Os exossomos têm emergido como uma das mais inovadoras ferramentas na cosmiatria moderna, representando um avanço promissor na interface entre biotecnologia e estética médica.
Essas vesículas extracelulares nanométricas, liberadas por diferentes tipos celulares, apresentam alta biocompatibilidade, baixa imunogenicidade e capacidade de transportar moléculas bioativas, o que lhes confere um papel central em terapias regenerativas e rejuvenescimento cutâneo.
Seu potencial terapêutico decorre da habilidade de modular respostas inflamatórias, estimular a regeneração celular e promover o reparo tecidual, apontados como alternativa potencial às terapias com células-tronco, com vantagens em segurança e estabilidade.
Nesse contexto, compreender seus mecanismos de ação e aplicações clínicas é essencial para consolidar seu uso na prática cosmiátrica contemporânea.
O que são exossomos?
Definição e origem
Os exossomos são vesículas extracelulares de dimensões nanométricas, liberadas por praticamente todos os tipos de células e presentes em diversos fluidos biológicos, com tamanho que varia entre 30 e 150 nm de diâmetro.
Formam-se a partir da invaginação da membrana endossomal, processo que gera corpos multivesiculares responsáveis por armazenar pequenas vesículas internas. Portanto, quando esses corpos fundem-se com a membrana plasmática, liberam os exossomos no espaço extracelular.
Por possuírem baixa imunogenicidade, boa biocompatibilidade e capacidade de penetração tecidual, os exossomos têm despertado grande interesse na área biomédica e na estética médica, principalmente como plataformas naturais para transporte e liberação de agentes terapêuticos.
Os exossomos podem ser obtidos a partir de células, tecidos ou fluidos corporais de quase todas as espécies de mamíferos. Essas fontes incluem, por exemplo, células-tronco, células cancerígenas, células imunológicas, células derivadas de folículos capilares (HFSC) e fibroblastos dérmicos (HDF). Além disso, saliva, sangue e urina também são consideradas fontes para isolamento de exossomos.
Estrutura e composição molecular
A bicamada lipídica que compõe os exossomos protege seu conteúdo interno contra a degradação, garantindo estabilidade e funcionalidade durante o transporte.
Essa membrana contém uma variedade de proteínas estruturais e funcionais, entre elas as tetraspaninas (CD9, CD63 e CD81), marcadores clássicos envolvidos no reconhecimento celular e na fusão vesicular. Também são comuns proteínas de choque térmico (HSP60, HSP70 e HSP90), que contribuem para a estabilidade da vesícula e participam de processos de sinalização.
Ademais, outras proteínas, como as GTPases da família RAB e as anexinas, regulam a formação, o transporte e a fusão dos exossomos com as células receptoras. Internamente, essas vesículas carregam proteínas citoplasmáticas, microRNAs, mRNAs, DNA, colesterol e esfingomielina, moléculas essenciais para a modulação de funções celulares.
Essa composição diversificada reflete a célula de origem e confere aos exossomos características específicas de direcionamento e ação.
Funções biológicas
Os exossomos atuam como mensageiros naturais na comunicação intercelular, mediando a transferência de moléculas bioativas entre células e tecidos. Essa função é essencial para a regulação de múltiplos processos fisiológicos, como proliferação, diferenciação, angiogênese, resposta imune e regeneração tecidual.
Portanto, ao transportar e liberar proteínas, lipídios e ácidos nucleicos nas células-alvo, os exossomos são capazes de modificar o comportamento celular e influenciar estados patológicos e reparadores.
Sua seletividade no reconhecimento de células específicas e a capacidade de atravessar barreiras biológicas reforçam seu potencial como sistemas terapêuticos avançados, especialmente na medicina regenerativa e estética, onde podem atuar na entrega de princípios ativos e na estimulação da renovação celular.
Papel dos exossomos na Dermatologia
Os exossomos têm ganhado destaque na Dermatologia por seu papel relevante na regeneração tecidual, demonstrando, em estudos in vitro e em modelos animais, a capacidade de estimular a migração celular, a remodelação da matriz extracelular (MEC) e a angiogênese, processos essenciais para a cicatrização e reparo cutâneo.
Além disso, sua função de modular a comunicação entre as células da pele e o microambiente tecidual sugere envolvimento na patogênese de dermatoses inflamatórias e autoimunes, tornando-os potenciais alvos terapêuticos e diagnósticos nessas condições.
Assim, no campo cosmiátrico, os exossomos são investigados por seu potencial em rejuvenescimento e regeneração celular, embora a maioria dos estudos ainda esteja em fase pré-clínica, carecendo de ensaios clínicos controlados e bem estruturados que confirmem sua eficácia e segurança em humanos.
