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Síndrome do túnel do carpo: diagnóstico ultrassonográfico e tratamento

Mãos de uma pessoa examinando o punho de outra, aplicando leve pressão na região do túnel do carpo, área comumente afetada por compressão do nervo mediano, característica da síndrome do túnel do carpo.

Índice

A síndrome do túnel do carpo (STC) é uma neuropatia compressiva, resultante da compressão do nervo mediano ao nível do punho.

Embora a avaliação clínica e os estudos neurofisiológicos sejam tradicionalmente utilizados no diagnóstico, a ultrassonografia tem ganhado destaque como uma ferramenta complementar e, em muitos casos, decisiva. Além disso, tem se mostrado eficaz na orientação de procedimentos intervencionistas minimamente invasivos, como infiltrações com corticosteroides.

Neste contexto, a abordagem ultrassonográfica tem se consolidado não apenas como uma ferramenta diagnóstica acurada, mas também como um recurso essencial na condução terapêutica da síndrome do túnel do carpo, oferecendo maior segurança e precisão na prática clínica.

Revisão anatômica do punho

O túnel do carpo é uma estrutura anatômica do punho, delimitada por componentes ósseos e ligamentares, formando um canal estreito e rígido

A base do túnel é formada pelos ossos do carpo, enquanto o teto é delimitado pelo ligamento transverso do carpo, também conhecido como retináculo dos flexores. No interior desse túnel, passam o nervo mediano e nove tendões dos músculos flexores do antebraço.

Ilustração anatômica da mão direita em vista palmar, destacando o túnel do carpo e o nervo mediano atravessando essa estrutura. Estão identificados o retináculo flexor, os ossos pisiforme, hamato, trapézio e escafoide, além da ramificação do nervo mediano para os dedos.
Estruturas anatômicas envolvidas na síndrome do túnel do carpo. Fonte: UpToDate, 2025.

O nervo mediano, principal estrutura neurológica envolvida na síndrome do túnel do carpo, percorre o túnel em íntima relação com esses tendões. Portanto, qualquer condição que leve ao aumento do conteúdo do túnel ou à redução de seu espaço – como inflamação, edema, tenossinovite ou alterações estruturais – pode resultar na compressão do nervo.

Após atravessar o túnel do carpo, o nervo mediano passa a desempenhar funções motoras e sensoriais na mão. Ele é responsável pela inervação de músculos importantes da região tenar, incluindo:

  • Abdutor curto do polegar;
  • Porção superficial do flexor curto do polegar;
  • Oponente do polegar;
  • Dois primeiros músculos lumbricais.

Leia mais sobre “Dedo em gatilho: diagnóstico e tratamento cirúrgico“.

Características clínicas da síndrome do túnel do carpo

A principal característica clínica da síndrome do túnel do carpo clássica é a presença de dor ou parestesias (formigamento e dormência) nos dedos inervados pelo nervo mediano, geralmente o polegar, indicador, dedo médio e metade lateral do anelar.

Nos estágios mais avançados da síndrome, os sintomas motores tornam-se evidentes. Os pacientes relatam perda de força ou dificuldade para executar tarefas finas com as mãos, como segurar objetos, abrir frascos ou abotoar roupas. Clinicamente, pode-se observar fraqueza nos movimentos de abdução e oposição do polegar, além de atrofia da musculatura tenar.

Além disso, algumas atividades, como digitar, dirigir, ler ou segurar objetos por longos períodos, podem agravar os sintomas, especialmente quando envolvem a flexão ou extensão prolongada dos punhos. Em contrapartida, muitos pacientes relatam alívio momentâneo ao sacudir as mãos ou colocá-las em água morna.

Os sintomas geralmente iniciam à noite, podendo despertar o paciente devido à dor ou parestesia. Com a progressão da condição, os sintomas passam a ocorrer também durante o dia, especialmente em atividades repetitivas.

Por fim, em fases avançadas, há evolução de parestesias intermitentes para perda sensitiva permanente, com padrão específico que poupa a eminência tenar, o que se explica pelo trajeto do ramo palmar do nervo mediano, que passa por fora do túnel do carpo.

Diagnóstico da síndrome do túnel do carpo com USG

A ultrassonografia do nervo mediano é especialmente útil em casos de síndrome do túnel do carpo com apresentação atípica ou quando os testes eletrodiagnósticos não são conclusivos.

Esse exame de imagem auxilia na detecção de alterações estruturais no túnel do carpo que possam estar contribuindo para a compressão nervosa. Entre as possíveis anomalias que podem ser identificadas estão tumores, cistos ganglionares, presença de nervo mediano bífido, artéria mediana persistente, além de alterações ósseas ou articulares.

Além disso, o ultrassom permite a avaliação do nervo mediano, evidenciando sinais como edema, espessamento ou alterações no fluxo sanguíneo, que podem indicar comprometimento funcional.

Achados ultrassonográficos da síndrome do túnel do carpo

Um dos principais achados da ultrassonografia em pacientes com síndrome do túnel do carpo é o aumento da área transversal do nervo mediano no punho, o que indica neuropatia mediana e pode auxiliar na confirmação clínica da condição. Além disso, a redução dessa medida costuma acompanhar a melhora clínica após tratamentos como injeções de glicocorticoides ou cirurgia.

Ademais, os outros achados ultrassonográficos incluem:

  • Aspecto do nervo mediano: o nervo frequentemente apresenta dilatação e características hipoecoicas, indicando edema e alterações na estrutura do nervo causadas pela compressão.
  • Alterações estruturais associadas, como chatamento do nervo mediano, possível redução nas dimensões do túnel do carpo e diminuição da mobilidade do nervo.
  • Variantes anatômicas relevantes que podem influenciar o tratamento, como presença de nervo mediano bífido e artéria mediana persistente.
  • Espessamento do retináculo flexor: que pode ser um fator contribuinte para a compressão do nervo.
Médico realizando exame de ultrassonografia no joelho de um paciente, com destaque para o podcast com Dr. Monres, ortopedista e ultrassonografista musculoesquelético.

Comparação com eletroneuromiografia

No diagnóstico da síndrome do túnel do carpo, tanto a eletroneuromiografia quanto a ultrassonografia apresentam utilidade, mas com finalidades e características distintas.

A eletroneuromiografia é especialmente valiosa para excluir diagnósticos diferenciais, como polineuropatias, radiculopatias cervicais e plexopatias, e para avaliar a gravidade da síndrome do túnel do carpo quando se considera tratamento cirúrgico. Além disso, esse exame detecta sinais de lesão axonal nos músculos inervados pelo nervo mediano.

Já a ultrassonografia neuromuscular tem se mostrado uma alternativa eficaz, especialmente quando realizada por profissionais experientes. Ela permite visualizar diretamente o nervo mediano e estruturas ao redor, sendo útil para identificar alterações anatômicas como, por exemplo, cistos, tumores ou variações vasculares. Além disso, pode demonstrar alterações sugestivas de compressão do nervo mediano.

Portanto, enquanto a ultrassonografia é mais rápida, confortável e útil em casos atípicos, a eletroneuromiografia fornece informações funcionais sobre a gravidade da compressão nervosa. Ademais, também utiliza-se o ultrassom como guia para procedimentos, como injeções ou cirurgias minimamente invasivas.

Procedimentos guiados por USG

A ultrassonografia tem se mostrado uma ferramenta útil não apenas para o diagnóstico da síndrome do túnel do carpo, mas também para guiar procedimentos terapêuticos de forma segura. Dentre esses, destaca-se a injeção de glicocorticoides, realizada com o objetivo de reduzir a inflamação local e promover alívio dos sintomas.

