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Ultrassonografia vascular: como realizar o exame e quais são os principais achados?

Entenda como realizar o exame de ultrassonografia vascular e os principais achados no exame oferecendo uma melhor abordagem ao seu paciente. Boa leitura! 

A ultrassonografia vascular é um procedimento muito valioso no diagnóstico de vasopatias diversas. No Brasil, o médico é o operador do exame, diferente do que acontece nos EUA e na Europa, por exemplo. Assim sendo, a prática e a familiaridade com a ferramenta se fazem mais do que necessário para o médico especialista. 

Definição e princípios básicos da ultrassonografia vascular

A ultrassonografia vascular é uma técnica não invasiva de imagem médica que utiliza ondas sonoras de alta frequência para visualizar as artérias e veias do corpo, bem como para avaliar o fluxo sanguíneo.

Na medicina vascular, esse exame é valioso no diagnóstico de várias condições, a exemplo: 

  • Estenoses arteriais com a identificação de estreitamentos nas artérias que podem reduzir o fluxo sanguíneo, como na aterosclerose;
  • Trombose Venosa Profunda (TVP) através da detecção de coágulos sanguíneos nas veias profundas das pernas ou braços;
  • Aneurismas com a avaliação de dilatações anormais nas paredes arteriais;
  • Insuficiência vascular pelo monitoramento do fluxo sanguíneo após cirurgias de transplante de órgãos;
  • Doenças Vasculares Periféricas com o diagnóstico de doenças arteriais e venosas nas extremidades do corpo. 

Os princípios básicos da ultrassonografia vascular tornam esse exame tão interessante na avaliação do paciente e seu diagnóstico adequado. Eles descrevem as ferramentas utilizadas na avaliação do fluxo sanguíneo, identificação de obstruções, direção do fluxo, diagnóstico e tratamento de condições vasculares, são eles: 

  1. Ondas sonoras ultrassônicas;
  2. Efeito Doppler;
  3. Modos de imagem;
  4. Imagens em tempo real. 

Tipos de transdutores utilizados em ultrassonografia vascular

A ultrassonografia vascular pode ser realizada em várias regiões do corpo, a depender do vaso a ser estudado. Pensando nisso, diferentes tipos de transdutores podem ser escolhidos para esse propósito, atendendo mais adequadamente a cada região. 

Transdutor linear

O transdutor linear, por exemplo, é um dos mais comuns na prática da ultrassonografia vascular. Ele é projetado para produzir imagens de alta resolução e é frequentemente usado para examinar as artérias e veias superficiais, como as do pescoço, braços, pernas e regiões superficiais do abdômen.

Transdutor setorial ou curvilíneo

Outro transdutor é o setorial ou curvilíneo que, com uma forma cônica, é usado para criar imagens de estruturas mais profundas no corpo. Assim, é um tipo de transdutor indicado para avaliação de artérias e veias do abdome. 

Transdutor microconvexo

O transdutor microconvexo é semelhante ao transdutor curvilíneo, mas é menor e tem uma forma mais arredondada. Ele é frequentemente usado para exames pediátricos e para obter imagens de áreas difíceis de alcançar.

Transdutor intravascular

O transdutor intravascular, por sua vez, é inserido diretamente em um vaso sanguíneo por meio de um cateter. Ele é o transdutor recomendado em procedimento como a angiografia por ultrassom. 

Angiografia com indocianina

Na imagem abaixo, vemos uma angiografia com indocianina verde (ICG) do pé esquerdo. As Figuras A e B são tiradas 1 minuto após a injeção do contraste indocianina verde. Na figura A, as áreas amarelas, laranja e vermelhas correspondem ao aumento da captação do contraste ICG, o que indica que há aumento da perfusão nessas áreas. 

Em contraste, as áreas azuis correspondem a áreas com menor captação do contraste ICG. A Figura B mostra a mesma imagem do pé sem o mapa de cores sobreposto. As porcentagens correspondem à quantidade de ICG detectada na região em comparação com uma área de tecido com perfusão normal conhecida.

Angiografia com indocianina verde (ICG) do pé esquerdo. Fonte: Jayer Chung, MD, MSc.

Transdutor de doppler

O transdutor de Doppler é usado para avaliar o fluxo sanguíneo em tempo real. Ele é capaz de detectar a velocidade e a direção do fluxo sanguíneo nas artérias e veias. O Doppler pode ser usado em conjunto com outros transdutores para fornecer informações adicionais sobre a circulação sanguínea.