Mecanismos de ação dos exossomos relevantes para a cosmiatria
Comunicação celular
Os exossomos atuam como mensageiros naturais entre as células da pele, transportando proteínas, lipídios e ácidos nucleicos, como miRNAs e mRNAs. Eles regulam funções celulares essenciais, incluindo proliferação, diferenciação e reparo tecidual.
Eles mediam a comunicação intercelular entre queratinócitos, fibroblastos, melanócitos e células-tronco mesenquimais, influenciando a homeostase cutânea e participando da modulação do microambiente dérmico.
Essa capacidade de transferir informações biológicas explica seu papel promissor na cosmiatria, favorecendo a regeneração, o equilíbrio imunológico e a restauração da função celular.
Estímulo à produção de colágeno
Entre os efeitos mais relevantes dos exossomos na estética médica está a estimulação da síntese de colágeno e da matriz extracelular (MEC).
Eles influenciam diretamente os fibroblastos dérmicos, promovendo a produção das fibras de colágeno tipo I e III (COL1A e COL3A), fundamentais para a firmeza e elasticidade da pele.
Os exossomos regulam enzimas como as metaloproteinases (MMP-1 e MMP-3), que controlam o equilíbrio entre degradação e formação de colágeno, contribuindo para redução de rugas e rejuvenescimento cutâneo.
Modulação da resposta inflamatória
Os exossomos também desempenham papel essencial na regulação da inflamação cutânea. Eles modulam a atividade de citocinas inflamatórias, auxiliando no controle de processos inflamatórios e na recuperação tecidual.
Exossomos derivados de células-tronco mesenquimais (MSCs-EXOs), por exemplo, podem alterar a polarização de macrófagos M2, promovendo um ambiente anti-inflamatório e propício à regeneração. Essa ação contribui tanto para tratamentos cosméticos, como rejuvenescimento e clareamento, quanto para o manejo de dermatoses crônicas e reparação de feridas.
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Aplicações clínicas atuais na cosmiatria
Rejuvenescimento cutâneo
Os exossomos vêm ganhando destaque na cosmiatria por seu papel no rejuvenescimento cutâneo, atuando na reparação tecidual e na modulação de processos celulares ligados ao envelhecimento.
O envelhecimento da pele, influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (radiação solar, estresse oxidativo, poluição), leva à perda de firmeza, rugas e alterações pigmentares.
Diversas fontes de exossomos têm mostrado efeitos antienvelhecimento significativos. Exossomos derivados do leite bovino (MK-Exo) em estudos pré-clínicos, demonstraram atravessar parcialmente a barreira cutânea, promovendo hidratação e redução de rugas. Já os exossomos oriundos de células-tronco do tecido adiposo (ADSC-Exos) estimulam a migração de fibroblastos dérmicos, aumentam a produção de colágeno tipo I, reduzem o estresse oxidativo (ROS) e inibem proteínas associadas à senescência.
Além disso, exossomos derivados de Phellinus linteus, um fungo de propriedades antioxidantes, demonstraram proteger contra o fotoenvelhecimento induzido por radiação UV, regulando a expressão gênica via miRNAs. De modo semelhante, exossomos de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) inibem a expressão das metaloproteinases da matriz (MMP-1 e MMP-3), enzimas responsáveis pela degradação do colágeno, preservando a integridade da matriz extracelular.
Esses achados reforçam o potencial dos exossomos como uma abordagem biotecnológica inovadora para tratamentos antienvelhecimento, oferecendo efeitos regenerativos, anti-inflamatórios e de restauração da elasticidade e vitalidade da pele.
Tratamento de cicatrizes
Os exossomos vêm destacando-se como agentes fundamentais no tratamento de cicatrizes e na cicatrização de feridas. Isso se deve à sua capacidade de regular múltiplos processos biológicos, como angiogênese, proliferação, diferenciação celular e remodelação tecidual.
Essas nanovesículas, especialmente as derivadas de células-tronco mesenquimais e células-tronco adiposas, demonstram efeitos superiores em comparação a terapias baseadas em células, pois modulam respostas inflamatórias e estimulam a regeneração da matriz extracelular (MEC).
Estudos apontam que o uso tópico ou sistêmico de exossomos acelera o fechamento de feridas, aumenta a síntese de colágeno, favorece a reepitelização e reduz a formação de cicatrizes, promovendo uma recuperação tecidual mais organizada e estética. Dessa forma, a associação com ácido hialurônico potencializa esses efeitos, tornando a pele mais firme e favorecendo a remodelação tecidual.
Alopecia e regeneração capilar
Os exossomos vêm ganhando destaque como uma promissora estratégia terapêutica no tratamento da alopecia. Eles atuam na regeneração capilar devido à sua capacidade de modular processos celulares essenciais ao crescimento dos fios.
Derivados de diferentes fontes, especialmente das células da papila dérmica e células-tronco do tecido adiposo, eles atuam estimulando a proliferação, diferenciação e sobrevivência das células do folículo piloso. Além disso, promovem a angiogênese e reduzem a inflamação local.
Pesquisas mostram que os exossomos derivados da papila dérmica tridimensional (3D DP-Exos) aumentam a expressão de fatores de crescimento como IGF-1, KGF e HGF, resultando em alongamento da haste capilar e aceleração da fase anágena do ciclo folicular. De forma semelhante, exossomos obtidos de células-tronco mesenquimais e adiposas (MSC-EVs e ADSC-Exos) favorecem a regeneração dos folículos por meio da ativação de vias de sinalização, além de elevarem a produção de VEGF e IGF-1, essenciais ao crescimento capilar.
Evidências científicas disponíveis sobre exossomos
As evidências científicas atuais apontam os exossomos como uma promissora ferramenta terapêutica e cosmética para o tratamento e regeneração da pele.
Estudos pré-clínicos mostram que essas vesículas extracelulares nanométricas, derivadas de diferentes tipos celulares, possuem papel fundamental na modulação da comunicação intercelular e nos processos de reparo tecidual.
Sua aplicação, tanto tópica quanto transdérmica, tem demonstrado potencial em acelerar a cicatrização de feridas, promover a regeneração cutânea e estimular a angiogênese e a remodelação da matriz extracelular.
Pesquisas indicam que os exossomos podem reverter parcialmente danos causados pelo envelhecimento e pela exposição solar. Eles aumentam a atividade dos fibroblastos, favorecem a síntese de colágeno e elastina e reduzem marcadores de estresse oxidativo na pele.
Limitações e desafios no uso de exossomos
Apesar do potencial promissor, o uso de exossomos enfrenta diversos desafios. A complexidade de sua composição, que varia conforme a célula de origem e as condições fisiológicas, dificulta a padronização de métodos de produção, isolamento e caracterização.
Com isso, a purificação ainda apresenta problemas, frequentemente resultando em populações heterogêneas contaminadas com outras vesículas ou proteínas, o que compromete a reprodutibilidade dos resultados.
Ademais, os exossomos são sensíveis a fatores ambientais, como temperatura e pH. Isso pode levar à agregação ou perda de integridade, tornando o armazenamento a longo prazo um desafio.
Outro ponto crítico é a resposta imunológica: exossomos derivados de diferentes fontes podem induzir reações imunes nos receptores, levando à eliminação ou efeitos adversos.
Por fim, apesar dos resultados animadores em estudos in vitro e em modelos animais, ainda há escassez de ensaios clínicos robustos em humanos que comprovem sua eficácia e segurança de forma padronizada. Embora o potencial terapêutico dos exossomos seja reconhecido e respaldado por evidências, a aplicação clínica em larga escala ainda depende do avanço de pesquisas. Portanto, é necessário que haja regulamentações adequadas e padronização dos processos de produção e uso.
Perspectivas futuras
Os exossomos prometem transformar a indústria cosmética, oferecendo novas oportunidades para produtos e tratamentos de beleza altamente eficazes.
Sua incorporação em cremes, séruns e máscaras permite o transporte de moléculas bioativas diretamente às camadas mais profundas da pele. Isso potencializa efeitos como cicatrização, hidratação, aumento da produção de colágeno, redução da inflamação e proteção contra danos ambientais.
O avanço da tecnologia possibilita a criação de produtos personalizados, adaptados ao tipo de pele, genética e estilo de vida. E procedimentos minimamente invasivos, como microagulhamento ou laser, podem intensificar os resultados.
Assim, pesquisas futuras devem focar em garantir segurança, eficácia e reprodutibilidade, além de desenvolver regulamentações claras e diretrizes para o uso de exossomos em cosméticos.
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Referências
- Dal’Forno‐Dini T, Birck MS, Rocha M, Bagatin E. Explorando a realidade dos exossomos na Dermatologia. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2025.
- Sreeraj H. et al. Exossomos para tratamento da pele: aplicações terapêuticas e cosméticas. Nano TransMed, 2024.
- Yu H, Feng H, Zeng H, Wu Y, Zhang Q, Yu J, Hou K, Wu M. Exosomes: The emerging mechanisms and potential clinical applications in dermatology. Int J Biol Sci. 2024 Feb 25;20(5):1778-1795. doi: 10.7150/ijbs.92897. PMID: 38481799; PMCID: PMC10929203.
- Zhang B, Gong J, He L, Khan A, Xiong T, Shen H, Li Z. Exosomes based advancements for application in medical aesthetics. Front Bioeng Biotechnol. 2022 Dec 20;10:1083640. doi: 10.3389/fbioe.2022.1083640. PMID: 36605254; PMCID: PMC9810265.






