Acesso transforaminal: técnica e aplicações na cirurgia da coluna

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Saiba tudo sobre o acesso transforaminal na cirurgia da coluna!

A cirurgia de coluna é uma das áreas com maior avanço dentro das especialidades cirúrgicas, especialmente no que diz respeito às tecnologias utilizadas em equipamentos de imagem, navegadores, implantes, técnicas cirúrgicas e abordagens. O desenvolvimento de afastadores, tubos e endoscópios menos invasivos, por exemplo, têm possibilitado procedimentos com acessos cada vez mais minimamente invasivos e com excelentes resultados.

Existem diversos acessos à coluna conhecidos atualmente, entre os quais é possível citar o acesso lateral, o acesso posterior e o acesso oblíquo. Além disso, as cirurgias de coluna podem ser realizadas através de uma abordagem endoscópica, desde que atendam aos seguintes critérios:

  • Uso de um endoscópio com canal funcional e sistema endoscópico;
  • Abordagem completamente percutânea com uma pequena incisão, semelhante a uma punção na pele (“incisão por facada”);
  • Técnica de portal único realizada sob irrigação contínua com soro fisiológico.

Utiliza-se o endoscópio tanto como ferramenta de visualização quanto como canal de trabalho integrado, sendo este último responsável por oferecer um acesso cirúrgico para o uso de ferramentas que permitem manipular, ablacionar e remover tecidos.

Realiza-se a abordagem endoscópica da coluna cervical, torácica ou lombar. Todavia, a maioria dos casos são realizados na coluna lombar, o que representa 90%.

Dentre as técnicas de abordagem endoscópica, a mais comumente utilizada na prática é a cirurgia endoscópica percutânea ou totalmente endoscópica, onde o endoscópio é utilizado como canal de trabalho, diferente dos procedimentos assistidos por endoscópio, onde as ferramentas são inseridas através de trajetórias distintas daquelas utilizadas pelo endoscópio.

Por fim, divide-se as principais abordagens endoscópicas entre acesso transforaminal e acesso interlaminar. Neste texto, veremos aspectos importantes do acesso transforaminal, incluindo suas técnicas e aplicações. 

Definições do acesso transforaminal

Realiza-se o acesso transforaminal com o paciente em decúbito ventral, com os quadris e joelhos flexionados, sob anestesia local, sedação ou anestesia geral. No caso de anestesia geral, pode ser feito monitoramento neurofisiológico para que o cirurgião avalie a função da raiz nervosa emergente e das estruturas próximas ao local que está sendo abordado.

Obter o acesso mais próximo possível da lesão discal e evitar a irritação da raiz nervosa são os principais objetivos da via transforaminal endoscópica. Para isso, associa-se a foraminoplastia ao procedimento que consiste na recalibração do forame intervertebral por meio da remoção ou afinamento das bordas ósseas. Para isso, utiliza-se brocas específicas para foraminoplastia ou outras ferramentas percutâneas.

Além disso, para o sucesso da técnica, o ângulo e o ponto de acesso no forame são importantes, podendo ser ajustados conforme o biotipo do paciente, o nível do disco e a área a ser abordada. Por exemplo, utiliza-se a distância da linha média de 10 a 12 cm nos níveis lombares inferiores (L4-L5 e L5-S1), enquanto em níveis superiores a abordagem é mais próxima da linha média devido à proximidade com os rins.

Após a realização da incisão posterolateral, um fio-guia é introduzido para alcançar o espaço conhecido como triângulo de Kambin, que é delimitado lateralmente pela raiz nervosa emergente, medialmente pela dura-máter e inferiormente pela porção superior do pedículo da vértebra inferior.

Fonte: ResearchGate

Por fim, dilata-se a via de acesso progressivamente através de afastadores rombos até a inserção do canal de trabalho. O cirurgião introduz o endoscópio após posicioná-lo corretamente.. A forma mais eficaz de garantir o posicionamento adequado é por meio da visualização das estruturas que compõem o forame intervertebral, o que aumenta a segurança do procedimento cirúrgico através do acesso transforaminal.

