A Cardiologia Pediátrica: desafios e avanços

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As cardiopatias congênitas afetam cerca de 1 a cada 100 recém-nascidos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e representam a principal causa de morte por malformações no primeiro ano de vida. No Brasil, estima-se que cerca de 28 mil crianças nasçam anualmente com algum tipo de cardiopatia, das quais 80% necessitam de acompanhamento médico especializado desde os primeiros dias de vida.

Diante desse cenário, a Cardiologia Pediátrica desponta como uma das áreas mais desafiadoras e, ao mesmo tempo, mais gratificantes da medicina moderna. Envolve decisões críticas, tecnologias avançadas e uma relação de longo prazo com o paciente e sua família.

Para entender melhor essa especialidade e conhecer a formação prática da Pós-Graduação em Cardiologia Pediátrica da Cetrus, conversamos com a Dra. Vanessa Guimarães, referência na área.

Sobre a  Dra. Vanessa Guimarães

A Dra. Vanessa Guimarães é coordenadora da Cardiologia Pediátrica do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo e médica do InCor-HCFMUSP, com atuação no Transplante Cardíaco Pediátrico. É ECLS Specialist pelo Stollery Children’s Hospital (Canadá), revisora do periódico Cardiology in the Young (Cambridge, Inglaterra), e autora de quatro livros da Série CardioHumanização.

Com ampla formação em pesquisa clínica, gestão em saúde e experiência prática em hospitais de referência, a Dra. Vanessa coordena o curso de Pós-Graduação em Cardiologia Pediátrica da Cetrus, que une excelência técnica, prática intensiva e visão humanizada do cuidado.

Entrevista com a Dra. Vanessa Guimarães

O que a motivou a escolher a Cardiologia Pediátrica como área de atuação?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Desde o início, me encantou a possibilidade de mudar a história natural de uma criança, desde o pré-natal até o adulto com cardiopatia congênita. A Cardiologia Pediátrica reúne ciência de ponta, tomada de decisão em equipe e uma dose enorme de humanidade. O que mais me atrai é ver a criança voltar a brincar, estudar, sonhar… e acompanhar essa família por muitos anos.”

Quais são os maiores desafios enfrentados pelos médicos que atuam na área e como o curso de Cardiologia Pediátrica prepara os alunos para enfrentá-los?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Os desafios são inúmeros, mas vou citar os principais: diagnóstico precoce e acurado em cenários complexos, tomada de decisão em condições raras com janelas terapêuticas curtas e comunicação com pais em momentos de alta carga emocional. O curso prepara os alunos com simulações realísticas de cenários críticos, discussão de casos reais e checklists de decisão rápida, além de avaliações práticas com OSCE (Objective Structured Clinical Examination). O aluno sai preparado para lidar com situações de alta complexidade.”

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Quais são os principais diferenciais da Pós-Graduação em Cardiologia Pediátrica em comparação com outros programas similares?

Dra. Vanessa Guimarães:

O curso foi construído por especialistas que atuam em centros de referência como o Sírio-Libanês, InCor, HCor e Dante Pazzanese, unindo profundidade técnica, prática intensiva e humanização.
Entre os diferenciais:

  • Aprendizado hands-on com simulações de emergência, uso de POCUS, ECMO e ecocardiografia funcional;
  • Integração multiprofissional com médicos, enfermeiros e fisioterapeutas;
  • Mentoria personalizada e portfólio de competências;
  • Atualização constante segundo as diretrizes internacionais (AHA, ESC, SBC, ACC).

Além disso, o curso amplia o olhar da Cardiologia Pediátrica para temas como miocardites, COVID-19, performance esportiva infantil, transtornos alimentares e prevenção cardiovascular, promovendo uma visão global e moderna do cuidado.”

Quais são os avanços mais recentes na Cardiologia Pediátrica e como o curso da Cetrus incorpora esses avanços no currículo?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Estamos vivenciando um salto tecnológico na área.
Entre os principais avanços:

  • Inteligência artificial aplicada ao ecocardiograma fetal e pediátrico;
  • Modelagem 3D e realidade virtual no planejamento cirúrgico;
  • Expansão das intervenções percutâneas e novas válvulas cardíacas;

Protocolos modernos de UTI e insuficiência cardíaca pediátrica.
Essas inovações já estão incorporadas ao currículo do curso, sempre com uma abordagem prática e contextualizada.”

Há um caso clínico que exemplifique a complexidade e a importância da especialidade?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Sim. Lembro de uma bebê de quatro meses com bronquiolite grave, sepse e síndrome da angústia respiratória aguda. A instabilidade hemodinâmica parecia indicar apenas disfunção sistólica, mas o ecocardiograma funcional revelou disfunção diastólica significativa.

Com ajustes finos na hemodinâmica e no uso de inotrópicos, conseguimos reverter o quadro. Foi um divisor de águas — uma lembrança viva de que a Cardiologia Pediátrica exige ciência, sensibilidade e trabalho em equipe.”

