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Você conhece a padronização de tumores anexiais pelo IOTA? Entenda o que observar

O Dr. Fernando Guastella discrimina os pontos mais importantes a serem observados e laudados

Sistema reprodutor feminino
Tumores ovarianos costumam ser avaliados pela classificação IOTA

A ultrassonografia pélvica transvaginal tem papel fundamental no diagnóstico e na avaliação do risco de malignidade nos tumores anexiais. Por este motivo torna-se essencial uma padronização de descrição destes tumores e a utilização de uma classificação que avalie o potencial de malignidade, de forma auxiliar o ginecologista na decisão clínica.

A literatura médica contém muitas publicações com o objetivo de estimar a probabilidade de malignidade das massas anexiais, dentre estes um grupo, IOTA (International Ovarian Tumor Analysis) apresenta grande destaque. Em um dos seus primeiros trabalhos1 foram definidos quais os termos que devem ser utilizados para se descrever e classificar as massas anexiais. Os artigos do IOTA que sucederam esta2, 4 e outras publicações de grupos diferentes3 utilizaram essa mesma padronização para descrever as imagens anexiais.

Dessa forma, esta revisão aborda a descrição e a classificação dos tumores anexiais, de acordo com os critérios IOTA.

A: Descrição ultrassonográfica

Devem ser avaliadas as seguintes características nos tumores anexiais:

1. Presença de septos: fina linha de tecido que cruza a região interna de um cisto.

2. Presença de projeção sólida: tecido sólido que apresenta altura maior ou igual a 3 mm.

Classificação IOTA Projeção sólida

3. Paredes: são classificadas como regulares ou irregulares. Quando a altura de uma área sólida for menor que 3 mm compreende-se a definição de irregularidade interna. Se maior ou igual a 3 mm, projeção sólida. Quando o tumor anexial for sólido, o contorno externo é classificado como regular ou irregular.

4. Conteúdo: o conteúdo de um cisto pode ser:

a) Anecóico

b) Ecos em suspensão: classificados em:

I) Vidro fosco: frequentemente encontrado nos endometriomas. O conteúdo é nitidamente espesso e na maior parte das vezes não se observa movimento das partículas em seu interior.

II) Hemorrágico: frequentemente observado no corpo lúteo hemorrágico. Em seu interior notam-se “finas traves ecogênicas” ou um aspecto reticulado na imagem.

III) Baixa ecogenicidade: frequentemente identificado em diversos tipos de neoplasias, entre as quais tumores mucinosos. A percepção dos ecos em suspensão torna-se mais evidente com o aumento do ganho e muitas vezes observa-se movimento das partículas em seu interior

IV) Misto: encontrado usualmente em teratomas, abcessos e corpo lúteo hemorrágico.

5. Vascularização: deve ser avaliada em relação a sua intensidade de maneira subjetiva.

  1. Ausência de vascularização
  2. Pouca vascularização
  3. Moderada vascularização
  4. Muita vascularização
B: Classificação com base na presença de septos e áreas sólidas

Risco de malignidade informado na Publicação IOTA 2008(2)

Classificação IOTA Risco de malignidade
Unilocular* 1,3%
Multilocular 10,3%
Unilocular com projeção sólida 37,1%
Multilocular com projeção sólida 43,0%
Sólido 65,3%
Não classificáveis 0%
*Para os tumores uniloculares o critério de inclusão no estudo foi a persistência por pelo menos 4 meses, o que possibilita a exclusão de grande parte dos cistos funcionais encontrados em mulheres durante a menacme.

1. Tumores uniloculares: ausência de septos e áreas sólidas. Quando for identificado um septo incompleto o tumor permanece sendo unilocular.

Classificação IOTA: Tumores uniloculares

2. Tumores multiloculares: presença de pelo menos um septo completo e ausência de áreas sólidas.

Classificação IOTA: Tumores multiloculares

3. Tumores uniloculares com componente sólido: ausência de septos completos e pelo menos uma área sólida.

Classificação IOTA: Tumores uniloculares com componente sólido

4. Tumores multiloculares com componente sólido: presença de pelo menos um septo completo associado e pelo menos uma projeção sólida.

Classificação IOTA: Tumores multiloculares com componente sólido

5. Tumores sólidos: quando pelo menos 80% do tumor for sólido.

Classificação IOTA: Tumores sólidos

Importante: áreas hipercoicas e avasculares dos tumores dermoides (teratomas) não são classificados como áreas sólidas

C: Conclusão

A padronização das descrições e a classificações dos tumores anexiais tem como objetivo auxiliar o ginecologista na conduta clínica e na decisão quanto ao tipo de abordagem cirúrgica. O grupo IOTA apresenta uma padronização muito clara quanto à descrição dos tumores anexiais.

A classificação IOTA para tumores anexiais é muito bem fundamentada e avalia o risco de malignidade, sendo amplamente utilizado no mundo.

A utilização dos critérios de malignidade e benignidade possibilita um entendimento ainda melhor dos tumores anexiais quanto ao risco de malignidade, mesmo por profissionais com diferentes níveis de conhecimento. Dessa forma devemos evitar utilizar classificações do tipo “cisto complexo”, pois essa nomenclatura não informa riscos de malignidade e pode confundir o ginecologista na tomada de decisões.

Referências

  1. Timmerman D, Valentin L, Bourne TH, Collins WP, Verrelst H, Vergote I. Terms, definitions and measurements to describe the ultrasonographic features of adnexal tumors: a consensus opinion from the international ovarian tumor analysis (IOTA) group. Ultrasound Obstet Gynecol 2000;16:500-505.
  2. Timmerman D, Testa AC, Bourne T, Ameye L, Jurkovic D, Van HolsbekeC, et al. Simple ultrasoundbased rules for the diagnosis of ovarian cancer. Ultrasound Obstet Gynecol 2008; 31:681-90.
  3. Amor F, Vaccaro H, Alc´azar JL, Le´on M, Craig JM, Martinez J. Gynecologic imaging reporting and data system: a new proposal for classifying adnexal masses on the basis of sonographic findings. J Ultrasound Med 2009; 28: 285–291.
  4. Timmerman D, Ameye L, Fischerova D, Epstein E, Melis GB, Guerriero S, Van Holsbeke C, Savelli L, Fruscio R, Lissoni AA, Testa AC, Veldman J, Vergote I, Van Huffel S, Bourne T, Valentin L. Simple ultrasound rules to distinguish between benign and malignant adnexal masses before surgery: prospective validation by IOTA group. BMJ 2010; 341: c6839.

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