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Alergias cutâneas: principais manifestações e tratamentos

As alergias cutâneas são distúrbios comuns que afetam a pele, resultantes de respostas imunológicas anormais a substâncias estranhas, conhecidas como alérgenos. 

Estas reações podem manifestar-se de diversas formas, desde urticária até dermatite de contato, e podem ser desencadeadas por uma variedade de fatores, incluindo alimentos, medicamentos, substâncias químicas, plantas, insetos e até mesmo o clima. 

O diagnóstico e o tratamento adequados são fundamentais para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por essas condições.

Continue a leitura e fique por dentro do assunto. 

O que são alergias cutâneas?

As alergias cutâneas, também conhecidas como dermatoses alérgicas, referem-se a uma variedade de condições dermatológicas que resultam de reações de hipersensibilidade do tipo I (imunoglobulina E mediada) ou do tipo IV (mediada por células) a alérgenos. 

Essas reações desencadeiam uma resposta inflamatória na pele, que se manifesta como vermelhidão, inchaço, coceira, descamação, bolhas e outras alterações cutâneas.

Etiologia das alergias cutâneas

As alergias cutâneas mais comuns que nos deparamos na prática clínica envolvem:

  • Prurigo estrófulo: comum na infância, relacionado com a reação de hipersensibilidade à picada de insetos;
  • Reação medicamentosa: geralmente causadas por penicilinas, sulfas, anti-inflamatórios e anticonvulsivantes;
  • Reação alimentar: geralmente associados a proteína do leite de vaca, ovos, trigo, soja, frutos do mar, amendoim, castanhas, nozes e embutidos;
  • Utilização de cosméticos: produtos de beleza, maquiagem, produtos de cabelo, etc. 

Tipos e manifestações clínicas das alergias cutâneas

Conheça abaixo os principais tipos de alergias cutâneas, suas manifestações clínicas, fatores desencadeantes e sua fisiopatologia. 

Urticária

A urticária é uma condição dermatológica caracterizada por uma erupção cutânea transitória, pruriginosa e elevada, que pode variar em tamanho e forma. Essas erupções, chamadas de urticas, geralmente são acompanhadas por hiperemia na pele, e podem ocorrer em qualquer parte do corpo.

Urticas é uma elevação efêmera, irregular na forma e extensão, de cor variável do branco-róseo ao vermelho, geralmente com certa palidez central, e pruriginosa. O tamanho pode variar de milímetros a vários centímetros.

Manifestação clínica

Os principais sinais e sintomas da urticária incluem:

  • Lesões elevadas acima da superfície da pele, com bordas bem definidas
  • Hiperemia devido à dilatação dos vasos sanguíneos na derme
  • Prurido intenso
  • Lesões migratórias

Fisiopatologia

A urticária é mediada principalmente pela liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios a partir de células do sistema imunológico, como os mastócitos. 

Quando expostos a um alérgeno, seja por via oral, inalatória, dérmica ou por picada de inseto, os mastócitos liberam histamina, levando à dilatação dos vasos sanguíneos na derme e ao extravasamento de fluidos para os tecidos circundantes. Isso resulta na formação das pápulas elevadas típicas da urticária, juntamente com a vermelhidão e o prurido associados.

Etiologia

Uma variedade de fatores, incluindo alérgenos, medicamentos, picadas de insetos, estímulos físicos e estresse emocional pode desencadear episódios de urticária em pessoas sensíveis. 

Dermatite de contato 

A dermatite de contato é uma condição inflamatória da pele que ocorre em resposta ao contato direto com substâncias irritantes ou alérgenas. Essas substâncias podem desencadear uma reação cutânea localizada, caracterizada por vermelhidão (eritema), edema, descamação e, em alguns casos, formação de bolhas. Além disso, pode apresentar prurido. 

Fisiopatologia

A fisiopatologia da dermatite de contato envolve uma resposta imunológica localizada na pele, desencadeada pela exposição a substâncias irritantes ou alérgenas. Existem dois tipos principais de dermatite de contato:

Dermatite de Contato Irritativa

Neste tipo de dermatite, a irritação direta da pele por substâncias químicas, como detergentes, solventes, ácidos ou álcalis, leva à destruição da barreira cutânea e à liberação de mediadores inflamatórios, como citocinas e quimiocinas. Isso resulta em uma resposta inflamatória aguda na pele, manifestada pelos sinais clínicos descritos acima.

