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Ventriculomegalia Neonatal

Tudo que você precisa saber sobre ventriculomegalia neonatal: o que é, diagnóstico e como manejar o quadro. 

A ventriculomegalia neonatal é uma condição caracterizada pelo aumento anormal dos ventrículos cerebrais em recém-nascidos. Identifica-se essa dilatação por meio de ultrassonografia fetal ou após o nascimento por exames de imagem, como ultrassonografia transfontanelar ou ressonância magnética cerebral.

Ventriculomegalia neonatal: definição

A ventriculomegalia neonatal, também chamada de ventriculomegalia fetal ou cerebral, refere-se a dilatação ventricular cerebral sem o aumento do líquido cefalorraquidiano (LCR). Este é um achado comum no exame de ultrassom realizado no segundo trimestre de gestação, feito entre 18 a 20 semanas. 

De forma geral elas são benignas quando encontradas isoladamente. Entretanto, em alguns casos estão associadas a algumas alterações patológicas, como veremos em etiologias. 

Diferença entre ventriculomegalia e a hidrocefalia

Você pode tá se perguntando se a ventriculomegalia é a mesma coisa que a hidrocefalia, não é verdade? Mas a resposta é não! A hidrocefalia é quando há dilatação patológica do sistema ventricular do cérebro devido ao aumento do LCR, associado à alguma obstrução e com o ventrículo maior que >15mm. 

Etiologia da ventriculomegalia neonatal

As causas da ventriculomegalia neonatal podem variar, incluindo anomalias congênitas do sistema nervoso central, infecções intrauterinas (muito associada ao Toxoplasma gondii, rubéola, citomegalovírus e vírus herpes simplex), hemorragias intracranianas, obstruções no fluxo do líquido cerebrospinal (LCS) e síndromes genéticas. 

Como uma forma mais didática, dividi-se a etiologia em três grandes grupos. São eles:

  • Perda do parênquima cerebral 
  • Causas obstrutivas: estenose aquedutal, malformação de Chiari Tipo II, disgenesia do corpo caloso e anormalidade da fossa posterior. 
  • Superprodução de líquido cefalorraquidiano. 

Epidemiologia 

A ventriculomegalia neonatal é uma das anormalidades cerebrais mais comuns detectadas durante a gestação, com uma prevalência relatada variando de aproximadamente 0,5% a 1% dos fetos examinados por ultrassonografia.

É um achado mais comum em homens do que mulheres, sendo sua proporção de 1,7. 

Diagnóstico da ventriculomegalia neonatal

Faz-se o diagnóstico da ventriculomegalia neonatal durante o pré-natal por meio de ultrassonografia fetal de rotina. Durante esse exame, a medida dos ventrículos cerebrais é realizada para detectar qualquer dilatação anormal. 

A ressonância magnética (RM) fetal e o teste genético podem ser realizados. Utiliza-se a RM geralmente detectar as anormalidades associadas, como a agenesia do corpo caloso, ausência do septo pelúcido, distúrbios do desenvolvimento cortical e anormalidades cerebrovasculares.

Já a cariotipagem ajuda a identificar aneuploidias e anomalias cromossômicas. Considera-se este exame o padrão-ouro na investigação de animais estruturais fetais. 

Saiba mais: Rastreamento de ventriculomegalia no feto: como é feito?

Exame de ultrassom 

A ultrassonografia fetal é geralmente o exame pelo qual se dá o diagnóstico. Abaixo apresentamos os achados:

Ventrículo cerebral normal

O átrio do ventrículo lateral é a  para onde convergem o corpo, o corno posterior (occipital) e o corno inferior (temporal).  O diâmetro atrial permanece estável entre 15 e 40 semanas de gestação, com médias relatadas de 5,4 a 7,6 mm e limite superior normal <10 mm. 

Fonte: Norton, 2024.

Eles são medidos usando o plano transventricular (axial) ao nível dos cornos frontais e cavum do septo pelúcido. 

Imagem II. O átrio do ventrículo lateral é medido no plano transventricular (axial) ao nível dos cornos frontais e cavum do septo pelúcido, com os hemisférios cerebrais de aparência simétrica. Os paquímetros devem ser posicionados na margem interna das paredes medial e lateral dos átrios, ao nível do sulco parieto-occipital, perpendicular ao longo eixo do ventrículo lateral. Fonte: Norton, 2024. 

