Posted on

Métodos de avaliação e monitoramento da dor aguda e crônica

Dor: aprenda sobre avaliação e monitoramento dessa importante queixa nas unidades de atendimento. Leia mais!

Conceitos e fenômenos que têm a ver com sentimentos e pensamentos pessoais, como sentir dor, são difíceis de serem medidos exatamente, ou seja, colocados em números usando ferramentas e processos que não tenham erros. Isso acontece em áreas como as Ciências Sociais, da Saúde e Humanas. Dessa forma, para resolver um problema assim necessita-se de uma medida clara para guiar o tratamento ou a terapia.

Com uma medida precisa, é possível avaliar se os riscos de um tratamento valem a pena em comparação com os problemas que estão sendo tratados. Dessa forma, pode-se escolher qual tratamento é o melhor e mais seguro dentre várias opções.

Definição de dor

Ssegundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), é definida como uma sensação desagradável que envolve tanto aspectos sensoriais quanto emocionais. Além disso, está relacionada a uma lesão real ou possível nos tecidos. Define-se como nocicepção a capacidade de detectar um estímulo prejudicial, enquanto a dor consiste na percepção consciente desse estímulo.

Quando falamos de dor referida, estamos descrevendo a sensação em uma parte do corpo diferente daquela onde o estímulo doloroso ocorreu. De acordo com os neurocientistas, acredita-se que isso acontece quando os nervos de áreas com muita sensibilidade, como a pele, e de áreas menos sensíveis convergem para os mesmos níveis da medula espinhal. Um exemplo comum é a dor no braço esquerdo durante um ataque cardíaco, pois os nervos responsáveis pelo braço estão próximos aos nervos relacionados ao coração.

Classificação da dor

Define-se com base em três critérios:

  • Local de origem: periférica, central, visceral ou somática
  • Tempo de persistência.

Local de origem

Somática

Define-se como intensa e aguda, que piora com o movimento (“incidente”). Além disso, alivia quando se descansa, e localiza-se com precisão e muda conforme a origem da lesão subjacente. A dor do pós-operatório consiste em um exemplos.

Visceral

Ocorre devido à distensão de órgãos ocos, sendo caracterizada por ser mal localizada, profunda, opressiva e constritiva. Frequentemente, está acompanhada de sensações de náuseas, vômitos e sudorese. Exemplos dessas condições incluem câncer de pâncreas. Muitas vezes, manifesta-se como dores referidas em outras áreas do corpo, como:

  • Ombro ou mandíbula (relacionadas ao coração)
  • Escápula (relacionada à vesícula biliar)
  • Dorso (relacionada ao pâncreas).

Neuropática

Resulta de lesões ou doenças que afetam o sistema nervoso somatossensorial. Geralmente caracterizada como aguda e ardente, originando-se de mudanças na via nervosa que transmite informações nociceptivas para o sistema nervoso central (SNC), ou de alterações nos próprios neurônios do SNC, podendo envolver tanto o sistema nervoso periférico quanto o central.

Pode surgir independentemente de lesão tecidual prévia e persistir mesmo após a resolução da lesão original e do processo inflamatório subsequente. Essa dor se manifesta de várias formas, como:

  • Queimação
  • Peso
  • Agulhadas
  • Ferroadas
  • Choques
  • Podendo ou não estar acompanhada de sensações de “formigamento” ou “adormecimento” (conhecidas como “parestesias”) em uma parte específica do corpo.

Exemplos clássicos desse tipo de dor incluem neuropatia diabética e neuralgia do nervo trigêmeo.

Periférica

Está relacionada a uma percepção alterada da nocicepção, mesmo quando não há evidência clara de dano físico real ou potencial que possa ativar os nociceptores periféricos, nem sinais de lesão no sistema somatossensorial.

Surge devido à plasticidade nociceptiva, que reflete mudanças na função das vias de percepção da dor. Assim, exemplos incluem condições como fibromialgia, enxaqueca e síndrome do cólon irritável.

Tempo de persistência

Conceitua-se como dor aguda aquela que surge temporariamente, geralmente durando de minutos a algumas semanas, associada a lesões físicas como traumas, doenças ou cirurgias, como infarto agudo do miocárdio ou pneumonia. Ela desaparece quando a lesão se cura, mas se não for controlada adequadamente, pode contribuir para o desenvolvimento de dor crônica.

Por outro lado, a dor crônica persiste ao longo do tempo, muitas vezes de difícil indentificação da causa ou duração, podendo ser causada por condições crônicas como artrite reumatoide ou diabetes, ou resultar de lesões já tratadas. Além disso, não desaparece por conta própria e geralmente requer cuidados especializados e tratamento multidisciplinar. Pode ter origem no corpo, cérebro ou medula espinhal, e pode ser neuropática, nociplástica, nociceptiva ou idiopática (sem causa aparente).

Avaliação clínica da dor

Todo paciente deve ser sistematicamente avaliado, considerando características da dor como:

  • Localização
  • Irradiação
  • Qualidade
  • Intensidade
  • Duração
  • Evolução
  • Relação com funções orgânicas
  • Fatores desencadeantes ou agravantes
  • Fatores atenuantes
  • Manifestações concomitantes.

