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Rotura de prótese mamária: como reconhecer seus tipos na ultrassonografia?

Aprenda sobre os tipos de roturas de prótese mamária e seus achados no exame ultrassonográfico, otimizando a abordagem eficiente à paciente com essa condição.

Implantes de silicone em gel são utilizados na reconstrução mamária após procedimentos médicos como mastectomia, correção de deformidades congênitas ou traumáticas e até mesmo para aprimorar esteticamente o formato das mamas. Esses dispositivos são de fundamental importância para médicos formados e especialistas no campo da cirurgia plástica e reparadora.

A aplicação de próteses mamárias não apenas tem implicações físicas, mas também impactos psicológicos profundos que são amplamente reconhecidos. No entanto, é importante observar que, apesar de seus benefícios, os implantes de silicone mamário estão sujeitos a uma série de complicações potenciais, incluindo endurecimento e ruptura, que requerem atenção especializada. Neste artigo, abordaremos em detalhes os aspectos clínicos e as considerações cruciais relacionadas às próteses mamárias.

Tipos de próteses mamárias: silicone, salinas e texturizadas

As cirurgias estéticas reconstrutivas de mama têm sido cada vez mais popularizadas nos últimos anos, especialmente no Brasil, que é referência mundial na abordagem. Ao mesmo tempo, as próteses mamárias têm evoluído sobremaneira quanto à tecnologia e tipos de resultados. Confira abaixo os principais tipos de próteses mamárias.

Prótese de gel coesivo de silicone

A prótese de gel coesivo de silicone é comum e popular. Ela contém silicone coesivo em gel, que é espesso e coeso, dando uma sensação mais natural e forma às mamas.

Prótese de silicone de alta coesividade

Já a prótese de silicone de alta coesividade contêm um gel de silicone ainda mais coeso que mantém sua forma mesmo quando cortadas. Ela é conhecida por manter uma forma mais estável e prevenir vazamentos em caso de ruptura.

Prótese texturizada ou lisa: qual a diferença?

A prótese texturizada tem superfície áspera que é projetada para aderir melhor ao tecido mamário, reduzindo o risco de contratura capsular (endurecimento do tecido ao redor do implante). Ela pode ser útil em algumas situações, mas também podem estar associadas a um risco ligeiramente maior de rugas visíveis ou movimentação.
Por outro lado, a prótese lisa tem superfície suave e deslizante. Ela tende a ser menos propensa a rugas ou ondulações, mas podem ter um risco ligeiramente maior de contratura capsular. São usadas principalmente em reconstruções mamárias e procedimentos de aumento estético.

Implante salino

Por último, o implante salino é preenchido com uma solução salina estéril (água salgada). Ele é, geralmente, menos popular do que as de silicone devido a uma sensação menos natural e maior chance de rugas ou ondulações. Em caso de ruptura, o corpo absorve a solução salina de forma segura.

Melhor técnica de aplicação de implantes mamários: subglandular, submuscular ou subfascial?

As próteses podem ser implantadas em diferentes locais, conversado previamente com a paciente.
No método subglandular a prótese é colocada entre a glândula mamária e o músculo peitoral maior, o que significa que o implante está mais próximo da superfície da pele, como na imagem A abaixo. As vantagens dessa técnica incluem uma recuperação mais rápida, menos dor pós-operatória e maior facilidade na amamentação.
Já no método submuscular, vista na imagem B, o implante é colocado abaixo do músculo peitoral maior, fornecendo uma cobertura adicional para o implante. Com isso, o resultado estético é mais natural, especialmente em pacientes com pouco tecido mamário.

Ilustração de Ressonância Magnética mostrando o posicionamento de próteses mamárias
Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Por sua vez, a técnica subfascial consiste na implantação da prótese sob a fáscia muscular, acima do músculo. Nessa técnica, além das vantagens apresentadas anteriormente, a técnica subfascial pode dar uma aparência mais natural e com menos desconforto.

