Introdução
As doenças de pele na infância são motivo frequente de consultas médicas, tanto em consultórios pediátricos quanto dermatológicos. Embora muitas sejam benignas, elas podem causar desconforto, impacto na qualidade de vida e até complicações se não forem diagnosticadas e tratadas adequadamente.
Neste artigo, vamos explorar as 10 lesões dermatológicas pediátricas mais comuns, com foco em epidemiologia, sintomas, causas, diagnóstico diferencial e condutas.
O que são lesões dermatológicas pediátricas?
Lesões dermatológicas pediátricas correspondem a alterações da pele que podem surgir em crianças desde o período neonatal até a adolescência. Elas incluem infecções, inflamações, alergias, parasitoses e até manifestações de doenças sistêmicas. O reconhecimento clínico é essencial, já que a maioria pode ser diagnosticada apenas pela história e pelo exame físico.
Epidemiologia
Estima-se que até 30% das consultas pediátricas (Sociedade Brasileira de Pediatria) envolvam queixas dermatológicas. Condições como dermatite atópica e dermatite de fralda estão entre as mais prevalentes, enquanto infecções como impetigo, escabiose e molusco contagioso são comuns em ambientes escolares e creches. A frequência varia conforme idade, fatores ambientais, socioeconômicos e hábitos de higiene.
Sintomas mais comuns
Apesar da diversidade de diagnósticos, alguns sintomas aparecem repetidamente:
- Prurido (coceira): presente em quadros como dermatite atópica, escabiose e urticária.
- Eritema (vermelhidão): típico das dermatites irritativas e infecciosas.
- Descamação: frequente nas dermatofitoses e psoríase.
- Vesículas e pústulas: indicam infecção bacteriana ou viral.
- Nódulos e cistos: comuns na acne juvenil.
A combinação desses sinais, junto da idade e história clínica, orienta o diagnóstico diferencial.
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As 10 lesões mais comuns
1. Dermatite Atópica (Eczema)
Diagnóstico diferencial e abordagem: A dermatite atópica é uma dermatose inflamatória crônica e pruriginosa que tipicamente inicia na infância e está associada a atopia pessoal ou familiar. É essencial diferenciar o eczema atópico de outras dermatoses pruriginosas. Diagnósticos diferenciais incluem dermatite de contato alérgica (lesões similares, porém restritas a áreas de contato com o alérgeno, confirmadas por teste de contato), dermatite seborreica infantil (início mais precoce, primeiras semanas de vida, comprometendo couro cabeludo e área das fraldas, geralmente sem prurido intenso), escabiose (prurido noturno intenso; procurar sulcos e lesões em membros, poupando face) e psoríase (placas bem delimitadas e descamativas, menos comuns em crianças pequenas). Em casos atípicos ou refratários, considerar imunodeficiências primárias ou dermatoses raras.
O diagnóstico da dermatite atópica é clínico, baseado em critérios como prurido, padrão típico de distribuição das lesões por faixa etária e história atópica. Exames complementares geralmente não são necessários para confirmar a doença, mas testes alérgicos podem ser feitos se houver suspeita de desencadeantes alimentares ou ambientais – lembrando que alergia alimentar está presente em minoria dos casos moderados a graves. A abordagem inicial enfatiza identificar e eliminar agravantes (irritantes cutâneos, alérgenos ambientais) e avaliar gravidade para orientar o tratamento.
Conduta e orientações aos pais: O manejo baseia-se em hidratação intensiva da pele e controle da inflamação. É importante educar os pais sobre a natureza crônica da doença, que oscila entre exacerbações e remissões. Recomenda-se banhos curtos (5–10 min) com água morna, uso de sabonetes suaves (pH neutro ou levemente ácido) e imediata aplicação de emolientes após o banho (“soak and seal” – “mergulhar e selar”). Orientar o uso diário de hidratantes hipoalergênicos em toda a pele para restaurar a barreira cutânea.
