O ultrassom das vias urinárias é uma ferramenta essencial no diagnóstico e monitoramento de diversas condições renais e urológicas.
Este exame não invasivo utiliza ondas sonoras de alta frequência para criar imagens detalhadas dos rins, ureteres, bexiga e uretra, permitindo a identificação de anomalias, cálculos renais, infecções, entre outras patologias.
Anatomia das vias urinárias
O sistema urinário é dividido em duas partes:
- Trato urinário superior: rins e ureteres (região retroperitoneal)
- Trato urinário inferior: bexiga urinária e uretra (região pélvica)
Os órgãos do sistema urinário superior, especificamente os rins e os ureteres, juntamente com seus vasos sanguíneos, são primariamente retroperitoneais, situados na parede posterior do abdome. Em outras palavras, eles se desenvolvem originalmente como vísceras retroperitoneais e permanecem nessa posição ao longo da vida. A porção superomedial de cada rim está geralmente em contato com a glândula adrenal. Esta glândula, também conhecida como glândula suprarrenal, é envolvida por uma cápsula fibrosa e um coxim gorduroso pararrenal, sendo separada do rim por um fino septo de fáscia, de modo que não há contato direto entre eles.
As glândulas adrenais desempenham um papel crucial no sistema endócrino, secretando hormônios vitais como a aldosterona. Apesar de sua proximidade anatômica com os rins, sua função é completamente distinta, não estando diretamente relacionada ao sistema urinário. As glândulas adrenais regulam diversas funções corporais, incluindo a resposta ao estresse e o equilíbrio de água e eletrólitos.
Técnica de ultrassom das vias urinárias
Posicionamento do Paciente
O procedimento de ultrassom das vias urinárias inicia-se com o posicionamento do paciente, deitado em uma maca, geralmente de costas, embora mudanças de posição possam ser necessárias para uma melhor visualização de certas áreas. Em seguida, aplica-se um gel à base de água sobre a pele do abdome e da região pélvica, facilitando a transmissão das ondas sonoras.
Deve-se movimentar o transdutor, dispositivo responsável por emitir e captar essas ondas, sobre a pele, permitindo a obtenção de imagens em diferentes ângulos. As ondas sonoras emitidas pelo transdutor penetram no corpo e refletem nas estruturas internas, sendo essas reflexões captadas pelo transdutor e convertidas em imagens em tempo real, exibidas no monitor.
Equipamentos utilizados
Os principais componentes incluem:
- Transdutor de ultrassom: emite e capta ondas sonoras de alta frequência.
- Monitor: exibe as imagens em tempo real.
Tipos de transdutores utilizados:
- Convexo: ideal para exames abdominais.
- Linear: indicado para avaliação de estruturas superficiais e vasculares.
Avaliação das estruturas urinárias
Veja como realizar a avaliação das estruturas urinárias abaixo:
Rins
Os rins são os órgãos primários avaliados durante um exame de ultrassom urinário.
A ecogenicidade do córtex renal deve ser comparada com a do fígado. Normalmente, o córtex renal é ligeiramente hipoecogênico em relação ao fígado. A presença de alterações na ecotextura pode indicar condições como a nefropatia crônica, onde o córtex renal se torna mais hiperecogênico.
A medição do comprimento, largura e espessura dos rins é essencial para a avaliação de condições como atrofia renal ou hipertrofia compensatória. Assim, rins atróficos podem sugerir insuficiência renal crônica, enquanto rins aumentados podem indicar processos inflamatórios ou obstrutivos.
O sistema coletor renal, incluindo cálices, pelve renal e ureteres proximais, é avaliado quanto à presença de dilatações. A hidronefrose, ou dilatação do sistema coletor, é um achado significativo que pode resultar de obstruções por cálculos, estenoses ureterais ou massas compressivas.
Além disso, observa-se se há lesões focais, identificando e caracterizando massas renais, cistos e tumores. Os cistos renais simples são anecóicos com paredes finas e bem definidas, enquanto lesões sólidas ou complexas podem indicar neoplasias.
Dessa forma, na imagem abaixo é possível observar que a ultrassonografia do rim direito revela o córtex renal hipoecóico (destacado em azul), o seio renal hiperecogênico (marcado em roxo) e sua relação com o fígado (em vermelho).
Ureteres
Os ureteres são tubos musculares que transportam a urina dos rins para a bexiga. A avaliação dos ureteres por ultrassom inclui a detecção de ureterohidronefrose, que pode sugerir obstruções ureterais devido a cálculos, estenoses ou massas. Ureteres dilatados são indicativos de obstrução distal, e a extensão da dilatação ajuda a localizar o ponto de obstrução.
Além disso, a observação da peristalse ureteral em tempo real pode ajudar a avaliar a funcionalidade do ureter e a identificar áreas de obstrução funcional.
Na imagem abaixo observa-se a medida do comprimento da uretra:
Bexiga urinária
A bexiga urinária é um órgão muscular que armazena a urina até sua excreção. Assim, a avaliação ultrassonográfica da bexiga inclui a medição da sua capacidade e do volume residual pós-miccional, que são essenciais para a avaliação da função vesical. A retenção urinária pode indicar obstrução uretral ou disfunção detrusora.
