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Principais achados ultrassonográficos de megabexiga fetal e como conduzir os casos

Entenda o que é a megabexiga fetal e quais os principais sinais e achados da condição no exame ultrassonográfico. Descubra como conduzir os casos de maneira adequada. Boa leitura! 

A megabexiga fetal é uma condição rara, porém significativa, que afeta o desenvolvimento da bexiga do feto. É essencial que os médicos estejam cientes dessa condição devido às suas potenciais implicações no desenvolvimento do sistema urinário do bebê. 

O conhecimento sobre a megabexiga fetal permite um diagnóstico precoce, possibilitando intervenções e cuidados especializados, o que pode ser crucial para o manejo adequado e para garantir o melhor prognóstico possível para o paciente e a família.

Produção urinária fetal na gestação

A produção de urina fetal começa por volta da 10ª semana de gestação. Pensando nisso, a bexiga fetal pode ser facilmente visualizada como uma estrutura redonda ou oval, sem ecogenicidade entre as duas artérias umbilicais na pelve, por ultrassonografia de rotina. 

Embora anomalias urogenitais sejam comuns, a megabexiga (MC) é muito rara, e sua incidência é relatada em 0,06%

Relata-se que vários fatores genéticos, ambientais e teratógenos podem ser responsáveis por anormalidades do trato urinário. No entanto, os fatores etiológicos diretamente relacionados à megabexiga ainda não foram esclarecidos. 

Importância da urina do feto

A urina do feto é uma das contribuições para o líquido amniótico. Ela é liberada no âmnio, uma estrutura semelhante a uma bolsa que envolve o bebê, e então misturada com outras secreções para formar o líquido amniótico, como excreções pulmonares e dérmicas.

Esse líquido não apenas protege o feto de impactos físicos, mas também:

  • permite movimentos no útero;
  • ajuda no desenvolvimento pulmonar e digestivo do feto;
  • regula a temperatura;
  • evita a compressão do cordão umbilical.

Vale ressaltar que, à medida que o feto cresce e se desenvolve, o volume e a composição do líquido amniótico mudam.

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O que é a megabexiga fetal?

A megabexiga fetal é uma condição rara e significativa que afeta o sistema urinário do feto durante o desenvolvimento intrauterino. É importante destacar que essa patologia se caracteriza com um aumento anormal no tamanho da bexiga fetal, o que pode ser identificado por meio de exames de ultrassom durante a gravidez.

Neste cenário, a bexiga fetal se torna dilatada e distendida, ultrapassando os limites considerados normais para o estágio gestacional em questão. Esse alargamento extremo da bexiga é um sinal de que há um obstáculo ou dificuldade no fluxo urinário do feto.

Causas prováveis para megabexiga fetal

A megabexiga fetal pode ter várias origens como:

  • obstruções anatômicas no trato urinário;
  • malformações congênitas;
  • problemas funcionais nos rins;
  • bexiga em desenvolvimento. 

Uma das causas mais comuns é a válvula de uretra posterior (VUP), uma prega mucosa que é oriunda de malformação congênita e tem formato valvular.

Localizada na parede posterior da uretra, a válvula de uretra posterior leva à obstrução e impede a passagem de urina. Isso pode levar a uma acumulação significativa de urina na bexiga fetal, levando ao seu aumento progressivo de tamanho.

Dilatação da bexiga fetal: evolução 

A dilatação da bexiga leva a uma hipertrofia da parede vesica, evoluindo para uma dilatação retrógrada dos ureteres e cálices renais. Como resultado, tem-se a destruição e displasia renal

Abaixo, vemos uma imagem de ultrassonografia morfológica tridimensional de um feto com megabexiga e trissomia do 13, com 13 semanas de gestação. Nela podemos observar a presença de volume normal de líquido amniótico, embora haja uma parede abdominal distendida, apontada pelas setas em A.

Em B, é possível ver um corte de volume pós-processamento, fornecendo uma imagem da bexiga dilatada em que é possível visualizar seu volume. Em C, com uma ferramenta de transparência, vemos os contornos vesicais, confirmando a dilatação importante da cavidade. 

Imagem ilustrativa de ultrassonografia morfológica tridimensional de megabexiga fetal.

Epidemiologia e incidência da megabexiga fetal

A megabexiga fetal é uma condição relativamente rara, mas significativa, que afeta o sistema urinário em desenvolvimento durante a gestação. 

Sua incidência varia entre diferentes regiões geográficas e populações, mas estima-se que ocorra em cerca de 1 em cada 3.000 a 8.000 nascidos vivos, sendo que esses números podem variar devido a fatores genéticos, ambientais, étnicos, entre outros.

Contudo, não há uma causa única identificada para a megabexiga fetal, uma vez que fatores podem favorecer o quadro como:

  • malformações congênitas no trato urinário;
  • anomalias no desenvolvimento da bexiga;
  • obstruções no fluxo urinário.

