Posted on

Carreira médica: saiba como planejar sua trajetória profissional

por Dr. Giuseppe D’Ippolito

Tenho pensado na minha carreira profissional desde a minha adolescência. Talvez já na minha infância pensava nisto. Tipo, “o que vou ser quando crescer?”. Até hoje, passados mais de 30 anos da minha formatura na faculdade de medicina, continuo refletindo sobre os caminhos que quero trilhar e onde quero chegar.

Participo há cerca de 5 anos de um programa de mentoria para jovens médicos oferecido pelo Grupo Fleury para o seu corpo clínico e na veste de mentor noto a inquietude de muitos colegas quando se trata de planejar a própria carreira, de moldar o seu trajeto profissional. Esta constatação me estimulou a elaborar este texto com o objetivo de provocar alguma reflexão. 

Em um mundo em constante e rápida mutação, ainda é possível tomarmos em nossas mãos o nosso futuro profissional?

Como está o mercado de trabalho para os médicos hoje?

A expansão de faculdades de medicina no nosso país nos últimos 20 anos fez mais que dobrar o número de profissionais no mercado. Existem hoje mais de 330 escolas médicas no Brasil. Como comparação, nos EUA são pouco mais de 180. Essa expansão duplicou o número de médicos nos últimos 13 anos segundo a “Demografia Médica no Brasil – 2023”, estudo elaborado pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com a AMB, OPAS e o Ministério da Saúde. 

Hoje são mais de 500.000 médicos (serão mais de um milhão em 2035), ou seja, 2,4 médicos por 1.000 habitantes, em uma relação superior ao que é observado em países europeus como o Reino Unido (2,7 médicos por 1.000 habitantes). No entanto estes médicos estão distribuídos de maneira muito desproporcional no nosso país. Por exemplo, no Distrito Federal são 5,5 médicos/1.000 hab., enquanto no Pará são apenas 1,1 médicos /1.000 hab. Existe também uma diferença entre as capitais e o interior, como ocorre em São Paulo (são 3,5 médicos/1.000 hab. no estado versus 6,3 médicos/1.000 hab. na Capital) e em praticamente todos os estados.

Apesar deste aumento de médicos no mercado de trabalho, tem se observado um crescimento proporcional de vagas nos últimos anos, mas que não foi acompanhado de uma elevação da renda média e que apresentou uma queda de 12% entre 2012 e 2020. Evidentemente, algumas especialidades foram mais afetadas e outras prosperaram. Importante observar que há uma alternância entre as especialidades médicas mais e menos concorridas, em função de fatores muitas vezes imprevisíveis.

Para aqueles inseridos no Diagnóstico por Imagem, apesar do número de radiologistas ter dobrado nos últimos 10 anos, ainda há muitas oportunidades de crescimento profissional, já que essa é uma área da medicina que sempre esteve na ponta da inovação e da tecnologia. O advento da inteligência artificial assusta alguns e estimulas outros, com as inúmeras oportunidades que surgem no nosso horizonte, ampliando assim o impacto clínico da especialidade.

Como prosperar neste mercado?

Prosperar em um mercado competitivo e em rápida mudança é desafiador para qualquer profissão. Mas talvez os médicos tenham algo em seu DNA que possa ser a receita para progredir mesmo neste ambiente, pois estamos habituados em investir continuamente, e ao longo da vida toda, no nosso aprimoramento, estudando e nos diferenciando. 

A conexão umbilical da nossa profissão com a educação continuada pode ser a receita do sucesso em tempos árduos. Entender quais as áreas mais promissoras dentro daquelas que nos atraem e quais as competências necessárias para obter os melhores resultados são elementos chaves no planejamento da carreira e na obtenção de sucesso.

O que é uma carreira?

Quando se fala em “planejamento de carreira” muitas vezes o conceito se confunde com “projeto de vida”, mesmo sendo coisas bem diferentes, mas que inevitavelmente se entrelaçam. Carreira pode ser definida como a trajetória profissional, o conjunto de experiências acadêmicas, pessoais e profissionais que norteiam o nosso caminho no mundo do trabalho. 

E certamente, uma carreira está muito mais relacionada à maneira como nos comportamos e as decisões que tomamos no exercício da nossa profissão. Alguns de nós tem o privilégio de estar inseridos em empresas que investem na carreira dos membros das suas equipes, apoiando e estimulando esta reflexão e oferecendo oportunidades de crescimento, criando assim um círculo virtuoso, alimentado pelos melhores talentos. Conhecer estes polos de excelência é um passo importante para se inserir em um ambiente propício para o progresso profissional.

Como planejar uma carreira de sucesso? E o que é sucesso?