Além disso, o espessamento da parede vesical pode ser um indicativo de condições como cistite crônica ou bexiga neurogênica. A presença de trabeculações pode sugerir obstrução crônica ou hiperatividade detrusora.
Observa-se também se há lesões intravesicais, através da identificação de pólipos, cálculos vesicais e tumores. Tumores de bexiga, como o carcinoma urotelial, podem se apresentar como massas irregulares que projetam-se na cavidade vesical.
No exame abaixo, mostra-se uma megabexiga ao ultrassom com o sinal de “buraco de fechadura”:
Uretra
A uretra é o canal que conduz a urina da bexiga para o exterior do corpo. A avaliação da uretra por ultrassom é mais limitada, mas pode incluir a identificação de estenoses uretrais, que podem ser causadas por traumas, infecções ou condições congênitas. A uretra posterior é mais comumente afetada em casos de estenose.
Pode-se avaliar a presença de divertículos, especialmente em pacientes do sexo feminino, onde estas anomalias são mais comuns.
Principais patologias que acometem as vias urinárias
As vias urinárias, que incluem os rins, ureteres, bexiga e uretra, podem ser afetadas por diversas patologias que comprometem seu funcionamento normal. As principais nosologias que acometem essas estruturas são:
Cálculos renais (nefrolitíase)
Os cálculos renais, formados pela precipitação de minerais e sais na urina, resultam em pedras que podem obstruir o trato urinário. Assim, esta condição pode causar dor intensa, conhecida como cólica renal, além de hematuria e infecções urinárias recorrentes.
Infecções do trato urinário (ITU)
As ITUs ocorrem devido a invasão de bactérias no sistema urinário. Dessa forma, pode-se classificar como:
- Cistite
- Uretrite
- Pielonefrite.
Sintomas incluem dor ao urinar, urgência urinária, febre e dor lombar.
Hidronefrose
A hidronefrose é a dilatação do sistema coletor renal devido a uma obstrução que impede o fluxo normal da urina.
Essa condição pode ser causada por cálculos, estenoses, tumores ou refluxo vesicoureteral. A dilatação pode levar à atrofia renal e insuficiência renal se não tratada.
Tumores renais
Os tumores renais, benignos ou malignos, incluem adenomas, oncocitomas e o carcinoma de células renais. Dessa forma, o câncer renal pode se apresentar com:
- Hematúria
- Dor lombar
- Massa palpável.
Contudo, também pode ser assintomático em estágios iniciais.
Cistite intersticial
Também conhecida como síndrome da bexiga dolorosa, a cistite intersticial é uma condição crônica caracterizada por dor e pressão na bexiga, bem como urgência e frequência urinária. A etiologia é multifatorial e o diagnóstico é de exclusão.
Benefícios e limitações
Saiba mais abaixo sobre os benefícios e limitações da USG de vias urinárias.
Benefícios
O ultrassom das vias urinárias é uma ferramenta diagnóstica amplamente utilizada devido aos seus inúmeros benefícios, juntamente com algumas limitações inerentes. Em primeiro lugar, um dos maiores benefícios do ultrassom consiste na ausência de radiação ionizante, tornando-o uma opção segura para pacientes de todas as idades, incluindo gestantes e crianças. Este aspecto é especialmente relevante em exames repetitivos, onde a exposição acumulada à radiação poderia ser prejudicial. A segurança associada ao ultrassom permite seu uso frequente sem os riscos relacionados à radiação, facilitando o monitoramento contínuo de condições crônicas.
Além disso, o ultrassom fornece imagens em tempo real, permitindo a observação dinâmica das estruturas urinárias. Assim, esta capacidade é importante para avaliar a funcionalidade dos órgãos e detectar alterações anatômicas que ocorrem durante a micção ou com mudanças de posição do paciente. A visualização em tempo real também auxilia na realização de procedimentos intervencionistas, como a colocação de cateteres ou a aspiração de cistos, melhorando a precisão e a segurança desses procedimentos.
Outro benefício significativo do ultrassom é a sua acessibilidade e custo relativamente baixo em comparação com outras modalidades de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM). A facilidade de uso e a rápida obtenção de resultados tornam o ultrassom uma ferramenta valiosa na triagem inicial e no diagnóstico de emergências urológicas, como cólicas renais e retenção urinária aguda.
Limitações
No entanto, o ultrassom das vias urinárias também possui algumas limitações. A qualidade das imagens depende significativamente da habilidade e experiência do operador. Portanto, a interpretação das imagens pode ser subjetiva e variar entre diferentes profissionais, o que pode levar a diagnósticos inconsistentes. Dessa forma, a padronização da técnica e a formação contínua dos operadores são essenciais para minimizar essas variações e melhorar a precisão diagnóstica.
Outra limitação importante é a dificuldade de visualização em pacientes obesos ou com excesso de gases intestinais. A camada de tecido adiposo pode atenuar as ondas sonoras, reduzindo a qualidade das imagens obtidas. Da mesma forma, a presença de gás no intestino pode criar artefatos que obscurecem as estruturas urinárias. Em tais casos, pode ser necessário recorrer a outras modalidades de imagem, como a TC ou a RM, para uma avaliação mais detalhada.
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