Complicações da implantação de próteses mamárias: ruptura, contratura capsular e deslocamento

A ruptura de implante ou prótese é uma complicação grave, com risco aumentado em implantes de localização retropeitoral e crescimento ao longo do tempo após a colocação, atingindo 30% nos primeiros 5 anos e 50% nos primeiros 10 anos.
Devido à possibilidade de ruptura assintomática, o FDA recomenda rastreamento por exames de imagem a cada três anos após a cirurgia, seguido de exames bienais. No entanto, essa orientação é motivo de controvérsia, à medida que as complicações diminuíram com o uso de implantes mais modernos.

Rotura intracapsular de implante mamário

A rotura intracapsular é a mais comum, chegando a representar 89% dos casos. Ela consiste na ruptura do envoltório do implante, sem extravasamento do conteúdo além da cápsula fibrosa. Os graus de colapso do elastômero variam conforme os implantes de lúmen único, que são os mais comumente encontrados na prática clínica.
Abaixo, vemos uma ilustração demonstrando níveis de colapso do envoltório do implante nos casos de ruptura intracapsular: sem colapso (A), com mínimo colapso (B), com colapso parcial (C) e com colapso total (D).

Imagem que demonstra os níveis de colapso do invólucro do implante na ruptura intracapsular de prótese mamária
Ilustração sobre níveis de colapso do envoltório do implante nos casos de ruptura intracapsular. Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Rotura extracapsular de implante mamário

Já a rotura extracapsular está associada à ruptura extracapsular. Nesse caso, ela se configura como a descontinuidade da cápsula fibrosa, com extravasamento extracapsular de material do implante ou prótese. Esse material pode estar presente em partes moles adjacentes à cápsula fibrosa, mas também pode migrar para linfonodos axilares e na cadeia torácica interna.
No entanto, deixamos aqui a nossa recomendação para que sempre seja verificado com a paciente se já houve troca prévia de implante mamário, especialmente se for verificada a adjacência que comentamos acima, devido a possibilidade de haver restos de silicone prévio. Essa pode ser uma imagem confusa e pode levar a um diagnóstico errado.

Diagnóstico por USG: vantagens, técnicas e protocolo

Diagnosticar a paciente com rotura de prótese mamária é um grande desafio quando apenas baseado no exame físico e nos sinais clínicos da paciente.
Pensando nisso, os exames de imagem são grandes aliados nessa investigação e, sobre eles, podemos destacar a mamografia, tomografia computadorizada e a ultrassonografia, sobre a qual discorreremos com mais detalhes.

Ultrassonografia

A ultrassonografia é um exame não-invasivo que não requer incisões cirúrgicas ou exposição à radiação ionizante, tornando-o mais seguro em comparação com outros métodos de imagem, como a ressonância magnética.
Por ser amplamente acessível, torna-se uma opção viável para a detecção da condição. Ela ainda permite uma avaliação em tempo real da rotura mamária, podendo as estruturas adjacentes também serem avaliadas simultaneamente.

Ultrassonografia em modo B

A ultrassonografia em modo B é a técnica mais comum usada para avaliar implantes mamários. Ela fornece uma imagem bidimensional em tempo real da mama e do implante, permitindo ao médico identificar anormalidades na superfície do implante.

Doppler

Ainda, o Doppler pode ser usado para avaliar o fluxo sanguíneo nas áreas próximas ao implante, o que pode ajudar a identificar vazamentos ou sangramentos associados à ruptura.
Abaixo, vemos imagens panorâmicas de ultrassonografia em pacientes com implante de lúmen único com conteúdo de silicone (A) e com prótese expansora de duplo lúmen (B), apresentando lúmen interno com solução salina e lúmen externo com silicone, ambos anecoicos à ultrassonografia.

Imagem de ultrassonografia da mama mostrando prótese mamária intacta
Imagens panorâmicas de ultrassonografia em pacientes com implante de lúmen único com conteúdo de silicone. Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Como é feito o Doppler?

