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Ultrassonografia no diagnóstico diferencial da dor inguinoescrotal

Índice

Tudo que você precisa saber sobre dor inguinoescrotal, diagnósticos possíveis e o uso da ultrassonografia para investigação diagnóstica. Boa leitura!

A dor inguinoescrotal é uma queixa comum em contextos clínicos e emergenciais, envolvendo desconforto ou dor localizada na região inguinal e/ou escrotal. Essa apresentação pode ser atribuída a uma ampla gama de condições, desde distúrbios benignos e autolimitados até emergências urológicas ou cirúrgicas. A adequada avaliação diagnóstica é essencial para evitar complicações significativas e preservar a função reprodutiva e urinária.

A ultrassonografia (US) é amplamente reconhecida como uma ferramenta diagnóstica essencial devido à sua natureza não invasiva, disponibilidade e capacidade de fornecer informações detalhadas sobre a morfologia e a vascularização das estruturas da região. 

Este texto explora os fundamentos anatômicos, as principais condições clínicas associadas à dor inguinoescrotal e a aplicação da ultrassonografia para o diagnóstico diferencial.

Anatomia da região inguinoescrotal

A região inguinoescrotal compreende estruturas do canal inguinal, escroto e seu conteúdo. Essas incluem:

  • Canal Inguinal: local de passagem para o cordão espermático nos homens e o ligamento redondo nas mulheres.
  • Testículos: Principais órgãos reprodutivos masculinos, envolvidos na produção de espermatozoides e testosterona.
  • Epidídimo: Estrutura tubular na face posterior do testículo, essencial para o armazenamento e transporte de espermatozoides.
  • Cordão Espermático: Contendo vasos deferentes, artérias testiculares, linfáticos e plexo pampiniforme.
  • Músculos e Aponeuroses: Incluem os músculos oblíquo externo, obíquo interno e transverso do abdome, que formam a parede do canal inguinal.
  • Vasos e Nervos: Artéria e veia femorais, nervo genitofemoral e outros pequenos vasos e estruturas nervosas.


Essas estruturas estão inter-relacionadas, sendo propensas a processos patológicos que podem gerar dor aguda ou crônica.

Fisiopatologia da dor inguinoescrotal

A região inguinoescrotal possui uma complexa inervação, incluindo ramos do nervo genitofemoral, nervo ilioinguinal e nervo ilio-hipogástrico, além de estruturas sensoriais intrínsecas aos testículos e epidídimos. A dor pode originar-se de processos inflamatórios, infecciosos, isquêmicos ou traumáticos, com possível irradiação para regiões adjacentes, como o abdome inferior ou membros inferiores.

Diagnóstico clínico

A avaliação diagnóstica da dor inguinoescrotal inicia-se com uma anamnese detalhada, seguida de exame físico direcionado e investigações complementares. Os seguintes aspectos devem ser considerados:

História Clínica

  • Início e caracterização da dor: aguda ou crônica, intensidade, qualidade (pontada, peso, queimação), fatores desencadeantes e de alívio.
  • Associação com outros sintomas: febre, disúria, hematúria, náuseas, vômitos ou sinais sistêmicos.
  • História sexual e reprodutiva: atividade sexual recente, uso de preservativos, histórico de infecções sexualmente transmissíveis (IST).
  • Antecedentes pessoais: cirurgias abdominais ou inguinais, trauma recente, condições crônicas, como vasculopatias ou doenças hematológicas.

Exame Físico

O exame físico deve ser conduzido com cuidado para identificar sinais locais e sistêmicos relevantes:

  • Inspeção: avaliação de edema, eritema, aumento de volume, deformidades ou alterações na pele escrotal.
  • Palpação: detecção de massas, sensibilidade localizada, espessamento do cordão espermático ou dos testículos.
  • Manobras específicas: teste de Prehn (alívio da dor com elevação do escroto, sugestivo de orquiepididimite) e reflexo cremastérico (ausente em torção testicular). Manobra de Valsalva, para avaliação de hérnia inguinal e femoral. 

Importância da ultrassonografia na dor Inguinoescrotal

A ultrassonografia é considerada o método de escolha para a avaliação da dor inguinoescrotal devido a:

  • Capacidade de diferenciação tissular: Permite visualizar estruturas de diferentes ecogenicidades.
  • Caracterização em tempo real: Identifica alterações dinâmicas, como movimento de hérnias e fluxo sanguíneo.
  • Segurança: Evita radiação ionizante, sendo ideal para pacientes jovens.

A ultrassonografia com Doppler é a ferramenta diagnóstica de escolha para avaliação da dor inguinoescrotal. Sua alta sensibilidade e especificidade permitem identificar anormalidades estruturais e vasculares. Os principais achados incluem:

  • Torção testicular: ausência de fluxo sanguíneo no Doppler colorido, com aumento do volume testicular.
  • Orquiepididimite: aumento do fluxo sanguíneo, edema e heterogeneidade testicular.
  • Hidrocele ou hematocele: coleções anecoicas ou hipoecoicas em torno do testículo.
  • Hérnias: visualização de conteúdo abdominal, como alças intestinais, no canal inguinal.