A localização indica onde a dor é sentida, e pode ser delimitada visualmente em um mapa corporal., já a irradiação refere-se à propagação da dor ao longo de nervos ou raízes nervosas. A qualidade ou caráter descreve as sensações que a acompanham, como latejante, em choque ou em cólica. Além disso, a intensidade, influenciada por fatores sensoriais, emocionais e culturais, é um fator importante para determinar o tratamento, e sua avaliação deve ser rigorosa. Assim, deve-se observar como a dor afeta as atividades diárias, como sono e relacionamentos, para compreender sua real intensidade.

De modo geral, avalia-se a dor por diferentes escalas, que podem ser unidimensionais, focando apenas na intensidade da dor, ou multidimensionais, considerando diversas variáveis.

Escala Visual Analógica (EVA)

A Escala Visual Analógica (EVA) é uma ferramenta valiosa para medir a intensidade da dor do paciente, permitindo acompanhar sua evolução ao longo do tratamento de forma precisa. Além disso, ajuda a avaliar a eficácia do tratamento, identificando quais procedimentos são mais efetivos e se há necessidade de ajustes, com base na melhora ou piora dos sintoma. A EVA pode ser aplicada no início e no final de cada sessão, registrando os resultados na ficha de evolução. Questiona-se o paciente sobre seu nível de dor numa escala de 0 a 10, onde 0 representa ausência total e 10 indica a dor máxima suportável.

Fonte:Prefeitura de joinville, 2024.

Escalas de Faces

Consiste em seis desenhos de faces que representam diferentes graus de desconforto, organizados em ordem crescente de intensidade. Esses desenhos podem ser simples caricaturas ou ilustrações detalhadas que mostram expressões faciais correspondentes aos diferentes níveis de dor.

Sua principal vantagem é a facilidade de uso, bastando pedir ao paciente que escolha a face que melhor descreve sua dor atual. Recomenda-se especialmente para crianças ou pacientes com limitações cognitivas, sendo a mais compreensível, principalmente para pacientes entre quatro e sete anos de idade.

Fonte: Sociedade portuguesa de pediatria, 2024.

Escala descritiva ou qualitativa

Comumente utilizada em idosos e representa a última opção para uso entre as escalas de autoavaliação. Embora seja fácil de usar com ou sem instrumento físico, suas desvantagens incluem a qualificação da dor em vez de sua quantificação. Ao aplicá-la, é essencial usar sempre os mesmos termos qualificadores para descrever a dor.

Define-se como:

  • Ausência
  • Ligeira
  • Moderada
  • Intensa
  • Pior da vida.

Monitoramento da dor aguda e crônica

O monitoramento da dor aguda e crônica é essencial para o manejo adequado e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Isso envolve avaliar regularmente a intensidade, duração, localização e características, bem como os fatores desencadeantes e atenuantes. Além disso, é importante acompanhar a resposta ao tratamento e ajustar as intervenções conforme necessário.

Aguda

Os pacientes com dores agudas devem receber tratamento inicial nos degraus mais altos da escada analgésica, com a possibilidade de descer após uma ampla reavaliação. Assim, em casos de dor intensa, recomenda-se que os profissionais não hesitem em iniciar o tratamento com opioides, garantindo um alívio rápido ao paciente.

Além disso, realiza-se a descida gradual da escada, mantendo uma analgesia eficaz e evitando exposição prolongada aos opioides, o que preserva o bem-estar do paciente e reduz os riscos de efeitos colaterais. Se necessário, o paciente possa subir novamente na escada analgésica sem complicações.

Crônica

Por outro lado, nos pacientes com dor crônica, o tratamento deve começar nos degraus mais baixos, utilizando medicamentos como AINES. Dessa forma, após reavaliações objetivas, que consideram tanto os aspectos físicos quanto os psicológicos relacionados à dor crônica, pode ser necessário recorrer aos opioides, tanto os fracos quanto os fortes.

Assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a ordenação e padronização do tratamento analgésico com base em uma escada de quatro degraus, de acordo com a intensidade dolorosa apresentada pelo paciente.

Fonte: Comissão de dor da SBGG.

Veja também:

Conheça nossa pós em medicina da dor!


Conheça nossa Pós-Graduação em Medicina da Dor para se capacitar a:

  • Atender pacientes com diversos tipos de dor, do diagnóstico ao tratamento
  • Desenvolver competências para trabalhar em equipes multidisciplinares
  • Oferecer assistência a pacientes com dores agudas e crônicas, incluindo aquelas relacionadas ao câncer
  • Gerenciar e estruturar serviços de tratamento da dor, em ambientes ambulatoriais e hospitalares, inclusive na gestão financeira.

Referências bibliográficas

  • ARAUJO, Lucimeire Carvalho de; ROMERO, Bruna. Pain: evaluation of the fifth vital sign. A theoretical reflection. Rev. dor, São Paulo , v. 16, n. 4, p. 291-296, Dec. 2015
  • BARROS, Guilherme Antônio Moreira de; COLHADO, Orlando Carlos Gomes; GIUBLIN, Mário Luiz. Quadro clínico e diagnóstico da dor neuropática. Rev. São Paulo , v.17, supl. 1, p. 15-19, 2016
  • Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Neuropática: Avaliação e tratamento (Varios autores), 1a Ed: Ed Leitura médica (São Paulo) Brasil 2012.
  • UEPA. Manual da dor. 2020. Disponível aqui.