A incidência de alergias e distúrbios imunológicos em crianças tem aumentado globalmente nas últimas décadas, tornando a Alergia e Imunologia Pediátrica uma área clínica altamente relevante, com demanda crescente por profissionais capacitados. Para compreender esse cenário e a importância de uma formação sólida na especialidade, conversamos com o Dr. André Manso, pediatra e especialista em Alergia e Imunologia Pediátrica, coordenador da Pós-Graduação Lato Sensu em Alergia e Imunologia Pediátrica do Cetrus.
Sobre o Dr. André Manso
Dr. André Manso é graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência em Pediatria Geral e Puericultura no HCFMUSP. Posteriormente, especializou-se em Alergia e Imunologia Pediátrica pela USP, com título de especialista concedido pela SBP e ASBAI e atualmente é Coordenador da Pós-Graduação em Alergia e Imunologia do Cetrus.
Sua trajetória combina pesquisa, ambulatório e atuação prática com crianças portadoras de alergias alimentares, dermatite atópica, asma, erros inatos da imunidade e outras condições imunológicas complexas. Além disso, coordena equipes e projetos formativos voltados à educação médica continuada com foco em raciocínio clínico, diagnóstico preciso e terapêutica baseada em evidências.
Entrevista
O que motivou sua escolha pela Alergia e Imunologia Pediátrica?
Dr. André Manso:
“Desde a graduação em Medicina, sempre tive grande interesse por Alergia e Imunologia. Considerava fascinante compreender as alterações do sistema imune e observar como um mecanismo originalmente projetado para proteger e regular o corpo humano pode, em determinadas situações, passar a reagir de forma inadequada contra elementos externos ou até mesmo contra estruturas do próprio organismo.
Além disso, a especialidade me encantava pela sua natureza integrativa. A Alergia e Imunologia dialoga com diversas outras áreas da medicina, como a Hematologia, a Gastroenterologia e a Pneumologia. Trata-se de um campo que exige um conhecimento clínico abrangente e profundo da Pediatria.
Na Alergia e Imunologia Pediátrica, encontrei uma área que me permite unir esse conhecimento pediátrico amplo com os desafios diagnósticos – em especial os relacionados aos erros inatos da imunidade e às alergias alimentares – com o propósito maior de promover melhora concreta na qualidade de vida das crianças e de suas famílias.”
Quais são os principais desafios para quem atua na área?
Dr. André Manso:
“O principal desafio é o raciocínio clínico estruturado diante de quadros inespecíficos. Muitos pacientes chegam com diagnósticos equivocados, tratamentos empíricos ou condutas ultrapassadas. Há ainda escassez de profissionais capazes de interpretar adequadamente exames imunológicos e conduzir imunoterapia de forma segura.
O curso do Cetrus prepara o aluno de forma prática, com aulas voltadas à realidade ambulatorial e hospitalar, integração com protocolos internacionais (EAACI, AAAAI) e nacionais (ASBAI), discussões de casos clínicos reais e supervisão constante de especialistas experientes.”
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Quais são os diferenciais da Pós-Graduação em Alergia e Imunologia Pediátrica do Cetrus em relação a outros programas do mercado?
Dr. André Manso:
“O grande diferencial é a integração entre teoria e prática com foco em resolução de problemas reais. No Cetrus, o aluno não apenas aprende conceitos, mas vivencia os dilemas clínicos mais comuns, com uma abordagem estruturada e guiada. Os módulos são atualizados com base nos guidelines internacionais mais recentes, e há ênfase na formação do raciocínio clínico, na execução correta de testes diagnósticos como Prick Test, e na tomada de decisão terapêutica baseada em evidências. Outro destaque é a formação de uma comunidade profissional ativa, com mentoria contínua e rede de apoio entre os professores e alunos.”
Na sua opinião, quais são os maiores avanços recentes na Alergia e Imunologia Pediátrica e como o curso integra esses avanços na formação dos alunos?
Dr. André Manso:
“Vivemos um momento promissor, com avanços significativos na compreensão dos fenótipos e endotipos das doenças alérgicas, na identificação precoce de imunodeficiências e no uso racional de imunobiológicos. A introdução da imunoterapia sublingual com novos extratos, os protocolos seguros para introdução alimentar precoce, o uso de biomarcadores como eosinófilos, IgE específica e FeNO, e o desenvolvimento de fármacos biotecnológicos como omalizumabe, dupilumabe e anti-IL-5 mudaram radicalmente nossa prática clínica.
O curso incorpora esses avanços de forma didática, preparando o aluno para aplicá-los com senso crítico e domínio técnico, garantindo segurança e efetividade na tomada de decisão terapêutica.”
Poderia compartilhar um caso clínico desafiador?
Dr. André Manso:
“Recentemente acompanhei uma paciente de 7 anos com quadro grave de dermatite atópica, associado a asma e rinite alérgica de difícil controle. O que mais chamava a atenção, já na primeira consulta, era seu aspecto clínico: apresentava eritema e descamação intensa da cabeça aos pés. Apesar do sofrimento visível, tratava-se de uma criança sorridente, que começava a enfrentar limitações importantes no convívio social e na frequência escolar.