Nas crises agudas, utilizam-se corticóides tópicos de baixa a média potência nas lesões inflamadas por períodos curtos. Inibidores de calcineurina tópicos (como tacrolimo ou pimecrolimo) são opções em áreas sensíveis ou para manutenção. Anti-histamínicos orais podem ajudar a aliviar o prurido noturno e melhorar o sono. Casos disseminados ou graves podem requerer terapias sistêmicas (antihistamínicos sedativos, corticóides sistêmicos em curto prazo, e em cenários específicos imunossupressores ou biológicos) – idealmente conduzidos com especialista.
Cuidados gerais: manter as unhas curtas da criança para minimizar escoriações por coçar; vestir roupas de algodão (evitar tecidos sintéticos ou lã); controlar temperatura e umidade do ambiente, já que calor e suor excessivo agravam o prurido.
Orientações aos pais: reforçar que a dermatite atópica não é contagiosa e que a aderência às medidas de cuidado da pele é fundamental para prevenção de novas crises. Ensinar sinais de infecção secundária (pústulas, crostas melicéricas) que demandam avaliação médica para possível antibiótico. Apoio psicológico e manejo do estresse da família podem ser necessários em casos crônicos, dada a carga emocional do prurido persistente na criança e nos cuidadores.
2. Dermatite de Fralda (Assadura)
Diagnóstico diferencial e abordagem: A dermatite da área das fraldas é uma dermatite de contato irritativa primária muito frequente, afetando até metade dos bebês em algum grau (pico entre 9 e 12 meses de idade). Caracteriza-se por eritema e lesões em região glútea, genital e perineal, podendo evoluir para placas com maceração, erosões e crostas nas formas graves.
Diferenciais principais:
- Candidíase perineal – frequentemente coexiste; distingue-se por placas eritematosas com bordas bem definidas e pústulas satélites, acometendo pregas (dobra inguinal).
- Dermatite de contato alérgica (por lenços umedecidos, pomadas ou fraldas): lesões mais localizadas onde houve contato, teste de contato pode confirmar alergeno.
- Dermatite seborreica – em bebês pode afetar a área da fralda com lesões eritemato-descamativas, porém geralmente sem áreas de ulceração e com envolvimento simultâneo de couro cabeludo e face; surge nas primeiras semanas de vida, antes da idade típica da dermatite atópica.
- Outras condições a considerar em dermatite refratária incluem psoríase invertida na área de fralda (lesões bem delimitadas, vermelho-vivas, descamação mínima), escabiose (pouco comum restrita à região da fralda, mas possível se outras áreas também lesadas), histiocitose de células de Langerhans (lesões crônicas, podem ulcerar e não respondem à terapêutica usual) e até abuso ou queimadura química (lesões atípicas ou de delimitação incomum devem levantar suspeita).
Exames: em casos típicos não se fazem exames; se suspeita de Candida, pode-se realizar pesquisa micológica (exame KOH) das escamas ou cultura, embora normalmente o diagnóstico seja clínico. Se houver suspeita de infecção bacteriana (como impetigo secundário ou dermatite perianal por Streptococcus), pode-se colher cultura ou exame Gram.
Abordagem: avaliar gravidade (leve, moderada, grave) e procurar sinais de infecção secundária (pústulas, exsudato purulento) que indiquem necessidade de terapia específica. Identificar fatores predisponentes: tempo prolongado de contato com urina e fezes, higiene inadequada, uso recente de antibióticos (predispõe à candidíase) etc.
Conduta e orientações aos pais:
O tratamento foca em dois objetivos principais: cicatrizar a pele lesada e prevenir recorrências
Medidas gerais:
- Orientar trocas frequentes de fralda (ideal a cada 2–3 horas ou logo após evacuações) para minimizar o contato da pele com umidade e substâncias irritantes.
- Ensinar higiene suave: limpeza com água morna e algodão ou lenços umedecidos sem perfume/álcool, evitando esfregar a pele.
- Sempre que possível, deixar o bebê períodos sem fralda para ventilar a área e manter a pele seca.
- Aplicar cremes de barreira contendo óxido de zinco e/ou petrolato a cada troca – formam um filme protetor que isola a pele da umidade e irritantes.
