A avaliação do ritmo cardíaco fetal desempenha um papel fundamental no monitoramento da gestação, sendo essencial para a detecção de arritmias fetais. Esse acompanhamento contínuo oferece uma visão detalhada sobre o estado de saúde do feto, permitindo identificar anomalias no ritmo cardíaco que podem indicar problemas subjacentes. Com o aprimoramento das tecnologias de diagnóstico, é possível detectar essas arritmias com maior precisão, o que possibilita a adoção de medidas preventivas e intervenções mais rápidas. A detecção precoce dessas condições pode prevenir complicações graves, tanto para a mãe quanto para o bebê, garantindo uma gestão mais eficaz da gestação.
A utilização de ferramentas avançadas, como o monitoramento contínuo do ritmo cardíaco e exames especializados, contribui significativamente para a redução de riscos, melhorando os desfechos perinatais e promovendo a saúde materno-fetal. A abordagem precoce também favorece a tomada de decisões clínicas, permitindo a escolha de opções de tratamento mais adequadas e oportunas. Assim, o acompanhamento do ritmo cardíaco fetal é uma prática fundamental para o cuidado integral e seguro durante a gestação.
Fisiologia normal do ritmo cardíaco fetal
O ritmo cardíaco fetal é influenciado por diversos fatores, como o sistema nervoso autônomo, os níveis hormonais e o desenvolvimento dos sistemas cardiovasculares e nervoso central. Durante a gestação, a frequência cardíaca fetal varia com a idade gestacional, sendo mais alta nas primeiras semanas e gradualmente diminuindo conforme o feto se desenvolve.
De maneira geral, a frequência cardíaca fetal é de aproximadamente 110 a 160 batimentos por minuto (bpm), com flutuações normais ao longo do tempo. O ritmo cardíaco fetal é controlado pelo sistema nervoso autônomo, que regula a atividade do marcapasso cardíaco fetal. Durante a gestação, o feto é capaz de reagir a estímulos internos e externos, como a movimentação e as contrações uterinas, ajustando sua frequência cardíaca conforme necessário.
Dessa forma, é importante ressaltar que, em condições normais, a variabilidade da frequência cardíaca fetal também é um bom indicativo de saúde. Assim, a variabilidade reflete a capacidade do sistema cardiovascular fetal de responder a estímulos fisiológicos, e sua presença é um sinal positivo de bem-estar fetal.
Métodos de avaliação: M-mode, Doppler e ausculta
Realiza-se a avaliação do ritmo cardíaco fetal por meio de diversos métodos que possibilitam a análise detalhada do funcionamento do coração fetal e a detecção de anomalias.
Entre os métodos mais utilizados, destacam-se o:
- M-mode
- Doppler
- E a ausculta.
M-mode
O M-mode é uma técnica ultrassonográfica que permite observar o movimento do coração fetal em tempo real. Portanto, através dessa técnica, é possível visualizar a frequência e a regularidade dos batimentos cardíacos, além de avaliar as estruturas cardíacas, como as válvulas e os septos.
Assim, o M-mode é particularmente útil para identificar arritmias fetais e monitorar a evolução da gestação. Na imagem abaixo é possível visualizar a forma de onda Doppler simultânea da válvula tricúspide e traçado do modo M em um feto com bloqueio cardíaco completo:
Doppler
O Doppler é uma técnica de imagem baseada no princípio do efeito Doppler, que permite a medição do fluxo sanguíneo e a avaliação da função cardíaca fetal.
Dessa forma, o Doppler pode ser utilizado para avaliar a velocidade do fluxo sanguíneo nas artérias umbilicais, na artéria cerebral média e nas câmaras cardíacas, proporcionando informações valiosas sobre a oxigenação fetal e o funcionamento do coração. Além disso, através do Doppler colorido, é possível identificar irregularidades no ritmo cardíaco e sinais de arritmias fetais.
Ausculta
Realiza-se a ausculta do ritmo cardíaco fetal com o uso de um estetoscópio obstétrico ou um dispositivo de monitoramento eletrônico. Esse método permite ouvir os batimentos cardíacos fetais e é utilizado principalmente em atendimentos de rotina para monitoramento da saúde fetal.
Embora a ausculta seja uma ferramenta útil, ela pode ser menos sensível na detecção precoce de arritmias, especialmente em gestantes com excesso de gordura abdominal ou em fetos em posições difíceis.