Ventriculomegalia neonatal 

Quando utiliza-se o ultrassom e a medição do diâmetro atrial é maior do que 10mm, podemos considerar como ventriculomegalia. 

Classificação da ventriculomegalia

Podemos classificar a ventriculomegalia da seguinte forma:

  • Leve: 10 a 12mm 
  • Moderado: 13 a 15mm
  • Grave: maior ou igual 16mm. 

Imagem III. Hidrocefalia fetal com 21 semanas de gestação: (A) Corte coronal posterior mostrando os cornos posteriores muito grandes dos ventrículos laterais. Na fossa posterior, observa-se um cerebelo de aparência relativamente normal (entre as setas) e a cisterna magna. (B) Corte mais anterior que (A) e mostrando também dilatação dos ventrículos laterais (Lv). (C) Corte axial mostrando os grandes ventrículos, o plexo coróide pendente e o manto cortical muito fino. (D) Corte oblíquo mostrando a hidrocefalia. Fonte: Norton, 2024.

Diagnóstico diferencial 

O diagnóstico diferencial da ventriculomegalia fetal envolve a distinção entre várias condições que podem resultar em dilatação dos ventrículos cerebrais durante a gestação. Algumas das principais condições a serem consideradas incluem:

  • Hidrocefalia: A hidrocefalia é uma condição em que há acúmulo excessivo de líquido cerebrospinal nos ventrículos cerebrais, resultando em dilatação. Pode ser congênita ou adquirida e pode estar associada a uma ampla variedade de causas, como obstrução do fluxo de líquido cerebrospinal, defeitos congênitos ou hemorragias intracranianas.
  • Malformações cerebrais: Algumas malformações congênitas do cérebro, como a espinha bífida ou a encefalocele, podem estar associadas a ventriculomegalia fetal.
  • Infecções intrauterinas: Infecções virais, como citomegalovírus (CMV), toxoplasmose, rubéola e herpes simplex, podem causar danos ao cérebro em desenvolvimento do feto, levando à ventriculomegalia.
  • Síndromes genéticas: Algumas síndromes genéticas, como a síndrome de Dandy-Walker, a síndrome de Aicardi ou a síndrome de Edwards (trissomia 18), podem apresentar ventriculomegalia como uma característica associada.
  • Hemorragias intracranianas: Hemorragias no cérebro fetal podem causar danos aos ventrículos cerebrais, levando à sua dilatação. Essas hemorragias podem ocorrer como resultado de trauma durante o parto, complicações da gravidez ou distúrbios hemorrágicos congênitos.
  • Cistos aracnóides: Cistos aracnóides podem causar compressão dos ventrículos cerebrais, levando à dilatação secundária.
  • Tumores cerebrais: Embora menos comuns, alguns tumores cerebrais em fetos podem levar à dilatação dos ventrículos cerebrais devido à compressão do tecido circundante.

Manejo Clínico da ventriculomegalia neonatal

O manejo da ventriculomegalia neonatal depende da etiologia subjacente, da gravidade da dilatação ventricular e de quaisquer complicações associadas. Em muitos casos, uma abordagem multidisciplinar é necessária, envolvendo neonatologistas, neurologistas, neurocirurgiões, geneticistas e outros especialistas, conforme apropriado.

Opções de Manejo

Manejar o quadro de ventriculomegalia neonatal vai depender da fase que a gestante estiver. Dividi-o em manejo pré-natal e manejo pós-natal. Confira abaixo:

Manejo pré-natal

De forma geral, o manejo pré-natal é muito limitado. Alguns estudos sugerem apenas o uso de desvio de LCR fetal, ajudando a melhorar os desfechos dos pacientes. 

Manejo pós-natal

O primeiro passo no cuidado da ventriculomegalia é identificar sua causa subjacente e determinar se há hidrocefalia associada. Se a hidrocefalia estiver presente, intervenções precoces durante o parto e o manejo inicial podem ser benéficas, mas isso é condicionado à maturidade pulmonar e estabilidade do estado do feto. 