Transdutor endocavitário

Já o transdutor endocavitário, como o próprio nome já diz, é projetado para ser inserido em cavidades do corpo, a exemplo de reto e vagina. Por isso, são usados com frequência para avaliar veias e artérias da região pélvica. 

Assim, vemos que a escolha do transdutor depende grandemente da anatomia do paciente e da área de investigação. Pensando nisso, é importante que o especialista esteja familiarizado às opções de transdutores disponíveis. 

Preparo do paciente antes do exame

O preparo do paciente é algo muito importante para a eficácia do exame. Assim, é possível obter imagens de alta qualidade através da colaboração ativa do paciente. 

Em alguns casos, o paciente pode ser instruído a não comer ou beber nada por várias horas antes do exame, especialmente se a ultrassonografia vascular for abdominal. Ainda, ele deve usar roupas confortáveis e de fácil acesso à área a ser examinada. Em alguns casos, pode ser necessário usar uma roupa hospitalar.

Joias e objetos metálicos na área a ser examinada devem ser removidos. Isso porque podem interferir na qualidade das imagens. Próteses também devem ser informadas aos operadores do exame, além de medicações em uso que possam ser anticoagulantes. 

Outras instruções a serem passadas aos pacientes incluem: 

  1. Posicionamento adequado, o que dependerá da área a ser examinada;
  2. Imobilidade durante o exame, sem movimentos desnecessários;
  3. Respiração controlada, ou mesmo permanecer em apneia por alguns momentos;
  4. Feedback, comunicando qualquer desconforto ou sintoma durante o exame;
  5. Colaboração emocional, compreendendo a importância de cooperação e de criar um ambiente tranquilo e eficiente durante o procedimento. 

Sequência de imagens e planos de varredura

A ultrassonografia vascular possui elementos essenciais para a obtenção de informações sobre o sistema vascular:

  • sequência de imagens e
  • planos de varredura. 

Sequências de imagens

As sequências de imagens na ultrassonografia vascular utilizam diferentes modos de imagem para visualizar as estruturas vasculares e o fluxo sanguíneo. Os principais incluem: 

  • Modo B (Bidimensional): imagens em tempo real das estruturas vasculares, permitindo visualizar a forma e a anatomia das artérias e veias
  • Modo Doppler: Avalia o fluxo sanguíneo, incluindo sua direção e velocidade, usando o efeito Doppler. Existem dois subtipos:
    • Colorido: mostra o fluxo sanguíneo em cores diferentes para indicar direção e velocidade.
    • Espectral: representa o espectro das velocidades do fluxo sanguíneo em um gráfico.

Planos de varredura

Em relação aos planos de varredura, podemos citar os planos: 

  1. Transversal (Axial): nesse plano, as imagens são obtidas cortando perpendicularmente ao eixo longitudinal do vaso sanguíneo. Isso permite a avaliação das estruturas vasculares em cortes horizontais, identificando anormalidades como estenoses ou obstruções;
  2. Longitudinal (Sagital e Coronal): envolvem imagens obtidas ao longo do eixo longitudinal do vaso sanguíneo. O plano longitudinal sagital exibe uma vista lateral, enquanto o plano coronal exibe uma vista frontal. Esses planos são úteis para visualizar a extensão do vaso e identificar características como dilatações ou aneurismas;
  3. Corte Tridimensional (3D): em alguns casos, é possível criar volumes de imagem 3D da área vascular em questão, permitindo uma visualização tridimensional das estruturas e do fluxo sanguíneo;
  4. Oblíquo: em situações em que uma visualização específica é necessária, pode-se usar um plano de varredura obliquo, inclinado em relação aos planos tradicionais, para avaliar uma área específica de interesse.

Avaliação de artérias e fístulas: como fazer?

Na avaliação de artérias, nos atentaremos mais firmemente à situações de presença de placa carotídea, medindo-se a espessura mediointimal (EMI). O protocolo de medida é descrito pelo estudo ELSA-Brasil, descrito abaixo: 

Fonte: Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Sociedade Brasileira de Cardiologia.

A descrição do laudo deve envolver a medida da EMI média de cada lado (em mm), no corpo do laudo. Deve-se também acrescentar na conclusão se a medida se encontra acima ou abaixo do percentil 75, e a tabela utilizada, com sua referência bibliográfica. 

Também deve descrever a presença das placas carotídeas, com suas determinadas características e quantificações. Isso deve ser feito de acordo com os critérios recomendados pelo recente consenso brasileiro.1

Fonte: Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Sociedade Brasileira de Cardiologia. 