Dessa maneira, é essencial entender patologias que podem estar relacionadas à megabexiga fetal para o correto diagnóstico dessa condição.

Anomalias do sistema urinário associadas à megabexiga fetal

Ainda, é importante ressaltar que a megabexiga fetal pode ser associada a outras anomalias do sistema urinário como:

  • hidronefrose, sendo a dilatação dos rins devido ao acúmulo de urina;
  • disgenesia renal, sendo a má formação dos rins.

Essa associação aumenta a complexidade do quadro clínico, influenciando o prognóstico. Por essa razão, é essencial uma avaliação completa e detalhada do feto afetado.

Embora seja uma condição relativamente rara, a megabexiga fetal requer atenção médica especializada e uma abordagem multidisciplinar para garantir o melhor cuidado possível ao feto afetado e à família.

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Identificando os achados ultrassonográficos típicos 

O diagnóstico da megabexiga fetal é geralmente realizado durante exames de ultrassom pré-natal, onde se observa uma distensão significativa e anormal da bexiga fetal em comparação com os parâmetros esperados para a idade gestacional

Nesse sentido, a detecção precoce é crucial para permitir uma avaliação abrangente, planejamento adequado do parto e intervenções terapêuticas, se necessárias, para melhorar os resultados pós-natais.

Identificar a megabexiga fetal durante exames de ultrassom é crucial, uma vez que essa condição pode indicar a presença de outras anomalias no trato urinário do feto. Além disso, pode ter impactos no desenvolvimento pulmonar e renal do bebê.

Sendo assim, o diagnóstico precoce e a compreensão da megabexiga fetal são fundamentais para uma gestão eficaz. Em muitos casos, são necessárias abordagens terapêuticas específicas, podendo variar desde procedimentos intrauterinos até cuidados pós-natais intensivos, dependendo da gravidade da condição e de outras anomalias associadas.

Sinais evidentes para o diagnóstico de megabexiga fetal

O sinal mais evidente é uma bexiga fetal aumentada em tamanho e distensão anormais. Ela é visualizada como uma estrutura cística proeminente e hiperecogênica na cavidade abdominal do feto.

Imagem ilustrativa de megacystis fetal em diferentes semanas de gestação: no primeiro e no segundo trimestre.
Imagens de megacystis fetal em dois fetos em diferentes semanas de gestação. a) primeiro trimestre, b) segundo trimestre. Fonte: Sarsmaz et al., 2019.

Um sinal comum em casos de obstrução severa é o keyhole sign, onde a bexiga se apresenta muito grande e com a musculatura aumentada. Esse padrão lembra um buraco de fechadura, como na imagem abaixo: 

Imagem para ilustrar o keyhole sign ou buraco de fechadura no exame de ultrassom, um sinal frequente de megabexiga fetal.
Megabexiga ao ultrassom com o sinal de “buraco de fechadura”. Fonte: Andressa S. Santos, UFCSPA.

Somado a esse achado principal, é comum que o quadro leve a uma redução significativa do líquido amniótico circundante devido à incapacidade do feto de eliminar a urina normalmente. Isso pode ser identificado por meio de uma análise do volume de líquido amniótico durante o exame ultrassonográfico.

Outros sinais para o diagnóstico de megabexiga fetal

Além da bexiga distendida, pode-se observar dilatação dos ureteres, rins e, em casos mais graves, até mesmo do sistema coletor renal. Essas dilatações são indicativas de obstrução ou disfunção no fluxo urinário.

Nesse sentido, o ultrassom pode revelar um padrão anômalo de enchimento e esvaziamento da bexiga fetal, indicando dificuldade na eliminação da urina, contribuindo para sua distensão excessiva.

Além do aumento de tamanho, a bexiga pode apresentar alterações morfológicas, como paredes espessadas ou distorções na forma, dependendo da gravidade e duração da megabexiga fetal.

Durante o exame ultrassonográfico, o médico também procurará por outras anomalias do trato urinário ou sistêmicas que possam estar associadas à megabexiga fetal, contribuindo para uma avaliação mais abrangente.

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Diferenciação da megabexiga fetal de outras anomalias do trato urinário

A diferenciação entre megabexiga fetal e outras anomalias do trato urinário é realizada por meio de uma análise cuidadosa dos achados ultrassonográficos, avaliação dos diferentes componentes do sistema urinário fetal e consideração de características clínicas específicas associadas a cada condição.

Hidronefrose

A megabexiga fetal se refere à distensão excessiva e desproporcional da bexiga fetal, enquanto a hidronefrose é a dilatação dos rins devido ao acúmulo de urina. Assim sendo, essa diferenciação é importante porque a hidronefrose é uma das condições que podem ser confundidas com a megabexiga fetal.

Embora ambas possam ocorrer juntas, a megabexiga focaliza na bexiga, enquanto a hidronefrose é centrada nos rins e ureteres.

