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Conheça as vantagens do uso da poligrafia domiciliar no diagnóstico de distúrbios do sono; entrevista

Aprenda sobre a poligrafia domiciliar para avaliação de distúrbios do sono e como o exame pode beneficiar o seu paciente, juntamente com a entrevista do Dr. Pedro Genta. Boa leitura! 

Os distúrbios do sono tem se tornado condições cada vez mais comuns na contemporaneidade. Pensando nisso, é fundamental que os médicos estejam atentos para o cuidado integral e avaliação da qualidade de sono com consequente melhora do bem-estar do seu paciente. 

Definição e conceito da poligrafia domiciliar

A poligrafia domiciliar envolve a aquisição de medidas essenciais, como o fluxo de ar respiratório, esforço respiratório e a saturação de oxigênio (SpO2) durante o sono. 

Neste procedimento, os sensores são aplicados pelo próprio paciente no conforto de sua residência, seguindo atentamente as instruções fornecidas por um técnico especializado em Polissonografia (PSG) ou por meio de um guia de vídeo instrutivo. 

Os dispositivos domiciliares são projetados para coletar dados de forma manual ou automática. A análise final dos resultados seja sempre realizada por um especialista em medicina do sono. 

É importante ressaltar que a análise dos dados deve ser feita manualmente e não de maneira automatizada, garantindo uma interpretação precisa e confiável dos resultados.

Diferenças entre polissonografia (PSG) e poligrafia domiciliar

Para compararmos a polissonografia (PSG) e a poligrafia domiciliar, precisamos considerar fatores como o ambiente de realização, equipamentos usados, aplicabilidade clínica e outros. 

Ambiente de realização

  • PSG: realizada em um laboratório de sono especializado, geralmente durante uma noite inteira, com acompanhamento por técnicos do sono.
  • Poligrafia domiciliar: realizada no conforto da casa do paciente, permitindo que ele durma em seu ambiente natural.

Equipamentos utilizados

  • PSG: utiliza uma série de sensores e eletrodos que são aplicados ao paciente para medir várias variáveis, como EEG (eletroencefalograma), EOG (eletrooculograma), EMG (eletromiograma), ECG (eletrocardiograma), respiração, oximetria, movimentos das pernas, etc.
  • Poligrafia domiciliar: A poligrafia domiciliar geralmente utiliza um conjunto menor de sensores, focando em variáveis-chave, como respiração, fluxo de ar nasal, saturação de oxigênio e frequência cardíaca.

Custo

  • PSG: em laboratório tende a ser mais cara devido aos custos associados à instalação, equipe técnica e equipamentos sofisticados.
  • Poligrafia domiciliar: geralmente mais acessível em termos de custo, tornando-a uma opção atraente para muitos pacientes e sistemas de saúde.

Conforto

  • PSG: Alguns pacientes podem achar desconfortável dormir em um ambiente estranho e serem monitorados por estranhos durante a noite, o que pode afetar a qualidade do sono.
  • Poligrafia domiciliar: oferece maior conforto, pois os pacientes podem dormir em suas próprias camas, seguindo sua rotina de sono normal.

Aplicabilidade clínica

  • PSG: mais abrangente e pode ser usada para diagnosticar uma variedade de distúrbios do sono, incluindo apneia do sono, narcolepsia, movimentos periódicos das pernas, entre outros.
  • Poligrafia domiciliar: frequentemente usada para o diagnóstico de distúrbios respiratórios do sono, como a apneia do sono, e é mais limitada em sua capacidade de detectar outros distúrbios.
Poligrafia domiciliar (à esquerda) e Polissonografia (à direita) |

Vantagens da poligrafia domiciliar em comparação com a PSG

As diferenças entre a PSG e a poligrafia domiciliar configuram-se como vantagens da poligrafia. Isso principalmente no que se refere a pacientes que apresentam suspeita de distúrbios respiratórios do sono, como a apneia do sono.

Conforto

Uma grande vantagem da poligrafia sobre a PSG é conforto do paciente, como comentamos acima. Os pacientes podem dormir em sua própria cama, seguindo sua rotina de sono normal. O que muitas vezes resulta em dados mais representativos do sono real.

Pensando nisso, pode ser uma opção para pacientes idosos ou com mobilidade limitada que têm dificuldade em se deslocar até um laboratório de sono.

Detecção dentro da realidade do paiente

Alguns distúrbios do sono estão ligados ao ambiente em que o paciente dorme. Com a poligrafia domiciliar, é possível detectar a condição na realidade de rotina do paciente. 

