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Patologias do estômago: principais tipos e como fazer o diagnóstico  

Conheça as principais patologias do estômago, suas manifestações clínicas, etiologias e saiba como fazer o diagnóstico.

O estômago, um órgão fundamental do sistema digestivo, desempenha um papel essencial na digestão e absorção dos alimentos. No entanto, é também suscetível a uma variedade de patologias que podem comprometer sua função e gerar impacto significativo na saúde do indivíduo. 

Compreender as principais patologias do estômago, suas etiologias, manifestações clínicas e métodos diagnósticos é crucial para o manejo eficaz dessas condições. Neste contexto, este artigo busca oferecer uma visão abrangente das patologias do estômago mais comuns, destacando os métodos utilizados para diagnosticá-las, a fim de orientar os profissionais de saúde na identificação precoce e no tratamento adequado dessas enfermidades. Continue a leitura e fique por dentro do assunto. 

Anatomia do estômago 

O estômago está localizado no abdômen superior, entre o esôfago e o intestino delgado. Sua forma varia de acordo com o estado de distensão, mas geralmente é descrito como tendo uma forma de “J” ou “C”, com uma extremidade mais larga chamada de fundo gástrico e uma extremidade mais estreita denominada piloro.

Regiões

Anatomicamente, o estômago é dividido em cinco regiões principais:

  • Cárdia: A porção mais superior do estômago, próxima ao esfíncter esofágico inferior.
  • Fundo: A parte superior e arredondada do estômago, acima do corpo gástrico.
  • Corpo: A maior porção do estômago, localizada entre o fundo e o antro.
  • Antro: A parte inferior do estômago, próxima ao piloro.
  • Piloro: A porção mais distal do estômago, que se conecta ao intestino delgado.

Tecidos e camadas

A parede do estômago é composta por várias camadas de tecido, incluindo:

  • Mucosa: A camada mais interna, que contém células secretoras de muco, células parietais e células principais responsáveis pela produção de ácido clorídrico e pepsina.
  • Submucosa: Uma camada de tecido conjuntivo que contém vasos sanguíneos, linfáticos e nervos.
  • Muscular: Composta por três camadas de músculo liso que permitem contrações coordenadas para a mistura e propulsão do alimento.
  • Serosa: A camada externa, composta por tecido conjuntivo e revestida por uma membrana serosa que ajuda a proteger e lubrificar o estômago.

Imagem I: Porções e mucosas do estômago. Fonte: Netter

Vascularização e inervação

O estômago é ricamente vascularizado por ramos da artéria gástrica esquerda e direita, bem como pela artéria gastroepiplóica. A inervação é fornecida pelo plexo nervoso entérico, composto por fibras simpáticas e parassimpáticas que controlam a motilidade e a secreção gástrica.

Fisiologia gástrica 

As funções primárias do estômago incluem a armazenagem temporária e a digestão dos alimentos. Ele é responsável pela secreção de ácido clorídrico (HCl), essencial para a ativação da pepsina, uma enzima digestiva que quebra as proteínas alimentares em peptídeos menores. Além disso, o estômago secreta pepsinogênio, precursor inativo da pepsina, e mucina, que protege a mucosa gástrica contra os efeitos corrosivos do ácido.

A motilidade do estômago é coordenada por uma série de contrações musculares que misturam e trituram os alimentos, formando o quimo, uma mistura semilíquida. Essas contrações são reguladas pelo sistema nervoso entérico e por hormônios gastrointestinais, como a motilina e a gastrina. O esfíncter esofágico inferior controla o esvaziamento gástrico, permitindo que o quimo passe para o duodeno em um ritmo controlado.

Absorção e regulação da função gástrica

Embora a absorção de nutrientes primários ocorra principalmente no intestino delgado, o estômago desempenha um papel na absorção de certos compostos, como álcool e medicamentos. Além disso, a vitamina B12 é absorvida no estômago, onde se liga ao fator intrínseco secretado pelas células parietais, facilitando sua absorção no intestino delgado.

