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Anitta demorou 9 anos para detectar endometriose: como os exames de imagem podem ajudar

Ainda hoje a laparoscopia é considerada padrão ouro na detecção, mas existem opções menos invasivas

Na semana passada a endometriose se tornou assunto quando a cantora Anitta falou publicamente sobre o diagnóstico da doença. Ela sofria com dores após a relação sexual há nove anos, mas por muito tempo foi considerado que ela sofria com cistite de repetição, apesar da ausência de bactérias nos exames de urina. Confira parte de seu relato no Twitter:

Exames de imagem na detecção da endometriose

A endometriose costuma ter um diagnóstico tardio: leva em média oito anos, ou seja, a cantora não está muito longe das estatísticas oficiais. Para que isso ocorra mais cedo, é primeiro importante que o médico esteja atento aos sintomas:

  • Dismenorreia: com dor pélvica e as cólicas que podem começar antes mesmo da menstruação e se estender por vários dias até o período menstrual. Pode também haver dor lombar e abdominal;
  • Dor após relação sexual;
  • Dor em movimentos intestinais ou micção: principalmente durante o período menstrual;
  • Sangramento excessivo: durante a menstruação ou no meio do período;
  • Outros sinais e sintomas: a paciente pode apresentar fadiga, diarreia, constipação, inchaço ou náusea, especialmente durante os períodos menstruais.

Ainda hoje, muitos manuais consideram a videolaparoscopia o exame de imagem padrão ouro para detecção da endometriose. No entanto, por ser invasivo, ele não costuma ser a primeira opção de diagnóstico. “Hoje o ultrassom e a ressonância magnética têm papeis complementares nesse diagnóstico, cada um com as suas vantagens”, explica o radiologista Dr. Daniel Lahan, coordenador dos cursos de RM de pelve básico e avançado do Cetrus e também doutor pela Unicamp e especialização em RM de Abdômen e Pelve pelo InRad HC-FMUSP.

Ultrassonografia na detecção da endometriose

É indicado o ultrassom transvaginal com preparação intestinal – visando reduzir os artefatos de imagem causados pelas fezes e gases. O ideal é que o exame seja feito por profissionais com vasta experiência na técnica, já que esse fator (bem como a qualidade do equipamento utilizado) pode variar a acuidade do resultado.

Na Pós-Graduação em Ultrassonografia Ginecológica Avançada e Endometriose é ensinado um protocolo próprio que recomenda três varreduras do colo, corpo e outras regiões pélvicas, além de parede abdominal, entre outras medidas que são ensinadas a nossos alunos.

Ressonância magnética na detecção da endometriose

“No caso específico da RM, a técnica permite acessar de forma não invasiva todos os compartimentos pélvicos onde a endometriose pode acontecer, é relativamente rápida e com imagens que podem ser reavaliadas em outros momentos por diversos profissionais”, explica Lahan.

A RM ajuda também na avaliação da endometriose profunda, principalmente de lesões retrocervicais, intestinais (apesar de neste caso o US transvaginal ser superior) e das vias urinárias.

  • Retrocervical:  é capaz de distinguir entre aderência ou invasão profunda da parede vaginal e identificar as infiltrações profundas do paracérvix e/ou paramétrio;
  • Intestino: ajuda no planejamento da cirurgia, mostrando o tamanho e número de lesões, camadas da parede intestinal comprometidas, circunferência da alça envolvida e a distância da borda anal;
  • Vias urinárias: permite visualizar se há infiltração do músculo detrusor nas lesões vesicais e a relação com o ureter

Temos um post completo aqui no blog sobre os principais achados da RM em investigação de endometriose.

Raciocínio para condução de uma suspeita de endometriose

No final das contas, é importante aliar ambos os exames e juntá-los à história clínica e exame ginecológico para concluir a melhor conduta. Confira, a seguir, um fluxograma sugerido de ação:

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