Posted on

Como o Doppler Transcraniano pode ser usado no diagnóstico de doenças neurológicas?

Confira neste artigo mais informações sobre o uso do doppler transcraniano na rotina de atuação da especialidade de neurologia!

O doppler transcraniano (TCD) é um exame que facilitou muitos diagnósticos no campo do trauma e neurologia. Entender em que situações o exame deve ser indicado e pode ser realizado é muito importante para o médico especialista.

História do Doppler Transcraniano (TCD)

Quando o Doppler transcraniano começou a ser usado em 1982, iniciou-se um movimento de explorar o uso do ultrassom para o diagnóstico e acompanhamento das doenças neurológicas, que culminou em uma área chamada de Neurossonologia.

“Na verdade, o movimento é mais antigo, pois a ultrassonografia começou estudando o desvio de linha média do cérebro, na década de 1950. O TCD ganhou aceitação generalizada na comunidade médica como uma ferramenta valiosa na avaliação de uma variedade de condições neurológicas e vasculares. Sua capacidade de monitorar o fluxo sanguíneo cerebral em tempo real se mostrou crucial em situações clínicas, como a detecção precoce de vasoespasmo cerebral após hemorragias subaracnóideas. Mas devido a limitações técnicas, partiu-se para o estudo de outras áreas”, explica o neurologista Dr. Marcos Lange, coordenador da Pós-Graduação em Neurossonologia do Cetrus.

Ele explica que hoje, além do Doppler transcraniano, temos o uso do ultrassom para várias outras áreas, desde periféricas como nervos e músculos até a parte de pacientes críticos, com avaliação da pressão intracraniana. O desenvolvimento da tecnologia ajudou muito a visualizar melhor o cérebro, aliado a brechas que temos no osso do crânio.

Esse conhecimento é útil para diversas especialidades. “Hoje conseguimos abranger todas as subáreas da neurologia, como os distúrbios de movimento, então a neurossonologia está em todo lugar”, explica a neurologista Dra. Danyelle Sadala, neurologista e coordenadora do ambulatório de Neurossonologia da Santa Casa de São Paulo. Fora que o profissional que trabalha fazendo exames de ultrassom pode agregar ao trabalho dele essa ferramenta adicional em seus estudos.

Aplicações clínicas do TCD 

O doppler transcraniano é uma técnica de ultrassom, cujo principal objetivo é avaliar o fluxo sanguíneo das artérias cerebrais. 

Pensando na relevância que o sistema nervoso central detém, a aplicação do TCD é de extrema importância para diagnósticos em tempo oportuno para uma abordagem adequada. Em atuação, o TCD é especialmente aplicável em casos de AVC, a fim de diferenciar um evento isquêmico de um hemorrágico. Tendo essa distinção em mente, a abordagem oportuna, podendo salvar a vida do paciente. 

Não apenas para o diagnóstico, mas também para acompanhamento de possíveis complicações do AVC, o TCD pode identificar vasoespasmo após um evento hemorrágico. Antes mesmo do desfecho, também é possível identificar estenose carotídea, prevendo a possibilidade de um AVC isquêmico. 

Em alguns casos, o doppler transcraniano pode ser usado para investigar alterações no fluxo sanguíneo cerebral em pacientes com demência, como a doença de Alzheimer. Isso pode auxiliar no diagnóstico diferencial e na compreensão das mudanças cerebrais associadas a essas condições.

Ainda, até mesmo durante procedimentos cirúrgicos, o doppler transcraniano pode ser realizado, a fim de monitorar o fluxo sanguíneo em tempo real, garantindo o suprimento 

Realização do procedimento do TCD 

É importante que o paciente seja orientado previamente sobre o consumo de cafeína e tabaco antes do exame, uma vez que essas substâncias podem afetar a dilatação das artérias e o fluxo sanguíneo.

Na realização do doppler transcraniano, o paciente deve ser colocado em decúbito dorsal. Um gel para melhor condução do ultrassom é aplicado na área do couro cabeludo onde as artérias cerebrais serão avaliadas.

O transdutor é posicionado ao longo da cabeça do paciente à medida que as artérias são avaliadas. Ele deve ser movido suavemente sobre o couro cabeludo, sendo as informações obtidas traduzidas em um gráfico em forma de onda, representando o fluxo Doppler, como vemos abaixo: 

Exame de Doppler Transcraniano

O procedimento de TCD é geralmente indolor e leva cerca de 15 a 30 minutos para ser concluído. É uma ferramenta valiosa para a avaliação do fluxo sanguíneo cerebral em uma variedade de condições clínicas, como acidente vascular cerebral, trauma cranioencefálico e doenças vasculares cerebrais. Os resultados podem ajudar os médicos a fazer diagnósticos e determinar o tratamento adequado.

Diagnósticos de doenças neurológicas com o Doppler Transcraniano

No AVC isquêmico, o TCD é usado, como comentamos, para avaliar a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral em uma área específica de preocupação do médico. Isso pode prever um possível novo evento, ou piores prognósticos. 

Por outro lado, em um AVC hemorrágico, o TCD pode mostrar um aumento súbito no fluxo sanguíneo devido ao sangramento no cérebro. Essa alteração no padrão de fluxo é um sinal importante para o diagnóstico.

Após um TCE, o TCD é usado para avaliar as consequências do trauma no cérebro. Ele pode detectar áreas com fluxo sanguíneo diminuído, que podem indicar lesões cerebrais, além de monitorar o edema cerebral que pode se desenvolver após o trauma. Devido ao possível edema cerebral pós TCE, o exame pode identificar o aumento da pressão intracraniana. 