No meu modo de entender, não há uma única definição de sucesso, mas sim o que significa “sucesso” para cada um de nós. Perguntando a um grupo de residentes da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), onde leciono, ouvi algumas interpretações. Para alguns deles ter sucesso é:

  1. Ser feliz com o que faz (e só é feliz quem trabalha com o que sabe);
  2. Ser um profissional realizador;
  3. Ser um profissional reconhecido pela sua competência;
  4. Fazer a diferença na vida dos outros;
  5. Realizar sonhos;
  6. Ter poder;
  7. Conseguir riqueza, prosperidade, tranquilidade, paz, qualidade de vida.

Ao planejar a própria carreira alguns itens podem ser úteis e outros indispensáveis. Pesquisando entre textos de especialistas no assunto e relembrando as minhas próprias experiências e dificuldades vividas, posso citar alguns aspectos que poderão fazer a diferença:

  1. Conheça e entenda o mercado de trabalho. Ajuda;
  2. Conheça a si mesmo e o que realmente importa para você;
  3. Esteja aberto para ouvir, e, se possível, tenha um mentor;
  4. Esteja bem acompanhado ao longo da sua vida;
  5. Crie e desenvolva conexões;
  6. Se puder ter objetivos definidos, melhor;
  7. Arrisque-se, nem que seja só um pouquinho. Quanto antes, melhor;
  8. Mantenha a família e os amigos por perto.

Quais são as habilidades necessárias para vencer em um mercado competitivo?

Aqui vamos falar de habilidades e competências importantes para qualquer área profissional e principalmente se você estiver inserido em grandes empresas, como é cada vez mais comum para nós médicos, ainda que nos definamos “profissionais liberais”. Afinal, muitos de nós estão inseridos em grandes redes de hospitais, laboratórios ou clínicas.

Ao buscarmos o sucesso profissional, habilidades técnicas, como aquelas adquiridas ao longo da graduação, residência médica, especialização, etc., são indispensáveis para qualificarmo-nos e aproveitar assim as melhores oportunidades. Mas para prosperarmos e vencermos no mundo corporativo, habilidades comportamentais são aquelas que realmente fazem a diferença. E são justamente as mais negligenciadas durante o ensino médico. Por esta razão grandes corporações têm investido em aprimorar as soft skills dos seus corpos clínicos.

Algumas destas competências comportamentais são consideradas cruciais para obter os melhores resultados, segundo gestores de grandes equipes. Aqui algumas delas:

  1. Comunicação;
  2. Liderança;
  3. Flexibilidade e resiliência;
  4. Trabalho em equipe;
  5. Criatividade;
  6. Proatividade;
  7. Empatia;
  8. Ética;
  9. Pensamento crítico;
  10. Atitude positiva;
  11. Capacidade de negociação.

Basta lembrar de certas personalidades da história recente para que identifiquemos algumas destas habilidades, como a capacidade de se comunicar e o carisma do Barak Obama, a flexibilidade e a empatia do Papa Francisco, a criatividade do Steve Jobs ou o poder de negociação do Winston Churchill. Essas competências comportamentais são tão importantes (e acredito que serão cada vez mais), que algumas instituições, como o Cetrus, têm oferecido aos seus alunos a oportunidade de aprimorarem as suas habilidades estratégicas, através de uma recente parceria com o Grupo Fleury.

Quais as três escolhas que podem definir a sua carreira profissional?

Nem todos nós damos conta de três escolhas que fazemos ao longo da vida e que são fundamentais para definir a nossa trajetória (e eventualmente o nosso sucesso) profissional.

Acredito que, uma vez que abraçamos o projeto de nos tornarmos médicos, a escolha da faculdade e depois da especialidade (e o programa de residência médica) e quem escolhemos para estar ao nosso lado, isto é, o nosso companheiro de jornada, são os momentos mais importantes, as escolhas cruciais, que estabelecerão muitas das oportunidades, dificuldades, desafios e vitórias que vivenciaremos ao longo da nossa vida. São aquelas decisões que certamente terão um grande poder de definir como será o nosso futuro e a nossa evolução profissional. O curioso é que, apesar de ser uma óbvia constatação, estas decisões são muitas vezes menosprezadas ou subestimadas, tomadas irrefletidamente. 

Quais os fatores para a escolha de uma especialidade médica?

Diversos estudos têm se dedicado a identificar quais os fatores que influenciam na escolha de uma determinada especialidade médica. Reconhecer a própria escolha como legítima, honesta e genuína provavelmente fará que tenhamos prazer em nos dedicar àquela área da medicina e se tornará uma fonte de sucesso e satisfação profissional. Imaginem o que é trabalhar até 60 horas semanais (ou mais!) em algo que detestemos ou que não faça sentido para nós.

