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Guia sobre como diagnosticar e tratar casos de esteatose hepática

Aprenda com um guia completo sobre como diagnosticar e tratar casos de esteatose hepática nos seus pacientes. Boa leitura! 

A esteatose hepática é uma condição extremamente frequente na nossa população, saber diagnosticar e pesquisar a fibrose nestes casos pode mudar completamente o prognóstico dos nossos pacientes.

Introdução à esteatose hepática: prevalência e implicações clínicas

A esteatose hepática, comumente conhecida como “fígado gorduroso”, é uma condição caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura no fígado. Isso ocorre quando os hepatócitos armazenam uma quantidade excessiva de gordura, geralmente na forma de triglicerídeos. A esteatose hepática pode ser dividida em duas categorias principais: esteatose hepática não alcoólica (NAFLD) e esteatose hepática alcoólica.

Esteatose hepática não alcoólica

A esteatose hepática não alcoólica é a forma mais comum de fígado gorduroso e não está associada ao consumo excessivo de álcool. 

Sua prevalência tem aumentado significativamente em todo o mundo nas últimas décadas, em grande parte devido à epidemia de obesidade e síndrome metabólica. Ela afeta tanto adultos quanto crianças e está associada a condições como diabetes tipo 2, resistência à insulina e obesidade. A estimativa é que cerca de 25% da população mundial tenha NAFLD.

Esteatose hepática alcoólica

A esteatose hepática alcoólica ocorre quando o fígado não consegue processar o álcool de maneira eficaz, resultando no acúmulo de gordura nas células hepáticas, chamadas hepatócitos.

Com o tempo, esse acúmulo de gordura pode levar a lesões no fígado e a uma série de condições relacionadas ao álcool, incluindo:

  • Esteatose hepática alcoólica, sobre a qual falaremos melhor nesse artigo;
  • Hepatite alcoólica, quando além do acúmulo de gordura existe uma inflamação no fígado levando sintomas como dor abdominal, icterícia e aumento do risco de complicações;
  • Cirrose hepática alcoólica, com formação de tecido fibrótico no fígado, prejudicando o desempenho das suas funções. 

Prevalência da esteatose hepática alcoólica

A prevalência da esteatose hepática alcoólica está diretamente relacionada ao padrão de consumo de álcool em uma população. Ela é mais comum em pessoas que consomem álcool de forma crônica e em excesso.

A quantidade e a duração do consumo de álcool desempenham um papel importante na progressão da doença. Não existe um limite exato de consumo seguro de álcool, uma vez que a resposta de cada pessoa ao álcool pode variar, mas o risco de desenvolver ALD aumenta significativamente com o consumo crônico e excessivo.

É possível reverter o quadro?

É importante ressaltar que a esteatose hepática alcoólica pode ser reversível se a pessoa interromper o consumo de álcool a tempo. No entanto, se o consumo de álcool continuar, a doença hepática pode progredir para estágios mais graves, como hepatite alcoólica e cirrose.

Como é feita a prevenção contra a esteatose hepática alcoólica?

A prevenção da esteatose hepática alcoólica envolve a moderação do consumo de álcool e a busca de ajuda médica para pessoas que enfrentam problemas com o álcool. Tratar a dependência alcoólica é fundamental para evitar complicações graves da doença hepática relacionada ao álcool.

Aprenda também: Sobre os aspectos clínicos e ultrassonográficos do exame da tireoide.

Diagnóstico da esteatose hepática não alcoólica: exames complementares e biópsia 

O diagnóstico da doença esteatótica hepática alcoólica e não alcoólica requer raciocínios e segmentos característicos. 

Na esteatose hepática não alcoólica, o diagnóstico passa pelos seguintes passos: 

  1. Demonstração da esteatose hepática por imagem ou biópsia;
  2. Exclusão de consumo significativo de álcool;
  3. Exclusão de outras causas de esteatose hepática;
  4. Ausência de doença hepática crônica coexistente. 

Em pacientes submetidos a uma avaliação radiológica, frequentemente os achados radiológicos podem ser suficientes para estabelecer o diagnóstico de esteatose hepática, desde que outras causas da condição tenham sido descartadas. 

Biópsia hepática

Embora a biópsia hepática não seja geralmente recomendada para a maioria dos pacientes, ela pode ser considerada quando o diagnóstico não está claro ou quando é necessário avaliar o grau de lesão hepática

Além disso, é importante destacar que a biópsia hepática é o único método atualmente disponível para distinguir entre fígado gorduroso não alcoólico (NAFL) e esteato-hepatite não alcoólica (EHNA).

