Pré-eclâmpsia pode acarretar riscos à saúde materna e fetal
Momento do rastreamento depende de diversos fatores, entenda os métodos mais utilizados para essa avaliação

A pré-eclâmpsia é erroneamente considerada pelo público leigo como um aumento da pressão arterial durante a gestante. De fato, esse é um dos sintomas, mas não o único: precisa estar relacionado à proteinúria significativa ou ao comprometimento de órgãos-alvo.
O quadro é mais comum no Brasil quando comparamos com a incidência mundial:
- Incidência no mundo: 2,16%
- Incidência na América Latina: 3,88%
- Incidência no Brasil: 4,6%
Associa-se a pior prognóstico materno-fetal:
- 1:2000 casos levam à morte materna
- 1:25 chegam ao “near miss”
- 1:15 levam ao óbito fetal
- 1:3 causam prematuridade
- 1:32 casos terminam em óbito neonatal
- 1:10 acabam com o óbito perinatal
Como é feito o diagnóstico da pré-eclâmpsia?
O primeiro sintoma é a hipertensão arterial, que deve seguir os seguintes parâmetros:
- Pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg
- Reconfirmar > 4 horas
Outros critérios importantes: esse sintoma pode estar correlacionado à proteinúria significativa ou ao comprometimento de órgãos-alvo (principalmente rins).
Para caracterização da proteinúria significativa, é preciso:
- Urina 24 h
- Amostra isolada proteína/creatinina ≥ 30mg/mmol (≥ 0,3)
- Fita ≥ 2+ (100 mg/dL)
Já o comprometimento sistêmico:
- Trombocitopenia: < 100.000 mm3
- Insuficiência renal: creatinina > 1,1 mg/dL ou dobra do valor basal
- Necrose hepática: transaminases > 2 vezes valor normal
- Edema pulmonar
- Sintomas cerebrais ou visuais
Classificação da pré-eclâmpsia
O quadro pode ser classificado como precoce ou tardio:
PE Precoce | PE Tardia |
Parto < 34 semanas | Parto ≥ 34 semanas |
12% | 88% |
Inadequada invasão trofoblástica com lesões extensas dos villos | Hiperplacentação (diabetes, gestação múltipla, anemia) |
Alterações Doppler artérias uterinas e umbilicais – RCIU | Doppler e crescimento fetal tendem a ser normais |
Maior risco para complicações maternas e fetais | Principal causa de eclampsia e morte materna |
Alta resistência vascular e baixo débito cardíaco materno | Baixa resistência vascular e alto débito cardíaco materno |
Como deve ser feito o rastreamento da pré-eclâmpsia?
Há diferentes formas de se fazer o rastreamento da pré-eclâmpsia, as mais discutidas são:
Rastreamento por fatores de risco
Existem fatores de risco altos e moderados para a pré-eclâmpsia:
Alto Risco | Risco Moderado (2 ou +) |
Hipertensão numa gestação anterior | Primigesta |
Hipertensão crônica | Idade ≥ 40 anos |
Nefropatia crônica | Intervalo gestacional > 10 anos |
Diabetes tipo 1 ou 2 | IMC pré-gravídico ≥ 35 |
Doenças autoimunes (lúpus e síndrome antifosfolípide) | História familiar de PE |
Gestação múltipla |
Os guidelines utilizam critérios diferentes de acordo com os fatores de risco:
- NICE (2019) e ACOG (2020) – Anamnese (1 fator de risco alto ou ≥ 2 fatores de risco moderados)
- WHO, 2011 – Anamnese (≥ 1 fator de risco alto)
- ISSHP, 2018 – Recomenda a anamnese (fator de risco alto) e apoia USG 11-13 sem
- FIGO, 2019 – 11-13 sem (algoritmo FMF: anamnese + PAM ± uterinas ± bioquimica)
Rastreamento usando o algoritmo da FMF
A Fundação de Medicina Fetal (FMF) possui um algoritmo para rastreamento da pré-eclâmpsia de acordo com o cálculo:
- No primeiro trimestre (entre 11 e 14 semanas), os marcadores incluídos são a história materna, pressão arterial média (PAM), IP médio das artérias uterinas (UTPI) e PLGF sérico. Acesse aqui a calculadora para o primeiro trimestre;
- No segundo trimestre (entre 19 a 24 semanas), os marcadores incluídos são a história materna, PAM, UTPI, PLGF sérico e sFLT-1. Confira aqui a calculadora para o segundo semestre;
- No terceiro trimestre (entre 30 e 37 semanas) a FMF considera marcadores importantes a história materna, PAM, UTPI, PLGF sérico e sFLT-1. Acesse aqui a calculadora para o terceiro trimestre.
Exames incluídos no rastreamento da pre-eclampsia
Ultrassonografia
O ultrassom com Doppler é um grande aliado durante o primeiro trimestre de gravidez:
- Avaliar ramo ascendente das artérias uterinas
- Local: próximo ao orifício uterino interno
- Ângulo de insonação < 30°
- Amostra de volume de 2 mm
- Parâmetro avaliado: IP médio
- 3 ondas consecutivas iguais
- Vaso com velocidade de pico sistólico > 60 cm/s
Medição da pressão arterial
Para que a medida seja eficiente, ela deve seguir os seguintes critérios:
- A paciente deve estar sentada
- Em repouso por cinco minutos
- Os dois braços devem estar na altura do coração
- Uso de manguito adequado.
- Devem ser feitas múltiplas medidas simultâneas de PA com intervalo de 1 minuto, em cada braço
- Serão usadas as últimas duas medidas consecutivas em cada braço, com uma diferenca não superior a 6 mm/Hg entre PD e 10 mm/Hg entre OS
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Referências
- Abalos E et al, BJOG, 2014 – WHO multicountry survey on maternal and newborn health.
- National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) guideline, 2019
- Poon LC et al, FIGO initiative on pre-eclampsia, IntJGynecObst, 2019
- Espinoza J et al, ACOG practice bulletin #222, ObstGynec, 2020
- Uterine measurement guideline, FMF London
- Mean arterial blood pressure measurement guideline, FMF London
Boa tarde
Meu nome é Vivian e tenho uma dúvida sobre o rastreio de PE no primeiro trimestre.
Conforme o ASPRE foi considerado um risco aumentado para PE qdo > 1/100. Porém ao utilizar a calculadora da FMF ( e não o Astraia) com exclusão do parâmetro PLGF, o software tem considerado o cut-off de 1/150.
Isso seria pela não utilização do PLGF?
Dede já agradeço
Vivian