Embora o TCD não seja usado como um teste diagnóstico definitivo para a doença de Alzheimer e outras demências, ele pode fornecer informações complementares. Alterações no fluxo sanguíneo cerebral podem ser observadas em pacientes com demências, mas essas mudanças são geralmente menos específicas. 

O TCD pode ajudar a descartar outras causas potenciais de sintomas cognitivos, mas não é suficiente para diagnosticar a doença por si só.

Limitações do doppler transcraniano

Embora seja um exame excelente para guiar o raciocínio médico, o TCD tem acesso limitado a certas áreas do cérebro devido à anatomia craniana. As estruturas ósseas do crânio podem bloquear o feixe de ultrassom, tornando difícil a visualização de algumas regiões cerebrais.

O crânio e o tecido cerebral têm densidades diferentes, o que pode resultar em artefatos e dificultar a obtenção de imagens claras e precisas. Tem alcance limitado em termos de profundidade. Isso pode dificultar a visualização de vasos localizados mais profundamente no cérebro.

Além disso, movimentos involuntários do paciente, como o movimento dos olhos, podem causar artefatos nas imagens de TCD, tornando-as menos confiáveis. Por isso, a qualidade das imagens de TCD pode ser afetada pela cooperação do paciente, especialmente no que diz respeito ao posicionamento da cabeça.

Essa limitação é ainda mais comprometedora quando se tem um paciente com vítima de trauma, agitado e com limitação intelectual. Por isso, algumas situações especiais devem conduzir o médico a solicitar um outro exame para o paciente que não o doppler transcraniano. 

Uma limitação importante do exame é que, embora indique o fluxo sanguíneo cerebral, ele não fornece causas subjacentes. No entanto, isso pode ser complementado pela TC ou RM. 

Pensando nisso, outra limitação importante é que alguns pacientes podem ter janelas acústicas limitadas devido a deformidades cranianas, e isso dificulta obtenção de imagens de alta qualidade. 

Somado a essas limitações, como já comentamos no início, a habilidade do operador é muito importante para que os resultados sejam bem interpretados. 

Para entender mais sobre essa área, conversamos com o Dr. Lange e a Dra. Danyelle Sadala no MedTalks, o Podcast do Cetrus. Ouça na íntegra:

Você também pode conferir o material através do nosso canal no YouTube.

Avanços recentes em tecnologia na TCD 

Apesar das suas limitações, o doppler transcraniano tem contribuído para melhorar a precisão e diagnóstico, principalmente pela sua facilidade de uso. Por isso, os avanços tecnológicos têm sido importantes nos últimos anos. 

A imagem em tempo irreal é uma mudança que colaborou muito para o diagnóstico por doppler transcraniano. Isso permite que os médicos observem as mudanças dinâmicas no fluxo sanguíneo durante o exame, tornando a avaliação mais sensível e interativa.

A possibilidade do doppler colorido e espectral avançado adiciona uma dimensão visual à análise do fluxo sanguíneo. O Doppler espectral avançado fornece informações detalhadas sobre a velocidade e a direção do fluxo sanguíneo.

Os transdutores de alta frequência permitem ainda uma melhor resolução e detalhamento das imagens de TCD, especialmente para vasos sanguíneos menores e a detecção de padrões de fluxos sutis. 

Com o avanço tecnológico, a possibilidade de obtenção de uma imagem mais detalhada e profunda, permitindo a visualização de vasos sanguíneos mais internos, também favoreceu o diagnóstico. Essas informações podem ainda ser complementadas pela realização de uma TC ou RM. 

Uma novidade ainda mais recente no campo da TCD é a análise de dados assistida por computador. Por meio de algoritmos avançados de análise de dados ajuda na interpretação dos resultados do TCD. Isso pode incluir a identificação automática de padrões anormais no fluxo sanguíneo. 

Pensando ainda na ergonomia do paciente, sondas mais modernas foram projetadas para serem mais confortáveis, leves e mais precisos. Essas novidades tornaram o TCD uma melhor experiência do que era no passado. 

Leia também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

Quer se especializar nesta área?

Torne-se um especialista na Ultrassonografia Neurológica Point of Care em Emergência e UTI com o curso oferecido pelo Cetrus! Este programa sob medida oferece a oportunidade excepcional de dominar as técnicas avançadas de ultrassonografia neurológica, capacitando você a tomar decisões clínicas rápidas e precisas em situações críticas. 

Guiados por instrutores altamente qualificados, você irá explorar as nuances da ultrassonografia neurológica e adquirir as habilidades necessárias para atender às demandas da emergência e da terapia intensiva. 

Uma oportunidade imperdível para aprimorar suas competências e se destacar no atendimento ao paciente. Inscreva-se agora e leve sua prática médica para o próximo nível!

Referências

  1. “Transcranial Doppler Sonography” por Rüdiger R. Seitz, Mira M. Katan, e Urs Fischer.
  2. Aaslid, R., et al. (1982). “Noninvasive transcranial Doppler ultrasound recording of flow velocity in basal cerebral arteries.” Journal of Neurosurgery, 57(6), 769-774.
  3. Alexandrov, A. V., et al. (2012). “Practice standards for transcranial Doppler ultrasound: Part II—Clinical indications and expected outcomes.” Journal of Neuroimaging, 22(3), 215-224.