Quais são os principais erros na avaliação de hérnias femorais por USG?

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As hérnias femorais são uma condição relativamente rara, mas clinicamente significativa, devido ao alto risco de encarceramento e estrangulamento. A ultrassonografia (USG) tem se destacado como uma ferramenta diagnóstica bastante útil na rotina médica, especialmente em casos de apresentações atípicas ou duvidosas. No entanto, erros na avaliação podem comprometer o diagnóstico, atrasando o tratamento e aumentando o risco de complicações. 

Este texto aborda os principais erros cometidos na avaliação de hérnias femorais por USG, explorando aspectos de anatomia, sinais clínicos, fatores de risco e técnica ultrassonográfica.

O que são as hérnias? 

Hérnias são protusões de um órgão ou tecido através de um defeito ou área enfraquecida da parede abdominal. Elas podem ocorrer em diversas localizações e são classificadas de acordo com sua anatomia, sendo as mais comuns as inguinais, umbilicais e femorais. 

As hérnias da parede abdominal representam uma das principais causas de dor e desconforto, podendo evoluir com complicações graves caso não sejam diagnosticadas e tratadas adequadamente.

Classificação quanto à localização das hérnias

As hérnias podem ser classificadas com base em sua localização anatômica. São elas: 

  • Hérnias Inguinais: Ocorrendo na região inguinal, podem ser divididas em diretas e indiretas, dependendo de sua relação com os vasos epigástricos inferiores.
  • Femorais: Localizadas abaixo do ligamento inguinal, no canal femoral.
  • Umbilicais: Protrusões ao redor do umbigo.
  • Incisionais: Associadas a cicatrizes cirúrgicas.
  • Epigástricas: Situadas entre o umbigo e o apêndice xifóide.
  • Outras hérnias raras: Como as de Spiegel ou lombares.
Imagem I: Hérnias da parede abdominal. Fonte: Aula Cetrus.

Hérnias da parede abdominal: foco nas hérnias femorais

As hérnias da parede abdominal representam uma das condições cirúrgicas mais comuns. Dentre elas, as hérnias localizadas na região da virilha, femorais e inguiniais, são umas das mais conhecidas e comuns. 

As hérnias femorais, embora menos prevalentes, possuem maior risco de complicações, como estrangulamento. Por outro lado, as hérnias inguinais são as mais frequentes e raramente causam complicações graves.

Imagem II. Hérnia Femoral e Hérnia Inguinal. Fonte: Uptodate, 2024.

Anatomia da região abdominal

A região abdominal é composta por pele, tecido subcutâneo, plano músculo-aponeurótico e peritônio. Os pontos de referência anatômicos mais importantes incluem o púbis, o processo xifóide, o rebordo costal e a espinha ilíaca ântero-superior. O ligamento inguinal, que se estende da espinha ilíaca ântero-superior ao púbis, também é uma estrutura relevante nessa região.

Os principais músculos envolvidos incluem o reto abdominal, oblíquos interno e externo e o transverso do abdome

A compreensão anatômica da parede abdominal é essencial para o manejo das hérnias:

  • Região inguinal: Inclui o canal inguinal, contendo estruturas como o cordão espermático nos homens e o ligamento redondo nas mulheres. As hérnias inguinais indiretas ocorrem lateralmente aos vasos epigástricos inferiores, enquanto as diretas surgem medialmente.
  • Região femoral: Localizada inferiormente ao ligamento inguinal, o canal femoral é uma passagem estreita que, em condições normais, não deveria permitir protrusões. Esta é a localização das hérnias femorais.
Imagem III. Hérnias inguinais indiretas se desenvolvem no anel inguinal interno e são laterais à artéria epigástrica inferior. As hérnias inguinais diretas ocorrem através do triângulo de Hesselbach (delineado em azul) formado pelo ligamento inguinal inferiormente, os vasos epigástricos inferiores lateralmente e o músculo reto abdominal medialmente. Hérnias femorais se desenvolvem no espaço vazio no aspecto medial do canal femoral, inferior ao ligamento inguinal. Fonte: Uptodate, 2024.

Hérnias femorais

As hérnias femorais ocorrem quando estruturas intra-abdominais, como gordura ou alças intestinais, atravessam o canal femoral. Este canal está localizado inferiormente ao ligamento inguinal, medial à veia femoral e lateral às estruturas linfáticas no triângulo femoral. A dimensão reduzida do canal femoral e a presença de limites anatômicos rígidos aumentam a probabilidade de encarceramento e estrangulamento, tornando o diagnóstico precoce essencial.

Elas são mais comuns em mulheres, especialmente em idade avançada e após múltiplos partos, devido ao enfraquecimento da parede abdominal. Representam menos de 5% de todas as hérnias, mas possuem um risco significativo de encarceramento e estrangulamento, atingindo até 30% dos casos.

Fatores de risco

Os fatores de risco para o desenvolvimento de hérnias femorais incluem:

  • Sexo feminino: Devido à anatomia pélvica mais ampla.
  • Idade avançada: Associada ao enfraquecimento da parede abdominal.
  • Histórico de cirurgia abdominal: Pode comprometer a integridade da parede abdominal.
  • Obesidade ou perda de peso abrupta: Que podem alterar a pressão intra-abdominal ou o suporte dos tecidos.
  • Mulheres multíparas: Mais propensas a desenvolver hérnias femorais devido ao enfraquecimento da parede abdominal.

Sinais e sintomas das hérnias femorais

Os sinais e sintomas de hérnias femorais podem variar de assintomáticos a quadros graves de obstrução intestinal. Os pacientes frequentemente relatam dor ou desconforto na região inguinal ou na raiz da coxa, podendo ser exacerbado por atividades que aumentam a pressão intra-abdominal, como tosse ou levantamento de peso. Uma protuberância é frequentemente percebida na região femoral.

Em casos de estrangulamento, podem ocorrer sintomas como dor intensa, edema, eritema local e sinais sistêmicos, como febre e leucocitose. Podem ocorrer ainda náuseas e vômitos e sinais de obstrução intestinal, que podem indicar complicações graves. 

Diagnóstico das hérnias femorais

O diagnóstico baseia-se na combinação de exame clínico e exames complementares. Na maioria dos casos, o diagnóstico de hérnia inguinal ou femoral pode ser feito com base na história e no exame físico, sem a necessidade de estudos adicionais. Entretanto, o diagnóstico pode ser mais difícil em mulheres e pessoas com obesidade, para as quais pode ser necessária uma avaliação diagnóstica adicional.

O exame físico é a etapa inicial, com palpação da região femoral para identificar protusões, especialmente durante manobras que aumentam a pressão intra-abdominal, como a manobra de Valsalva. Embora essencial, sua precisão pode ser limitada por fatores como obesidade ou hérnias pequenas. 

Assim, de forma geral, solicitamos a ultrassonografia da parede abdominal. A USG oferece um método não invasivo para confirmar a presença de hérnias, permitindo identificar conteúdo e tamanho da protrusão, além de diferenciar outras patologias.

Exame físico da parede abdominal

O exame da parede abdominal deve ser feito com o paciente em pé e deitado. Em muitos casos, as hérnias são facilmente identificáveis, e os limites do defeito fascial podem ser palpados. Quando o paciente está deitado, é possível reduzir o conteúdo herniário para estimar o tamanho do defeito. Toda a parede abdominal deve ser cuidadosamente examinada, especialmente ao longo de cicatrizes, para detectar possíveis hérnias adicionais.

O sinal mais comum em adultos é uma protuberância na virilha, confirmada pedir ao paciente para tossir ou realizar a manobra de Valsalva enquanto o examinador palpa o local. Se a hérnia não for visível ou palpável, pode-se usar técnicas específicas:

  • Homens: Pode-se identificar as hérnias inguinais menores inserindo o dedo no canal inguinal através da base do escroto. Ao realizar Valsalva, uma hérnia pode ser percebida como um impulso contra o dedo.
  • Mulheres: Como geralmente não há protuberância visível e o exame masculino não é aplicável, exames de imagem, como ultrassonografia, são frequentemente necessários para detectar a hérnia.

Além disso, deve-se avaliar a região femoral, identificando a artéria femoral e examinando medialmente em direção ao tubérculo púbico. Pode-se confundir as hérnias femorais com hérnias inguinais quando próximas ao ligamento inguinal.

Hérnias encarceradas ou estranguladas podem causar dor a palpação, febre e eritema na pele. Peritonite generalizada é rara, mas pode ocorrer se houver redução espontânea ou involuntária de um segmento intestinal estrangulado, levando a sinais de obstrução ou perfuração.

Ultrassonografia na avaliação de hérnias femorais

A USG é amplamente utilizada na avaliação de hérnias devido à sua acessibilidade, baixo custo e ausência de radiação ionizante. Ela permite a visualização dinâmica das estruturas abdominais em tempo real, facilitando a identificação de hérnias e suas complicações. Contudo, a precisão do exame depende da técnica empregada e da experiência do operador.