Vantagens do acesso transforaminal

O acesso transforaminal, por ser considerado uma técnica minimamente invasiva, exige menor manipulação dos tecidos e, portanto, resulta em menos danos ao tecido durante o procedimento cirúrgico. Dessa forma, está associado a menor inflamação local e sistêmica e menor lesão muscular iatrogênica.  

Além disso, observou-se que em tal acesso ocorre visualização de alta resolução e fora do eixo do campo cirúrgico. Ademais, o acesso transforaminal associa-se a baixas taxas de complicações perioperatórias e pós-operatórias em comparação com a cirurgia tradicional da coluna. O sangramento durante o procedimento, por exemplo, é mínimo e o paciente apresenta menor dor pós-operatória e menores taxas de infecção.

A cirurgia endoscópica com acesso transforaminal também é um procedimento mais rápido, associado a uma recuperação mais rápida e com retorno precoce às atividades laborais.

Por fim, diversos estudos confirmam que as técnicas endoscópicas minimamente invasivas não comprometem os resultados cirúrgicos, visto que observa-se resultados iguais ou até superiores em comparação com a cirurgia aberta tradicional. 

Principais técnicas com acesso transforaminal 

Entre os procedimentos endoscópicos com acesso transforaminal mais comuns, inclui-se os seguintes:

  • Discectomia torácica endoscópica transforaminal (TETD);
  • Discectomia lombar endoscópica transforaminal (TELD);
  • Foraminotomia lombar transforaminal (TELF);
  • Descompressão endoscópica transforaminal do recesso lateral (TE-LRD).

Discectomia torácica endoscópica transforaminal (TETD)

Devido à anatomia da coluna torácica e das costelas adjacentes, o ângulo de acesso é restrito nesse tipo de procedimento. Dessa forma, a foraminoplastia é necessária para criar espaço para a cânula de trabalho e proporcionar um pequeno aumento na angulação. Utiliza-se essa abordagem para hérnias de disco fora da linha média, por exemplo. Porém, tal técnica é menos eficaz na coluna torácica superior, visto que a escápula pode obstruir o caminho de acesso.

Discectomia lombar endoscópica transforaminal (TELD)

Considera-se a descrição do “triângulo de Kambin” como um marco no desenvolvimento das abordagens transforaminais para cirurgia endoscópica da coluna. Esse ponto de entrada seguro para o disco intervertebral possibilitou o avanço de instrumentos de nucleotomia muito pequenos e semelhantes a agulhas, abrindo caminho para o desenvolvimento de instrumentos maiores e canais de trabalho.

Essa abordagem é utilizada para a descompressão endoscópica em pacientes com radiculopatia secundária à hérnia de disco. Uma das técnicas disponíveis é a abordagem “de dentro para fora”, na qual o endoscópio é inserido no núcleo do disco por meio da janela anular foraminal. Nessa técnica, a ressecção discal ocorre progressivamente durante a retirada do endoscópio. No entanto, os cirurgiões têm preferido técnicas mais recentes do tipo “de fora para dentro”, pois essas abordagens oferecem melhor visualização do campo cirúrgico e maior precisão na identificação dos marcos anatômicos ósseos.

Foraminotomia lombar transforaminal (TELF)

Tem como objetivo visualizar e aliviar a compressão da raiz nervosa afetada ao longo de seu trajeto pelo forame. Refere-se, portanto, ao processo de alargamento do forame, permitindo o acesso dos instrumentos endoscópicos para a remoção de fragmentos no canal espinhal. 

Descompressão endoscópica transforaminal do recesso lateral (TE-LRD)

O impacto da raiz nervosa transversal entre o anel do disco e a articulação sacroilíaca posterior pode resultar em estenose sintomática do recesso lateral. Frequentemente, utiliza-se abordagens interlaminares para descomprimir os elementos neurais afetados nesse recesso. Porém, o cirurgião também utiliza a descompressão transforaminal do recesso lateral nos casos de estenose foraminal, obtendo bons resultados.

