A importância do Doppler na avaliação do acretismo placentário

acretismo placentário

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Acretismo placentário: tudo o que você precisa saber sobre esse tema para sua prática clínica!

O acretismo placentário é uma condição obstétrica grave e complexa, caracterizada pela aderência anormal da placenta à parede uterina, podendo levar a complicações sérias durante a gestação e, especialmente, no momento do parto. Essa anomalia ocorre devido a um defeito na interface entre o miométrio e a placenta, resultando em diferentes graus de invasão tecidual, com consequências que podem comprometer a vida da mãe e do feto.

Com os avanços da medicina diagnóstica, o uso do ultrassom com Doppler tornou-se um recurso essencial na avaliação do acretismo placentário. Essa tecnologia, além de fornecer imagens detalhadas da morfologia uteroplacentária, permite identificar alterações na vascularização, possibilitando um diagnóstico precoce e preciso.

O que é o acretismo placentário?

O acretismo placentário é uma complicação obstétrica, caracterizada pela invasão anormal da placenta no útero, que ocorre devido à ausência ou deficiência da camada de decídua basal. Essa camada desempenha um papel crucial ao atuar como uma barreira natural entre a placenta e o miométrio, evitando que a placenta se fixe de forma excessiva. Quando essa barreira está ausente ou comprometida, a placenta adere ao miométrio de maneira anormal, podendo variar em gravidade conforme a profundidade da invasão.

Classificações do acretismo placentário

Essa condição é classificada em três categorias principais, que refletem diferentes graus de severidade:

  • Placenta percreta: é a forma mais severa, em que a invasão ultrapassa o miométrio, alcançando estruturas adjacentes, como a bexiga ou até mesmo os intestinos. Os casos de placenta percreta são particularmente desafiadores, pois podem exigir cirurgias complexas e estão associados a altos índices de complicações maternas e fetais
  • Placenta acreta: é a forma menos grave, em que a placenta se fixa diretamente ao miométrio sem invadi-lo. Embora menos perigosa em comparação com os outros tipos, essa condição ainda apresenta desafios significativos no momento do parto, principalmente no descolamento da placenta
  • Placenta increta: nessa forma, a placenta penetra parcialmente na musculatura uterina, invadindo o miométrio. Essa condição representa um risco maior de hemorragia, uma vez que a invasão dificulta ainda mais o descolamento da placenta após o nascimento do bebê.

Causas e fatores de risco

O desenvolvimento do acretismo placentário está diretamente relacionado a alterações na interface entre o útero e a placenta, sendo frequentemente causado por fatores de risco maternos. A principal causa dessa condição é a formação inadequada da interface uteroplacentária, mas há elementos predisponentes que contribuem para esse processo. Os fatores predisponentes incluem:

  • Cesarianas anteriores: quanto maior o número de cesarianas, maior o risco.
  • Placenta prévia: a combinação de placenta prévia com cicatrizes uterinas aumenta exponencialmente as chances de acretismo.
  • Idade materna avançada: mulheres com mais de 35 anos estão mais suscetíveis.
  • Histórico de procedimentos uterinos invasivos, como curetagem ou miomectomia.
  • Técnicas de reprodução assistida, que podem alterar a implantação placentária.

Esses fatores interferem na formação adequada da decídua basal, favorecendo a invasão anormal da placenta.

Complicações associadas ao acretismo placentário

Entre as complicações mais frequentes e perigosas estão as hemorragias intensas, a necessidade de histerectomia de emergência, a prematuridade e lesões em órgãos adjacentes, particularmente em casos mais severos, como a placenta percreta.

Hemorragias Intensas

A hemorragia maciça é uma das complicações mais graves associadas ao acretismo placentário. Essa condição ocorre porque a placenta anormalmente aderida não se descola adequadamente após o nascimento do bebê, como acontece em gestações normais. Como resultado, o útero não consegue se contrair de forma eficaz para interromper o sangramento, levando a uma perda de sangue significativa.

Essa hemorragia pode ser particularmente severa em casos avançados, como na placenta increta ou percreta, em que a invasão da placenta atinge profundamente o miométrio ou ultrapassa a parede uterina. Essa perda sanguínea pode causar choque hipovolêmico, colocando a vida da mãe em risco e frequentemente exigindo transfusões emergenciais.

Histerectomia de emergência

Quando a hemorragia não pode ser controlada por métodos convencionais, a histerectomia de emergência, ou seja, a remoção total do útero, torna-se necessária. Essa medida drástica é uma das principais estratégias para salvar a vida da gestante em casos de acretismo placentário.

No entanto, a histerectomia traz consequências importantes para a vida da mulher, como a perda definitiva da capacidade reprodutiva. Em situações onde a paciente deseja preservar a fertilidade, opções conservadoras podem ser exploradas, mas essas alternativas são limitadas a casos específicos e requerem equipes altamente especializadas para minimizar os riscos envolvidos.

Prematuridade

A necessidade de antecipar o parto é outro desafio significativo em gestantes com acretismo placentário. Geralmente, o parto é programado entre 34 e 36 semanas de gestação, antes que complicações mais graves, como hemorragias espontâneas, se manifestem.

No entanto, a interrupção precoce da gestação expõe o recém-nascido aos riscos da prematuridade, como imaturidade pulmonar, dificuldade respiratória e maior suscetibilidade a infecções. Por isso, é essencial que o parto ocorra em um centro de referência, com suporte neonatal adequado para lidar com essas complicações.

