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Pólipos uterinos: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

Entenda os principais sintomas dos pólipos uterinos (pólipos endometriais) e como diagnosticá-los ao histeroscopia.

Pólipos uterinos, ou também chamados de pólipos endometriais, são crescimentos anormais que se desenvolvem no revestimento interno do útero, conhecido como endométrio. Embora muitas vezes benignos, esses pólipos podem causar sintomas desconfortáveis e, em alguns casos, complicar a fertilidade ou aumentar o risco de complicações durante a gravidez.

Este artigo visa fornecer uma visão abrangente sobre pólipos uterinos, incluindo sua definição, sintomas, métodos de diagnóstico e opções de tratamento.

O que são pólipos uterinos? 

Pólipos são saliências sólidas no endométrio de tamanho variável, em geral de 0,5 a 3,0 centímetros e podem ser solitários ou múltiplos. A causa de seu aparecimento parece estar ligada a fatores hormonais e genéticos, mas podem ocorrer como consequência de inflamação, trauma ou gestação.

A localização dos pólipos pode ser em altura de fundo e corpo, sendo comum em região endocervical. Encontra-se em aproximadamente 4% das mulheres e ocorrem com maior frequência na perimenopausa e em multíparas entre 30 e 50 anos.

Além disso, os pólipos uterinos representam a principal causa benigna de sangramento anormal no trato genital em pacientes na pré e pós-menopausa. 

Fisiopatologia e histopatologia

Os pólipos endometriais exibem uma variedade de características histopatológicas, que podem incluir a presença de um maior número de glândulas endometriais do que o normal é comum nos pólipos, resultando em uma aparência hiperplásica.

O estroma endometrial dentro do pólipo pode apresentar sinais de edema, tornando-se mais frouxo e edematoso do que o estroma endometrial circundante. Além disso, podem estar presentes cistos glandulares dentro do tecido do pólipo, resultantes da dilatação das glândulas endometriais.

Ainda, é possível que a fibrose, caracterizada pelo acúmulo de tecido conjuntivo fibroso, pode ocorrer no estroma do pólipo.

Patogênese 

Embora a patogênese exata dos pólipos endometriais ainda não esteja completamente elucidada, várias teorias foram propostas para explicar sua formação:

  • Hiperplasia endometrial monoclonal 
  • Superexpressão de aromatase endometrial 
  • Mutações genéticas somáticas 
  • Acúmulo relacionado à idade de variantes de nucleotídeos único de baixa frequência em oncogenes, incluindo mutações em KRAS , PTEN , e TP53

Além disso, acredita-se que as alterações nos níveis hormonais, particularmente nos níveis de estrogênio, desempenhem um papel importante na formação dos pólipos endometriais. O estrogênio pode estimular o crescimento excessivo do revestimento uterino, levando à formação de pólipos.

A inflamação crônica do endométrio pode contribuir para o desenvolvimento de pólipos. Processos inflamatórios persistentes podem levar à proliferação anormal de células endometriais e à formação de pólipos.

Fatores locais, como trauma uterino, infecção ou cicatrização anormal do endométrio após procedimentos cirúrgicos, também podem desempenhar um papel na patogênese dos pólipos uterinos. Lesões ou irritações repetidas no endométrio podem levar à formação de pólipos como uma resposta reparadora.

Fatores de risco

Apesar de vários fatores estarem envolvidos no processo de desenvolvimento dos pólipos uterinos, existem alguns fatores de risco associados. São eles:

  • Uso de tamoxifeno 
  • Obesidade
  • Terapia de reposição hormonal na menopausa
  • Síndrome de Lynch e Cowden
  • Endometriose. 

Alguns estudos mostram que o uso de tamoxifeno está relacionado a quadros de pólipos malignos e ao risco aumentado de desenvolver câncer endometrial. Além disso, o risco de malignidade é maior em pacientes na pós-menopausa, portadores de sídromes hereditárias de câncer e pólipos de tamanho grande (maiores que 1,3 ou 1,5cm). 

Sintomas dos pólipos uterinos

Os pólipos são quase sempre benignos e na maior parte das vezes são assintomáticos. Os sintomáticos podem causar:

  • Metrorragia – sintoma mais comum e prevalente;
  • Sangramento pós-coital;
  • Hipermenorréia;
  • Dor pélvica;
  • Aumento do volume menstrual;
  • Infertilidade ou dificuldade para engravidar;
  • Sangramentos após a menopausa;
  • Corrimento vaginal.

Embora menos frequente, ocorre também de pólipos grandes saírem pelo canal do colo uterino e ficarem “estrangulados”, prejudicando sua circulação podendo ocasionar necrose.

