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Tireoide: aprenda sobre os aspectos clínicos e ultrassonográficos

Saiba identificar os aspectos clínicos associados com os achados ultrassonográficos da tireoide. Continue a leitura e fique por dentro do assunto! 

A tireoide é uma glândula endócrina localizada na parte anterior do pescoço, abaixo da laringe. Ela desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo do corpo, produzindo os hormônios tireoidianos, tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Esses hormônios são essenciais para o funcionamento adequado de várias funções corporais, incluindo o crescimento, desenvolvimento, temperatura corporal, frequência cardíaca, entre outras.

Tireoide com aspectos clínicos e ultrassonográficos normais

Uma tireoide normal tem seu funcionamento e aparência dentro de parâmetros considerados saudáveis. Confira como ela se comporta tanto nos exames laboratoriais como na ultrassonografia.

Aspectos laboratoriais

Em um exame de sangue, de um paciente saudável, os níveis de hormônios tireoidianos são medidos. A tireoide normalmente produz quantidades adequadas de tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Os valores normais variam de acordo com o laboratório, mas geralmente incluem faixas de referência para T4 total de 4,6 a 11,2 mcg/dL (60 a 145 nmol/L) e T3 total (75 a 195 ng/dL (1,1 a 3 nmol/L).

O TSH é produzido pela glândula pituitária e estimula a tireoide a produzir seus hormônios. Em uma tireoide normal, os níveis de TSH tendem a ficar dentro da faixa de referência ( 4,5 a 5,0 mU/L), indicando que a glândula está respondendo adequadamente.

Além desses três principais exames solicitados, é possível também solicitar anticorpos antitireoidianos que são:

  • Tireoglobulina 
  • Anticorpo anti Peroxidase tireoidiana (Anti-TPO) – em casos de tireoidite de Hashimoto
  • Anticorpos do receptor de tireotropina (TRAbs) – em caso de doença de graves

Aspectos ultrassonográficos da tireoide

Uma tireoide normal tem uma forma característica de borboleta e está localizada na parte anterior do pescoço, abaixo da laringe. Seu tamanho pode variar de acordo com o indivíduo e sua constituição física, mas uma tireoide normal não apresenta aumento significativo.

Os aspectos ultrassonográficos da tireoide tem uma ecogenicidade homogênea, ou seja, a aparência do tecido é uniforme e não apresenta áreas escuras ou claras que possam indicar anormalidades.

Os contornos da tireoide normalmente são regulares e suaves.

Em uma tireoide normal, não devem ser encontrados nódulos palpáveis ou visíveis no ultrassom.

O fluxo sanguíneo normal na tireoide é adequado para a sua função. O Doppler, que é uma técnica utilizada no ultrassom, pode mostrar os vasos sanguíneos presentes na glândula.

Ultrassonografia da tireoide

A ultrassonografia da tireoide é uma ferramenta importante para avaliar a glândula e pode ajudar a identificar nódulos, avaliar sua característica e determinar a necessidade de biópsia. 

Uma das suas principais vantagens é que ela consegue uma amostragem aprimorada de células de tecidos da tireoide, quando em conjunto com a biópsia. Além disso, ela consegue visualizar estruturas pequenas, o que facilita na identificação de tumores. 

Alguns dos aspectos ultrassonográficos da tireoide incluem:

  • Tamanho e forma: A ultrassonografia pode medir as dimensões da tireoide e observar a forma geral da glândula.
  • Textura: A avaliação da textura pode revelar se a tireoide tem uma aparência homogênea ou se existem áreas anormais.
  • Nódulos: A ultrassonografia pode identificar a presença de nódulos, sua localização, tamanho e características, como calcificações ou vascularização.
  • Fluxo sanguíneo: O Doppler pode ser usado para avaliar o fluxo sanguíneo na tireoide e nos nódulos, o que pode ser útil na diferenciação entre nódulos benignos e malignos.
  • Linfonodos: O ultrassom pode detectar o aumento dos linfonodos no pescoço, que pode ser um sinal de disseminação do câncer de tireoide.

Além disso, a ultrassonografia pode ser utilizada em situações como:

  • Avaliar as características anatômicas dos nódulos da tireoide;
  • Auxiliar na aspiração com agulha fina (PAAF) de nódulos tireoidianos e linfonodos cervicais;
  • Monitorar doença nodular da tireoide;
  • Auxiliar no planejamento da cirurgia de câncer de tireoide
  • Auxiliar na vigilância de recorrência em pacientes com câncer de tireoide;
  • Rastrear a presença de câncer de tireoide em grupos de alto risco;
  •  Avaliar o bócio fetal.

Patologias da tireoide

Existem algumas alterações da tireoide que podem ser bem observadas na ultrassonografia. Confira abaixo cada uma delas: 

Nódulos tireoidianos

Nódulos tireoidianos são crescimentos anormais que se formam na glândula tireoide. Esses nódulos podem variar em tamanho e características e podem ser detectados durante um exame clínico de rotina ou através de exames de imagem, como a ultrassonografia da tireoide.

É importante destacar que a maioria dos nódulos tireoidianos é benigna, ou seja, não é cancerígena. Estima-se que cerca de 90% dos nódulos tireoidianos sejam benignos. No entanto, mesmo sendo benignos, alguns nódulos podem causar sintomas, aumentar de tamanho e, em alguns casos raros, serem associados a distúrbios hormonais.

Os nódulos tireoidianos podem ser classificados em diferentes tipos com base em suas características na ultrassonografia ou em outros exames de imagem, como cintilografia, punção aspirativa por agulha fina (PAAF). 

Aspectos ultrassonográficos dos nódulos tireoidianos

Os nódulos sólidos podem ser:

  • Isoecóicos: textura semelhante ao tecido tireodiano normal 
Nódulo sólido isoecóico com pequenos espaços císticos. Fonte: SIPOS, 2023. UpToDate.
  • Hiperecóicos: mais ecogênicos
Nódulo hiperecóico (setas) que é mais brilhante que o tecido tireoidiano circundante. Fonte: SIPOS, 2023. UptToDate.
  • Hipoecóicos: menos ecogênicos
O nódulo é mais alto do que largo na visão transversal. 
Também possui focos ecogênicos pontuados internos (microcalcificações), indicados pelas setas. 
Este nódulo era um carcinoma papilífero de tireoide. Fonte: SIPOS, 2023. UpToDate.
  • Nódulos marcadamente hipoecogênicos.
O nódulo (cabeça de seta) é mais escuro do que os músculos da alça circundante (seta). Fonte: SIPOS, 2023. UpToDate

Câncer de tireoide

É relativamente raro, mas pode ocorrer. Os tipos mais comuns são o carcinoma papilífero e o carcinoma folicular. Os sintomas podem ser indolores e incluir um nódulo no pescoço ou aumento dos gânglios linfáticos.

Aspectos ultrassonográficos dos nódulos tireoidianos

Existem algumas características que ajudam a suspeitar de câncer de tireoide através da imagem de ultrassom. São elas:

  • Hipoecogênicidade
  • Microcalcificações (focos ecogênicos pontuados)
  • Margens irregulares ou infiltrativas
  • Composição sólida 
  • Forma irregular, sendo mais alto do que largo na visão transversal
  • Grande tamanho
  • Linfadenopatia suspeita associada. 

Diante da suspeita, é indicado utilizar a USG para fazer a PAAF para poder realizar a biópsia do tecido. 

Bócio

Um bócio tireoidiano é um aumento anormal do tamanho da glândula tireoide. O bócio pode se desenvolver devido a várias causas, e pode ser classificado em diferentes tipos com base em suas características.

O ultrassom pode ajudar a identificar nódulos tireoidianos e não palpáveis dentro de um bócio nodular ou difuso. Pode ainda ajudar a analisar as características dos bócio para que afastar ou investigar suspeita de neoplasia. 

Doenças autoimunes da tireoide

Confira os padrões ultrassonográficos das doenças autoimunes da tireoide. 

Tireoidite de Hashimoto 

Nessas casos, a imagem da tireoide são difusamente aumentadas e tem baixa ecogenicidade. 

(A) Visão longitudinal (sagital): textura normal de um lobo tireoidiano saudável. 
(B) Visão longitudinal (sagital): tireoidite de Hashimoto, padrão de girafa. 
(C) Visão transversal: tireoidite de Hashimoto, padrão comido por traças. 
Observe a hipoecogenicidade geral (escuridão) da glândula de Hashimoto envolvida, em comparação com a textura suave e homogênea de cinza médio da tireoide normal. Fonte: SIPOS, 2023. UpToDate

Doença de Graves

Na Doença de Graves, os pacientes costumam ter uma ecogenicidade difusamente baixa. 

Aumento difuso e hipoecogenicidade do lobo esquerdo da tireoide (visão transversal). Fonte: SIPOS, 2023. UpToDate.

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Referências

  1. SIPOS, J. A. Overview of the clinical utility of ultrasonography in thyroid disease. UpToDate, 2023
  2. SIPOS, J. A. Technical aspects of thyroid ultrasound. UpToDate, 2023
  3. ROSS, D. S. Diagnostic approach to and treatment of thyroid nodules. UpToDate, 2023
  4. ROSS, D. S. Laboratory assessment of thyroid function. UpToDate, 2023

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Mais uma oportunidade de revermos momentos da semana #tbt cetrus, desta vez com o nosso webinar de tireoide!

Os Doutores Maria Christina dos Santos Rizzi, Adriano Czapkowski  e Erivelto Volpi trazem importantes discussões sobre a avaliação tireoidiana ao ultrassom ao modo B, Doppler e tratamento.

A correta avaliação da tireoide permite um diagnóstico mais preciso e consequentemente mais adequado deste paciente.

Assista o vídeo e bons estudos!

Conheça mais sobre os professores do vídeo acima

DR. ERIVELTO MARTINHO VOLPI

> Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, FMUSP, Brasil.
> Doutorado em Pós Graduação em Clínica Cirúrgica.
> Residência Médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço HC-FMUSP
> Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,
> Professor do Curso de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Nove de Julho – UNINOVE

DRA. MARIA CHRISTINA DOS SANTOS RIZZI

> Graduada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP (1979)
> Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela USP de Ribeirão Preto (1980-1981)
> Mestre em Medicina Fetal pela Universidade Federal de São Paulo (2009)
> Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo CREMESP / AMB (1984)
> Título de Especialista em Diagnóstico por Imagem com área de atuação em Ultrassonografia Geral pelo Colégio Brasileiro de Radiologia / AMB / SBUS (1983)
> Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia (1983) > Professora de Ultrassonografia Geral (desde 1985)
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Dr. Adriano Czapkowski

DR. ADRIANO CZAPKOWSKI

> Médico coordenador dos cursos de capacitação em Ultrassonografia Geral, US em Emergências, Acesso Venoso Central, Doppler Geral, US Medicina Interna, US Medicina Interna Avançado e US Testículo e Região Inguinal do Cetrus;
> Doutor em Ciências da Saúde pela UNIFESP;
> Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia
> Médico colaborador do departamento de Radialogia da UNIFESP
> Estágio em Ultrassonografia Intensivista no Hospital Ambroise Paré – Paris – França
> Aperfeiçoamento em Ultrassonografia em Emergências com equipe especializada do Royal London Hospital – Londres – Inglaterra
> Médico Ultrassonografista do Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo Dr. Euryclides de Jesus Zerbini (Hospital Estadual Brigadeiro)
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