Abaixo, falaremos mais aprofundamento sobre cada uma delas. 

Protocolos de exame e técnicas de imagem

  1. Preparativos:
    • Posicionar o paciente em decubito dorsal.
    • Uso de gel aquecido para conforto.
    • Transdutores lineares de alta frequência (7-15 MHz): a preferência é utilizar em média 10 MHz, mas em pacientes obesos, frequências mais baixas, como a de 7 MHz, é melhor. 
    • O plano utilizado deve ser o axial. 
  1. Protocolo:
    • Avaliação escrotal: Examinar ambos os testículos, epidídimos e cordão espermático.
    • Doppler colorido e espectral: Analisar fluxo arterial e venoso.
    • Manobra de Valsalva: Identifica varicocele ou hérnias.
  2. Técnicas Específicas:
    • Transiluminação: Diferencia massas sólidas de líquidas.
    • Imagens dinâmicas: Observa movimentação de estruturas em tempo real.
Imagem I. Anatomia normal da região inguinal. Plano axial. Músculos reto do abdome (R), músculos abdominais laterais (L), vasos epigástricos (seta) e a interface da gordura peritonial (linha pontilhada), sem sinais de herniações. Fonte: Fonseca et al., 2018. 
Imagem II. Anatomia normal da bolsa testicular. Os testículos (T) possuem ecogenicidade granular homogênea e o mediastino testicular é visto como uma banda linear hiperecogênica no seu centro. Túnica albugínea é uma linha hiperecogênica ao redor dos testículos (demarcada entre as setas), geralmente com pequena quantidade de líquido anecogênico entre suas camadas. A cabeça do epidídimo (Ep) é bem vista no plano sagital, repousando sobre o testículo e com ecogenicidade semelhante. Fonte: Fonseca et al., 2018.

Condições avaliadas pela ultrassonografia: principais diagnósticos diferenciais

A seguir, são descritos os principais diagnósticos associados à dor inguinoescrotal, com ênfase em sua fisiopatologia, apresentação clínica e achados diagnósticos.

Torção do cordão espermático

A torção testicular é uma emergência urológica que resulta da roscação do testículo em torno do cordão espermático, comprometendo o fluxo sanguíneo. Geralmente ocorre em adolescentes e jovens adultos. 

Apresenta-se clinicamente com dor aguda, intensa, de início abrupto, associada a náuseas ou vômitos. O testículo afetado pode estar elevado e horizontalizado.

Os achados ultrassonográficos encontrados são:

  • Testículo aumentado e hipoecogênico. Quando a ecogenicidade está normal, indica que ainda o órgão é viável, sendo indicativo de intervação cirúrgica imediata.
  • Ausência ou redução do fluxo sanguíneo testicular ao Doppler colorido.
  • Cordão espiralado (“sinal do redemoinho”).

A ultrassonografia com Doppler colorido é fundamental para confirmar o diagnóstico de torção testicular. Em casos de torção parcial (menos de 360°), o Doppler espectral auxilia ao detectar uma redução do fluxo diastólico em comparação ao testículo contralateral, sugerindo resistência vascular.

Imagem III. estículo hipoecogênico, heterogêneo e arredondado. Ausência de fluxo intratesticular ao Doppler. Fonte: Fonseca et al., 2018.

Epididimite e orquite

Processo inflamatório dos testículos e/ou epidídimos, frequentemente associado a infecções bacterianas. Em adultos jovens, está comumente associada a ISTs (ex.: Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae); em idosos, às infecções urinárias. A epididimite é a causa mais comum de dor escrotal aguda em homens

O paciente apresenta-se com dor progressiva, edema, eritema escrotal e febre. Pode haver disúria ou secreção uretral.

Os principais achados ultrassonográficos são:

  • Aumento do epidídimo e/ou testículo com ecotextura heterogênea.
  • Fluxo sanguíneo aumentado no Doppler (hiperemia).
  • São comuns a hidrocele reacional e o espessamento cutâneo. Pode haver extensão até o testículo, que produzirá uma área hipoecogênica com fluxo aumentado ao Doppler.
  • Presença de coleções peri-testiculares.
Imagem IV. Testículo e epidídimos heterogêneos, de dimensões aumentadas e hipervascularizados ao estudo Doppler. Há pequena hidrocele reativa (seta). (Ep, epidídimo; TE, testículo esquerdo; E, esquerdo). Fonte: Fonseca et al., 2018.

Hérnia inguinal e femoral

A hérnia inguinal ocorre quando conteúdo intra-abdominal protrui pelo canal inguinal. Quando encarcerada, pode causar obstrução intestinal; na estrangulação, há risco de necrose. 