A função gástrica é regulada por uma complexa interação entre o sistema nervoso autônomo, incluindo o sistema nervoso simpático e parassimpático, e uma variedade de hormônios gastrointestinais. A colecistoquinina, secretada em resposta à presença de alimentos no duodeno, inibe a secreção gástrica, enquanto a gastrina estimula a secreção ácida e a motilidade gástrica.

Além disso, a mucosa gástrica é protegida por uma barreira física de muco, bicarbonato e prostaglandinas, que previne danos à mucosa causados pelo ácido clorídrico e pepsina. Disfunções nessa barreira podem levar ao desenvolvimento de úlceras gástricas e outras patologias.

Principais patologias do estômago 

As principais patologias encontradas no estômago e que tem uma grande incidência na população são: 

  • Doença ulcerosa péptica
  • Gastrite
  • Câncer gástrico

Entretanto, ainda temos o linfoma gástrico e o tumor estromal gastrointestinal (GIST), mas são menos frequentes na população em geral. 

Abaixo abordaremos mais sobre cada um dos principais tipos, suas manifestações clínicas, etiologia e diagnóstico. 

Patologias do estômago: Doença ulcerosa péptica

A Doença Ulcerosa Péptica (DUP) é uma condição crônica que afeta a mucosa do trato gastrointestinal superior, caracterizada pela formação de úlceras pépticas no estômago e/ou no duodeno.  Ela é uma das principais patologias do estômago em relação à prevalência clínica. 

Etiologia e fatores de risco

A DUP tem múltiplas etiologias, estando  maioria delas relacionadas a fatores de risco,  sendo os dois principais infecção por H. pylori e ao uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). 

Outros fatores de risco que estão relacionados com o desenvolvimento desta patologias do estômago, são:

  • Consumo de  álcool 
  • Fatores genéticos 
  • Dieta 
  • Fatores emocionais e psicológicos, principalmente o estresse psicossocial 
  • Tabagismo 

Epidemiologia 

A incidência da úlcera péptica é mais prevalente em adultos mais velhos, devido ao aumento do  consumo de aspirina e AINEs. 

Ela é uma patologia gástrica que tem prevalência igual entre homens e mulheres. 

Fisiopatologia 

A fisiopatologia da DUP envolve um desequilíbrio entre os fatores protetores e agressores da mucosa gástrica e duodenal. Os principais fatores agressores incluem a secreção excessiva de ácido clorídrico e pepsina, além da presença da bactéria Helicobacter pylori (H. pylori), enquanto os fatores protetores envolvem o muco gástrico, bicarbonato, prostaglandinas e fluxo sanguíneo adequado para a mucosa.

No caso dos AINES, existe uma inibição da síntese de prostaglandinas que vão afetar diretamente na quantidade de ácido gástrico, fazendo com que haja prejuízo na integridade da  barreira mucosa, quantidade de bicarbonato e glutationa gerada. 

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas da DUP podem variar desde sintomas leves até complicações graves, variando entre sintomas dispépticos, gastrointestinais ou em muitos casos, assintomáticos (70% dos casos).

Os principais sintomas são:  

  • Dor abdominal superior (80% dos casos): geralmente ocorre de duas a cinco horas após a  refeição, quando o ácido é secretado na ausência de um tampão alimentar e  à  noite (entre 23h e 2h – secreção ácida máxima)
  • Dor epigástrica 
  • Arrotos pós-prandiais
  • Plenitude epigástrica
  • Saciedade  precoce
  • Intolerância a alimentos gordurosos
  • Náuseas e vômitos ocasionais 

Como sintomas  associados,  podemos ver distensão abdominal, refluxo gastroesofágico, azia e regurgitação.  

Complicações da úlcera

As principais complicações desta patologias do estômago são sangramentos, obstrução da saída gástrica e perfuração. 

Diagnóstico

O diagnóstico da DUP é baseado na combinação de história clínica (principalmente questionando sobre uso de AINEs e hábitos de vida), exame físico e testes diagnósticos. 

A endoscopia digestiva alta é o método de escolha para visualização direta das úlceras e coleta de biópsias para detecção de H. pylori. 

Imagem I: Úlcera péptica vista na endoscopia digestiva alta. Fonte:  Vakki, 2024. 

Testes não invasivos para H. pylori, como teste respiratório, teste de antígeno fecal ou sorologia, também são úteis. Outros exames incluem radiografia com contraste e pHmetria esofágica.