Indicações do acesso transforaminal

As principais indicações do acesso transforaminal incluem:

  • Hérnia de disco, incluindo as hérnias foraminais e extraforaminais;
  • Estenose do canal lombar;
  • Espondilolistese degenerativa.

Hérnia de disco

Define-se hérnia de disco como uma condição onde há o deslocamento do núcleo gelatinoso de um disco vertebral, rompendo o revestimento responsável por sua proteção.

A hérnia de disco lombar, por sua vez, é uma importante causa de dor lombar, sendo a principal motivação para a realização de cirurgias de coluna em homens por volta dos 40 anos de idade. 

Nesse contexto, a discectomia endoscópica transforaminal consiste numa técnica pouco invasiva e com diversas vantagens, entre elas menor dano ao tecido e menores taxas de infecção, conservação da musculatura paravertebral, redução no tempo de hospitalização e reabilitação e menor tempo cirúrgico. Sua principal desvantagem, porém, está associada a longa curva de aprendizado necessária para sua realização.

Saiba mais: Passos para uma avaliação da dor na coluna lombar.

Estenose do canal lombar

Define-se a estenose do canal lombar como o estreitamento do canal vertebral, dos forames ou do recesso lateral, resultando em dor lombar que pode irradiar para as nádegas e membros inferiores. Entre as principais causas de estenose estão as alterações congênitas, traumatismos, tumores ósseos, entre outros. 

O médico trata essa condição com terapia conservadora ou abordagem cirúrgica, considerando a terapia conservadora como padrão-ouro. Porém, nos casos onde há falha no tratamento conservador, sintomatologia aguda, comprometimento neurológico com déficit motor ou claudicação, recomenda-se o tratamento cirúrgico, que envolve a descompressão do canal vertebral através de diversas técnicas.

A cirurgia padrão-ouro consiste na técnica aberta por laminectomia ou laminotomia. Todavia, quando puramente foraminal, a estenose pode resolver-se através da técnica endoscópica percutânea através do acesso transforaminal.

Espondilolistese

Em alguns casos de estenose do canal lombar com sintomas, observa-se a presença de espondilolistese degenerativa nas imagens. O grau de degeneração das facetas e dos discos que leva à espondilolistese varia entre os casos, sendo que a vértebra superior pode deslizar para frente ou lateralmente em relação à inferior. Esse deslocamento pode causar compressão das raízes nervosas nos forames ou no recesso lateral, além de reduzir o diâmetro do canal vertebral, resultando em estenose central.

Recomenda-se descompressão na maioria dos casos que requerem tratamento cirúrgico. No entanto, se for necessária uma ressecção mais extensa das facetas ou se houver sinais de instabilidade clínica ou radiológica, deve-se combinar a descompressão com uma artrodese. Nesses casos, o cirurgião realiza a abordagem por via posterolateral aberta ou emprega uma técnica minimamente invasiva, como a fusão intersomática lombar transforaminal (TLIF). Esta última, porém, tem como vantagens um menor tempo de hospitalização, menor sangramento e menor grau de dor.

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Referências

  1. ASANO, L.Y.J. et al. Discectomia endoscópica transforaminal lombar: resultados clínicos e complicações.  Rev Bras Ortop, Vol. 55, 2020.
  2. HENNEMANN, S. ABREU, M.R. Estenose degenerativa do canal lombar.  Rev Bras Ortop, Vol. 56, 2021.
  3. HOFSTETTER, C.P. et al. AOSpine Consensus Paper on Nomenclature for Working-Channel Endoscopic Spinal Procedures. Glob Spine J, 2020.
  4. ONO, A.H.A. et al. Acesso à coluna lombossacral: Visão atual.  Rev Bras Ortop, Vol. 5, 2024.

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