Em assaduras leves a moderadas, essas medidas geralmente bastam para a cura.
Casos moderados a graves:
- Pode-se associar corticoide tópico de baixa potência (hidrocortisona 1%) por poucos dias para reduzir inflamação.
- Se houver candidíase secundária (lesões com pústulas satélites ou eritema persistente), adicionar antifúngico tópico (nistatina a cada troca; miconazol, clotrimazol ou cetoconazol 2x/dia por 7–10 dias).
- Infecção bacteriana (por S. aureus/S. pyogenes): considerar mupirocina tópica 2x/dia por 5–7 dias em lesões limitadas, ou antibiótico oral (ex.: cefalexina) se impetigo extenso ou dermatite perianal estreptocócica.
Orientações adicionais aos pais:
- Reforçar a importância da prevenção – manter a pele limpa e seca é o principal.
- Ensinar a aplicar camada espessa de pomada de barreira de forma preventiva.
- Alertar que lenços contendo conservantes (como metilisotiazolinona) podem desencadear dermatite alérgica em alguns bebês – se a dermatite persistir, avaliar a troca de produtos de higiene.
- Evitar o uso de talcos (risco de inalação e pouca efetividade).
- Em meninas, limpar sempre da frente para trás para evitar contaminação urinária.
Se a dermatite não melhorar em 2–3 dias de tratamento adequado, é necessária reavaliação diagnóstica, já que pode haver outra condição associada, como dermatite atópica. É importante tranquilizar os cuidadores de que assaduras são comuns e benignas, mas que persistência ou piora mesmo com cuidados adequados exige nova avaliação médica.
3. Impetigo
Diagnóstico diferencial e abordagem: O impetigo é a infecção bacteriana cutânea superficial mais comum em pediatria, altamente contagiosa e predominante em crianças de 2 a 5 anos. Apresenta-se classicamente como vesículas ou pústulas que se rompem, deixando crostas melicéricas (“cor de mel”) aderentes. Os diagnósticos diferenciais incluem outras causas de lesões vesiculopustulosas ou crostosas em crianças: dermatose papulosa urticada pruriginosa (prurigo) por picadas de inseto — pode formar crostas, mas geralmente com distribuição em áreas expostas e intenso prurido; varicela no início — cursa com vesículas e crostas, porém acompanhada de febre e lesões em diferentes estágios evolutivos; eczema herpético (infecção por HSV em pele com dermatite atópica) — causa vesículas monomórficas dolorosas com crostas hemorrágicas; impetiginização de dermatite atópica ou escabiose — aqui o impetigo pode surgir sobre lesões pré-existentes e o tratamento deve abranger a condição de base. Ectima, por sua vez, é uma forma mais profunda de impetigo, ulcerativa, a diferenciar de ulcerações por ectoparasitos (como leishmaniose cutânea ou larva migrans cutânea em fase crônica). O diagnóstico do impetigo é geralmente clínico pela aparência típica das lesões e distribuição (mais comum em face — região perioral e nasal — e extremidades). Em casos duvidosos ou refratários, pode-se colher cultura bacteriana da lesão para identificar o patógeno e a sensibilidade, especialmente devido à emergência de cepas de Staphylococcus aureus resistentes (MRSA). Abordagem: classificar em impetigo não bolhoso (mais frequente, crostoso) versus impetigo bolhoso (lesões bolhosas maiores causadas por toxina estafilocócica). Avaliar extensão e sinais sistêmicos; impetigo geralmente não causa febre ou comprometimento do estado geral, exceto se muito disseminado.
Conduta e orientações aos pais: O tratamento de primeira linha para impetigo localizado (poucas lesões) é tópico. Fazer remoção delicada das crostas com compressas úmidas e sabão antisséptico, seguido da aplicação de antibiótico tópico (por exemplo, mupirocina ou ácido fusídico 3x/dia por 5 a 7 dias). Para lesões múltiplas ou disseminadas, ou em caso de falha do tratamento tópico, indica-se antibiótico sistêmico oral eficaz contra Staphylococcus e Streptococcus — como cefalexina, dicloxacilina ou macrolídeos (eritromicina/claritromicina) em pacientes alérgicos, usualmente por ~7 dias. Em regiões com alta prevalência de MRSA comunitário, considerar sulfametoxazol-trimetoprim ou clindamicina conforme perfil de resistência.
