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Polissonografia convencional: quando o exame é indicado em caso de suspeita de apneia obstrutiva do sono?

Entenda o que é a polissonografia convencional, quando recomendá-lo ao seu paciente com AOS e como diagnosticá-lo a partir dessa ferramenta. Boa leitura! 

A apneia obstrutiva do sono é uma doença que requer diagnóstico, tendo como ferramenta mais comum a realização da polissonografia convencional (PSG). 

O que é a apneia obstrutiva do sono (AOS)?

A AOS ou mesmo “apneia do sono” é um distúrbio do sono, caracterizado pela interrupção temporária da respiração durante o sono devido a uma obstrução das vias aéreas superiores. 

A razão dessa obstrução decorre quando os músculos da garganta relaxam em excesso durante o sono. Com isso, as vias aéreas se estreitem ou se fechem temporariamente. Como resposta, a pessoa afetada pode parar de respirar por curtos períodos de tempo, geralmente por alguns segundos a minutos.

Essa é uma condição muito mais prevalente em homens que em mulheres, afetando cerca de 7% dos adultos no mundo. A prevalência da AOS é significativamente maior em indivíduos obesos em comparação com aqueles com peso saudável.

A apneia pode ser classificada com base na gravidade dos eventos, levando em conta a frequência da apneia e hipopneia por hora de sono. Essa classificação é chamada de Índice de Apneia-Hipopneia (IAH), sendo os graus mais comuns de AOS: 

  1. Leve: 5 a 15 eventos por hora;
  2. Moderada: 15 a 30 eventos por hora;
  3. Grave: superior a 30 eventos por hora. 

Consequências do não tratamento da AOS 

A AOS está associada a uma série de comorbidades graves, como: 

  1. Hipertensão arterial;
  2. Doenças cardíacas;
  3. Diabetes tipo 2;
  4. Acidente vascular cerebral (AVC) 
  5. Distúrbios neuropsiquiátricos.

Pensando nisso, o diagnóstico para a condição é fundamental, especialmente em indivíduos com outras comorbidades importantes associadas. 

Sinais e sintomas da AOS 

Muitas pessoas com AOS não são diagnosticadas, pois os sintomas, como ronco e sonolência diurna, podem ser atribuídos a outras causas. O diagnóstico adequado geralmente requer a realização de exames de sono, como a polissonografia.

No entanto, os sintomas que podem surgir da condição potencialmente podem afetar muito a qualidade de vida dos pacientes e até mesmo familiares. Dentre eles, temos: 

  1. Ronco alto e persistente durante o sono;
  2. Sonolência diurna excessiva, decorrente da pouca qualidade de sono reparador;
  3. Dificuldade de concentração e lapsos de memória;
  4. Alterações de humor e irritabilidade;
  5. Noctúria;
  6. Dores de cabeça matinais;
  7. Sensação de boca seca ou garganta sexa ao acordar;
  8. Pesadelos. 

Polissonografia convencional: o que é, configuração e monitoramento

A polissonografia é um exame diagnóstico usado para avaliar uma ampla gama de distúrbios do sono, incluindo distúrbios respiratórios relacionados ao sono, narcolepsia, distúrbios relacionados ao movimento durante o sono e certas parassonias. 

É uma ferramenta essencial que, quando combinada com a história clínica e outros testes, ajuda no diagnóstico preciso desses distúrbios do sono.

Polissonografia convencional.

Funcionamento do exame de polissonografia convencional

Durante a polissonografia, o paciente dorme enquanto está conectado a diversos dispositivos de monitoramento que registram várias variáveis fisiológicas, como atividade cerebral, frequência cardíaca, movimentos oculares, respiração e outros parâmetros importantes. 

A análise desses padrões de anormalidades fisiológicas durante o sono não só pode indicar distúrbios respiratórios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, mas também pode fornecer informações cruciais para o diagnóstico de uma ampla variedade de outros distúrbios do sono, contribuindo assim para um tratamento mais eficaz e personalizado.

Posicionamento de eletrodos para polissonografia Legenda: PSG: polissonografia; EEG: eletroencefalografia; EOG: eletrooculografia; EMG: eletromiografia; ECG: eletrocardiografia.. Fonte: Ilustrado por Seulah Rebecca Choi.

Polissonografia convencional: modalidades do exame

O exame pode ser realizado em duas modalidades: estudo de noite inteira ou estudo noturno dividido. No de noite inteira, o monitoramento do paciente durante o período típico de sono do paciente, que geralmente é noturno.

Esse é o modelo considerado por muitos especialistas como padrão-ouro, mas os noturnos divididos são mais comumente usados na prática.  