Manejo do quadro 

O tratamento da DUP envolve a erradicação de H. pylori, a redução dos fatores agressores (como uso de AINEs e tabagismo) e o fortalecimento dos mecanismos de defesa da mucosa. 

Isso geralmente é alcançado com uma combinação de terapia antimicrobiana, inibidores de bomba de prótons (IBPs), antiácidos e mudanças no estilo de vida. 

Em casos de complicações, como hemorragia ou perfuração, intervenções médicas ou cirúrgicas podem ser necessárias.

Patologias  do estômago:  Gastrite 

A gastrite é primariamente um processo inflamatório da mucosa gástrica. Ele é muito utilizado para descrever características endoscópicas ou radiológicas de uma mucosa gástrica com aspecto anormal.

Seu principal fator de risco e etiológico é a infecção por H.pylori, que ao infectar a mucosa gástrica desencadeia uma resposta inflamatória. 

Seu diagnóstico é feito através da endoscopia digestiva alta e biópsia. Os achados histológicos da gastrite podem variar em um amplo espectro, desde hiperplasia epitelial com inflamação mínima até extenso dano às células epiteliais com infiltração de células inflamatórias. 

Patologias do estômago: Câncer gástrico

O câncer gástrico ou câncer de estômago, é uma neoplasia maligna que se origina das células da mucosa gástrica, representando uma das principais causas de mortalidade por câncer em todo o mundo. 

O adenocarcinoma é o principal responsável pelos casos, em torno de 95%. Seu tipo histológico mais comum, na classificação microscópica de Lauren, é o tipo intestinal (de estruturas glandulares), sendo o mais comum no Brasil, mais prevalente em homens (2:1), idade média de 55 a 60 anos, de localização no estômago distal e de disseminação hematogênica. 

O outro tipo, é o difuso, chamado de células em anel de sinete. Ele é um tipo histológico pouco diferenciado, com pior prognóstico. A sua prevalência é igual entre homens e mulheres, com idade mais jovem (em torno de 40 anos), de localização no estômago proximal. Sua disseminação é por contiguidade e linfática e tem relação com o grupo sanguíneo do tipo A. 

Epidemiologia 

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de estômago ocupa a quinta posição entre os tipos de câncer mais frequentes, sem considerar os tumores de pele não melanoma. 

Em relação à taxa de incidência, elas são mais elevadas na região Sul do país e tem prevalência igual entre os sexos. 

Etiologia e fatores de risco

A etiologia está diretamente relacionada com os fatores de risco nesta patologias do estômago. Os principais deles são:

  • Dieta rica em defumados e condimentos, com pouco consumo de frutas e verduras
  • Infecção pelo H.pylori causando a gastrite atrófica 
  • Anemia perniciosa causando a gastrite crônica autoimune
  • Histórico familiar
  • Tabagismo
  • Gastrectomia
  • Sangue do tipo A
  • Pólipos adenomatosos. 

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas desta patologias do estômago gástrico podem variar de acordo com o estágio da doença e sua localização no estômago. Os sintomas comuns incluem dor abdominal persistente, desconforto epigástrico, perda de peso inexplicada, anorexia, disfagia, náuseas, vômitos, fadiga e hematêmese. Em estágios avançados, podem ocorrer sintomas de obstrução gástrica, como distensão abdominal e vômitos persistentes. 

Diagnóstico

O diagnóstico do câncer gástrico é baseado em uma combinação de história clínica, exame físico e testes diagnósticos. A endoscopia digestiva alta é o método de escolha para visualização direta das lesões gástricas e a coleta de biópsias para análise histopatológica. 

Outros exames incluem exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ultrassonografia, e testes para avaliar a presença de H. pylori.

Pós-Graduação em EDA: instrumento para o diagnóstico das patologias do estômago

A endoscopia digestiva alta é um dos principais exames para as patologias do estômago. Dominar a sua técnica é fundamental para um bom diagnóstico e até mesmo, tratamento em alguns casos.

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Referências

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  2. CHAN, A.O.O.; WONG, B. Epidemiology of gastric cancer. Uptodate, 2024
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