Aqui alguns dos fatores que são lembrados para a escolha de determinada especialidade médica:

  • Forte interesse pessoal (satisfação profissional);
  • Mercado promissor;
  • Experiência agradável durante a graduação;
  • Desafio intelectual;
  • Estabilidade profissional;
  • Horários de trabalho favoráveis;
  • Idealismo. Fazer a diferença na vida dos demais;
  • Influência de um professor ou mentor.

Quais os fatores para a escolha de uma posição profissional?

Quando finalmente terminamos o programa de residência médica, alguns de nós ainda investem em uma pós-graduação, mas já estamos prontos para ingressar no mercado de trabalho, de fato. Como fazer a melhor escolha?

A geografia e a família são provavelmente os fatores de maior influência nesta escolha, e não me deterei em justificá-los, por óbvios que são. Vamos sim pensar em outros aspectos que acabam influenciando nossas decisões.

É muito comum e compreensível que o primeiro aspecto a ser considerado seja a remuneração obtida pela atividade exercida. Mas mesmo algo que parece tão simples tem particularidades que devem ser consideradas, como o que precisarei fazer, quais as minhas atribuições e responsabilidades? E quais os benefícios agregados (ex.: férias, licença maternidade/paternidade, licença médica, apoio para congressos, bônus, etc…)? E lembro que principalmente no primeiro emprego, mais importante do que a remuneração são as oportunidades de aprendizado, desenvolvimento, conexões e experiências diversas. 

É importante também refletir sobre o próprio perfil profissional, entendendo em que ambiente de trabalho gostaria de estar inserido. Instituição acadêmica ou privada? Ambiente hospitalar ou ambulatorial? Trabalhar predominantemente com telerradiologia? Ser empreendedor ou ser colaborador?

Outros aspectos podem ser tão ou mais relevantes do que o valor recebido ao final do mês, e aqui aponto alguns que devem ser ponderados:

  • Eu vou ser feliz trabalhando naquele serviço? Nós vamos ser felizes enquanto família?
  • Existe um bom ambiente de trabalho?
  • Qual a reputação do serviço? Vou sentir orgulho de trabalhar lá?
  • O parque tecnológico e o suporte de gestão são satisfatórios?
  • Existem oportunidades de crescimento? Existe um plano de carreira?
  • Investe-se em educação continuada e em pesquisa?
  • São oferecidas oportunidades iguais para todos os semelhantes? 
  • É uma empresa ética?

Quantas mais respostas afirmativas, maior será a probabilidade de fazer a escolha certa.

Trabalho no Grupo Fleury há mais de dez anos, depois de ter exercido a função de gestor do meu próprio serviço de diagnóstico por imagem, e constato que fortutamente (não havia feito esta reflexão estruturada naquele momento da minha vida), o lugar onde me encontro responde afirmativamente a todas estas questões.

Concluindo, penso que alguns cuidados podem ser decisivos para que o planejamento e realização de uma carreira de sucesso tornem-se uma realidade e podem ser assim resumidos:

  • Ouça a si mesmo e aprenda com os próprios erros;
  • Fortaleça a sua rede de contatos;
  • Mantenha-se atualizado e desafiado. Frequente encontros científicos;
  • Participe e fortaleça a sociedade da sua especialidade. Disto também depende a nossa força e o nosso futuro enquanto profissionais;
  • Invista na arte de se comunicar;
  • Amplie e diversifique os seus interesses e habilidades.

Saiba mais sobre as oportunidades dentro do Grupo Fleury

Dr. Giuseppe D’Ippolito

Radiologista e coordenador da Educação Médica em Diagnóstico por Imagem do Fleury Medicina e Saúde. Livre Docente e Professor Associado do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Escola Paulista de Medicina- UNIFESP. PhD pela Harvard Medical School e com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Dom Cabral.

Referências

  1. Escolas Médicas no Brasil X Escolas Médicas Internacionais. Escolas Médicas do Brasil. Disponível em: <https://escolasmedicas.com.br/escolas-medicas-brasil-e-internacionais.php>. Acesso em: 18 de maio de 2023. 
  2. SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2023. São Paulo, SP: FMUSP,
  3. AMB, 2023. 344 p. ISBN: 978-65-00-60986-8. Disponível em: <https://amb.org.br/wp-content/uploads/2023/02/DemografiaMedica2023_8fev-1.pdf>.  Acesso em: 18 de maio de 2023.

3 Replies to “Planejamento de carreira médica: como fazer”

  1. Viver o hoje é bem melhor…fazer as coisas devagar…sonhar com o amor de nossas vidas..mesmo que debochem dos nossos sonhos…caminhar pensando e Deus e pronto!!! Aí poderemos ter um futuro calmo talvez…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *