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Descubra opções de exame para o diagnóstico de doenças hepáticas e como interpretar seus achados

Aprenda sobre alguns métodos diagnósticos para investigação da doença hepática e como interpretar os achados desses exames para uma melhor abordagem ao seu paciente. Boa leitura! 

As doenças hepáticas são condições cada vez mais presentes no consultório médico, exigindo que o seu diagnóstico seja preciso e o mais breve possível. Pensando nisso, é fundamental que o médico esteja capacitado a saber interpretar e escolher os melhores exames para o seu paciente. 

Quando indicar a realização de um exame?

A realização de um exame para avaliação do fígado deve ser considerada em diversas situações clínicas, dependendo dos sintomas, fatores de risco e histórico médico do paciente.

Pessoas com fatores de risco conhecidos para doença hepática, como consumo excessivo de álcool, uso de medicamentos hepatotóxicos, obesidade, diabete, hepatite C, ou exposição a toxinas ambientais, podem necessitar de avaliação regular do fígado.

Alguns sintomas que podem sugerir a necessidade de uma melhor investigação são: 

  • fadiga persistente;
  • icterícia;
  • dor abdominal no quadrante superior direito;
  • perda de peso não explicada;
  • prurido;
  • colúria (urina escura);
  • acolia fecal (fezes claras).

Antes de procedimentos cirúrgicos, especialmente aqueles que envolvem anestesia geral, é comum realizar testes de função hepática para avaliar a capacidade do fígado de metabolizar medicamentos utilizados durante a cirurgia.

Ainda, pacientes com doenças crônicas, como diabete, doenças autoimunes, hipertensão portal ou HIV, podem precisar de monitoramento regular da função hepática devido ao risco aumentado de complicações hepáticas

Para aqueles pacientes com doenças hepáticas crônicas, como hepatite crônica, cirrose ou hepatite autoimune, exames de função hepática são usados para monitorar a eficácia do tratamento e avaliar a progressão da doença.

Médica hepatologista revisando opções de diagnóstico para doenças hepáticas. Comprometida com a excelência médica, ela busca avanços para garantir diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.
Leia também: Principais tipos de doenças hepáticas e orientações para um diagnóstico assertivo

Testes de função hepática

Os testes de função hepática (TFH) são um conjunto de exames laboratoriais que avaliam o funcionamento do fígado, ajudando a identificar distúrbios hepáticos e a monitorar a saúde do órgão. 

Esses testes fornecem informações importantes sobre a capacidade do fígado de desempenhar suas funções metabólicas e de desintoxicação. Listamos abaixo algumas das informações que podem ser obtidas com os testes de função hepática:

Alanina Aminotransferase (ALT) 

A alanina aminotransferase (ALT) é uma enzima presente nas células hepáticas. Em caso de lesão hepática, como hepatite ou cirrose, a ALT é liberada no sangue e seu nível sérico se eleva, podendo ser identificada em exames de sangue.

Pensando nisso, a ALT elevada indica lesão de hepatócitos com comprometimento hepático em algum nível, seja discreto ou grave.

Aspartato Aminotransferase (AST)

O aspartato aminotransferase (AST) está presente nas células hepáticas, mas também em células musculares. Por isso, é menos específica que a ALT, podendo indicar lesão em outro órgão que não o fígado. Por isso, níveis elevados de AST e ALT combinados são sugestivos de dano hepático. 

Bilirrubina

A bilirrubina é resultante da quebra de glóbulos vermelhos envelhecidos. Essa substância é processada pelo fígado e eliminada pelo corpo. Quando em níveis séricos elevados, tem-se como indicativo problemas no processamento e eliminação da bilirrubina, como:

  • icterícia;
  • obstrução biliar;
  • doenças do fígado. 

Fosfatase Alcalina (FA)

Assim como a AST, a fosfatase alcalina (FA) não é específica do fígado. Níveis elevados de FA podem indicar:

  • problemas biliares;
  • obstrução do ducto biliar;
  • doenças ósseas;
  • doenças hepáticas.

Proteína Total e Albumina

Mede a quantidade total de proteínas no sangue, sendo que a albumina é uma proteína produzida pelo fígado. Baixos níveis de proteína total ou albumina podem indicar:

  • doença hepática crônica;
  • má nutrição;
  • desnutrição.

Relação AST/ALT

A relação entre as enzimas AST e ALT pode ajudar a distinguir entre diferentes causas de danos hepáticos. Um valor maior que 1 pode indicar doença hepática alcoólica, enquanto um valor menor que 1 pode ser indicativo de hepatite viral.

Gama-GT (gamaglutamiltransferase)

A gamaglutamiltransferase é uma enzima envolvida no metabolismo do glutatião, sendo um antioxidante importante. Essa enzima é encontrada no fígado e vias biliares. Níveis elevados de Gama-GT podem ser um indicativo de doença hepática, especialmente quando combinados com outros achados laboratoriais.

Os testes de função hepática fornecem um diagnóstico definitivo?

É importante destacar que os testes de função hepática são uma parte importante da avaliação da saúde hepática, mas não fornecem um diagnóstico definitivo da doença subjacente.

Quando os resultados dos TFH são anormais, podem ser necessários exames adicionais para determinar a causa e a gravidade do distúrbio hepático, como:

  • ultrassonografia;
  • tomografia computadorizada;
  • ressonância magnética;
  • biópsia hepática.
Entenda também: 5 motivos para os gastroenterologistas investirem na especialização em ultrassonografia

Quando a biópsia hepática é indicada?

A biópsia hepática é indicada em várias situações clínicas quando os médicos precisam de informações mais detalhadas sobre o estado do fígado. 

A decisão de realizar uma biópsia hepática é feita com base na avaliação clínica do paciente e nas necessidades específicas de diagnóstico.

Avaliação de doença hepática crônica 

Quando os resultados dos testes de função hepática ou exames de imagem sugerem uma doença hepática crônica, mas não fornecem um diagnóstico específico, uma biópsia hepática pode ser necessária para determinar a causa da doença.

Diagnóstico de cirrose hepática 

A biópsia hepática pode confirmar a presença de cirrose hepática e avaliar o grau de fibrose e comprometimento do fígado.

Monitoramento da progressão da doença hepática 

Para pacientes com doença hepática crônica, a biópsia hepática pode ser realizada em intervalos regulares para monitorar a evolução da doença e avaliar a eficácia do tratamento.

Avaliação de tumores hepáticos 

Para pacientes com doença hepática crônica, a biópsia hepática pode ser realizada em intervalos regulares para monitorar a evolução da doença e avaliar a eficácia do tratamento.

Investigação de hepatite autoimune 

A biópsia hepática pode ser usada para confirmar o diagnóstico de hepatite viral autoimune, bem como para avaliar o grau de inflamação e fibrose no fígado.

O primeiro passo na avaliação de uma biópsia hepática envolve uma inspeção visual da amostra para determinar sua adequação, bem como a análise do tipo e qualidade da coloração. 

Imagem representativa da biópsia hepática, um método essencial para analisar tecidos do fígado e diagnosticar doenças hepáticas, destacando a importância do exame médico no campo da saúde hepática.
Biópsia hepática. Fonte: GastroCenter.

Amostras mais longas, com mais de 15 milímetros de comprimento, aumentam a confiabilidade na determinação do grau de fibrose e na classificação da atividade histológica. Antes do exame microscópico, um exame macroscópico das lâminas pode avaliar não apenas uma amostra adequada, mas também a presença de fragmentação de tecido. Este último achado sugere fibrose ou cirrose avançada

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Interpretação de resultados de biópsia hepática e sua importância no diagnóstico

Hepatite viral

A biópsia hepática é raramente solicitada em pacientes com suspeita de hepatite viral aguda. No entanto, quando realizada, a amostra revela inflamação lobular e portal grave. A lesão hepática relacionada a infecção viral geralmente inclui: 

Hepatite viral aguda, com AST e ALT elevadas

Podem revelar infiltrado inflamatório consistindo principalmente em linfócitos que circundam os hepatócitos (necrose manchada) até envolvimento generalizado (panlobular) por necroinflamação. 