Uropatia obstrutiva

A uropatia obstrutiva é uma condição em que há um bloqueio no fluxo urinário em algum ponto do trato urinário, causando dilatação.

Dessa maneira, a megabexiga fetal pode ser um dos resultados da uropatia obstrutiva, mas nem todo caso de uropatia obstrutiva resulta em megabexiga.

Agenesia renal

Ainda, a agenesia renal, ausência congênita de um ou ambos os rins, é outra condição renal que deve ser diferenciada da megabexiga. Nela, por sua vez, os rins geralmente estão presentes e podem exibir hidronefrose (dilatação) devido à obstrução do fluxo urinário.

O cisto de cordão é uma dilatação cística no cordão umbilical, que pode ser confundida com a megabexiga fetal em ultrassonografias menos detalhadas. Uma avaliação mais precisa e minuciosa geralmente permite distinguir entre essas duas condições.

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Imagem ilustrativa de médica ginecologista fazendo exame de ultrassom em paciente gestante para diagnosticar a megabexiga fetal.

Opções terapêuticas disponíveis para casos de megabexiga fetal

O tratamento para megabexiga fetal pode variar dependendo da gravidade do caso e das causas subjacentes, sendo que a maioria dos casos pode aguardar o final da gestação para a correção cirúrgica ocorrer após o nascimento do bebê. 

Em casos menos graves, inclusive, um acompanhamento regular por meio de ultrassonografias pode ser recomendado para monitorar o desenvolvimento da megabexiga e avaliar a necessidade de intervenção. Porém, em situações mais severas, pode ser necessária a drenagem da bexiga fetal mediante um procedimento guiado por ultrassom, visando aliviar o acúmulo de urina.

Quando considerar a intervenção cirúrgica para a megabexiga fetal?

Em casos graves, pode ser considerada a intervenção cirúrgica para tratar a megabexiga fetal, seja por meio de cirurgia intrauterina ou após o nascimento do bebê para corrigir anormalidades ou restabelecer o fluxo urinário normal.

Porém, se a megabexiga estiver associada a outras condições ou anomalias, como problemas genéticos, podem ser necessários tratamentos adicionais direcionados para essas condições subjacentes. Nesse sentido, a decisão terapêutica específica é feita pelo médico com base na avaliação clínica detalhada do paciente.

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Implicações clínicas e prognóstico a longo prazo para o paciente e a família

A megabexiga fetal pode acarretar implicações clínicas significativas, sendo que o prognóstico a longo prazo para o paciente e a família pode variar consideravelmente. Desse modo, a gravidade do caso, as intervenções realizadas e quaisquer condições subjacentes desempenham um papel crucial nesse cenário.

Do ponto de vista clínico, a megabexiga fetal pode afetar o desenvolvimento do sistema urinário do bebê, levando potencialmente a complicações como disfunção renal ou alterações estruturais. Além disso, em casos mais graves, a pressão exercida pela megabexiga pode impactar os pulmões em desenvolvimento, resultando em problemas respiratórios.

Prognóstico da megabexiga fetal a longo prazo

O prognóstico a longo prazo da megabexiga fetal pode exigir do paciente o tratamento contínuo, incluindo possíveis cirurgias corretivas e monitoramento constante do sistema urinário para prevenir complicações futuras.

Ainda, a qualidade de vida pode variar, sendo possível alcançar uma boa qualidade de vida em alguns casos com intervenções médicas adequadas.

Megabexiga fetal: importância do apoio emocional e psicológico à família

Para a família, a descoberta de uma condição fetal grave pode ser emocionalmente desafiadora, demandando apoio emocional e psicológico. Além disso, dependendo das necessidades médicas do bebê após o nascimento, a família pode precisar adaptar-se a cuidados médicos especializados e fazer ajustes na rotina familiar.

É fundamental que a família receba apoio médico, psicológico e social adequado ao longo do processo. Em vista disso, equipes multidisciplinares podem fornecer orientação sobre o tratamento, expectativas realistas e suporte emocional durante o período pré-natal, no momento do nascimento e após o parto. 

Além disso, o acompanhamento médico contínuo com o nefropediatra é crucial para garantir o melhor cuidado possível ao paciente e para orientar a família sobre como gerenciar as necessidades especiais do bebê a longo prazo.

Para complementar o entendimento sobre os procedimentos adequados para lidar com essa patologia, confira o vídeo do Dr. Orlando Gomes explicando sobre como proceder em casos de megabexiga fetal:

Neste vídeo, o Dr. Orlando Gomes comenta como deve ser o tratamento da megabexiga fetal.

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A medicina fetal é uma especialidade médica focada no cuidado da saúde do feto durante a gestação. Os médicos dessa área realizam diagnósticos e tratamentos para garantir o desenvolvimento saudável do bebê, identificando possíveis complicações e tratando de patologias antes do nascimento.

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Referências