Assim, a diferença do noturno dividido é que a parte diagnóstica do estudo é realizada apenas durante a primeira parte da noite. Aqueles pacientes que são diagnosticados com AOS durante a primeira parte da noite e escolhem a terapia PAP podem ter a terapia PAP titulada durante a segunda parte da noite.

Assim, o noturno dividido permite que o paciente já saia do laboratório do sono com a pressão definida, e ganha a oportunidade de se adaptar ao CPAP. 

Diagnóstico de apneia obstrutiva do sono (AOS)

Para o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono (AOS), os eventos respiratórios devem ser identificados como primariamente obstrutivos (ou seja, apneias, hipopneias, despertares associados ao esforço respiratório). Esses eventos são usados ​​para gerar os seguintes índices:

  • IAH: índice de apneia-hipopneia (apneias + hipopneias/tempo total de sono em horas);
  • RDI: índice de distúrbios respiratórios (apneias + hipopneias + despertares relacionados ao esforço respiratório [RERAs] / tempo total de sono em horas);
  • REI: índice de eventos respiratórios (apneias + hipopneias/tempo total de registro).

A tabela abaixo registra como os critérios diagnósticos são realizados. 

Diagnóstico apneia obstrutiva do sono. Fonte: Kline et al, 2023.

Critérios para encaminhamento do paciente com AOS para a polissonografia: indicações e contraindicações 

A principal indicação da realização da PSG inclui a avaliação de de distúrbios respiratórios do sono, incluindo:

  1. Apneia obstrutiva do sono (AOS);
  2. Titulação da pressão positiva nas vias aéreas;
  3. Adequação da terapia que já está sendo usada. 

O exame de PSG é especialmente importante pensando em pacientes com comorbidades significativas e que precisam de um diagnóstico ou uma avaliação. Como exemplo disso, pacientes com doença cardiopulmonar avançada, que têm maior probabilidade de apneias centrais, e em pacientes com suspeita de outros distúrbios do sono comórbidos.

Como comentamos, A PSG é uma ferramenta diagnóstica versátil que não apenas avalia e diagnostica distúrbios respiratórios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, mas também desempenha um papel fundamental na identificação de uma ampla variedade de outros distúrbios respiratórios e do sono.

Algumas condições que podem ser beneficiadas pela PSG são: 

  • Hipoventilação relacionada à obesidade ou doença neuromuscular;
  • Respiração de Cheyne-Stokes;
  • DPOC concomitante;
  • Apneia central.

Há contraindicações?

Não há contraindicações para realização da polissonografia convencional. Porém, alguns critérios precisam ser estabelecidos para a segurança do exame. O paciente deve estar clinicamente estável visto que os médicos e enfermeiros podem não estar disponíveis durante toda a noite, de forma atenta.

Com esse mesmo raciocínio, pacientes com infecções respiratórias ativas com congestão nasal significativa e incomum e tosse intensa devem ser remarcados para um horário em que não estejam doentes.

Algumas outras questões devem ser tratadas diretamente com o laboratório do sono em que será realizado o exame, como questões de marcapassos, desfibriladores e dispositivos de assistência ventricular esquerda. No entanto, normalmente, esses fatores não são contraindicações de PSG convencional. 

Preparação do paciente para o exame de polissonografia

Todas as recomendações de preparação para o exame são pensadas de maneira a não comprometer a veracidade dos resultados obtidos. 

Orientações com relação ao consumo de alimentos

Por isso, o consumo de álcool (exacerbação da apneia) ou cafeína (insônia) antes da polissonografia (PSG) pode alterar a natureza e a gravidade do distúrbio do sono subjacente que está sendo medido pela PSG.

Assim, os pacientes devem abster-se de cafeína à tarde e à noite do dia em que a PSG está planejada. 

Orientações com relação ao uso de medicamentos

Os medicamentos contínuos devem ser tomados habitualmente, mesmo na noite do PSG, incluindo soníferos. Essas medicações devem ser registradas pelo técnico que acompanhará exame. 

Ainda, considerando pacientes com insônia, principalmente ao dormirem em um lugar novo, a prescrição de Zolpidem está indicada. E é um auxílio ao exame, sendo ingerida no laboratório e não em casa.  

Pacientes que nunca tomaram zolpidem no passado devem experimentar o medicamento em casa durante uma das noites anteriores à PSG para avaliar sua resposta a ele. 

Médicos e o pós-exame

É de extrema importância que qualquer paciente que tenha recebido sedativos e que deseje interromper o estudo antes de seu término seja encorajado a permanecer no laboratório até a manhã seguinte, mesmo que o paciente insista na retirada dos equipamentos de monitoramento.

É vital compreender que, sob a influência do sedativo, o paciente não deve tentar dirigir para casa no meio da noite.