Diagnóstico 

A maioria dos diagnósticos dos pólipos uterinos ocorrem de forma incidental, após algum exame ginecológico ou de fertilidade de rotina. Entretanto, o diagnóstico de pólipos uterinos geralmente envolve uma combinação de histórico clínico, exame físico e testes diagnósticos.

Para confirmar se há um pólipo endometrial, é necessário analisar uma amostra de tecido, geralmente obtida durante a polipectomia. Essa análise histológica também ajuda a descartar a possibilidade de câncer.

Embora os exames de imagem possam sugerir a presença de um pólipo endometrial, não são suficientes para excluir a possibilidade de câncer. Assim, um diagnóstico definitivo só é possível através da análise histológica da amostra de tecido.

História clínica e exame físico

É importante no momento da consulta o médico perguntar sobre a história menstrual e de menopausa (caso se aplique), como idade, fluxo, intensidade, sintomas associados. Além disso, é importante questionar todos os sintomas possíveis, para ajudar no diagnóstico.

Deve-se ainda realizar o exame ginecológico de forma completa. 

Exames complementares

Alguns dos métodos comuns de diagnóstico incluem:

Ultrassonografia Pélvica

Este é um exame de imagem que utiliza ondas sonoras para visualizar os órgãos internos. Pode ser realizado transvaginalmente ou abdominalmente e é frequentemente utilizado na identificação de pólipos uterinos. Apesar disso, a ultrassonografia transvaginal é o estudo de primeira linha para avaliar pacientes com sangramento anormal ou suspeita de pólipo uterino. 

O que observar ao ultrassom?

Durante o US, o pólipo apresenta as seguintes características:

  • Imagem alongada, polipoide, bem definida
  • Visualizada tanto no transverso quanto no longitudinal;
  • Homogênea e isoecóica ao endométrio, com preservação da interfase endometrial-miometrial;
  • O estudo Doppler traz informações importantes, com presença de pedículo vascular.

Tem como principal diagnóstico diferencial o mioma submucoso, entretanto a lesão citada tende a ser, na maioria das vezes, hipoecogênica.

Histeroscopia

Neste procedimento, inseri-se um tubo fino e flexível com uma câmera na extremidade no útero através do colo do útero. Isso permite que o médico visualize diretamente o interior do útero e identifique qualquer pólipo presente. 

Imagem I: Visão histeroscópica de pólipos endometriais. (A) Um grande pólipo funcional coberto com endométrio normal espalhado pela parede posterior da cavidade uterina. Bolhas de CO 2 são vistas acima do pólipo. (B) Pólipo endometrial com pedículo fino, tendendo a assumir a aparência de uma lesão não funcional à medida que cresce. (C) Pólipo prolapsando pelo orifício cervical interno. Fonte: STEWART, 2024. 

Geralmente, utiliza-se da histeroscopia quando não se consegue visualização completa na ultrassonografia transvaginal. 

Histerossalpingografia

Este é um exame de imagem que envolve a injeção de um contraste no útero através do colo do útero. Isso permite a visualização do útero e das trompas de Falópio em raios-X, o que pode ajudar na detecção de pólipos uterinos.

Biópsia Endometrial

Se um pólipo for visualizado durante uma histeroscopia, o médico pode optar por realizar uma biópsia endometrial para coletar uma amostra de tecido para análise laboratorial. Isso pode ajudar a confirmar o diagnóstico e descartar a presença de células cancerígenas.

Diagnósticos diferenciais

Os pólipos uterinos podem apresentar sintomas semelhantes a outras condições ginecológicas. Alguns dos principais diagnósticos diferenciais incluem:

  • Hiperplasia Endometrial: Assim como os pólipos, caracteriza-se a hiperplasia endometrial por um crescimento excessivo do tecido endometrial. No entanto, na hiperplasia, esse crescimento é difuso e não focalizado como nos pólipos.
  • Miomas Uterinos: Os miomas são tumores benignos compostos de tecido muscular que desenvolvem-se no útero. Eles podem causar sintomas semelhantes aos dos pólipos, como sangramento vaginal anormal e dor pélvica.
  • Câncer de Endométrio: Embora menos comum, o câncer de endométrio também pode causar sangramento vaginal anormal e ser confundido com pólipos uterinos. Uma avaliação histológica é necessária para diferenciar entre essas duas condições.
  • Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): Mulheres com SOP podem experimentar sangramento uterino anormal devido a desequilíbrios hormonais. Embora os sintomas sejam semelhantes, a causa subjacente é diferente dos pólipos uterinos.
  • Endometriose: A endometriose é uma condição na qual o tecido endometrial cresce fora do útero, causando dor pélvica e sangramento anormal. Embora não seja um pólipo, pode ser confundida com essa condição devido a sintomas semelhantes.
  • Atrofia Endometrial: é caracterizada pela diminuição do espessamento do revestimento do útero, geralmente associada à menopausa. Resulta-se em sangramento vaginal anormal, que pode ser confundido com os sintomas dos pólipos uterinos.