Após o nascimento, os médicos direcionam principalmente o tratamento para a causa específica da ventriculomegalia. Apenas pacientes com causas obstrutivas e hidrocefalia em progressão são considerados para procedimentos de derivação do líquido cefalorraquidiano (LCR).

Para pacientes cujos ventrículos cerebrais mantêm um tamanho estável e não demonstram sinais de aumento da pressão intracraniana, sugere-se abordagens conservadoras.

As decisões sobre a necessidade e o momento da intervenção cirúrgica dependem principalmente de dois fatores: 

  • Gravidade e a evolução da ventriculomegalia, conforme determinado pelo exame clínico e exames de imagem de acompanhamento
  • Presença ou ausência de sinais de aumento da pressão intracraniana. 

O tratamento cirúrgico da ventriculomegalia em fetos segue princípios semelhantes aos casos diagnosticados após o nascimento e pode envolver a utilização de diferentes dispositivos para drenagem do LCR, como derivações ventriculares, shunts e fenestração endoscópica.

Outras formas de manejo da ventriculomegalia

A outra forma que temos de caracterizar o manejo do recém-nascido com a ventriculomegalia são as seguintes:

Monitoramento regular

Em casos leves de ventriculomegalia neonatal sem sintomas neurológicos ou complicações, os médicos podem recomendar acompanhamento clínico regular com ultrassonografia ou ressonância magnética para avaliar a progressão da dilatação e monitorar o desenvolvimento neurológico.

Tratamento cirúrgico

Em casos mais graves, nos quais há compressão do tecido cerebral adjacente ou risco de hidrocefalia progressiva, pode ser necessária a intervenção neurocirúrgica para aliviar a pressão intracraniana. Isso pode envolver a colocação de derivação ventriculoperitoneais ou ventriculostomia endoscópica.

Tratamento de complicações associadas

Se a ventriculomegalia neonatal estiver associada a outras condições médicas, como infecções congênitas, síndromes genéticas ou hemorragias intracranianas, os médicos devem direcionar o manejo para tratar essas condições específicas, com intervenções médicas ou cirúrgicas conforme indicado.

Saiba mais sobre o tema: Ventriculomegalia Fetal: Descubra como tratar casos leves e avançados

Prognóstico da ventriculomegalia neonatal

O prognóstico da ventriculomegalia neonatal pode variar significativamente dependendo da gravidade da dilatação ventricular, da presença de complicações associadas e da prontidão do diagnóstico e manejo adequados. 

Em alguns casos, a ventriculomegalia pode regredir espontaneamente ao longo do tempo, enquanto em outros, pode resultar em deficiências neurológicas permanentes. 

Assim, a identificação precoce, a intervenção adequada e o acompanhamento regular são fundamentais para otimizar os resultados a longo prazo para os pacientes afetados.

Ultrassonografia obstétrica morfológica de 1º e 2º trimestre

A ultrassonografia, sem dúvidas, é um grande aliado do médico obstetra. Os exames morfológicos de 1° e 2° trimestre são fundamentais para acompanhar a gestão e a saúde da criança, ajudando a reduzir complicações da gravidez e identificando qualquer alteração no bebê muito recente. 

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Videoaula sobre ventriculomegalia neonatal com a Dra. Inês Gomes da Silva 

No vídeo abaixo, a Dra. Inês Gomes da Silva preparou uma aula de revisão sobre ventriculomegalia neonatal e sua diferença com a hidrocefalia. 

Referências

  1. Alluhaybi AA, Altuhaini K, Ahmad M. Fetal Ventriculomegaly: A Review of Literature. Cureus. 2022 Feb 18;14(2):e22352. doi: 10.7759/cureus.22352. PMID: 35223331; PMCID: PMC8860673.
  2. NORTON, M.E. Fetal cerebral ventriculomegaly. Uptodate, 2024. 
  3. NORTON, M.E. et al. Fetal Ventriculomegaly. SMFM CONSULT SERIES| VOLUME 223, ISSUE 6, PB30-B33, DECEMBER 2020. DOI:https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.08.182

One Reply to “Ventriculomegalia Neonatal”

  1. Adorei o conteúdo sobre neonatologia, gostaria de receber mais sobre

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