Injeção de glicocorticoides

Geralmente, administra-se uma dose única de metilprednisolona, variando entre 20 e 40 mg, associada a lidocaína a 1%. Alternativamente, emprega-se outros corticosteroides, como a betametasona, no tratamento da síndrome do túnel do carpo.

Durante o procedimento, o uso do ultrassom permite localizar com exatidão o túnel do carpo e identificar estruturas adjacentes, como tendões, vasos sanguíneos e o próprio nervo mediano. Dessa forma, permite que a aplicação da medicação seja feita de maneira mais segura, minimizando o risco de complicações como injeção intravascular ou lesão nervosa, além de reduzir a dor associada ao procedimento.

Nas aplicações realizadas na região proximal ao túnel do carpo, o punho é mantido em extensão e a agulha costuma ser introduzida no lado ulnar do tendão do músculo palmar longo, cerca de 1 cm acima da prega do punho. Ademais, os glicocorticoides também podem ser administrados na região distal ao túnel do carpo.

Leia também sobre “Infiltração articular e periarticular: aplicações terapêuticas“.

Procedimentos cirúrgicos guiados por imagem

O uso do ultrassom também pode contribuir para intervenções minimamente invasivas, como procedimentos cirúrgicos guiados por imagem, aumentando a precisão da abordagem e reduzindo o trauma tecidual.

As abordagens cirúrgicas para tratar a síndrome do túnel do carpo consistem na secção do ligamento transverso do carpo (também chamado de retináculo dos flexores) e da fáscia do antebraço, com o objetivo de aliviar a compressão exercida sobre o nervo mediano. Esse procedimento pode ser realizado por meio de uma incisão convencional, ou técnica endoscópica, com ou sem o auxílio da ultrassonografia.

Casos clínicos e armadilhas diagnósticas

Caso 01: paciente com sintomas unilaterais e eletroneuromiografia inconclusiva

Paciente do sexo feminino, 46 anos, digitadora há mais de 20 anos, procurou atendimento com queixa de dormência no polegar, indicador e dedo médio da mão direita, com piora progressiva ao longo do expediente.

Ao exame físico, apresentava sinais clínicos compatíveis com síndrome do túnel do carpo, como testes de Phalen e Tinel positivos, porém sem evidência de perda de força muscular. A eletroneuromiografia não revelou alterações significativas, o que inicialmente gerou dúvida diagnóstica. No entanto, a ultrassonografia foi fundamental para elucidar o caso, demonstrando aumento da área transversal do nervo mediano no punho (13 mm²), além de vascularização intraneural aumentada — achados compatíveis com compressão do nervo mediano.

Apesar da eletroneuromiografia negativa, o ultrassom foi fundamental para confirmar a compressão do nervo mediano, permitindo o diagnóstico precoce de síndrome do túnel do carpo.

Caso 02: paciente com síndrome do túnel do carpo refratária à infiltração

Paciente do sexo feminino, 50 anos, trabalhadora doméstica, com diagnóstico prévio de síndrome do túnel do carpo confirmado por eletroneuromiografia, retornou ao serviço após ausência de melhora dos sintomas mesmo após seis semanas da aplicação de injeção de corticosteroide.

Devido à falha terapêutica, foi realizada uma avaliação complementar com ultrassonografia, que revelou alterações anatômicas importantes: presença de nervo mediano bífido e artéria mediana persistente no interior do túnel do carpo.

Esses achados explicam a refratariedade ao tratamento conservador e, além disso, destacam a importância da ultrassonografia na identificação de variantes anatômicas que podem interferir tanto no diagnóstico quanto na resposta terapêutica, sendo fundamentais para o planejamento cirúrgico adequado e seguro.

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Referências

  • KOTHARI, M. J. Carpal tunnel syndrome: Pathophysiology and risk factors. UpToDate, 2025.
  • KOTHARI, M. J. Carpal tunnel syndrome: Treatment and prognosis. UpToDate, 2025.
  • WALKER, F. O. Diagnostic ultrasound in neuromuscular disease. UpToDate, 2025.

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