Quais são os principais erros no diagnóstico precoce e como evitá-los?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Os erros mais comuns incluem subestimar cianose discreta, não medir saturação pré e pós-ductal, não palpar pulsos nos quatro membros e interpretar sopros isoladamente.No curso, trabalhamos com checklists de triagem neonatal, algoritmos de “red flags” por faixa etária e estações práticas de decisão rápida para evitar esses equívocos e fortalecer o raciocínio clínico.”

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Quais pesquisas recentes merecem destaque na Cardiologia Pediátrica?

Dra. Vanessa Guimarães:

Algumas pesquisas e linhas emergentes relevantes em Cardiologia Pediátrica e Cardiopatias Congênitas dos últimos anos:

1. Novel Frontiers in Pediatric Cardiology: Beyond the Heart – JACC Advances (2025): Aborda como neuromonitorização, biomarcadores neurológicos e técnicas de imagem avançada estão sendo integradas para aprimorar o cuidado de crianças com cardiopatia, pensando além do coração.

2. Temperature and Neurologic Outcomes in Neonatal Cardiac Surgery – Estudo da Society of Thoracic Surgeons: o nadir da temperatura intraoperatória não teve correlação com risco de lesão neurológica precoce em neonatos com cirurgia cardíaca. Curiosamente, temperaturas intra­operatórias mais baixas pareceram protetoras em pacientes submetidos ao procedimento de Norwood.

3. Recent advances in pediatric interventional cardiology – Revisão que resume o impacto de fusão de imagem (fluoroscopia + eco “EchoNavigator”, “VesselNavigator”), angiografia rotacional com roadmap 3D, impressão 3D e simulação da anatomia para planejamento intervencionista.

4. Pediatric Electrophysiology in 2024: End of the Year Review – Avalia progresso em ablação com mapeamento elétrico, minimização ou eliminação de fluoroscopia, ecocardiografia intracardíaca e dispositivos mais seguros em cardiopatas.

5. Artificial intelligence in pediatric cardiology: Where do we stand?

Estudo de base que acompanha as aplicações de IA (machine learning) em análise de imagens (ecocardiografia, ECG), detecção precoce e prognóstico. Os autores mostram que muitos modelos ainda estão em fase de pesquisa, mas há potencial claro de impacto clínico.

6. Transition to a non‐invasive rejection surveillance protocol with donor‐derived cell-free DNA in pediatric heart transplant recipients – Pesquisa prática que aborda a substituição progressiva de biópsias cardíacas por métodos não invasivos, como o DNA livre do doador (dd-cfDNA), para monitoramento de rejeição em retransplantes pediátricos.

7. Surgery for Neonates with Univentricular Physiology – Estudo usando dados do European Congenital Heart Surgeons Association (ECHSA) para avaliar resultados cirúrgicos em neonatos com coração univentricular nos últimos 10 anos, identificando fatores de risco e taxas de mortalidade/morbidade.

Além dessas publicações específicas, há algumas direções de pesquisa que estão ganhando força:

• Modelos de IA interpretáveis aplicados ao ecocardiograma e ao ECG para predição precoce de disfunções, falhas hemodinâmicas ou complicações pós-op.

• Integração multidômio (imagens + biomarcadores + genômica) para estratificação de risco e medicina personalizada.

• Monitoramento remoto / telemonitoramento hemodinâmico em cardiopatas menores ou até em fases intermediárias (ex: após shunt ou interveções).

• Impressão 3D, realidade aumentada/virtual e simulação para planejamento cirúrgico/intervencionista, inclusive para educação e treinamento.

• Desenvolvimento genético e fenotípico de cardiopatias congênitas e como afetar o prognóstico neurodesenvolvimental (ex: CHD Genes).

• Transição de cuidados (adolescente → adulto com cardiopatia congênita): avaliação de modelos de transição e impacto na adesão e resultados cardíacos-cerebrais.

• Estudos longitudinais de sobrevida de cardiopatas congênitos, rastreando risco cardiovascular secundário (hipertensão, disfunção ventricular, fibrilação) ao longo da vida.”

Quais conselhos daria a médicos interessados em se especializar nessa área?

Dra. Vanessa Guimarães:

“Domine o exame físico pediátrico e a hemodinâmica do recém-nascido.

Treine a comunicação com famílias, trabalhe em equipe multiprofissional e mantenha-se sempre atualizado sobre as novas tecnologias.

Procure mentores e construa um portfólio de casos. E, sobretudo, cuide de si mesmo — é uma área intensa, que exige propósito e equilíbrio.”

Conheça mais sobre o curso de Pós-graduação em Cardiologia Pediátrica

Se você é médico pediatra, cardiologista, intensivista ou emergencista e está em busca de uma formação aprofundada e atualizada em Cardiologia Pediátrica, a Pós-Graduação do Cetrus oferece a base sólida e a prática necessária para enfrentar os desafios dessa especialidade.

Com a coordenação do Dra. Vanessa Guimarães, um dos maiores nomes da Cardiologia Pediátrica no Brasil, este curso proporciona uma experiência única. Ele une teoria de ponta, simulações práticas e uma visão humanizada do cuidado com o paciente infantil.

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