Orientações aos pais: Impetigo é muito contagioso; recomendam-se medidas de higiene rigorosas: lavar as mãos com frequência, manter as unhas curtas e limpas para evitar autoinoculação e impedir a criança de coçar as lesões. Separar toalhas, roupas de cama e objetos pessoais, lavando-os com água quente. A criança deve permanecer em casa (afastada da creche/escola) até 24–48 h após o início do antibiótico, pois após esse período não transmite mais facilmente. Embora as lesões pareçam desagradáveis, com tratamento apropriado tendem a cicatrizar sem deixar marcas permanentes. Outros cuidados: vigiar sinais de complicações pouco comuns — como celulite (vermelhidão e inchaço no entorno), linfangite (faixa vermelha na pele) ou febre — que requerem reavaliação imediata. Ressalta-se que impetigo corresponde a cerca de 10% das queixas dermatológicas pediátricas em algumas estatísticas, especialmente em clima quente e úmido (situações que favorecem a proliferação bacteriana na pele). A conscientização dos cuidadores sobre evitar fatores predisponentes (como não deixar ferimentos sem limpeza, tratar picadas de inseto e dermatite atópica adequadamente) ajuda a prevenir novos episódios.
4. Molusco Contagioso
Diagnóstico diferencial e abordagem: O molusco contagioso é uma infecção viral benigna e autolimitada da pele, causada por um poxvírus, comum em crianças em idade pré-escolar e escolar. Manifesta-se por pápulas umbilicadas de 2-5 mm, de coloração da pele (peroladas ou rosadas) e aspecto translúcido/brilhante. As lesões geralmente são assintomáticas, podendo causar leve prurido; em crianças com dermatite atópica associada, pode ocorrer eczema ao redor das lesões (Dermatitis mollusca).
Diagnósticos diferenciais: Verrugas vulgares (causadas por HPV) podem ser confundidas, mas costumam ter superfície hiperqueratósica e não apresentam umbilicação central. Siringomas ou mília (especialmente ao redor dos olhos) são pápulas pequenas sem umbilicação. Foliculite estafilocócica pode gerar pústulas semelhantes, mas normalmente há sinais inflamatórios mais evidentes. Varicela no início apresenta vesículas umbilicadas, porém evolui rapidamente para crostas e associa-se a sintomas sistêmicos. Em pacientes imunossuprimidos, o molusco pode ter apresentação atípica (lesões maiores, numerosas). O diagnóstico é clínico; a dermatoscopia ajuda mostrando o centro umbilicado e corpos branco-amarelados.
Abordagem: Avaliar número e localização das lesões – em crianças saudáveis, normalmente são poucos a moderados (<20). Investigar contato próximo com outras crianças afetadas, já que a transmissão ocorre por contato direto pele a pele. A autoinoculação também é possível (coçar espalha para áreas adjacentes).
Conduta e orientações aos pais: Como se trata de infecção autolimitada, com resolução espontânea geralmente em 6 a 12 meses (podendo chegar a 18 meses), o manejo pode ser apenas expectante em muitos casos. Entretanto, muitos pediatras e dermatologistas optam por tratamento ativo para acelerar a cura, reduzir contágio ou por motivos estéticos.
Opções de tratamento:
- Curetagem das lesões (remove o conteúdo central – efetiva, mas pode ser desconfortável, requer anestésico tópico).
- Crioterapia com nitrogênio líquido (mais usada em crianças maiores, pode causar ardência e risco de hipopigmentação).
- Cantharidina (solução vesicante aplicada em consultório, causa bolha local – nem sempre disponível).
- Imiquimode creme ou ácido tricloroacético (menos usados atualmente).