Ultrassonografia vascular com Doppler intraoperatória

A ultrassonografia vascular com Doppler intraoperatória desempenha um papel fundamental. Ela permite o acompanhamento das variáveis hemodinâmicas em pacientes submetidos à criação de uma fístula arteriovenosavenosa (FAV). Isso a torna uma ferramenta de grande importância no contexto cirúrgico.

Nas fístulas, a avaliação deve abranger o diâmetro da artéria e veia-alvo como a distância vertical entre as paredes externas da artéria e veia, através de um paquímetro eletrônico da máquina. 

Outro ponto importante é a varredura sagital da artéria e da veia-alvo, a aproximadamente 3 cm proximalmente à anastomose. Ainda, a perviedade deve ser bem avaliada. Como sugestão de estudos, e avaliada através do ultrassom vascular com Doppler em intraoperatório e nos dias 1, 7, 30 e 60 do pós-operatório. 

Análise espectral da veia receptora em intraoperatório

Abaixo, vemos na imagem a análise espectral da veia receptora em intraoperatório logo após a confecção da anastomose.

  • 2A) Fístula não funcionante no 1º dia de pós-operatório. Velocidade sistólica de pico (VPS) 56 cm/s, volume de fluxo de 142 mL/min.
  • 2B) Fístula funcionante no 1º dia de pós-operatório. VPS 192 cm/s, volume de fluxo de 463 mL/min.
Avaliação à ultrassonografia vascular de fístula arteriovenosa. Fonte: Santos et al, 2021.

Utilização da ultrassonografia vascular no diagnóstico de doenças vasculares periféricas

A ultrassonografia vascular é uma ferramenta valiosa na diagnóstico de doenças vasculares periféricas, que afetam as artérias e veias fora do coração e dos pulmões. 

Ela é uma ferramenta não invasiva e altamente eficaz para avaliar a circulação sanguínea nas extremidades (membros superiores e inferiores) e pode ajudar a identificar uma variedade de condições vasculares. 

Aqui estão algumas maneiras pelas quais a ultrassonografia vascular é utilizada no diagnóstico de doenças vasculares periféricas:

  1. Avaliação do fluxo sanguíneo, permitindo a avaliação do fluxo sanguíneo nas artérias e veias das extremidades. Isso é importante para detectar obstruções, estenoses (estreitamentos) e anormalidades no fluxo sanguíneo;
  2. Identificação de doença arterial obstrutiva, caracterizada pelo acúmulo de placas de aterosclerose nas artérias das extremidades. Isso pode levar a sintomas como claudicação intermitente ou até mesmo a isquemia crítica dos membros;
  3. Diagnóstico de aneurismas, que podem ocorrer em diversas áreas, como aorta abdominal, artérias femorais e poplíteas;
  4. Avaliação e trombose venosa profunda (TVP), identificada por coágulos sanguíneos nas veias profundas das pernas. Isso é importante para evitar complicações, como embolia pulmonar;
  5. Mapeamento pré-operatório da anatomia vascular, identificando obstruções e auxiliar no planejamento cirúrgico;
  6. Monitoramento de procedimentos intervencionistas, como angioplastia ou colocação de stents podendo ser usada em tempo real para guiar o médico na manipulação dos dispositivos e verificar os resultados;
  7. Acompanhamento de pacientes com doenças vasculares periféricas, permitindo que os médicos avaliem a progressão da doença ao longo do tempo e ajustem o tratamento conforme necessário. 

Leia também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

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Referências 

  1. Posicionamento de Ultrassonografia Vascular do Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). 
  2. Advanced vascular imaging for lower extremity peripheral artery disease. Jayer Chung, MD, MSc. UpToDate
  3. Guia prático de ultra-sonografia vascular. Carlos Alberto Engelhorn. 
  4. O volume de fluxo e a velocidade de pico sistólico ao ultrassom vascular com Doppler intraoperatório como preditores de perviedade precoce na fístula arteriovenosa autógena para hemodiálise. Guilherme de Castro-Santos. Jornal Vascular Brasileiro.

Sugestão de conteúdo

Aproveite também para conferir o documento da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre Posicionamento da Ultrassonografia Vascular do Departamento de Imagem Cardiovascular (DIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Nele, os especialistas buscam uma forma de padronizar a interpretação dos exames e também elucidam as principais tecnologias em equipamentos, softwares e transdutores, além da abordagem do método para as principais estruturas vasculares e suas patologias. Confira: