A biópsia guiada por ultrassonografia é um procedimento médico amplamente utilizado para a obtenção de amostras de tecido de diversas partes do corpo, com o objetivo de diagnosticar doenças e condições patológicas.
Este método tem se tornado cada vez mais popular devido à sua precisão, segurança e custo-benefício. A ultrassonografia, como uma técnica de imagem não invasiva, permite a visualização em tempo real dos tecidos e órgãos, facilitando a localização exata da área a ser biopsiada.
Princípios da ultrassonografia
A ultrassonografia usa ondas sonoras de alta frequência para criar imagens dos órgãos internos e tecidos. O transdutor emite essas ondas sonoras, que refletem de volta ao encontrar diferentes estruturas no corpo e são captadas pelo mesmo transdutor.
O sistema converte essas reflexões em imagens visualizadas em um monitor. A capacidade de diferenciar entre tipos de tecido depende da densidade e composição das estruturas, permitindo uma visualização clara e detalhada.
Indicações para biópsia guiada por ultrassonografia
Indica-se a biópsia guiada por ultrassonografia em várias situações clínicas, incluindo:
- Diagnóstico de neoplasias: Identificação de tumores malignos ou benignos em órgãos como fígado, rins, pâncreas e mama.
- Avaliação de doenças hepáticas: Determinação de doenças hepáticas como hepatite, cirrose e esteatose hepática.
- Investigação de linfadenopatia: Avaliação de linfonodos aumentados para detectar doenças infecciosas, inflamatórias ou neoplásicas.
- Exame de lesões musculoesqueléticas: Diagnóstico de lesões em músculos, tendões e articulações.
Técnicas de biópsia guiada por ultrassonografia
Realiza-se a biópsia percutânea de duas formas: ou utilizando agulha fina ou utilizando agulha grossa. O primeiro seria a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) onde são aspiradas células e o material é enviado para estudo citopatológico. Já na punção por agulha grossa (PAG), obtem-se os fragmentos de tecidos maiores enviados para histopatologia.
A PAG constuma a ser um procedimento mais invasivo, de alto custo e mais desconfortável ao paciente, pois requer anestesia local. Além disso, está mais sujeita a complicações como hematomas, infecções, perfuração torácica e reflexo vagal. Porém, é um procedimento de baixa complexidade realizado à nível ambulatorial.
Já o PAAF, costuma a ser o método mais utilizado uma vez que possui baixo custo, mais fácil execução, baixa complexidade, pouco doloroso já que não precisa realizar anestesia, realizado à nível ambulatorial.
Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF)
A biópsia por PAAF é uma técnica minimamente invasiva que utiliza uma agulha fina (calibre entre 22 e 27 gauge) para aspirar células de uma lesão. Este método é particularmente útil para lesões superficiais e órgãos como a tireoide e linfonodos superficiais.
O médico identifica e marca a área a ser biopsiada com a orientação ultrassonográfica. Após aplicar anestesia local, insere uma agulha fina através da pele e a guia até a lesão. Movimentos de sucção aspiram células, que são depositadas em lâminas para análise citológica..
Punção por Agulha Grossa (PAG)
A PAG utiliza uma agulha mais grossa (calibre entre 14 e 18 gauge) para retirar um cilindro de tecido, fornecendo uma amostra maior e mais representativa para análise histológica.
Assim como na PAAF, o médico visualiza e marca a área de interesse com o auxílio da ultrassonografia. Após aplicar anestesia local, insere uma agulha grossa na lesão com orientação contínua do ultrassom. A agulha possui um mecanismo de corte que permite a retirada de um fragmento de tecido, o qual é então enviado para exame patológico.
Saiba mais: Técnicas de punção aspirativa guiada por ultrassom: o que saber para prática?
Preparação e procedimento para a realização da biópsia
Antes de realizar uma biópsia guiada por ultrassonografia, é essencial realizar uma preparação adequada para garantir a segurança e eficácia do procedimento.
Inicialmente o médico deve realizar uma revisão do histórico do paciente, incluindo uso de anticoagulantes e presença de coagulopatias. Deve ainda se munir de informações, como exames de imagens anteriores e de laboratórios, como parâmetros de coagulação – tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa).
Técnica
O paciente é posicionado de maneira a proporcionar acesso ideal à área a ser biopsiada, garantindo conforto e imobilidade. A pele é desinfetada para reduzir o risco de infecção.
A depender da técnica escolhida, região de biópsia, a aplicação de anestesia local para minimizar o desconforto do paciente pode ser uma opção.
Sob orientação ultrassonográfica, a agulha é introduzida cuidadosamente até alcançar a lesão alvo. Amostra de tecido é coletada utilizando a técnica apropriada e enviada para análise patológica.
Tipos de biópsias guiada por ultrassonografia
Utilizamos as biópsias guiadas por ultrassonografia nos mais diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Abaixo, escolhemos os cinco principais tipos. Confira:
Biópsia da mama
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo, representando uma significativa carga de doenças. A detecção precoce e os avanços no tratamento têm melhorado consideravelmente as taxas de sobrevivência, mas o câncer de mama ainda é uma das principais causas de morte por câncer entre as mulheres.
Realiza-se a biopsia mama para avaliar anomalias detectadas durante o exame físico, mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética. As principais indicações incluem:
- Nódulos ou massas
- Microcalcificações
- Alterações na estrutura do tecido
- Secreção mamilar
- Espessamento da pele ou do tecido
De forma geral, a PAAF é a técnica mais utilizada por ser a mais amplamente disponível. Considera-a um método básico no diagnóstico das lesões palpáveis da mama, apresentando uma sensibilidade de 53 a 99% e uma especificidade de 96 a 100%. No caso de lesões não palpáveis, ainda há limitação nos resultados.
A PAG é escolhida em algumas circunstância. Com esta técnica é possível coletar maior quantidade de material disponível para exame histopatológico e assim, ajudar a determinar o caráter invasor da lesão, a dosagem de receptores hotmail e o fonrcimento rápido do diagnóstico histopatológico. Ou seja, possui uma acurácia maior.
Técnica
Realiza-se a assepcia do local antes do procedimento. Posteriormente, demarca-se a região para realizar o procedimento com o auxílio do ultrassom. A depender da técnica escolhida, deve-se fazer analgesia antes de realizar a punção.
Com a lâmina de bisturi, faz-se uma incisão de 2–3 mm na pele anestesiada. Deixa-se gases em sua proximidade, para facilitar a compressão da mama e limpeza do sangue. Pelo local da incisão, a agulha de biópsia é avançada ao encontro da margem da lesão, seguindo-se o trajeto já realizado na anestesia. Nesse momento posiciona-se a agulha paralelamente ao nódulo, avisa-se à paciente que irá se obter a amostra e realiza-se o disparo.
Fonte: Rocha et al, 2013.
Leia mais: Linfonodos intramamários: como reconhecer pela ultrassonografia
Biópsia da tireóide guiada por ultrassonografia
A biópsia da tireóide guiada por ultrassonografia é um procedimento minimamente invasivo utilizado para avaliar nódulos ou outras anormalidades na tireoide, como:
- Avaliação de nódulos tiroideanos
- Crescimento rápido de nódulos
- Nódulos sólidos ou císticos: Nódulos com componentes sólidos, hipoecogênicos, microcalcificações, bordas irregulares ou fluxo sanguíneo interno.
A ultrassonografia é uma ferramenta essencial nesse processo, pois permite a visualização em tempo real da glândula tireoide e ajuda a guiar a inserção da agulha com precisão, aumentando a eficácia e a segurança do procedimento.
A técnica utilizada é a biópsia por PAAF.
Leia mais: Como Laudar um Nódulo Tireoidiano Pelo ACR TI-RADS
Biópsia hepática
Utiliza-se a biópsia hepática para obter uma amostra de tecido do fígado. Esta é examinada microscópicamente para ajudar no diagnóstico de várias doenças hepáticas.
Considera-se este procedimento o um dos métodos mais precisos para avaliar a condição do fígado, fornecendo informações cruciais sobre a presença de inflamação, fibrose, cirrose e outras patologias.
A possibilidade de se realizar a biópsia percutânea hepática guiada por ultrassonografia reduziu a necessidade de se fazer cirurgias abertas, muito mais invasivas para o paciente.
Técnica
Coloca o paciente em decúbito dorsal. Após a desinfecção e anestesia local, insere uma agulha de biópsia no espaço intercostal direito guiada por ultrassonografia.
Leia mais: Nódulos de Hepatocarcinoma: tratamento indicado por ultrassom
Biópsia do trato gastrointestinal guiado por ultrassonografia endoscópica
A biópsia do trato gastrointestinal guiada por ultrassonografia endoscópica (USE) é uma técnica avançada que combina a endoscopia convencional com ultrassonografia para obter imagens detalhadas da parede gastrointestinal e das estruturas adjacentes.
Este procedimento é particularmente útil para a avaliação de lesões subepiteliais, linfonodos, e massas pancreáticas, proporcionando uma abordagem minimamente invasiva para o diagnóstico e estadiamento de várias condições gastrointestinais.
Técnica
Neste caso, o exame é um pouco mais complexo e necessita que o paciente esteja em jejum por pelo menos seis horas antes do procedimento. Geralmente, administra-se sedação consciente ou anestesia geral, dependendo da complexidade do procedimento.
Insere-se um endoscópio flexível equipado com uma sonda de ultrassonografia pela boca ou pelo ânus, dependendo da área examinada. A ultrassonografia endoscópica permite a visualização detalhada das camadas da parede gastrointestinal e das estruturas adjacentes.
Utiliza-se uma agulha fina (geralmente 19-25 gauge). Coleta a amostra de tecido sob orientação ultrassonográfica. Aspira-se amostras de tecido e preparada-as para análise patológica.
Biópsia transperineal
Este é um procedimento utilizado para diagnosticar câncer de próstata. Esta técnica envolve a obtenção de amostras de tecido prostático através do períneo (a área entre o escroto e o ânus) utilizando orientação por ultrassonografia, proporcionando uma abordagem precisa e minimamente invasiva.
Antes da realização do procedimento realiza-se a administração de antibióticos para prevenir infecções. Administra-se anestesia local ou sedação leve para minimizar o desconforto.
Coloca o paciente em posição litotômica (deitado de costas com as pernas elevadas). Desinfecta a área perineal cuidadosamente. Um transdutor de ultrassom é inserido no reto para obter imagens em tempo real da próstata.
Introduz agulhas de biópsia através do períneo, guiadas por ultrassonografia, para coletar amostras de diferentes zonas da próstata. Tipicamente, várias amostras são coletadas de diferentes áreas para garantir uma avaliação abrangente.
Vantagens da biópsia guiada por ultrassonografia
A biópsia guiada por ultrassonografia apresenta várias vantagens em comparação com outras técnicas de biópsia:
- Orientação em tempo real: Permite a visualização em tempo real da agulha e da lesão, aumentando a precisão na coleta da amostra.
- Menor invasividade: Reduz o risco de complicações em comparação com técnicas mais invasivas.
- Custo-benefício: Geralmente mais econômica do que métodos que utilizam tomografia computadorizada ou ressonância magnética para orientação.
- Conveniência: Realizada no consultório ou em um centro de imagem ambulatorial, sem necessidade de internação hospitalar.
Complicações e manejo
Embora a biópsia guiada por ultrassonografia seja geralmente segura, algumas complicações podem ocorrer:
- Sangramento: Pequenos sangramentos são comuns, mas hemorragias significativas são raras. A compressão local e a monitorização são geralmente suficientes.
- Infecção: Infecções são raras devido à técnica estéril. Mas podem ocorrer e necessitar de tratamento antibiótico.
- Dor: O desconforto é geralmente leve. Obtem controle com analgésicos.
- Pneumotórax: Pode ocorrer em biópsias de lesões pulmonares, exigindo monitorização e, em casos severos, drenagem torácica.
Análise patológica
Envia a amostra coletada durante a biópsia para um laboratório de patologia, onde é processada e examinada por um patologista.
No caso da PAAF, espalham as células em lâminas e coradas para análise citológica. Na PAG, fixa o fragmento de tecido, embebido em parafina, cortado em secções finas e corado para análise histológica. O relatório patológico fornece informações cruciais para o diagnóstico e o planejamento do tratamento.
Pós-Graduação Biópsias Guiadas por Ultrassonografia
Os procedimentos minimamente invasivos estão se tornando cada vez mais populares na medicina por seus inúmeros benefícios. Quando combinados com o ultrassom, permitem que os médicos ampliem suas opções de atendimento e aumentem o valor de seu trabalho.
A nova Pós-Graduação em Biópsias Guiadas por Ultrassonografia do Cetrus busca oferecer um conhecimento teórico-prático abrangente das principais técnicas de biópsia.
Referências
- BRAVO, A.; SHETH, S.G.; CHOPRA, S. Approach to liver biopsy. Uptodate, 2024.
- FRANKEL, P.P. Punção aspirativa por agulha fina e punção por agulha grossa: correlação dos resultados cito-histopatológicos/ Patrícia Pontes Frankel . – 2008. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher ) – Instituto Fernandes Figueira , Rio de Janeiro, RJ, 2008.
- ROCHA, D.R. et al. Passo-a-passo da core biópsia de mama guiada por ultrassonografia: revisão e técnica. Radiol Bras. 2013 Jul/Ago;46(4):234–241
- RICCI, M.D., et al. Biópsia com agulha grossa guiada por ultrassonografia para o diagnóstico dos tumores fibroepiteliais da mama. Rev Bras Ginecol Obstet. 2011; 33(1):27-30.
- SIPOS, J.A. Overview of the clinical utility of ultrasonography in thyroid disease. Uptodate, 2024
- QIERSEMA, M.J. Endoscopic ultrasound-guided fine needle biopsy in the gastrointestinal tract. Uptodate, 2024.






