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Como diagnosticar e manejar casos de Cistos Funcionais do Ovário

Tudo que você precisa saber sobre os cistos funcionais do ovário, desde os seus principais tipos até a forma correta de manejar. Acesse e confira agora!

Os cistos funcionais do ovário são achados comuns na prática ginecológica.Trata-se de formações císticas benignas que se desenvolvem no interior do ovário. Esses cistos podem ser classificados em cistos foliculares e cistos lúteos, dependendo da fase do ciclo menstrual em que se desenvolvem.

Neste texto, iremos abordar os aspectos relevantes relacionados ao diagnóstico e manejo dessas condições. 

Cistos funcionais: um tipo de massa anexial

Os ovários, juntamente com as tubas uterinas, ocupam o que chamamos de região anexial. Nesta área é comum encontrarmos massas sólidas e/ou císticas nos exames de ultrassonografia pélvica, que recebem o nome de massa ou alteração anexial.  

Dentre as massas anexiais, as massas ovarianas são as mais comuns, segundo o Grupo Internacional de Análise dos Tumores Anexiais (IOTA). 8 a 35% são encontradas em pacientes na pré-menopausa e 3 a 17% nas pacientes já na pós-menopausa. 

A maioria dessas massas ovarianas são cistos ovarianos fisiológicos, que chamamos de cistos funcionais do ovário. Apesar desse dado, é importante um diagnóstico precoce a fim de excluir neoplasias malignas e outras complicações ginecológicas. 

Cistos funcionais do ovário

O cisto funcional é uma consequência do desvio no desenvolvimento normal dos folículos ovarianos ou corpos lúteos. Assim, eles podem ser classificados nessas duas formas: cistos foliculares e cistos lúteos. 

Cistos foliculares 

Cistos foliculares são formações císticas benignas que se desenvolvem no interior dos ovários como resultado do processo normal de desenvolvimento dos folículos ovarianos. Durante o ciclo menstrual, os folículos se desenvolvem no ovário, e um deles se torna dominante para se preparar para a ovulação. No entanto, em alguns casos, esse folículo dominante não libera o óvulo (ovulação) e continua a crescer, resultando na formação do cisto folicular.

Esses cistos são preenchidos com líquido folicular, que é o conteúdo natural presente no interior dos folículos em desenvolvimento. Normalmente, os cistos foliculares são pequenos e se resolvem espontaneamente ao longo do ciclo menstrual subsequente. Eles são considerados funcionais e não estão associados a processos patológicos.

Os cistos foliculares são uma ocorrência comum e geralmente são assintomáticos, não causando desconforto ou dor. Eles são identificados por meio de exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal, que permite visualizar a morfologia e as características dessas formações císticas no ovário.

As principais características ultrassonográficas incluem imagem de paredes regulares, conteúdo anecóico, sem septos ou vegetações. Esses cistos apresentam-se com mais de 3 cm de diâmetro interno médio. 

Na prática diária, os cistos foliculares possuem, em média, entre 3 e 6 cm, e desaparecem espontaneamente em até três meses. 

Imagem de cistos ovarianos funcionais (benignos de origem folicular ou lútea). A. Cisto unilocular sem componente sólido. B. Aspecto hemorrágico típico, com coágulo recente. C. Aspecto hemorrágico em fase inicial de contração do coágulo. Fonte: Tratado de Ginecologia Febrasgo, 2019

Cistos lúteos

Cistos lúteos são formações císticas benignas que podem se desenvolver no ovário durante o processo normal do ciclo menstrual. Esses cistos surgem após a ovulação, quando o folículo dominante libera o óvulo e passa por uma transformação estrutural para se tornar o corpo lúteo, ultrapassando 3 cm de diâmetro. 

O corpo lúteo é uma estrutura temporária que se forma a partir das células foliculares após a liberação do óvulo. Ele tem a função de produzir hormônios, como o progesterona, para preparar o útero para uma possível gravidez. No entanto, em algumas situações, o corpo lúteo pode persistir e se transformar em um cisto lúteo.

Esses cistos são preenchidos com líquido e podem variar em tamanho. Se este conteúdo for sangue, passa a se chamar de corpo lúteo hemorrágico

Cisto Ovariano Hemorrágico. Fonte: PATEL, 2023. UpToDate

Nesses casos, um sintoma típico descrito por mulheres é a dor de início súbito no dia correspondente à ovulação, também chamada de “dor do meio”. 