Tratamento dos pólipos uterinos 

O tratamento dos pólipos uterinos pode variar dependendo dos sintomas apresentados, do tamanho e número dos pólipos, da idade da paciente e dos planos de gravidez futuros. 

Em casos de pacientes assintomáticos ou de mulheres próximas à menopausa, recomenda-se a observação ativa, monitorados por exames de imagem regularmente. Esses pólipos podem persistir, progredir, mas podem ainda desaparecer. 

Já para mulheres com sintomas leves como sangramento irregular, indica-se o uso de contraceptivos hormonais. Estes podem ser tanto pílulas anticoncepcionais ou dispositivos intrauterinos libertadores de hormônios que podem ajudar a controlar os sintomas. 

Se os pólipos uterinos forem sintomáticos ou interferirem na fertilidade, é frequentemente recomenda-se a remoção cirúrgica. Isso pode ser feito por meio de uma histeroscopia (Polipectomia Histeroscópica), onde os pólipos são removidos usando um instrumento fino inserido no útero, geralmente sem a necessidade de incisões externas.

Em casos raros de pólipos grandes ou complicados, pode ser necessária uma cirurgia abdominal aberta para remover os pólipos. Isso geralmente é reservado para casos mais graves.

Em mulheres que não desejam mais ter filhos, a ablação endometrial pode ser uma opção. Neste procedimento, o revestimento do útero é destruído usando calor, frio ou energia elétrica, o que pode ajudar a reduzir ou eliminar o sangramento menstrual anormal associado aos pólipos uterinos.

Aprenda a realizar a histeroscopia cirúrgica ambulatorial

Não só os pólipos uterinos como tantos outras diagnósticos genecológicos são favorecidos pelo uso da Histeroscopia, seja pela sua função diagnóstica como de tratamento. Isso torna esse procedimento/exame de grande relevância para o médico ginecologista, aumentando sua área de atuação e fornecendo às suas pacientes um melhor e completo atendimento. 

Por isso, aproveite a oportunidade de aprender com quem entende do assunto, o Cetrus

Assista ao vídeo: 5 motivos para implementar a histeroscopia no seu consultório

Referências

  1. Lasmar RB, Lasmar BP, Zagury DB, Bruno R, Cardeman L. Pólipo uterino. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO – Ginecologia, no. 7/ Comissão Nacional Especializada em Endoscopia Ginecológica).
  2. STEWART, E. A. Endometrial polyps. UpToDate, 2024

20 Replies to “Pólipos uterinos: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento”

  1. Fiz o procedimento de retirada de pólipo endocervical, na minha primeira consulta com a médica especializada, foi super rápido sem dor alguma. Na maioria das vezes não aparece na transvaginal, foi na consulta que fui diagnosticada com o pólipo, e a doutora fez a remoção, fiz a biópsia e deu tudo certo.

  2. Tenho pólipo endocervical e não tenho condições de fazer a cirurgia pós e carro de mas . Mas com os estudos que li tô menos preocupada pos eu já achava que era um câncer .tava preocupada

    1. Foi no especialista??, na maioria das vezes é retirada com a torção, super seguro.

  3. CASO MUITO BOM E IMAGENS ULTRASSOGRÁFICAS DE PRIMEIRA QUALIDADE. PARABENS..

  4. Ola Cetrus! Estão de parabens, espero mais casos relacionados, assim ajuda-nos a revisar certos conteudos do dia a dia no consultorio medico.
    Gostei do caso clinico, principalmente das imagens ecograficas. Aqui em Moçambique, sangramento uterino anormal, é a queixa mais frequente referida pelas pacientes de todas faixas ectarias, em algum momento é dificil pensar no polipo endocervical, pior quando ao exame especular não é visivel. Além da histerossonografia que é invasivo, a ultrassonografia transvaginal, faz sim muita diferença para o diagnostico imagiologico dos polipos endocervical. Cetrus e colaboradores, parabens, aguardamos mais casos.

  5. Interessante!!!! O Cetrus sempre buscando aprimoramento … Parabéns

  6. Fui aluno Cetrus em vários cursos precencias! Todos os professores muito competentes e amigos. Só tenho que agradecer por me incluir nesse projeto da Cetrus! Abraços a todos da Cetrus ém especial ao mestres Dr. Cláudio e Dr. Zanforlin.

  7. Pólipos são muito comuns, e muitas vezes, não diagnosticados!!!
    Belo caso!!! Parabéns!!!

  8. Ótimo caso sou aluno do Cetrus e recomendo o seu conteúdo.

  9. Fui aluno do CETRUS , honrado por estar participando desse caso interessante visto ao US

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