Dermatite de Contato Alérgica

Já este tipo de reação alérgica, a exposição a um alérgeno específico desencadeia uma reação de hipersensibilidade do tipo IV, também conhecida como reação de hipersensibilidade tardia. Isso envolve a ativação de linfócitos T específicos, que liberam citocinas e recrutam outras células inflamatórias para o local de exposição. 

Como resultado, ocorre uma resposta inflamatória crônica na pele, que pode persistir por vários dias após a remoção do alérgeno.

Etiologia

As causas da dermatite de contato podem variar dependendo do tipo de reação:

  • Dermatite de Contato Irritativa: Substâncias químicas irritantes, como detergentes, solventes, ácidos, álcalis, sabões e produtos de limpeza, são as principais causas de dermatite de contato irritativa. O contato prolongado ou repetido com essas substâncias pode danificar a barreira cutânea e desencadear uma resposta inflamatória na pele.
  • Dermatite de Contato Alérgica: A dermatite de contato alérgica é desencadeada pela exposição a alérgenos específicos, como níquel, cromo, látex, fragrâncias, conservantes, plantas (como hera venenosa ou urushiol) e medicamentos tópicos. Esses alérgenos desencadeiam uma reação de hipersensibilidade do tipo IV em indivíduos sensibilizados, resultando em uma resposta inflamatória na pele.

Dermatite Atópica (Eczema)

A dermatite atópica, também conhecida como eczema, é uma condição crônica e recorrente da pele que se caracteriza por inflamação, prurido, ressecamento e descamação. É uma das formas mais comuns de eczema e geralmente afeta áreas flexíveis da pele, como dobras dos cotovelos, joelhos e pescoço

Manifestação clínica

Os principais sinais e sintomas da dermatite atópica incluem:

  • Xerose: a pele afetada pela dermatite atópica tende a ser seca e áspera, devido à diminuição da produção de lipídios e à perda de água transepidérmica.
  • Inflamação (eritema): são mais predominantes durante os surtos agudos da doença.
  • Prurido intenso
  • Descamação: principalmente durante os surtos agudos da doença.
  • Lesões de arranhões: devido ao prurido intenso, é comum ocorrerem lesões de arranhões na pele afetada, que podem se tornar feridas abertas e aumentar o risco de infecção secundária.

Fisiopatologia

Indivíduos com dermatite atópica têm uma barreira cutânea comprometida, devido a uma combinação de deficiências na produção de lipídios, alterações na composição lipídica e disfunção das proteínas de junção intercelular.

A exposição a alérgenos, irritantes, micro-organismos e fatores ambientais desencadeia uma resposta inflamatória na pele, mediada principalmente por células imunes, como os linfócitos T, e pela liberação de citocinas pró-inflamatórias.

Alguns indivíduos com dermatite atópica apresentam uma resposta de hipersensibilidade do tipo I, mediada pela imunoglobulina E (IgE), a alérgenos específicos, o que contribui para a inflamação e o prurido.

Etiologia e fatores de risco

As causas da dermatite atópica são multifatoriais e incluem uma combinação de fatores genéticos, imunológicos, ambientais e epigenéticos. Alguns dos principais fatores de risco e desencadeadores incluem:

  • Predisposição genética
  • História familiar
  • Exposição a alérgenos
  • Exposição a irritantes
  • Fatores ambientais

Diagnóstico das alergias cutâneas

O diagnóstico preciso das alergias cutâneas requer uma abordagem abrangente que inclua histórico médico detalhado, exame físico e, em alguns casos, testes de alergia específicos. 

Anamnese e exame clínico das alergias cutâneas

O médico deve fazer uma anamnese minuciosa para identificar possíveis desencadeadores e padrões de sintomas, bem como investigar fatores de risco, histórico familiar e exposições recentes.

No exame físico, é importante realizar a inspeção da pele, permitindo avaliar a aparência e a distribuição das lesões cutâneas, bem como identificar sinais de outras condições subjacentes.

Testes alérgicos

Testes cutâneos de alergia, como o teste cutâneo e o teste de Patch, podem ser realizados para determinar a sensibilidade a alérgenos específicos, ajudando a identificar os desencadeadores das reações cutâneas.