A paciente é posicionada em decúbito dorsal ou inclinada levemente para o lado, com o braço elevado acima da cabeça para permitir o acesso ao seio a ser examinado. Um transdutor de alta frequência é usado para obter imagens de alta resolução da mama e do implante.
O médico avalia a integridade da cápsula ao redor do implante e a superfície do implante em busca de irregularidades, rugas, dobras ou sinais de ruptura. Se necessário, o Doppler pode ser usado para avaliar o fluxo sanguíneo em áreas suspeitas de vazamentos ou sangramentos. As imagens e medidas são registradas e documentadas para análise posterior e comparação em exames subsequentes.
É importante observar que a sensibilidade da ultrassonografia na detecção de ruptura de prótese mamária pode variar, e a experiência do técnico em ultrassonografia desempenha um papel crucial na obtenção de resultados precisos.

Achados ultrassonográficos: rotura intracapsular, extracapsular e outras complicações

Os achados dos exames de imagem são essenciais para inferir a rotura de prótese mamária e otimizar a abordagem da paciente.

Imagem do sistema de classificação de ruptura de implante de mama
Fonte: Scanarelo et al. 2004

A ultrassonografia pode ser usada como o primeiro teste na avaliação de implantes mamários em pacientes assintomáticos, seguida de mamografia. Isso ocorre porque a ultrassonografia tem maior capacidade de detectar tipos de ruptura intracapsular (clinicamente ocultos) e, além disso, possui a mesma sensibilidade que a ressonância magnética na detecção de rupturas extracapsulares

Sinal ultrassonográfico: Ruído ecodenso

Considerando a ultrassonografia, o mais útil destes sinais é o “ruído ecodenso” ou aparência de tempestade de neve, que indica o aumento difuso da ecogenicidade do silicone livre nas estruturas mamárias.
Na imagem abaixo, vemos uma ruptura extracapsular com material ecogênico, cujas setas apontam para o aspecto característico de “tempestade de neve”.

Imagem médica que exibe ruptura extracapsular com material ecogênico em prótese mamária
Ruptura extracapsular com material ecogênico, apontando para o aspecto característico de “tempestade de neve”. Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Sinal ultrassonográfico: Escada

Outro sinal ultrassonográfico, chamado de “escada“, tem sido descrito como preditivo de ruptura. Esse sinal corresponde ao sinal de linguine encontrado na ressonância magnética e é mostrado nas imagens de ultrassonografia como uma série de linhas ecogênicas horizontais ou curvas paralelas além do interior do implante, que correspondem ao elastômero rompido.
Esse sinal pode ser representado pelas imagens de ultrassonografia (A) e RM (B) sequência T2 axial com supressão de gordura e saturação de água em paciente com ruptura intracapsular com colapso total à direita, demonstrando múltiplas linhas descontínuas no interior do implante (sinal da escada na ultrassonografia/sinal de linguini na RM).

Imagem de Ultrassonografia e Ressonância Magnética mostrando ruptura intracapsular de prótese mamária
Rotura intracapsular de prótese mamária. Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Abaixo, vemos imagens de ultrassonografia demonstrando sinais de ruptura extracapsular, com material ecogênico com sombra acústica posterior “suja” adjacente ao implante (setas em A e B).

Imagem de ultrassonografia revelando prótese mamária extracapsular
Imagens de ultrassonografia demonstrando sinais de ruptura extracapsular. Fonte: Atlas de Diagnóstico por Imagem da Mama.

Prevenção de rotura: o que recomendar à sua paciente?

A prevenção de ruptura de prótese mamária é importante para garantir a durabilidade e a segurança dos implantes. Confira abaixo dicas de recomendações às pacientes.