Imagem V. Hérnia inguinal indireta. Saco herniário (H) penetrando na bolsa escrotal através do canal inguinal. (T, testículo). Fonte: Fonseca et al., 2018.

No caso das hérnias femorais, teremos uma protrusão de conteúdo abdominal através de um defeito da parede abdominal. Ela comumente encardera e estrangula, nesses casos, o paciente pode apresentar uma massa irreversível na região inguinal ou escrotal, dor intensa e sintomas obstrutivos (vômitos, distensão abdominal). Nesse contexto, o usg com doppler, há presença de alças intestinais ou epíplon no saco herniário, com ou sem vascularização.

Outros achados ultrassonográficos possíveis são: 

  • Conteúdo intestinal ou gorduroso no canal inguinal.
  • Movimentação dinâmica com manobra de Valsalva.
Imagem VI. Hérnia inguinal direta. Aumento do conteúdo herniário (H) após manobra de Valsalva. Fonte: Fonseca et al., 2018.

Hidrocele

A hidrocela é o acúmulo de líquido entre as camadas da túina vaginal. Sua clínica é representada pelo  aumento de volume indolor; pode causar desconforto leve. Na USG podemos encontrar: 

  • Coleção anecoica ao redor do testículo.
  • Presença de septa ou debris em casos crônicos.

Varicocele

A varicocele ocorre da dilatação do plexo pampiniforme por refluxo venoso, sendo mais comum à esquerda. O paciente comumente cursa com dor, agravada pelo ortostatismo ou esforço.

No exame de ultrassom, podemos encontrar:

  • Veias dilatadas (>3 mm) com aumento do fluxo ao Valsalva.
  • Aspecto “em rede” das veias ao Doppler colorido.

Tumores testiculares

Tumores testiculares, como neoplasias primárias dos testículos, também devem entrar nos diagnósticos diferenciais. De forma geral, podemos encontrar na ultrassonografia massa hipoecogênicas ou heterogêneas, vascularização aumentada nas bordas e ainda calcificações ou cistos associados.

Traumas escrotais

Lesões escrotais podem resultar em hematomas, ruptura testicular ou torção traumática. Nesses casos, o paciente tem dor intensa, aumento de volume e equimose local. No USG com Doppler podemos observar hematoma ou interrupção da albugínea testicular (ruptura

Torção do apêndice testicular

A torção do apêndice testicular é uma condição benigna em crianças, com torção de apêndices embrionários residuais. Este é um dos principais diagnósticos diferenciais da torção testicular, pois a mesma é uma emergência urológica necessitando de cirurgia imediata e o apêndice não. 

Geralmente é uma clínica de dor localizada, com sinal do “blue dot” ou sinal do ponto azul. Este sinal, apesar de identificar a torção do apêndice testicular, só está presente em 20% dos pacientes. 

Na USG observamos um apêndice hipoecoico com calcificação. Além disso, há presença de ssimetria com o apêndice testicular contralateral um bom parâmetro comparativo. No Doppler há pouco ou nenhum fluxo sanguíneo. Mais importante, não haverá alterações do testículo ipsilateral, afastando o diferencial de torção. 

Imagem VII. A. Torção do apêndice testicular aguda. Notar o aumento no tamanho do apêndice testicular (asterisco), que não apresenta fluxo ao estudo Doppler. O testículo adjacente apresenta apenas hiperemia reativa, sem alteração da sua ecotextura. B. Torção do apêndice testicular crônica. Notar o aumento da ecogenicidade e diminuição no tamanho do apêndice testicular (seta). Fonte: Fonseca et al., 2018.

Considerações Finais

A ultrassonografia é indispensável para o diagnóstico diferencial da dor inguinoescrotal, combinando informações anatômicas e funcionais com alta precisão diagnóstica. Um exame minucioso, conduzido por profissionais experientes, pode distinguir com eficiência condições benignas de emergências médicas, guiando condutas clínicas apropriadas e evitando complicações.

Curso gratuito de USG em hérnias femorais

O USG é um dos principais métodos de imagem utilizado no diagnóstico diferencial da dor inguinoescrotal. Sabemos que as hérnias são um dos principais diagnósticos, acometendo grande número da população. 

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Referências:

  1. BROOKS, D.C. Overview of abdominal wall hernias in adults. Uptodate, 2024
  2. BROOKS, D.C.; HAWN, M. Classification, clinical features, and diagnosis of inguinal and femoral hernias in adults. Uptodate, 2024 
  3. CHAMMAS, M.C. Ultrassonografia no diagnóstico diferencial da dor inguinoescrotal. Radiol Bras. 2018 Mai/Jun;51(3):VII
  4. FONSECA, E.K.U.N. el al. Avaliação ultrassonográfica da dor inguinoescrotal: uma revisão baseada em imagens para o ultrassonografista.  Radiol Bras. 2018 Mai/Jun;51(3):193–199.

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