Lesões em órgãos adjacentes

Nos casos mais graves, como a placenta percreta, a invasão pode ultrapassar o útero, atingindo órgãos vizinhos, como a bexiga ou o intestino. Essas lesões representam um grande desafio cirúrgico, aumentando a complexidade do tratamento e o risco de sequelas permanentes.

O diagnóstico por ultrassom com Doppler

O ultrassom é o exame de escolha inicial para avaliação do acretismo placentário, devido à sua disponibilidade, segurança e alta sensibilidade. Quando associado ao Doppler colorido, sua eficácia aumenta significativamente, pois permite avaliar alterações na vascularização uteroplacentária que são indicativas dessa condição.

Como o Doppler ajuda na identificação do acretismo placentário

O uso do Doppler na avaliação do acretismo placentário revolucionou a forma como essa condição é diagnosticada e manejada. Por meio de sua capacidade de identificar padrões vasculares anormais, o Doppler permite um diagnóstico precoce e preciso, essencial para reduzir complicações graves associadas a essa condição.

Ao associar os achados do Doppler com outros métodos de imagem e fatores de risco maternos, é possível planejar intervenções de forma eficaz, garantindo melhores desfechos para mãe e bebê. Para mais informações sobre ultrassonografia obstétrica:

Com o avanço da tecnologia e o aprimoramento das técnicas diagnósticas, o Doppler se firma como uma ferramenta indispensável na obstetrícia moderna, proporcionando maior segurança e precisão no cuidado com as gestantes.

O Doppler avalia o fluxo sanguíneo em tempo real, destacando padrões vasculares anormais que sugerem invasão miometrial. Os principais achados incluem:

  • Lacunas vasculares intraplacentárias: visualizadas como áreas anecoicas, essas lacunas estão associadas a fluxos turbulentos, indicando vascularização anormal.
  • Ausência da interface ecogênica entre placenta e miométrio: reflexo da invasão da placenta na parede uterina.
  • Fluxos sanguíneos contínuos e turbulentos: especialmente na interface placentária e nos tecidos adjacentes.
  • Vascularização excessiva: frequentemente encontrada na placenta increta e percreta, pode ser observada ao redor de órgãos vizinhos, como a bexiga.

Dessa forma, esses sinais ajudam a diferenciar casos leves, moderados e graves de acretismo, fornecendo informações indispensáveis para o planejamento obstétrico. Nas imagens abaixo observam-se a placenta com sinais de acretismo placentário, vista à ultrassonografia.

Fonte: Lockwood CJ, Russo-Stieglitz K. 2017.

Técnicas avançadas no uso do Doppler

Além do Doppler colorido, outras modalidades podem ser empregadas para maior precisão:

  • Doppler espectral: útil para avaliar índices de resistência e pulsatilidade, permitindo a diferenciação entre fluxos normais e patológicos
  • Doppler power: mais sensível para fluxos de baixa velocidade, é particularmente útil em casos com vascularização sutil
  • Ultrassonografia tridimensional (3D): quando combinada com o Doppler, proporciona uma visão detalhada da invasão placentária.

Essas técnicas complementares permitem uma avaliação mais detalhada da extensão da invasão placentária e dos vasos anômalos associados ao acretismo.

Benefícios do diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce por meio do Doppler permite que as equipes médicas elaborem um plano de manejo detalhado, prevenindo complicações graves. Portanto, em gestantes com fatores de risco, como histórico de cesarianas múltiplas ou presença de placenta prévia, o uso de Doppler é fundamental para monitorar a evolução da gestação.

Assim, a confirmação de acretismo possibilita que o parto seja planejado em um centro especializado, com equipe multidisciplinar e recursos adequados, incluindo banco de sangue e suporte cirúrgico avançado. Isso reduz significativamente a mortalidade materna e fetal, além de minimizar a necessidade de intervenções emergenciais.

Dessa forma, segundo diretrizes da FEBRASGO, gestantes com diagnóstico de acretismo devem ser acompanhadas em centros de referência, com parto programado por cesariana entre 34 e 36 semanas. Esse planejamento reduz os riscos de hemorragia grave e prematuridade extrema, garantindo maior segurança para mãe e bebê.

Desafios no diagnóstico

Embora o Doppler seja uma ferramenta importante, seu uso apresenta algumas limitações. A qualidade do exame pode variar conforme a experiência do operador e a qualidade do equipamento utilizado. Em alguns casos, os achados podem ser ambíguos, especialmente em gestações normais que apresentam padrões vasculares incomuns. Por isso, é importante correlacionar os resultados com outros exames de imagem, como a ressonância magnética, para confirmar o diagnóstico.

Além disso, o Doppler pode gerar falsos-positivos, especialmente em gestações múltiplas ou em casos de placenta prévia sem invasão miometrial. Nessas situações, a experiência do médico ultrassonografista e o uso de técnicas complementares são importantes para evitar diagnósticos errôneos.

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Referências bibliográficas

  • Lockwood CJ, Russo-Stieglitz K. Management of placenta previa. UpToDate, 2017.
  • Pereira, M. F. A. M. O valor diagnóstico da ecografia no acretismo placentário. 12 jun. 2014.
  • GABRIEL, Marta et al. Acretismo placentário: aspectos de ressonância magnética. Radiologia Brasileira, São Paulo, v. 47, n. 6, p. 368-375, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rb/a/6WPskdNmTZ669tbNcssWVgz/?lang=pt. Acesso em: 24 nov. 2024.

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