Implantes de boa qualidade e tamanho adequado

Essa medida começa antes mesmo do implante da prótese: a escolha de qual usar. Recomende implantes de silicone de alta qualidade e certificados pela FDA (ou pela agência reguladora local). Implantes de boa qualidade têm menos probabilidade de romper ou vazar.
Ainda, o tamanho adequado do implante é crucial. Implantes muito grandes podem colocar mais pressão sobre a cápsula e aumentar o risco de ruptura. Trabalhe com sua paciente para determinar o tamanho que melhor atende às suas metas estéticas, considerando sua estrutura física.
Explique as diferenças entre implantes de silicone, salinas, texturizados e lisos, destacando as características de cada um. Ajude sua paciente a escolher o tipo que seja mais apropriado para suas necessidades e estilo de vida. É importante que a todo momento ela esteja ciente da importância da sua participação no processo.

Cuidados pós-operatórios

Explique que traumas ou lesões graves nas mamas podem aumentar o risco de ruptura dos implantes. Incentive a paciente a evitar atividades de alto impacto que possam causar lesões nos seios. Um exemplo disso é para as pacientes que praticam esporte de alto impacto, sendo recomendado o uso de sutiãs esportivos com um bom suporte.
Por fim, estar presente em todas as revisões marcadas com o cirurgião após a cirurgia é fundamental para que mais recomendações ou ajustes no seguimento sejam dados.

Imagem de médico explicando os diferentes tipos de prótese mamária de silicone

Caso clínico de rotura de prótese mamária: possíveis sinais e sintomas na prática

Maria, uma mulher de 42 anos, submeteu-se a um aumento mamário com implantes de silicone com o objetivo de aumentar o volume de suas mamas após a amamentação há, aproximadamente, 10 anos.
Ela procurou atendimento médico devido a sintomas recentes que a preocupam. Maria relatou que há cerca de 3 meses começou a sentir desconforto em seu seio direito, acompanhado por:

  • Dor e sensibilidade: Maria notou dor e sensibilidade na mama direita, que aumentava quando ela pressionava a região do implante.
  • Assimetria mamária: Ela também percebeu uma assimetria nas mamas, com a mama direita parecendo ligeiramente menor e apresentando uma forma mais irregular.
  • Inchaço e edema: O seio direito estava levemente inchado e apresentava edema perceptível.
  • Sensação de “firmeza”: Maria descreveu uma sensação de “firmeza” ou “endurecimento” na mama direita, que não estava presente anteriormente.

A melhor abordagem para o caso apresentado

Diante dos sintomas apresentados por Maria e da suspeita de ruptura da prótese mamária, o médico recomendou uma avaliação por meio de ultrassonografia, cujos achados foram:

  • Echodense Noise (Tempestade de Neve): a ultrassonografia revelou a presença de echodense noise na área circundante à prótese do seio direito. Isso indicava a presença de silicone livre no tecido mamário, sugerindo uma ruptura.
  • Irregularidades na superfície do implante: a análise da prótese mostrou irregularidades na superfície, incluindo rugas e dobras, consistentes com uma ruptura intracapsular.

Com base nos achados da ultrassonografia e nos sintomas relatados por Maria, a melhor abordagem seria:

  1. Confirmação da ruptura e avaliação do grau de vazamento do silicone com imagens mais detalhadas possivelmente por meio de uma RM;
  2. Revisão cirúrgica: Se a ruptura for confirmada, a paciente deve ser encaminhada para consulta com um cirurgião plástico. Dependendo da extensão da ruptura e do tipo de implante, pode ser necessária uma cirurgia de revisão para remover e substituir a prótese;
  3. Escolha de novos implantes: Durante a consulta com o cirurgião plástico, Maria discutirá suas opções para novos implantes, incluindo o tipo de implante (silicone coesivo, texturizado, liso), o tamanho e a localização da prótese;
  4. Acompanhamento pós-operatório: Após a cirurgia de revisão, a paciente precisará de acompanhamento médico regular para garantir a recuperação adequada e a saúde contínua das mamas e dos implantes.

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Referências

6 Replies to “Prótese Mamária: Reconheça roturas na ultrassonografia”

  1. Muito bom.
    É sempre bom reciclar.
    Não sei se é possível ter modelo de laudo de ultrassom do Cetrus com implante.
    Obrigada.

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