Imagem mostrando infiltrado inflamatório em tecido hepático, destacando a presença de linfócitos e neutrófilos.
Infiltrado inflamatório contendo linfócitos e neutrófilos

Infecção crônica pelo vírus da hepatite B (VHB) com inflamação portal crônica e graus variados de interface e atividade lobular

Os hepatócitos em vidro fosco são patognomônicos. 

Imagem da biópsia hepática de um paciente com infecção crônica pelo vírus da hepatite B, destacando hepatócitos em vidro fosco.
A biópsia hepática de um paciente com infecção crônica pelo vírus da hepatite B mostra hepatócitos em vidro fosco (setas grossas).

Infecção crônica pelo vírus da hepatite C (HCV)

Pode ser assintomática e, ao mesmo tempo, apresentar AST e ALT elevadas.

Imagem representativa da relação entre a infecção pelo vírus da hepatite C e a formação de agregados linfoides, destacando os riscos para a saúde hepática.
Infecção pelo vírus da hepatite C com agregados linfoides.

Hepatite pelo vírus Epstein-Barr

É associado à hepatite e colestase, enquanto as características mais típicas da mononucleose infecciosa incluem:

  • febre
  • faringite
  • adenopatia
  • fadiga
  • linfocitose atípica.
Imagem representativa da Hepatite por Vírus Epstein-Barr, uma doença hepática, com destaque para as informações essenciais sobre causas, sintomas e tratamentos.
Hepatite por vírus Epstein-Barr. Fonte: Cortesia de Maria Isabel Fiel, MD, FAASLD.

Hepatite autoimune

A hepatite autoimune ainda é uma condição hepática crônica e inflamatória que, em alguns casos, tem origem na fase aguda e evolui para uma forma crônica, eventualmente levando à cirrose. 

A análise histológica da hepatite autoimune revela a presença de inflamação tanto nos lobos quanto nos portais hepáticos, com uma notável presença de plasmócitos. Um infiltrado de células mononucleares, geralmente composto por linfócitos e plasmócitos com ocasionais eosinófilos, invade a margem claramente definida dos hepatócitos (placa limitante) que envolve o trato portal e se espalha pelo lóbulo circundante.

Fibrose hepática

Frequentemente, algum grau de fibrose está presente em todas as variantes da doença, com exceção das formas mais brandas ou das manifestações iniciais da hepatite autoimune. 

À medida que a fibrose se desenvolve, ela estabelece conexões entre as áreas portal e central do fígado, criando pontes entre essas regiões. Esse processo, por sua vez, leva à distorção da arquitetura do lóbulo hepático e à formação de nódulos de regeneração, culminando no desenvolvimento de cirrose hepática.

Doenças associadas ao fígado gorduroso

Em pacientes com DHGNA (Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica), a esteatose hepática se manifesta pela presença de pequenas gotículas de gordura nos hepatócitos, juntamente à ocorrência de degeneração em balão e inflamação lobular. A inflamação, em geral, ocorre na zona 3 do fígado.

Imagem representativa da Esteato-Hepatite Não Alcoólica (NASH), uma condição hepática.
Esteatohepatite não alcoólica.

Algumas alterações histológicas da esteato-hepatite não alcoólica incluem: 

  • corpos apoptóticos (acidófilos);
  • inflamação portal crônica leve;
  • deposição de colágeno perisinusoidal que pode resultar em acentuação da zona 3 em um padrão de “tela de arame”;
  • fibrose portal sem fibrose perisinusoidal ou pericelular (observada principalmente em pacientes pediátricos);
  • cirrose, sendo tipicamente macronodular ou mista;
  • Hialinas de Mallory-Denk (inclusões hialinas citoplasmáticas de hepatócitos).
Saiba também: Guia sobre como diagnosticar e tratar casos de esteatose hepática

Ultrassonografia hepática 

A ultrassonografia hepática é um exame de imagem amplamente utilizado para avaliar o fígado e suas estruturas associadas. É uma técnica não invasiva que utiliza ondas sonoras de alta frequência para criar imagens em tempo real do fígado, vesícula biliar, vias biliares e outras estruturas abdominais. 