A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) recomenda enfaticamente que os pacientes evitem dirigir no dia seguinte após o uso de formulações de liberação prolongada de zolpidem

Isso se deve aos potenciais efeitos residuais dos sedativos, que podem afetar a capacidade de reação e coordenação do paciente, representando um risco significativo para a segurança viária

Para pacientes que já estão recebendo terapia com pressão positiva nas vias aéreas, a PSG é iniciada e realizada com o paciente usando pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)

Melhoria da qualidade de vida após o diagnóstico da AOS 

A melhoria da qualidade de vida após o diagnóstico da AOS uma conquista significativa e pode ser observada em várias áreas da vida dos pacientes.

Paciente em uso do CPAP. Fonte: Telemedicina Morsch.

O tratamento da AOS, frequentemente com o uso de dispositivos como o CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas), ajuda a manter as vias aéreas abertas durante o sono, reduzindo os episódios de apneia e melhorando a qualidade do sono. Isso leva a noites mais repousantes e uma sensação de descanso pela manhã.

Com um sono de melhor qualidade, os pacientes costumam experimentar um aumento na energia durante o dia. A sonolência diurna excessiva, um sintoma comum da AOS, diminui, permitindo que os pacientes se sintam mais alertas e produtivos.

Os pacientes frequentemente relatam maior capacidade de concentração, memória mais nítida e habilidades cognitivas aprimoradas após o tratamento.

Ainda, o tratamento pode ajudar a prolongar a expectativa de vida, reduzindo os riscos de complicações médicas graves.

Além disso, a segurança viária é aprimorada, já que os pacientes tratados são menos propensos a adormecer ao volante devido à sonolência diurna.

Leia também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

Que tal continuar estudando?

Uma opção é investir em um programa de pós-graduação. O Centro de Ensino Médico Cetrus oferece mais de 150 opções de cursos em diversas áreas. Um dos cursos ofertados é a pós-graduação lato sensu em Ultrassonografia de Neurologia (Neurossonologia). Vale ressaltar que em comparação a outros exames, a ultrassonografia é o único método da prática clínica que permite a avaliação hemodinâmica intracraniana com elevada resolução temporal.

Tanto esse curso como os demais oferecidos pelo Cetrus tem tudo que o profissional de medicina precisa para se capacitar. Uma grade curricular super abrangente de tópicos e um corpo docente altamente qualificado.

Referências 

  • Diagnóstico Polissonográfico. Guimarães GM. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.
  • Overview of polysomnography in adults. Naomi R Kramer, MD. UpToDate
  • Clinical presentation and diagnosis of obstructive sleep apnea in adults. Lewis R Kline, MD. UpToDate

Sugestão de artigo sobre polissonografia convencional

Uma sugestão da equipe do Cetrus é o Am J Respir Crit Care Med 2017;196(9):1181–1190. Confira as principais informações sobre o estudo:

  • Objetivos: Comparar a eficácia a longo prazo (6 meses) de poligrafia respiratória domiciliar e protocolos de gerenciamento de polissonografia em pacientes com suspeita de apneia do sono intermediária a alta (a maioria dos pacientes requer estudo do sono).
  • Métodos: Um estudo multicêntrico, de não-inferioridade, randomizado controlado com dois braços e uma análise de custo-efetividade foi realizado em 12 hospitais terciários na Espanha. Pacientes rastreados sequencialmente com suspeita de apneia do sono foram randomizados para poligrafia respiratória ou protocolos de polissonografia. Além disso, todos os pacientes de ambos os braços do estudo receberam tratamento de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), avaliação de hábitos saudáveis, titulação de auto-CPAP (para indicação de CPAP), questionários de qualidade de vida, monitoramento de pressão arterial de 24 horas e polissonografia ao final do seguimento. O principal resultado foi a medição da Escala de Sonolência de Epworth. O critério de não inferioridade foi de 22 pontos na escala de Epworth.
  • Medidas e resultados principais: No total, 430 pacientes foram randomizados. O protocolo de poligrafia respiratória não foi inferior ao protocolo de polissonografia baseado na escala de Epworth. Qualidade de vida, pressão arterial e polissonografia foram semelhantes entre os protocolos. A poligrafia respiratória foi o protocolo com melhor relação custo-benefício, com um menor custo por paciente de €$ 416,70.
  • Conclusões: O manejo da poligrafia respiratória domiciliar é igualmente eficaz à polissonografia, com custo substancialmente inferior. Portanto, a polissonografia não é necessária para a maioria dos pacientes com suspeita de apneia do sono. Esse achado pode mudar a prática clínica estabelecida, com um claro benefício econômico. Acesse o estudo completo:

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