Custo

O custo também se torna um atrativo da poligrafia domiciliar, sendo a opção mais viável. Em alguns casos, a poligrafia domiciliar pode ser usada para monitorar pacientes por várias noites consecutivas. O que pode ser útil para avaliar a variabilidade do sono ao longo do tempo.

Fonte: Consenso em Distúrbios Respiratórios do Sono da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Limitações da poligrafia domiciliar em comparação com a PSG

Apesar de a poligrafia domiciliar apresentar muitas vantagens diante da polissonografia (PSG), precisamos reconhecer as limitações desse exame. Afinal, somente assim saberemos se ele realmente será útil para o nosso paciente. 

Monitora um número limitado de parâmetros

A poligrafia domiciliar geralmente monitora um número limitado de parâmetros em comparação com a PSG. Isso pode resultar em uma quantidade reduzida de informações disponíveis para análise. Por exemplo, a PSG pode incluir a monitorização de EEG (atividade cerebral) e outros parâmetros que podem ser essenciais para o diagnóstico de distúrbios do sono complexos.

Desafios na precisão dos diagnósticos

Devido à monitorização limitada, a poligrafia domiciliar pode ser menos precisa na identificação de distúrbios do sono menos óbvios ou complexos. Distúrbios do sono como a narcolepsia, síndrome das pernas inquietas e distúrbios comportamentais do sono REM (RBD) podem ser mais difíceis de diagnosticar sem uma PSG completa.

A avaliação do comportamento do sono, como sonambulismo ou terrores noturnos, pode ser desafiadora com a poligrafia domiciliar. Isso porque esses distúrbios podem não ser detectados sem a observação direta do paciente.

Candidatos ideais para a poligrafia domiciliar: quem são?

Para fazer o exame, é preciso atender determinados critérios clínicos e apresentam suspeita de distúrbios respiratórios do sono, principalmente a apneia do sono. A seleção de pacientes para a poligrafia domiciliar deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa do histórico médico e nos sintomas apresentados. 

A PSG deve ser realizada quando o teste domiciliar é negativo, inconclusivo ou tecnicamente inadequado (recomendação forte). Ela é a opção mais recomendada para a avaliação de distúrbios do sono em pacientes que apresentam condições clínicas específicas.

Condições clínicas

Essas condições incluem:

  • doença cardiorrespiratória significativa,
  • doença neuromuscular,
  • hipoventilação durante a vigília (ou suspeita de hipoventilação durante o sono),
  • uso crônico de opioides,
  • insônia grave ou
  • histórico de AVC prévio.

Essas situações clínicas exigem uma abordagem mais abrangente e monitoramento especializado em um ambiente controlado, tornando a PSG a escolha preferida (recomendação forte).

Descrição dos equipamentos utilizados na poligrafia domiciliar

A poligrafia domiciliar envolve o uso de equipamentos de monitorização do sono. Eles são projetados para serem aplicados pelo próprio paciente em casa, fazendo com que o procedimento seja mais conveniente e acessível. 

De maneira geral, os equipamentos utilizados são: 

  1. Unidade de gravação
    É um dispositivo portátil que coleta e armazena os dados durante o estudo de sono. Ela é geralmente compacta e leve, permitindo que o paciente prenda confortavelmente ao corpo.
  2. Sensores de Fluxo de Ar Nasal
    Monitoram o padrão de respiração do paciente. São colocados na narina e detectam o fluxo de ar durante a inspiração e a expiração.
  3. Cintos de Esforço Respiratório
    Monitoram o padrão de respiração do paciente. São colocados na narina e detectam o fluxo de ar durante a inspiração e a expiração.
  4. Saturômetro de Pulso (SpO2)
    É um dispositivo que mede a saturação de oxigênio no sangue do paciente. Geralmente, ele é colocado no dedo ou no lóbulo da orelha e registra a quantidade de oxigênio no sangue durante o sono.
  5. Eletrocardiograma (ECG)
    Para monitorar a atividade elétrica do coração e detectar arritmias cardíacas.
  6. Sensores de movimento
    Podem ser usados para registrar os movimentos do paciente durante o sono. Eles ajudam a identificar a ocorrência de eventos como movimentos periódicos das pernas e comportamento de comer durante o sono.
  7. Câmera de Vídeo (Opcional)
    Pode ser usada para registrar o comportamento do paciente durante o sono. Isso pode ser útil para diagnosticar distúrbios do comportamento do sono, como a síndrome das pernas inquietas.

Informações adicionais

A configuração exata dos equipamentos pode variar de acordo com o tipo de estudo de sono a ser realizado e as necessidades clínicas do paciente.

Um técnico em polissonografia ou um profissional de saúde fornece orientações detalhadas sobre como aplicar e usar os sensores corretamente antes do início do estudo de sono domiciliar.

