e permitir a recuperação. A aplicação de compressas frias na área afetada pode, por exemplo, contribuir para a redução do inchaço e da dor.

Caso necessário, analgésicos de venda livre, como paracetamol ou ibuprofeno, podem ser utilizados para aliviar a dor, uma vez que não existam contraindicações médicas.

Assegurando a eficácia do tratamento

É fundamental realizar acompanhamento médico para assegurar a eficácia do tratamento e prevenir complicações, visto que o médico precisa saber de persistência ou agravamento dos sintomas. Dependendo da causa suspeita, testes de acompanhamento, como cultura ou exames de urina, podem ser realizados para confirmar a resolução da infecção.

Nos casos de epididimite recorrente ou persistente, o médico pode considerar uma investigação mais aprofundada, a fim de identificar a causa subjacente e ajustar o tratamento conforme necessário.

Além disso, vale ressaltar que a prevenção da epididimite está diretamente relacionada à prática de sexo seguro, incluindo o uso de preservativos, e ao tratamento adequado de infecções sexualmente transmissíveis.

Imagem representativa de médico examinando com ultrassom paciente com sintomas de epididimite.
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Caso clínico de epididimite

João, 30 anos, procura atendimento médico relatando dor intensa no testículo direito há dois dias. Ademais, ele descreve a dor como aguda, constante e acompanhada de inchaço no lado afetado. João menciona que a dor começou de maneira súbita e piorou ao longo do tempo, tornando desconfortável até mesmo o ato caminhar, por exemplo.

Porém, o paciente nega histórico recente de infecções urinárias ou procedimentos urológicos. Ele relata uma semana anterior com sintomas leves de desconforto ao urinar, todavia sem febre associada. Além disso, não há histórico prévio de trauma escrotal ou cirurgias nesta região.

Exames físicos e laboratoriais para diagnóstico da epididimite: caso clínico

No exame físico, o médico observa um aumento do volume do testículo direito de maneira significativa, além de estar sensível ao toque.

Enquanto isso, o epidídimo direito apresenta-se inchado e dolorido à palpação, mas não são detectadas alterações visíveis na pele escrotal. Portanto, o médico solicita exames laboratoriais, incluindo:

  • análise de urina;
  • cultura de urina;
  • ultrassonografia escrotal.

A análise de urina revela a presença de leucócitos e hematúria microscópica, porém a cultura não evidencia crescimento bacteriano significativo.

A ultrassonografia, por outro lado, confirma um aumento do volume do epidídimo direito, com espessamento das paredes e aumento do fluxo sanguíneo nessa região.

Com base nos sintomas apresentados por João, nos achados do exame físico e nos resultados dos exames complementares, estabelece-se dessa maneira o diagnóstico de epididimite aguda no testículo direito.

Tratamento da epididimite: caso clínico

João é orientado a repouso, aplicação de compressas frias na região afetada. Além disso, é feita a prescrição de um ciclo de antibióticos, com orientações para acompanhamento médico, caso os sintomas persistam ou piorem após o tratamento inicial.

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Referências

  • Acute scrotal pain in adults. Eyre et al., 2023. UpToDate.
  • RUMACK, Carol M. Tratado de Ultrassonografia Diagnóstica. 5a edição. Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2021.

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O Dr. Claudio Amorim, médico urologista, explica o que é epididimite e como diagnosticar e tratar essa condição.

2 Replies to “Epididimite: como diagnosticar com ultrassonografia?”

  1. Sinceramente fiquei em dúvida pois a imagem epididimaria está igual bilateralmente, mostrando sinais de ectasia do ducto epididimario, que pode ser decorrente de vasectomia prévia ou processos inflamatórios. No entanto, o doppler não apresenta nas imagens uma hipervascularizacao típica do parenquima para fechar um diagnóstico de epididimite.

    1. cONCORDO COM O COLEGA Rogério Galhardi. A imagem epididimaria igual bilateralmente, embora com uma cera ectasia e hipoecogenicidade indicava essa possibilidade, mas como, o doppler não apresenta nas imagens uma hipervascularizacao tficava ruim para fechar um diagnóstico de epididimite.

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