Em crianças pequenas, pode-se realizar curetagem gradativa de poucas lesões por vez. Cuidados locais incluem manter a pele limpa; se houver eczema ao redor, tratar com corticoide tópico leve.
Orientações aos pais: Evitar compartilhar toalhas, roupas de banho; cobrir lesões maiores com curativo ao nadar; ensinar a criança a não coçar ou espremer. Informar que, após a resolução, o molusco geralmente não deixa cicatrizes, mas algumas lesões podem ficar avermelhadas ou descamativas durante a regressão – sinal de resposta imunológica.
Acompanhamento: Retornos periódicos para avaliar evolução. Em crianças imunocompetentes, o molusco desaparece com o tempo e confere imunidade contra reinfecção.
5. Verrugas Vulgares (HPV cutâneo)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Verrugas cutâneas são proliferações benignas causadas por papilomavírus humano (HPV), frequentes na infância. Tipicamente apresentam-se como pápulas ou nódulos hiperqueratósicos, ásperos, de tamanho variável, cor da pele ou acinzentadas, podendo surgir em mãos, dedos, joelhos, cotovelos e plantas dos pés.
Diferenciais: Calosidades (tilomas) nos pés podem se confundir com verrugas plantares, mas calos não interrompem as linhas da pele e não apresentam pontos pretos de trombos capilares. Molusco contagioso – diferenciar pela presença de umbilicação central; verrugas têm superfície irregular. Lesões periungueais de herpes podem simular verrugas iniciais, mas cursam com dor aguda e vesículas. Condilomas anogenitais em crianças exigem avaliação cuidadosa.
O diagnóstico das verrugas comuns é clínico; raramente necessita biópsia.
Abordagem e conduta: Muitas verrugas involuem espontaneamente em 1 a 2 anos. Entretanto, devido à contagiosidade, pode-se tratar com ácido salicílico (5–40%) aplicado diariamente, crioterapia, cantaridina ou procedimentos destrutivos. Outras terapias incluem curetagem, eletrocoagulação e imunoterapia tópica.
Orientações aos pais: Evitar manipulação das lesões, uso individualizado de instrumentos (lixas, pedra-pomes), uso de chinelos em banheiros e piscinas. O tratamento pode ser lento, exigindo persistência.
Prognóstico: A maioria desaparece com a resposta imunológica; recaídas são possíveis. Verrugas acometem cerca de 10–20% das crianças em idade escolar.
6. Escabiose (Sarna)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Escabiose é uma infestação contagiosa pelo ácaro Sarcoptes scabiei, que causa prurido intenso, sobretudo à noite. Clinicamente, observa-se pápulas eritematosas e vesículas pruriginosas, frequentemente com escoriações, distribuídas em tronco, abdome, nádegas, axilas, áreas interdigitais das mãos e pés, e genitais. Em lactentes pode acometer palmas, plantas e cabeça, diferente dos adultos em que a face costuma ser poupada. Lesões características incluem túneis ou sulcos finos e lineares nas áreas de pele fina (punhos, entre os dedos).
Diferenciais: Dermatite atópica (prurido crônico, história atópica, distribuição típica em dobras), prurigo por picadas de insetos (pápulas dispersas, sem sulcos, sem predomínio noturno), urticária papular, dermatite de contato e foliculite pruriginosa. Em lactentes, sífilis congênita precoce pode ser um diagnóstico diferencial raro.
O diagnóstico é clínico, reforçado por prurido noturno e envolvimento de múltiplos membros da família. A confirmação pode ser feita por raspado cutâneo e visualização do ácaro, mas não é sempre necessária.
Abordagem: Investigar todos os conviventes, mesmo assintomáticos. Em imunossuprimidos ou desnutridos pode ocorrer escabiose crostosa (norueguesa), com crostas espessas e milhares de ácaros.
Conduta e orientações aos pais:
- Tratamento tópico: Permetrina 5% creme (deixar de 8 a 14h, repetir em 7 dias). Em lactentes, aplicar também no couro cabeludo, evitando área periocular.