Assim como os cistos foliculares, os cistos lúteos são considerados funcionais e geralmente são benignos, não indicando a presença de doenças graves. Eles são comuns em mulheres em idade fértil e normalmente não causam sintomas.

Os cistos lúteos são geralmente transitórios e tendem a desaparecer espontaneamente ao longo do ciclo menstrual ou em alguns meses. Assim como os cistos foliculares, seu diagnóstico é realizado por meio de exames de imagem, como a ultrassonografia transvaginal

Diagnóstico

O paciente pode chegar ao consultório com queixa de dor ou pressão pélvica, algum desconforto gastrointestinal, micção difícil ou frequente, dismenorreia. Mas, na grande maioria dos casos, a mulher é assintomática e este será um achado acidental durante o exame de ultrassonografia pélvica ginecológica. 

Ao encontrar massa, deve-se iniciar a avaliação diagnóstica a fim de excluir patologias. Para isso, deve-se iniciar com anamnese e exame físico incluindo o pélvico, seguindo para uma imagem pélvica, que geralmente é a ultrassonografia transvaginal. 

Anamnese, exame clínico e laboratorial

Caso a paciente seja sintomática, deve-se caracterizar as queixas. Posteriormente deve-se questionar sobre a data da última menstruação, como é o ciclo menstrual (fluxo, presença de dismenorréia, etc) e a história sexual. A idade da paciente é de grande importancia para a suspeita de malignidade também. 

Questiona-se ainda sobre a presença de outros sintomas gerais como febre e perda de peso. História familiar de câncer de ovário e/ou outros problemas ginecológicos devem ser abordados. 

No exame físico, deve-se realizar o exame pélvico. É importante palpar a massa e avaliar os seus aspectos:

  • Tamanho
  • Consistência
  • Mobilidade. 

Exame laboratorial é importante solicitar um teste de gravidez para excluir um dos possíveis diagnósticos diferenciais. Deve-se ainda solicitar um hemograma completo para avaliar a série vermelha e branca. 

Exame de imagem

Apesar da suspeita com a anamnese e exame físico, a confirmação se dará pelos exames de imagem pélvica. 

O exame de escolha geralmente é a ultrassonografia transvaginal. Entretanto, existem massas com características indeterminadas na ultrassonografia que necessitam realizar a ressonância magnética para melhor visualização da região anexial. 

Classificação por ultrassom

A classificação de IOTA (Internacional de Análise dos Tumores Anexiais) é um sistema utilizado para a avaliação ultrassonográfica de tumores ovarianos. Esse sistema foi desenvolvido por um grupo de especialistas internacionais e tem como objetivo padronizar a descrição e a interpretação dos achados ultrassonográficos dessas lesões, visando melhorar a acurácia diagnóstica e auxiliar na decisão clínica.

A classificação IOTA divide os tumores ovarianos em quatro grupos principais com base nas características ultrassonográficas observadas:

  • Tumor benigno definitivo (B): Apresenta características típicas de tumores benignos, como conteúdo anecóico, paredes finas, presença de folículos ou corpos lúteos.
  • Tumor maligno definitivo (M): Exibe características ultrassonográficas típicas de tumores malignos, como septações espessas, projeções sólidas, padrão de fluxo sanguíneo vascularizado, entre outros.
  • O Tumor provavelmente benigno (PB): Possui algumas características ultrassonográficas sugestivas de tumor benigno, mas também apresenta achados que podem ser encontrados em tumores malignos, gerando incerteza diagnóstica.
  • Tumor inclassificável (U): Apresenta características ultrassonográficas atípicas que não se enquadram claramente em nenhuma das categorias anteriores, dificultando uma conclusão diagnóstica precisa.

Descritores ultrassonográficos

Segundo o IOTA, devem ser avaliados os seguintes aspectos dos tumores anexiais:

  • Paredes
  • Conteúdo
  • Presença de septos
  • Presença de projeções sólidas
  • Vascularização

Critérios de malignidade

Os critérios de malignidade observado são:

  • Tumor sólido irregular 
  • Presença de ascite 
  • Pelo menos quatro estruturas papilares 
  • Tumor multilocular com componente sólido e diâmetro maior ou igual a 100 mm 
  • Vascularização intensa

Critério de benignidade 

As características das massas benignas são:

  • Unilocular
  • Presença de componente sólido menor que 7 mm 
  • Presença de sombra acústica posterior 
  • Tumor multilocular regular com diâmetro menor que 100 mm 
  • Ausência de fluxo ao Doppler

 Avaliação do tumor

  • Se o tumor apresentar pelo menos uma característica M (malignidade) e nenhuma característica B (benignidade), o tumor é provavelmente maligno; 
  • Se o tumor apresentar uma ou mais características B e nenhuma características M, o tumor é provavelmente benigno; 
  • Já, se o tumor apresentar características B e M ou se nenhuma característica B ou M está presente, o resultado será inconclusivo.