Teste cutâneo 

O teste cutâneo costuma ser o mais utilizado para investigação das alergias cutâneas. Existem dois métodos que podem ser utilizados, sendo o primeiro deles o mais utilizado:

  • Método de picada/punção
  • Técnica intradérmica. 
Método de picada/punção

Neste método, pequenas quantidades de extratos alergênicos (proporção de 1:10 ou 1:20 do peso/volume da superfície do local de aplicação) são aplicadas na superfície da pele, geralmente no antebraço ou nas costas, utilizando um dispositivo de punção ou picada.

Uma gota de cada extrato alergênico é colocada na pele, geralmente em uma grade ou linha, e em seguida, a pele é perfurada com uma agulha fina (picada) ou com um dispositivo especializado de punção. 

É importante realizar o controle, que é feito geralmente com dicloreto de histamina para avaliar se a pele da paciente está normalmente responsiva.  

Após 15 a 20 minutos, o médico avalia a resposta do paciente, observando qualquer reação cutânea, como vermelhidão, inchaço e formação de pápulas.

As reações positivas são caracterizadas por uma pápula elevada (maior que 3mm) e pruriginosa no local da punção, indicando sensibilidade ao alérgeno testado. Além disso, pode-se considerar positiva pápulas de tamanho igual ou maior àquela associada ao controle de histamina, que geralmente é menor que 3mm. 

Diagnóstico diferencial das alergias cutâneas

É importante dizer que, algumas manifestações cutâneas se parecem bastante um quadro alérgico, mas na verdade são de origem infecciosa e por isso, não são consideradas alergias. É o caso de:

  • Escabiose
  • Larva migrans cutânea
  • Eritema infeccioso
  • Varicela
  • Pitiríase rósea
  • Doença mão-pé-boca
  • Dengue
  • Mononucleose. 

Além da origem infecciosa, temos as lesões de pele, provocadas por exemplo por fricção, suor prolongado e contato com fezes e urina, por exemplo, muito comum em bebês que usam fralda, que também não são classificadas como alergias cutâneas. 

E, para finalizar, um importante diagnóstico diferencial são as doenças reumatológicas. O lúpus eritematoso sistêmico e a artrite juvenil idiopática podem cursar com exantema. 

Tratamento das alergias cutâneas

O tratamento das alergias cutâneas visa aliviar os sintomas, controlar a inflamação e prevenir recorrências. 

O primeiro passo é evitar fatores desencadeantes conhecidos, como alimentos alergênicos, substâncias químicas irritantes e estressores emocionais.

Manter uma rotina de cuidados com a pele, incluindo banhos regulares com água morna e uso de produtos suaves e sem fragrância, além de adotar medidas de autocuidado para promover a saúde da pele, como evitar coçar as áreas afetadas, usar roupas confortáveis e respiráveis, e manter a pele hidratada são de grande importância.

Além disso, ainda pode ser feito uso de medicamentos, como: 

  • Corticosteroides tópicos: Reduzem a inflamação e o prurido, sendo eficazes no tratamento de várias condições alérgicas cutâneas.
  • Imunomoduladores tópicos (pimecrolimo, tacrolimo): Alternativas aos corticosteroides para o tratamento da dermatite atópica, especialmente em áreas sensíveis da pele.
  • Antihistamínicos: Reduzem a coceira e a urticária, sendo úteis no controle dos sintomas das alergias cutâneas agudas.
  • Corticosteroides sistêmicos: Podem ser prescritos em casos de reações cutâneas graves ou recalcitrantes que não respondem ao tratamento tópico.

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As alergias cutâneas representam um grupo diversificado de condições dermatológicas que podem causar desconforto significativo e impactar a qualidade de vida dos pacientes. 

Elas são mais preponderantes em crianças do que em adultos. E por isso, é importante conhecer sobre suas manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento. 

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Referências

  1. AIRES, S.T. Diagnóstico Diferencial entre dermatoses e alergia: abordagem prática. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2012
  2. BROD, B.A. Management of allergic contact dermatitis in adults. UpToDate, 2024
  3. KOWAL, K.; DUBUSKE, L. Overview of skin testing for IgE-mediated allergic disease. UpToDate, 2024
  4. LEITE, R.M.S.; LEITE, A.A.C.; COSTA, I.M.C. Dermatite atópica: uma doença cutânea ou uma doença sistêmica? A procura de respostas na história da dermatologia. An Bras Dermatol. 2007;82(1):71-8
  5. Manual de Dermatologia na Atenção Básica
  6. SOLDERA, K., et al. Teste cutâneo em doenças alérgicas: uma revisão sistemática. Sci Med. 2015;25 (1):78-87