- Alternativas: Ivermectina oral (0,2 mg/kg, repetir em 7–14 dias), usada em surtos familiares ou escabiose crostosa. Enxofre em vaselina (5–10%) pode ser usado em <2 anos e gestantes.
- Tratar todos os contatos domiciliares simultaneamente.
- Cuidados ambientais: Lavar roupas, toalhas e lençóis em água quente (>50 °C) no mesmo dia do tratamento. Itens não laváveis podem ser isolados em saco plástico por 5–7 dias.
Orientações aos pais: O prurido pode persistir por até 2 semanas mesmo após eliminação dos ácaros (prurido pós-escabiose). Corticoides tópicos leves e anti-histamínicos podem aliviar. Explicar que escabiose não está ligada a “falta de higiene” e que o tratamento correto previne recidivas.
7. Pediculose do Couro Cabeludo (Piolhos)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Infestação por Pediculus humanus capitis, comum na infância. Cursa com prurido intenso, especialmente na nuca e atrás das orelhas, devido à reação de hipersensibilidade à saliva do piolho. Ao exame, observam-se lêndeas aderidas firmemente aos fios de cabelo, próximas ao couro cabeludo, e eventualmente piolhos vivos.
Diferenciais: Dermatite seborreica (caspa solta facilmente, sem parasitas vivos), tinha do couro cabeludo (alopecia descamativa com pelos quebradiços), foliculite (pústulas dolorosas), escabiose em lactentes e outras causas de prurido difuso.
O diagnóstico é confirmado pela visualização de piolhos ou lêndeas viáveis.
Abordagem: Avaliar todos os contatos próximos. Lembrar que a infestação não tem relação com falta de higiene.
Conduta e orientações aos pais:
- Tratamento tópico: Permetrina 1% (xampu ou loção), repetir em 7–10 dias. Outras opções incluem loção de ivermectina 0,5%, piretrinas com butóxido de piperonila e malatiom 0,5%.
- Alternativa: Ivermectina oral (0,2 mg/kg, repetir em 7 dias) em casos refratários ou surtos.
- Remoção mecânica: Pente fino em cabelos úmidos, diariamente até remover todas as lêndeas.
- Cuidados ambientais: Lavar roupas e lençóis usados nos últimos 2 dias em água quente. Itens não laváveis devem ficar isolados em saco fechado por 2 semanas.
Orientações aos pais: O prurido pode persistir por alguns dias após tratamento, sem indicar falha. Evitar receitas caseiras perigosas (querosene, inseticida). Comunicar escola/creche em caso de surto.
8. Urticária (Aguda)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Urticária caracteriza-se por lesões eritematosas e pruriginosas em placa (vergões) de aparecimento súbito; cada lesão individual dura menos de 24 horas e desaparece sem deixar marcas. Em crianças, a forma aguda é mais comum e costuma ser desencadeada por infecções virais, alimentos, picadas de inseto ou medicamentos.
Diferenciais: Angioedema isolado (edema profundo sem urticas), exantemas virais (menos migratórios, frequentemente com febre), eritema multiforme (lesões em alvo, fixas por dias), mastocitose cutânea (lesões fixas que urticam ao esfregar) e urticarial vasculite (lesões que duram >24–48 h e deixam residual).
O diagnóstico é clínico. Na maioria dos casos agudos não se identifica causa específica; exames só são indicados conforme história clínica ou sinais de gravidade. Na presença de sinais de anafilaxia (angioedema de via aérea, broncoespasmo, hipotensão), priorizar tratamento imediato.
Conduta e orientações aos pais:
- Tratamento de base: anti-histamínicos H1 de segunda geração (cetirizina, loratadina, desloratadina) diariamente até resolução.
- Casos intensos: considerar anti-H1 de primeira geração à noite para sono/prurido; corticosteroide sistêmico por curto período apenas quando necessário.
- Evicção de gatilhos: evitar AINEs e possíveis desencadeantes identificados.
- Medidas de conforto: roupas leves, evitar calor e banhos muito quentes; compressas frias aliviam prurido.