Os achados patológicos detectados na ultrassonografia hepática podem fornecer informações valiosas sobre a saúde do fígado. Alguns dos achados patológicos comuns que podem ser identificados são:

Esteatose hepática

A ultrassonografia é frequentemente usada para diagnosticar esteatose hepática, uma condição na qual o fígado acumula gordura em excesso. O fígado aparece mais ecogênico (brilhante) do que o normal devido ao acúmulo de gordura nos hepatócitos.

Lesões focais

A ultrassonografia pode detectar lesões focais no fígado, como:

  • nódulos;
  • cistos;
  • hemangiomas;
  • adenomas;
  • tumores malignos, como hepatocarcinoma.

Cirrose hepática

A cirrose é caracterizada pela formação de tecido fibroso no fígado. Na ultrassonografia, o fígado pode aparecer enrugado e com um contorno irregular devido à cicatrização do tecido hepático.

Imagem representativa da elastografia por onda de cisalhamento do fígado, uma técnica inovadora para diagnóstico de doenças hepáticas.
Elastografia por onda de cisalhamento do fígado. Fonte: Christoph F, Dietrich, MD.

A ultrassonografia pode identificar hepatomegalia e esplenomegalia, que podem ser indicativos de várias condições hepáticas.

Hepatite crônica

A ultrassonografia pode mostrar alterações na textura do fígado devido à inflamação crônica, embora não seja o exame mais sensível para diagnosticar a hepatite.

Obstrução das vias biliares

A ultrassonografia pode detectar obstruções nas vias biliares, como:

  • cálculos biliares;
  • estenose;
  • tumores que podem afetar o fluxo da bile.

Abcessos hepáticos

Infecções do fígado podem resultar na formação de abscessos. A ultrassonografia pode ser usada para identificar essas coleções de pus no fígado.

Cistos hepáticos

Cistos simples ou complexos podem se desenvolver no fígado e podem ser observados na ultrassonografia.

Limitações da ultrassonografia hepática

É importante destacar que, embora a ultrassonografia hepática seja um exame útil para avaliação inicial, ela pode ser limitada em termos de precisão e na detecção de certas condições hepáticas em comparação a técnicas mais avançadas, como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética

Portanto, a interpretação dos achados na ultrassonografia muitas vezes é complementada por outros exames de imagem ou testes laboratoriais para obter um diagnóstico mais preciso.

Leia mais: Principais conceitos para avaliação do fígado com elastografia hepática

Testes genéticos para doenças hepáticas hereditárias

Os testes genéticos desempenham um papel importante na identificação e diagnóstico de doenças hepáticas hereditárias. Um exemplo é a Doença de Wilson, em que o metabolismo do cobre leva a um acúmulo tóxico do metal no fígado e em outros órgãos.

Através do teste genético, pode-se evidenciar mutações no gene ATP7B, localizado no cromossomo 13, responsável pelo transporte de cobre no corpo. Associada à doença de Wilson, possivelmente tem-se:

  • hepatite;
  • cirrose;
  • falência hepática aguda.
Imagem ilustrativa mostrando um exame de diagnóstico de doença hepática com foco no Anel de Kayser-Fleischer.
Anel de Kayser Fleischer. Fonte: Silvério et al., 2023.

Ainda, a Hemocromatose Hereditária consiste em uma mutação no gene HFE, localizado no cromossomo 6, levando a uma baixa de produção de hepcidina e aumento da absorção de ferro. O acúmulo de ferro leva a comprometimento hepático.

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Referências 

2 Replies to “Diagnóstico de doença hepática: opções de exame e como interpretar seus achados”

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