Desde os primeiros meses de vida, os pais relatavam prurido intenso e constante. A família, em busca de alívio, havia tentado dietas restritivas e tratamentos diversos, inclusive abordagens ditas “naturais”, sem sucesso. A rotina da criança girava em torno da doença, e os responsáveis, exaustos, não sabiam mais a quem recorrer.
Durante a consulta, estabelecemos um plano terapêutico baseado em evidências: iniciamos o uso adequado de corticoides tópicos, hidratantes específicos, técnicas avançadas de hidratação da barreira cutânea e, diante da gravidade do quadro, indicamos o uso de dupilumabe, um imunobiológico capaz de modular a resposta inflamatória envolvida na dermatite atópica grave. Simultaneamente, tratamos de forma estruturada a rinite e a asma.
Em apenas três meses, a transformação foi notável: a pele da paciente recuperou sua integridade, a coceira cessou, os episódios de asma desapareceram, e a obstrução nasal foi completamente controlada. Ela passou a dormir bem, hidratar a pele com autonomia e, sobretudo, voltou a sorrir com plenitude e a frequentar a escola.
Para mim, o maior desafio desse caso não foi apenas terapêutico, mas também comunicacional: foi necessário resgatar a confiança da família, orientar com clareza e reconstruir, passo a passo, a rotina de cuidado com base científica. No fim, a maior recompensa foi devolver àquela criança o direito de viver plenamente a infância – com saúde, aprendizado e alegria.”
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Quais os erros mais comuns no diagnóstico de alergias em crianças e como o curso capacita os médicos para evitá-los?
Dr. André Manso:
“Entre os erros mais comuns estão:
- Superdiagnóstico de alergia alimentar sem critérios
- A solicitação indiscriminada de exames sem correlação com a história do paciente (como IgE específica isolada)
- Testes cutâneos mal indicados
- Dietas restritivas sem necessidade
O curso de Pós-Graduação em Alergia e Imunologia Pediátrica capacita o aluno a construir uma anamnese dirigida, interpretar exames com base em preditividade clínica, realizar testes com segurança e utilizar critérios diagnósticos baseados em diretrizes. Ao final do curso, o aluno sente-se apto a diferenciar alergia verdadeira de intolerâncias, sensibilização de reação clínica, e a manejar casos com segurança.”
Quais pesquisas você considera mais promissoras dentro da Alergia e Imunologia Pediátrica?
Dr. André Manso:
“Considero especialmente promissoras as pesquisas voltadas à indução de tolerância alimentar, uso de imunobiológicos em doenças como dermatite atópica, urticária crônica e alergia alimentar, e a identificação precoce de imunodeficiências primárias por meio de triagem neonatal e biomarcadores moleculares.
Destaco também os estudos que investigam a microbiota intestinal como fator modulador de doenças alérgicas. Um exemplo relevante é a pesquisa do Learning Early About Peanut Allergy (LEAP Study), que revolucionou a abordagem sobre introdução alimentar precoce e prevenção de alergia ao amendoim.”
Quais conselhos você daria para médicos que estão considerando se especializar em Alergia e Imunologia Pediátrica?
Dr. André Manso:
“Escolher essa área é optar por uma medicina de vínculo, precisão e constante atualização. É necessário cultivar a escuta ativa, a atenção aos detalhes e a disposição para seguir aprendendo. Meu conselho é que busquem uma formação sólida, com base científica e prática clínica qualificada. Estejam abertos ao contato com famílias, respeitem a individualidade de cada criança e integrem os saberes da imunologia com a prática da pediatria.
A Alergia e Imunologia Pediátrica é, acima de tudo, uma especialidade que permite transformar vidas com empatia, ciência e responsabilidade.”
Sobre a Pós-Graduação em Alergia e Imunologia Pediátrica do Cetrus
A formação é indicada para pediatras, médicos de família e generalistas que desejam atuar de forma segura, prática e baseada em evidências.
O aluno aprende na prática a:
- Realizar Prick Test e Peak Flow
- Diagnosticar e tratar alergias cutâneas, respiratórias e alimentares
- Manejar imunobiológicos e imunoterapia alérgeno-específica
- Identificar e tratar erros inatos da imunidade
- Conduzir emergências alérgicas
Além disso, o aluno participa de períodos práticos de atendimento clínico supervisionados, ganhando experiência e segurança para atuar no consultório.
Desenvolva sua atuação em Alergia e Imunologia Pediátrica
Se você deseja atuar com segurança, clareza diagnóstica e impacto real na qualidade de vida das crianças, conheça a Pós-Graduação em Alergia e Imunologia Pediátrica do Cetrus.
Uma formação com alta carga prática, supervisão direta de especialistas e conteúdo alinhado às principais diretrizes internacionais.
Referências
ASBAI – Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia:
https://asbai.org.br/
AAAAI – American Academy of Allergy, Asthma & Immunology Guidelines:
https://www.aaaai.org/
EAACI – European Academy of Allergy and Clinical Immunology:
https://www.eaaci.org/
Estudo LEAP – Introdução alimentar precoce e alergia ao amendoim:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26456447/






