Cistos vaginais: tudo o que você precisa saber para sua prática médica!
Os cistos vaginais representam uma condição ginecológica relativamente comum, frequentemente assintomática, mas que pode causar desconforto significativo em algumas pacientes. Estima-se que a prevalência de cistos vaginais em mulheres adultas seja baixa, embora a verdadeira incidência possa estar subestimada devido ao caráter frequentemente assintomático dessas lesões. Muitas vezes, cistos vaginais são descobertos incidentalmente durante exames ginecológicos de rotina ou em exames de imagem realizados por outros motivos.
O diagnóstico e o manejo clínico destes cistos são fundamentais para garantir o bem-estar das pacientes, minimizando complicações e promovendo um tratamento eficaz.
O que são cistos vaginais?
Cistos vaginais são lesões encapsuladas preenchidas por líquido, localizadas na parede vaginal. Estas lesões são, na maioria dos casos, benignas e resultam de obstruções glandulares ou de traumas que levam ao acúmulo de fluidos.
A maioria dos cistos vaginais é pequena e assintomática, sendo detectada incidentalmente durante exames ginecológicos de rotina. No entanto, em casos onde os cistos aumentam de tamanho ou se tornam infectados, sintomas como:
- Dor
- Dispareunia
- Dificuldade para urinar.
Podem ocorrer, exigindo intervenção clínica.
Tipos de cistos vaginais
Os cistos vaginais podem ser classificados em diferentes tipos, dependendo de sua origem e conteúdo. Os principais tipos incluem:
Cisto de Gartner
O cisto de Gartner é uma condição ginecológica benigna que se origina de remanescentes do ducto de Wolff, uma estrutura embrionária presente no desenvolvimento do sistema reprodutivo masculino e feminino.
Durante o desenvolvimento normal, esse ducto normalmente desaparece nas mulheres; no entanto, quando persiste, pode resultar na formação de cistos ao longo da parede lateral da vagina. Portanto, nas imagens de ressonância magnética axial (A1) e sagital (B1) ponderadas em T2 abaixo pode-se observar um cisto situado na parede vaginal lateral esquerda, posicionado acima da sínfise púbica.
Cisto de inclusão vaginal
O cisto de inclusão vaginal é uma lesão benigna que ocorre devido à inclusão de células epiteliais sob a superfície da mucosa vaginal, resultando na formação de uma cápsula cheia de líquido.
Esses cistos são frequentemente o resultado de traumas ou procedimentos cirúrgicos, como episiotomias, lacerações durante o parto, ou outras intervenções ginecológicas que causem a invaginação do epitélio vaginal.
Cisto de Bartholin
Formado devido à obstrução do ducto da glândula de Bartholin, localizada na parte inferior dos lábios vaginais. Estes cistos podem se infectar e formar abscessos dolorosos.
Abaixo, imagens em T2 axial (A2) e sagital (B2) demonstram uma lesão cística, localizada fora do canal vaginal, na parede posterior distal direita da vagina.
Cisto de Müller
O cisto de Müller, também conhecido como cisto paramesonéfrico, é uma lesão benigna que se origina de remanescentes embrionários do ducto de Müller, uma estrutura presente durante o desenvolvimento fetal que normalmente regrediria em indivíduos do sexo feminino.
Esses cistos são relativamente raros e, em geral, encontrados na parede vaginal anterior ou anterolateral.
Cisto de Skene
Origina-se nas glândulas de Skene, também conhecidas como glândulas parauretrais, que estão localizadas ao longo da parede anterior da vagina, adjacentes à uretra. Portanto, essas glândulas têm a função de secretar um fluido que ajuda a lubrificar a abertura uretral e, em algumas teorias, estão associadas à ejaculação feminina.
Assim, as glândulas de Skene são pequenas estruturas tubuloalveolares localizadas na parede anterior da vagina, ao redor da uretra distal. Dessa forma, elas são homólogas à próstata masculina, e alguns estudos sugerem que podem ter um papel na produção de um fluido semelhante ao prostático. A obstrução dos ductos dessas glândulas pode levar ao acúmulo de fluido, resultando na formação de um cisto.
Manifestações clínicas dos cistos vaginais
As manifestações clínicas dos cistos vaginais variam amplamente, dependendo do tipo de cisto, seu tamanho e localização, bem como a presença de complicações associadas, como infecções ou rupturas. A maioria dos cistos vaginais é assintomática e descoberta incidentalmente durante exames ginecológicos de rotina.
Dispareunia consiste em uma queixa comum associada a cistos vaginais, especialmente quando o cisto é grande ou localizado em áreas da vagina que estão diretamente envolvidas na relação sexual. A dor pode variar de leve a intensa sendo frequentemente descrita como uma sensação de pressão ou dor aguda. Cistos de inclusão vaginal e cistos de Gartner, por exemplo, são conhecidos por causar dispareunia quando grandes o suficiente para comprimir as estruturas adjacentes.
Desconforto ou dor pélvica pode ocorrer quando o cisto exerce pressão sobre as estruturas pélvicas adjacentes. Esse sintoma é mais comum em cistos de maior volume ou em casos de cistos complicados, como aqueles que se tornam infectados ou inflamados. Além disso, os cistos vaginais localizados próximos à uretra, como os cistos de Gartner ou de Skene, podem causar sintomas urinários.