Leia também: saiba como planejar sua trajetória profissional

Entrevista sobre o tema com o Dr. Pedro Genta

Foto: acervo Cetrus

Hoje o exame usado para diagnóstico de distúrbios do sono é a polissonografia tipo 1, que precisa ser feita laboratorialmente. É nesse contexto que surge o curso de pós-graduação em medicina do sono do Cetrus, para dar mais possibilidades aos futuros médicos do sono.

O curso inclui a prática do exame em casa em pacientes reais, dando ao aluno não só o embasamento teórico, mas a prática hands on na técnica.

A pós em medicina do sono é coordenado pelo Dr. Pedro Genta, que é especialista em medicina do sono. O médico fez residência em clínica médica e pneumologia e tem doutorado em pneumologia e medicina do sono pela FMUSP. A equipe do Educa Cetrus convidou o Dr. Pedro Genta para falar sobre a poligrafia domiciliar e suas aplicações. Confira:

Como vem sendo o uso da poligrafia domiciliar?

Dr. Pedro Genta (PG): Essa é uma tendência mundial, ainda um pouco incipiente no Brasil, de estender o diagnóstico da apneia obstrutiva do sono (AOS) – hoje feito laboratorialmente com a polissonografia – em nível domiciliar.

O exame traz mais conforto ao paciente e maior agilidade não só na realização do diagnóstico como na implementação do tratamento, que tem menor custo e uma eficácia bastante consistente comparado ao exame tradicional feito em laboratório.

Podemos dizer que a poligrafia domiciliar ajudar a aumentar o número de diagnóstico dos distúrbios do sono?

PG: Sim. O aparelho de uso simplificado é portátil, de menor custo, o que facilita com que o próprio médico tenha seu equipamento e atue na área fora dos grandes centros. O que ajuda a democratizar o diagnóstico deste paciente e a disseminação dessa possibilidade para o Brasil todo.

Qual o papel terá a polissonografia tradicional?

PG: A polissonografia tradicional tem obviamente a sua recomendação, sobretudo para distúrbios do sono que não a apneia obstrutiva do sono (AOS). Quando houver a suspeita de outros quadros, como as parassonias, por exemplo, a polissonografia ainda é necessária.

Em alguns casos especiais de AOS, não só a polissonografia é necessária não só para diagnóstico, mas também para titulação de pressão positiva. Felizmente é uma minoria de pacientes que requisitaram um exame completo.

A maioria dos pacientes pode ser manejada em domicilio com os métodos portáteis, sobretudo aqueles que tem suspeita de distúrbios respiratórios do sono e de apneia obstrutiva do sono.

Qual é o diferencial do curso oferecido pelo Cetrus?

PG: O grande diferencial do nosso curso é permitir aos participantes o manejo dos métodos simplificados, não só na condução do diagnóstico como na interpretação dos resultados e oferecimento de opções terapêuticas para o paciente.

Além do conteúdo teórico, que vai dar embasamento aos alunos, teremos pacientes reais com suspeita ou queixas de distúrbios de sono. Dessa forma, poderemos não só fazer o diagnóstico como implementar o tratamento. Tudo isso traz ao profissional uma série de expertises que tornaram o consultório dele mais dinâmico e com mais opções de tratamento.

Leia também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

Quer se destacar no mercado de trabalho médico?

De acordo com a Demografia Médica do Brasil, divulgado em 2023, 62,5% dos médicos em atividade no país possuem um ou mais título de especialista. Esse número equivale a 321.581 profissionais de medicina. Diante desse cenário, a importância de investir em educação continuada e em continuar se capacitando para se destacar no mercado de trabalho só cresce.

Se você quer acompanhar o movimento e garantir seu espaço no mercado de trabalho, invista na sua capacitação. Uma boa forma de fazer isso é através de cursos de especialização. Agora, antes de fechar sua matrícula, lembre-se de garantir que escolheu a melhor instituição para se capacitar.

Por falar nisso, você conhece o Cetrus? O Centro de Ensino, localizado em São Paulo, oferece mais de 150 opções de cursos de capacitação médica em modalidades intensiva e modular. Vale a pena conhecer as opções, tenho certeza que vai encontrar uma que tem tudo a ver com seus objetivos e necessidades profissionais.

Referências 

  1. Consenso em Distúrbios Respiratórios do Sono da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Ricardo Luiz de Menezes Duarte. J Bras Pneumol. 2022;48(4):e20220106. https://dx.doi.org/10.36416/1806-3756/e20220106
  2. Conceitos básicos sobre síndrome da apneia obstrutiva do sono. Geruza Alves da Silva. 

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