Avaliação radiológica da esteatose hepática

A avaliação radiológica é comumente usada como um primeiro passo no diagnóstico da esteatose hepática, com métodos como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, que podem revelar a presença de gordura no fígado. No entanto, esses exames podem não ser suficientes para determinar com precisão a gravidade da lesão hepática e a presença de inflamação. 

Entenda mais: Como ingressar no programa Mais Médicos?

Achados ultrassonográficos da esteatose hepática não alcoólica 

Os achados ultrassonográficos da esteatose hepática não alcoólica (NAFLD) são frequentemente utilizados para auxiliar no diagnóstico dessa condição. 

A ultrassonografia é um método de imagem amplamente utilizado, pois é não invasivo, seguro e relativamente acessível. 

Os principais achados ultrassonográficos que podem indicar a presença de esteatose hepática não alcoólica incluem:

Ecogenicidade hepática aumentada

O fígado normal aparece como uma estrutura relativamente homogênea e de ecogenicidade moderada. 

Na NAFLD, a ecogenicidade hepática aumenta devido ao acúmulo de gordura nos hepatócitos. Com isso, o fígado parece mais brilhante no ultrassom, e essa é uma das características distintivas da esteatose hepática.

Padrão de “fígado brilhante”

A esteatose hepática pode resultar em um padrão de “fígado brilhante” no ultrassom, onde o fígado se torna mais brilhante que o baço, que normalmente tem uma ecogenicidade semelhante à do fígado. 

Esse contraste entre o fígado e o baço é um indicador típico de esteatose hepática.

Perda da visibilidade dos vasos hepáticos

À medida que a esteatose hepática se agrava, a gordura acumulada pode obscurecer os vasos sanguíneos no interior do fígado, tornando-os menos visíveis no ultrassom.

Má definição das margens do fígado

A esteatose hepática pode levar a uma perda da definição das margens do fígado, tornando as bordas do órgão menos nítidas do que o normal.

Aumento do tamanho do fígado

Em alguns casos de NAFLD avançada, o fígado pode aumentar de tamanho devido ao acúmulo de gordura e inflamação. Isso pode ser observado no ultrassom.

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Diferenciando tipos de esteatose hepática com a elastografia hepática

Embora a ultrassonografia seja uma ferramenta útil para identificar sinais de esteatose hepática, ela não é capaz de diferenciar entre a esteatose hepática não alcoólica (NAFL) e a esteato-hepatite não alcoólica (NASH) ou avaliar a gravidade da inflamação ou fibrose hepática. 

Para uma avaliação mais completa e precisa, podem ser necessários exames adicionais, como a elastografia hepática, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, e, em casos específicos, uma biópsia hepática.

É importante que qualquer diagnóstico de esteatose hepática seja feito por um profissional de saúde qualificado, que leve em consideração vários fatores clínicos e resultados de exames para determinar o tratamento e acompanhamento adequados.

Imagem da classificação ultrassonográfica da esteatose hepática.
(A) Fígado Normal (pontuação 0); (B) Esteatose Leve (pontuação 1-4); (C) Esteatose Moderada (pontuação 5-8); (D) Esteatose grave (pontuação 9-12). Fonte: Volpe et al, 2023.

Portanto, a biópsia hepática, embora invasiva, pode ser indicada em casos em que a gravidade da esteatose hepática precisa ser avaliada com maior precisão ou quando se suspeita da presença de esteato-hepatite não alcoólica.

A diferenciação entre fígado gorduroso não alcoólico (NAFL) e esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) é fundamental, pois a NAFL é geralmente uma condição mais benigna, enquanto a EHNA envolve inflamação hepática e pode levar a complicações mais graves, como fibrose e cirrose. Portanto, em situações em que os achados radiológicos não fornecem uma resposta definitiva, a biópsia hepática se torna uma ferramenta valiosa para a distinção entre essas duas condições e para orientar o tratamento apropriado.

Aprenda mais: Identificação de achados de apendicite aguda na ultrassonografia

Exames laboratoriais do paciente com esteatose hepática não alcoólica

Os exames laboratoriais, incluindo a dosagem dos níveis séricos de aminotransferase e ferritina, frequentemente apresentam resultados anômalos em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). 

No entanto, é importante ressaltar que essas anormalidades não são requisitos essenciais nem suficientes para estabelecer o diagnóstico de DHGNA, uma vez que tais exames podem demonstrar valores normais em pacientes afetados pela condição e, ao mesmo tempo, podem exibir anormalidades em indivíduos com uma variedade de outras condições médicas.

Os níveis séricos de aminotransferase, como as transaminases ALT (alanina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase), frequentemente se elevam na DHGNA devido à lesão hepática, mas sua elevação não é exclusiva dessa condição. Essas enzimas também podem estar elevadas em outras doenças hepáticas e não hepáticas.

Da mesma forma, os níveis de ferritina podem ser aumentados em pacientes com DHGNA, mas isso não é específico para a doença e também pode ocorrer em várias outras situações clínicas, incluindo sobrecarga de ferro, anemias e outras desordens.

Portanto, embora esses exames laboratoriais possam levantar suspeitas de DHGNA, o diagnóstico definitivo da doença requer uma avaliação abrangente, incluindo exames de imagem, como ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, bem como, em alguns casos, uma biópsia hepática para avaliar a gravidade da lesão hepática e a presença de inflamação. 

É importante que o diagnóstico de DHGNA seja feito de forma criteriosa, levando em consideração múltiplos aspectos clínicos e laboratoriais, a fim de excluir outras condições e fornecer um tratamento adequado.

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Tratamento da esteatose hepática

Inicialmente, é fundamental que medidas gerais sejam orientadas para todos os pacientes com DHGNA, antes de que cirurgias sejam indicados.

Abstenção de álcool

Recomenda-se a abstinência de álcool para todos os pacientes com DHGNA, com especial ênfase na evitar o uso excessivo de álcool, já que o uso crônico de álcool tem sido associado à progressão da doença. 

A abstinência é particularmente importante, mas a influência do consumo leve a moderado de álcool não é definitiva. No entanto, em face da falta de dados conclusivos, a abstinência de álcool é sugerida.

Imunizações

Pacientes sem evidência sorológica de imunidade devem ser vacinados contra o vírus da hepatite A e o vírus da hepatite B. 

Além disso, as vacinas pneumocócicas e imunizações padrão recomendadas para a população em geral (por exemplo, reforços contra gripe, difteria e tétano) são aconselhadas para pacientes com doença hepática crônica.

Saiba mais: Qual a importância do ultrassom na medição do fígado e como fazer?

Modificação dos fatores de risco para doenças cardiovasculares

Pacientes com DHGNA frequentemente apresentam risco elevado de doenças cardiovasculares e, muitas vezes, possuem múltiplos fatores de risco (por exemplo, hipertensão, hiperlipidemia). Portanto, é crucial abordar e modificar esses fatores de risco.

A importância da perda de peso

A perda de peso é considerada a terapia primária para a maioria dos pacientes com DHGNA. Recomenda-se a perda de peso para pacientes com sobrepeso (IMC ≥25 kg/m²) ou obesidade (IMC ≥30 kg/m²), pois a perda de peso pode melhorar os testes bioquímicos hepáticos, histologia hepática, níveis de insulina sérica e qualidade de vida

Uma perda de peso de pelo menos 5% do peso corporal é geralmente necessária para melhorar a esteatose hepática. Para pacientes com esteatohepatite não alcoólica (EHNA) ou fibrose avançada que não atingem as metas de perda de peso após seis meses, considera-se a cirurgia bariátrica.

Como intervir para que o paciente perca peso de maneira efetiva?

A abordagem inicial inclui intervenções no estilo de vida, como modificações na dieta e exercícios. Para pacientes que não atingem as metas de perda de peso após seis meses, a cirurgia bariátrica é considerada.

Pacientes com sobrepeso ou obesidade são aconselhados a perder de 5% a 7% do peso corporal em um ritmo de 0,5 a 1,0 kg por semana por meio de modificações no estilo de vida, incluindo terapia dietética e exercícios.

Para pacientes com EHNA confirmada por biópsia, a meta de perda de peso é maior (7% a 10% do peso corporal). Aconselhamento dietético e encaminhamento a um nutricionista são indicados.

Aumentar a atividade física também é importante, uma vez que a atividade física tem sido associada a uma melhor sobrevida para pacientes com DHGNA.

Resumindo, o tratamento da DHGNA envolve medidas gerais, como a abstenção de álcool e imunizações, bem como a perda de peso como terapia primária. A perda de peso é alcançada principalmente por meio de intervenções no estilo de vida, incluindo modificações na dieta e aumento da atividade física. Em casos mais graves, a cirurgia bariátrica pode ser considerada. A abordagem de tratamento deve ser personalizada para atender às necessidades individuais de cada paciente.

Descubra também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

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Referências