Diagnóstico dos cistos vaginais
O diagnóstico dos cistos vaginais envolve uma abordagem clínica detalhada, incluindo anamneses completas, exames físicos minuciosos, exames de imagem e, em alguns casos, exames laboratoriais.
Anamnese
A anamnese é a primeira etapa do diagnóstico e deve ser conduzida de forma abrangente. Perguntas sobre a história ginecológica da paciente, como:
- Cirurgias prévias
- Traumas
- Sintomas associados (como dor, dispareunia, dificuldade miccional)
- E histórico de infecções vaginais.
são essenciais para orientar o diagnóstico. Além disso, é importante questionar sobre mudanças recentes na função sexual e sintomas urinários.
Exame físico
O exame físico ginecológico permite a visualização direta do cisto e a avaliação de sua localização, tamanho, consistência e mobilidade.
A palpação pode fornecer informações sobre a sensibilidade do cisto e sua relação com estruturas adjacentes. Em casos onde o cisto não é visível ou palpável, mas a paciente apresenta sintomas compatíveis, é indicada a realização de exames de imagem.
Exames de imagem
Os exames de imagem desempenham um papel importante na confirmação do diagnóstico e na avaliação da extensão do cisto. A ultrassonografia transvaginal é o método de escolha, pois permite uma visualização detalhada das estruturas vaginais e pélvicas. A ultrassonografia pode identificar a presença de cistos, determinar seu tamanho, conteúdo (líquido simples, complexo ou com septações) e sua relação com órgãos pélvicos vizinhos.
Em casos onde a ultrassonografia não fornece informações suficientes, a ressonância magnética (RM) pode ser indicada. A RM oferece imagens de alta resolução e é especialmente útil em casos complexos, onde há suspeita de envolvimento de outras estruturas pélvicas.
Exames laboratoriais
Embora os exames laboratoriais não sejam rotineiramente necessários para o diagnóstico de cistos vaginais, eles podem ser úteis em casos onde há suspeita de infecção.
A análise do fluido aspirado do cisto pode revelar sinais de infecção bacteriana, e a cultura do fluido pode identificar o agente etiológico, orientando o tratamento antibiótico apropriado, por exemplo.
Manejo clínico de um cisto vaginal
O manejo clínico dos cistos vaginais depende do tipo de cisto, sintomas apresentados, tamanho da lesão e preferências da paciente. As opções incluem monitoramento, tratamentos conservadores, intervenções cirúrgicas bem como abordagem multidisciplinar em casos complexos.
Monitoramento
Cistos vaginais assintomáticos e pequenos, especialmente cistos de inclusão vaginal e cistos de Gartner, podem ser manejados com uma abordagem de monitoramento.
Dessa forma, indica-se o seguimento regular com exames ginecológicos e ultrassonografia para garantir que o cisto não esteja crescendo ou causando sintomas. O monitoramento é uma estratégia particularmente útil em mulheres assintomáticas ou em idade reprodutiva, onde intervenções cirúrgicas podem comprometer a integridade vaginal.
Tratamentos conservadores
Em casos onde os cistos vaginais causam sintomas leves, que não justificam uma intervenção cirúrgica imediata, considera-se tratamentos conservadores. Estes incluem o uso de analgésicos para controlar a dor ou antibióticos em casos de infecção. Pode-se recomendar banhos de assento e compressas quentes para aliviar o desconforto.
Assim, em casos de cistos Bartholinianos pequenos e não infectados, a incisão e drenagem com a colocação de um cateter de Word podem ser uma opção eficaz.
Intervenções cirúrgicas
Indica-se a excisão cirúrgica do cisto quando há sintomas significativos, aumento progressivo do cisto, suspeita de malignidade ou complicações como infecção ou ruptura. A escolha do procedimento cirúrgico depende do tipo e localização do cisto.
Marsupialização
Indicado para cistos de Bartholin, este procedimento envolve a criação de uma abertura permanente para permitir a drenagem contínua e prevenir a recorrência.
Assim, realiza-se a marsupialização em conjunto com antibióticos, especialmente se houver sinais de infecção.
Excisão completa
Prefere-se a remoção cirúrgica completa do cisto em casos de cistos grandes ou suspeitos de malignidade. Pode-se realizar este procedimento via abordagem vaginal ou, em casos complexos, por laparoscopia.
Também indica-se a excisão completa para cistos sintomáticos ou recorrentes, especialmente cistos de Gartner ou de inclusão.
Laserterapia
Em casos selecionados, a utilização de laser para vaporizar o cisto pode ser uma opção menos invasiva. Frequentemente utiliza-se esta técnica em cistos de inclusão pequenos e assintomáticos.
Abordagem multidisciplinar em casos complexos
Casos complexos de cistos vaginais, especialmente aqueles associados a outras condições ginecológicas ou sistêmicas, requerem uma abordagem multidisciplinar para otimizar os resultados clínicos.
- Radiologia: fundamental para a interpretação precisa dos exames de imagem, especialmente em casos onde há suspeita de malignidade ou envolvimento de estruturas adjacentes
- Patologia: em casos onde o cisto foi excisado, o exame histopatológico é essencial para determinar a natureza da lesão e excluir diagnósticos diferenciais, como cistos dermoides bem como neoplasias malignas
- Oncologia: necessário em casos onde o cisto apresenta características sugestivas de malignidade ou está associado a neoplasias ginecológicas pré-existentes. Dessa forma, deve-se tomar decisão sobre a necessidade de terapias adjuvantes, como quimioterapia ou radioterapia, em conjunto.
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