Diagnóstico diferencial de cistos funcionais do ovário

Abaixo temos alguns diagnósticos diferenciais de cistos funcionais do ovário: 

  • Tumores de células germinativas
  • Tumores epiteliais
  • Cistos paratubais
  • Tumores estromais de cordão sexual
  • Endometrioma
  • Gravidez ectópica
  • Abscesso tubo-ovariano
  • Hidrossalpinge e piosalpinge 

Se capacite em massas anexiais e IOTA

A visualização de estruturas anexiais é muito comum ao longo da vida reprodutiva das mulheres, e na maioria das situações, essas estruturas são associadas a cistos funcionais e doenças benignas. No entanto, é de extrema importância realizar um diagnóstico precoce do câncer de ovário, de modo a encaminhar a paciente para centros especializados e, assim, melhorar as chances de sobrevida.

Para dominar o diagnóstico e identificação das massas anexiais e a IOTA, conheça o curso EaD do Cetrus sobre o tema. Com ele o médico estará apto para colocar na prática clínica diária a sistemática completa do grupo IOTA sobre as imagens anexiais, incluindo descrição, classificação, avaliação do risco de malignidade. Além disso, saberá reconhecer os principais diagnósticos diferenciais.

Referências 

  1. FEBRASGO. Tratado de ginecologia. Editores: César Eduardo Fernandes, MArcos Felipe Silva de Sá; Coordenação: Agnaldo Lopes da Silva Filho…[et al.]. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. 
  2. HOCHBERG, L.; HOFFMAN, M. S. Adnexal mass: Differential diagnosis. UpToDate, 2023
  3. LAUFER, M. R. Adnexal masses: Evaluation in infants, children, and adolescents. UpToDate, 2023. 
  4. MUTO, M. G. Approach to the patient with an adnexal mass. UpToDate, 2023. 
  5. PATEL, M. D. Adnexal mass: Ultrasound categorization. UpToDate, 2023

Veja também a aula sobre o assunto

Nesta aula, ministrada pelo Dr. Fernando Guastella com a participação da Dra. Winnie Bastos, você fará uma excelente revisão sobre os cistos funcionais do ovário, além de alguns outros conceitos fundamentais da fisiologia ovariana e a sua correlação ultrassonográfica, tudo isso de maneira bastante prática e objetiva.  

Conheça os professores que estão no vídeo acima:

Dr. Fernando Guastella | Cetrus

Dr. Fernando Guastella

Médico Ginecologista voltado para o diagnóstico e tratamento da Endometriose;
Título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela FEBRASGO;
Título de Especialista na área de Ultrassonografia Geral e Ultrassonografia Ginecologia e Obstetrícia pelo CBR.
Confira curriculum completo

Dra. Winnie Nunes

Médica com Residência em Ginecologia Obstetrícia;
Título de Especialista em Ultrassonografia Geral pelo Colégio Brasileiro de Radiologia- CBR.
Confira curriculum completo

12 Replies to “Cistos Funcionais do Ovário”

  1. Cetrus sempre oferecendo cursos que nos estimulam nosso desejo de aprender. Muito bom.
    Obrigada,
    Farei o curso online!

  2. Em tempo: As colocações da Dra. Winne foram extremamente pertinentes. Parabéns pela participação dela na aula também.

  3. Ótimo aplicação de grande relevância para aprendizado

  4. Muito proveitosa essa aula. Confirme o link para o curso on line, por favor.

    1. .Aula muito boa , na verdade excelente. Muito didática ,

  5. Ótima aula ministrada pelo Prof. Fernando, como não poderia deixar de ser. Já fiz o curso on line das massa anexais. Excelente. Realmente depois do curso a padronização dos laudos usando dos descritores do IOTA e o cálculo da malignidade, são diferenciais para qualquer ultrassonografista que realiza exames transvaginais

  6. Obrigada .
    Excelente aula.Poderia disponibilizar a referência bibliográfica com a classificação IOTA ?
    Obrigada

    1. Poderia disponibilizar a referência bibliográfica com a classificação IOTA?
      Abraços

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