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Entrevista sobre dor crônica infantil pós-Covid com a Dra. Ana Carolina Lopes

Dor crônica infantil após Covid-19: entenda melhor o quadro e como manejá-lo. Dra. Ana Carolina Lopes Pinheiro explica mais sobre a situação e suas possibilidades

Dra. Ana Carolina Lopes Pinheiros fala sobre dor crônica infantil pós Covid-19

A Covid-19 é uma doença completamente nova e muito tem sido descoberto sobre seus sintomas, consequências e sequelas. No último ponto, existem as dores causadas pelos longo períodos de internação, que têm atingidos adultos e também crianças.

“Normalmente consideramos algo a ser tratado quando a dor dura por mais de três meses e não há mais outros sintomas da doença [no caso, a Covid-19], ou seja, a dor se torna um quadro por si só”, explica a anestesiologista Dra. Ana Carolina Lopes Pinheiro, coordenadora da Pós-Graduação em Dor e Intervenção em Pediatria do Cetrus.

Conversamos com a especialista sobre o quadro e suas possibilidades. Confira a conversa a seguir:

Educa Cetrus: Os casos de dor crônica após a Covid-19 em crianças são mais causados pelo longo tempo de internação? Ou alguns podem ser atribuídos ao vírus em si?

Ana Carolina Lopes Pinheiro: Acreditamos que a situação atual em adultos seja semelhante ao surto de febre chikungunya em 2015, em que observamos que vários pacientes seguiam com dores da própria doença, como dores de cabeça, articulares e musculares, cansaço, etc. Mas, o que vemos mais em pediatria é que a internação, por conta dos procedimentos, a entubação prolongada e o longo tempo acamado, levam ao desenvolvimento da dor crônica devido à internação.

EC: Normalmente os sintomas mais encontrados após a Covid-19 são dores musculares e articulares, cefaleia e dor no peito. Quando a criança chega com esses sintomas, como ela pode ser tratada?

AP: A criança é diferente do adulto. A dor crônica do adulto é mais medicalizada. Não que não mediquemos crianças, mas elas precisam de um atendimento multidisciplinar, com fisioterapia, psicoterapia (já que cognição interfere no mecanismo de perpetuação da dor), terapia ocupacional, nutrição (afinal muitas crianças não se alimentam bem quando sentem dor).

Hoje existem tipos de terapias específicas para cada tipo de dor crônica: neuropática (origem de um nervo) tem um tipo de tratamento, enquanto a musculoesquelética tem outros medicamentos, como os relaxantes musculares, analgésicos. Tudo depende do tipo de dor, mas sempre será tratada com a terapia multidisciplinar, associadas ao melhor medicamento e às intervenções que conseguimos fazer em casos resistentes, como bloqueios, infiltração com corticoide, entre outras.

EC: Sabendo que a interneção prolongada devido à Covid-19 pode ter esse efeito nas crianças, como o pediatra dela pode se preparar?

AP: O ideal é que o médico pediatra esteja preparado para reconhecer e tratar essa dor rapidamente, para que ela não se cronifique. Para tanto, ele pode usar as escalas de dor para crianças que falam e que ainda não falam. Elas ajudam na avaliação precoce desse sintoma.