- Alerta de anafilaxia: procurar atendimento imediato se houver edema de lábios/língua/garganta, dispneia, vômitos persistentes ou síncope.
Prognóstico: geralmente benigna e autolimitada (dias a 2 semanas). Persistência >6 semanas indica urticária crônica e avaliação especializada.
9. Dermatofitoses (Tinha)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Infecções fúngicas superficiais por dermatófitos. Em crianças, as formas mais comuns são tinea capitis (couro cabeludo) e tinea corporis (pele glabra). A tinea corporis típica apresenta placas anulares com borda ativa eritematosa e centro mais claro, descamativa. A tinea capitis cursa com áreas de alopecia e descamação; pode haver pústulas e inflamação intensa (querion).
Diferenciais: Dermatite/eczema numular, pitiríase rósea, psoríase em placas (especialmente no couro cabeludo), alopecia areata (sem descamação/inflamação), dermatite seborreica e impetigo quando há sobreinfecção.
A confirmação pode ser feita com exame direto com KOH (hifas) e, quando necessário, cultura micológica. Investigar fonte: contato escolar, fômites (pentes/bonés), animais domésticos com lesões.
Conduta e orientações aos pais:
- Pele glabra (tinea corporis): antifúngicos tópicos (imidazólicos ou terbinafina) 2x/dia por 2–4 semanas, estendendo 1–2 semanas além da cura clínica.
- Extensas/refratárias: considerar antifúngico oral (p. ex., terbinafina/itraconazol) conforme peso e indicação.
- Tinea capitis: requer antifúngico sistêmico (griseofulvina ou terbinafina por 4–8 semanas); associar shampoo de cetoconazol ou sulfeto de selênio 2x/semana para reduzir transmissão.
- Cuidados gerais: manter área limpa e seca, evitar oclusão; não compartilhar pentes, escovas, bonés; avaliar e tratar animais de estimação quando suspeitos.
Prognóstico: excelente com tratamento adequado; querion pode deixar alopecia cicatricial se não tratado precocemente.
10. Acne Vulgar (Acne Juvenil)
Diagnóstico diferencial e abordagem: Dermatose inflamatória das unidades pilossebáceas, muito comum na adolescência (até 80%). Lesões incluem comedões abertos/fechados, pápulas, pústulas e, nos casos graves, nódulos/cistos em face, dorso e ombros.
Diferenciais: Acne neonatal/infantil (autolimitada), rosácea (rara antes da puberdade, sem comedões), foliculites bacterianas/fúngicas (especialmente no tronco), dermatite perioral (pápulas periorais sem comedões) e hidradenite supurativa (nódulos/abscessos em áreas intertriginosas). Em meninas com acne severa/resistente e sinais de hiperandrogenismo, considerar investigação para SOP.
A graduação de gravidade (comedônica, pápulo-pustulosa, nodulocística) orienta a terapêutica. Exames geralmente não são necessários, exceto em suspeita de distúrbio endócrino.
Conduta e orientações aos pais/paciente:
- Leve (comedônica/poucas pápulo-pústulas): peróxido de benzoíla 2,5–5% 1x/dia e retinoide tópico noturno (tretinoína, adapaleno ou trifaroteno).
- Moderada (pápulo-pustulosa): manter PBZ + retinoide e associar antibiótico tópico (clindamicina/eritromicina) ou combinações fixas; considerar antibiótico oral (doxiciclina/minociclina ≥8 anos) por 3–4 meses quando necessário.
- Grave (nodulocística/refratária): indicar isotretinoína oral com acompanhamento dermatológico e monitorização laboratorial.
- Cuidados gerais: limpeza suave 2x/dia, produtos não comedogênicos, evitar manipular lesões. Dieta: orientar moderação de alimentos de alto índice glicêmico e laticínios se houver correlação individual.
Prognóstico: melhora é gradual (8–12 semanas); tratar precocemente formas moderadas/graves para prevenir cicatrizes. Seguimento mensal inicial para ajustes e adesão.
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Referências
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