Técnica de USG na identificação de hérnias femorais

Deve-se utilizar um transdutor linear com auxílio do gel. Deve-se identificar o ligamento inguinal com o aparelho, onde será possível visualizar os vasos inguinais, veias e artérias femorais. 

Imagem IV. Artéria e veia femoral na imagem da ultrassonografia. Fonte: Aula Cetrus.

As hérnias femorais apresentam-se em uma topografia específica, na região exata, medial à veia femoral. A partir da inserção do transdutor na inserção ideal para avaliar este tipo de hérnia, podemos pedir ao paciente para realizar a manobra de Valsalva. 

Imagem V. Veia femoral e hérnia femoral logo à medial da veia, durante a manobra de valsalva. Fonte: Aula Cetrus.

Principais erros na avaliação de hérnias femorais pela USG

  • Dificuldade na diferenciação entre hérnias femorais e inguinais: A proximidade anatômica entre os canais femoral e inguinal pode levar a confusões diagnósticas. A identificação incorreta do tipo de hérnia pode afetar o planejamento cirúrgico e o prognóstico do paciente.
  • Falsos negativos devido a técnicas inadequadas: Uma realização prática do exame, como a não utilização da manobra de Valsalva, pode impedir a visualização de hérnias intermitentes ou de pequeno tamanho, resultando em falsos negativos.
  • Falsos positivos causados ​​por estruturas anatômicas normais: A interpretação errônea de estruturas normais, como linfonodos ou vasos sanguíneos, pode levar a diagnósticos indiretos de hérnia femoral. A experiência do operador é crucial para evitar tais equívocos.
  • Limitações na detecção de hérnias ocultas: Hérnias femorais pequenas ou assintomáticas não podem ser detectadas pela USG, especialmente em pacientes obesos ou com anatomia complexa. Nesses casos, pode-se indicar métodos de imagem complementares, como a ressonância magnética.
  • Dependência da experiência do examinador: A acurácia da USG na detecção de hérnias femorais está intimamente ligada à habilidade e experiência do profissional que realiza o exame. Examinadores menos experientes podem apresentar maiores taxas de erros diagnósticos.

Leia mais: Por que escolher a pós-graduação em ultrassonografia geral do Cetrus

Melhores práticas na avaliação por USG

  • Conhecimento anatômico detalhado: Familiarizar-se com as estruturas do triângulo femoral e suas relações anatômicas.
  • Treinamento adequado: Desenvolver habilidades técnicas e interpretar imagens de forma precisa.
  • Utilização de protocolos padronizados: Realizar exames bilaterais e incluir manobras dinâmicas como rotina.
  • Documentação completa: Registrar imagens de alta qualidade e anotar observações relevantes.

Comparativo entre exame físico e ultrassonografia no diagnóstico

Importância do exame físico

  • Avaliação inicial acessível e rápida.
  • Facilita a identificação de hérnias maiores e encarceradas.
  • Limitações: redução da precisão em pacientes obesos ou com hérnias de difícil palpação.

Vantagens da ultrassonografia

  • Maior sensibilidade e especificidade.
  • Diferenciação entre hérnias e outras massas.
  • Visualização dinâmica, identificando protrusões que só aparecem durante manobras.
  • Limitações: dependência do operador e disponibilidade do equipamento.

Comparação direta

  • Prefere-se o exame físico como primeira abordagem, especialmente em emergências.
  • Recomenda-se a ultrassonografia em casos duvidosos ou para confirmação diagnóstica, com papel importante na avaliação pré-operatória.

Cenários clínicos

  • Exame físico: Indicado em emergências, como suspeita de estrangulamento.
  • Ultrassonografia: Ideal em avaliações eletivas, hérnias pequenas ou pacientes com físico adverso à palpção.

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Referências

  1. BROOKS, D.C. Overview of abdominal wall hernias in adults. Uptodate, 2024
  2. BROOKS, D.C.; HAWN, M. Classification, clinical features, and diagnosis of inguinal and femoral hernias in adults. Uptodate, 2024 
  3. Brandel DW, Girish G, Brandon CJ, Dong Q, Yablon C, Jamadar DA. Role of Sonography in Clinically Occult Femoral Hernias. J Ultrasound Med. 2016 Jan;35(1):121-8. doi: 10.7863/ultra.15.02061. Epub 2015 Dec 11. PMID: 26657750.
  4. DUARTE, B.H.F. Avaliação da acurácia do exame ultrassonográfico em pacientes portadores de hérnia inguinal. Artigo Original • Rev. Col. Bras. Cir. 46 (2) • 2019 •

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