Principais arritmias fetais e suas implicações
As arritmias fetais são distúrbios no ritmo cardíaco do feto que podem variar de leves a graves, dependendo da natureza e da causa subjacente da arritmia. As principais arritmias fetais incluem:
Taquicardia fetal
Caracteriza-se a taquicardia fetal por uma frequência cardíaca fetal superior a 180 bpm. Ela pode ser associada a diversos fatores, como infecção intrauterina, anemia fetal, hipoxemia ou síndrome de Wolf-Parkinson-White (WPW). Assim, se não tratada, a taquicardia fetal pode levar a complicações como insuficiência cardíaca fetal, edema, e até mesmo a morte fetal.
Bradicardia fetal
A bradicardia fetal ocorre quando a frequência cardíaca do feto é inferior a 110 bpm. Portanto, essa condição pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo compressão do cordão umbilical, hipoxemia, problemas cardíacos estruturais ou distúrbios no sistema nervoso autônomo. A bradicardia fetal prolongada pode causar danos cerebrais devido à falta de oxigenação.
Arritmias supraventriculares
As arritmias supraventriculares são comuns e geralmente benignas. Elas ocorrem quando há uma anomalia na condução elétrica do coração fetal, levando a batimentos cardíacos rápidos e irregulares. Embora possam ser assintomáticas, é importante monitorar o feto para evitar complicações a longo prazo, como a insuficiência cardíaca.
Arritmias ventriculares
As arritmias ventriculares são mais graves e podem indicar uma condição subjacente mais séria, como cardiomiopatia ou anomalias cardíacas estruturais. Dessa forma, essas arritmias podem afetar negativamente a oxigenação fetal e aumentar o risco de morte intrauterina.
Exemplo clínico: tetralogia de Fallot
A tetralogia de Fallot, uma malformação cardíaca congênita, pode estar associada a arritmias fetais. Caracteriza-se a condição por quatro componentes: estenose pulmonar, comunicação interventricular, deslocamento da aorta e hipertrofia ventricular direita. Em casos de tetralogia de Fallot, a detecção precoce de arritmias fetais pode ajudar na orientação de intervenções adequadas e melhorar o prognóstico do recém-nascido.
Saiba mais sobre os quatro componentes da Tetralogia de Fallot.
Conduta diante de alterações do ritmo
Quando se observa uma alteração no ritmo cardíaco fetal, deve-se basear a conduta na natureza da arritmia e na sua gravidade. Para arritmias leves e autolimitadas, como as supraventriculares, o acompanhamento periódico pode ser suficiente, com monitoramento da saúde fetal durante as consultas regulares.
Dessa forma, em casos de taquicardia fetal ou bradicardia fetal significativa, pode ser necessário realizar intervenções imediatas. Essas intervenções podem incluir a administração de medicamentos como a lidocaína ou adenosina, que podem ajudar a regularizar o ritmo cardíaco fetal. Em situações de risco mais elevado, a indução do parto ou a realização de cesariana pode ser indicada para prevenir danos ao feto.
O acompanhamento contínuo é essencial para avaliar a resposta ao tratamento e garantir que o feto receba a oxigenação necessária durante todo o processo. Em muitos casos, a correção da arritmia fetal resulta em um bom prognóstico, sendo fundamental monitorar o feto de perto até o parto.
Quando encaminhar para cardiologia fetal?
O encaminhamento para cardiologia fetal é recomendado nos seguintes casos:
- Quando há suspeita de arritmias ventriculares graves ou arritmias supraventriculares persistentes.
- Se a arritmia fetal não responder a tratamentos iniciais ou se o quadro clínico se agravar.
- Quando houver suspeita de anomalias cardíacas estruturais, como a tetralogia de Fallot ou outras condições congênitas complexas.
- Em casos de hipoxemia fetal ou quando houver risco de insuficiência cardíaca fetal devido à arritmia.
O cardiologista fetal é especializado em avaliar a função cardíaca do feto e pode utilizar métodos avançados, como o ecocardiograma fetal, para realizar uma análise detalhada e fornecer uma abordagem terapêutica adequada.
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A avaliação do ritmo cardíaco fetal é um componente essencial do acompanhamento obstétrico, permitindo a detecção precoce de arritmias fetais e a implementação de intervenções adequadas. A identificação e a monitorização de arritmias, como taquicardia e bradicardia fetal, bem como a avaliação de arritmias supraventriculares e ventriculares, são importantes para o prognóstico do feto. A conduta apropriada, que pode incluir tratamentos médicos e até mesmo o encaminhamento para cardiologia fetal, é fundamental para garantir a saúde fetal e o sucesso do parto.
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Referência bibliográfica
- Levine, Jami C.; Alexander, Mark E. Fetal arrhythmias. 2024. Disponível em UpToDate. Acesso em: 24 jul. 2025.






