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Implante subcutâneo: principais orientações para inserção e acompanhamento da paciente

Tudo que você precisa saber sobre implante subcutâneo, ultimamente bastante usado com finalidades contraceptivas e de reposição hormonal. 

Os avanços na medicina e na tecnologia médica têm proporcionado uma gama de opções terapêuticas para o tratamento e prevenção de diversas condições clínicas. O implante subcutâneo é uma dessas opções, oferecendo benefícios significativos em termos de administração contínua de substâncias. 

O implante subcutâneo refere-se à inserção de dispositivos ou sistemas que liberam medicamentos de forma contínua ou programada na camada subcutânea do paciente. Essa abordagem tem se destacado como uma opção viável dos hormônios sexuais, tanto com a finalidade contraceptiva, como de reposição hormonal. 

Implante subcutâneo hormonal

Os implantes subcutâneos são dispositivos flexíveis, geralmente contendo progestágenos sintéticos, inseridos sob a pele. Proporcionam uma liberação contínua de hormônios, conferindo eficácia contraceptiva por vários anos. Além da contracepção, implantes subcutâneos também são utilizados para a reposição hormonal em mulheres na pós-menopausa e, recentemente, tem sido utilizado para jovens a fim de melhorar a sua performace e saúde sexual. 

A seleção cuidadosa das pacientes, a técnica de inserção apropriada e um acompanhamento regular são fundamentais para garantir a segurança e eficácia desses dispositivos. Ao integrar essas orientações na prática clínica, os médicos podem contribuir significativamente para a saúde e bem-estar das pacientes que optam por essa modalidade de tratamento hormonal. 

Implante subcutâneo com finalidade contraceptiva

Os implantes colocados na parte subcutânea e subdérmica no corpo da mulher com a finalidade contraceptiva, é considerado um método anticoncepcional de longa duração (LARCs)

Os LARCs representam uma categoria significativa e inovadora de opções contraceptivas. Esses métodos oferecem eficácia prolongada, praticidade e reversibilidade, tornando-os escolhas atrativas para mulheres que buscam uma contracepção eficaz e de baixa manutenção. 

Este implante, que pode permanecer no corpo da mulher por um período de até três anos, possui uma eficácia muito grande se comparado com os métodos de curta duração. O implante contraceptivo etonogestrel (Implanon), disponível no Brasil, tem uma taxa de falha de 0,05%. 

Vantagens 

Os LARCs são notáveis por sua eficácia contraceptiva, com taxas de falha muito baixas. Isso é especialmente relevante para mulheres que buscam uma solução de longo prazo e confiável. 

A longa duração desses métodos elimina a necessidade de intervenções frequentes, o que pode aumentar a adesão e reduzir o risco de falha devido a esquecimentos ou atrasos na administração.

Um dos pontos fortes é a reversibilidade. Após a remoção do dispositivo ou interrupção da administração, a capacidade de conceber é geralmente restaurada rapidamente, permitindo flexibilidade no planejamento familiar. Além disso, não requerem cirurgias.

Além disso, algo bastante positivo é que com o uso desse método, as taxas de gravidez são menores de 1%, evitando a tão temida gravidez indesejada. Esse foi um dos motivos que, em 2021, no Ministério da Saúde incorporou ao Sistema Único de Saúde (SUS) o implante subdérmico de etonogestrel para prevenção da gravidez indesejada para mulheres de 18 a 49 anos.  

Segundo o relatório, as mulheres aptas a receber de forma gratuita esse tipo de contraceptivo são:

  • Mulheres em situação de rua; 
  • Com HIV/AIDS em uso de dolutegravir; 
  • Em uso de talidomida;
  • Privadas de liberdade; 
  • Trabalhadoras do sexo;
  • Em tratamento de tuberculose em uso de aminoglicosídeos.

Desvantagens dos implantes contraceptivos subcutâneos

Poucas são as desvantagens. A que podemos citar incluem sangramento não programado ou irruptivo. 

Implante etonogestrel 

O implante de etonogestrel é um contraceptivo de progestágeno de haste única colocado subdérmicamente na parte interna do braço para contracepção reversível de ação prolongada em mulheres. No Brasil, ele é comercializado com o nome de Implanon. 

Como funciona o implante? 

O dispositivo é implantado diretamente abaixo da superfície da pele do braço e consiste em um pequeno cilindro de plástico semirrígido (etileno vinil acetato), medindo 4 cm de comprimento e 2 mm de diâmetro. 

Este cilindro contém 68 mg de etonogestrel, uma substância que é liberada gradualmente na corrente sanguínea em quantidades pequenas e contínuas. 

Essa liberação causa alterações no muco cervical e na motilidade que vão dificultar a migração dos espermatozóides, o que inibe a fertilização. Além disso, as progestinas inibem a secreção de gonadotrofinas, inibindo assim a maturação folicular e a ovulação. 

Quais as indicações e contraindicações do implante subcutâneo?

São indicados a todas as mulheres que desejam evitar a gravidez por períodos estendidos sem comprometer a eficácia. 

Já as contraindicações são:

  • Gravidez conhecida ou suspeita
  • História atual ou passada de trombose ou distúrbios tromboembólicos
  • Tumor hepático ou doença hepática ativa
  • Sangramento genital anormal não diagnosticado
  • Câncer de mama conhecido ou suspeito, histórico de câncer de mama ou outro câncer sensível à progestina
  • Reação alérgica a qualquer componente do método.

Efeitos colaterais possíveis do uso do implante contraceptivo 

Poucos efeitos colaterais são relatados por mulheres que fazem uso de implante subcutâneo com finalidade contraceptiva. Ainda assim, a maioria deles costuma ser local.  Alguns deles são: 

  • Eritema 
  • Hematoma
  • Dor na região do implante 
  • Inchaço
  • Alterações no padrão de sangramento 
  • Dor de cabeça
  • Ganho de peso
  • Acne
  • Sensibilidade mamária 
  • Labilidade emocional 
  • Dor abdominal. 

Principais orientações para inserção do implante subcutâneo e subdérmicos

De forma geral, não precisa de realizações prévias de exames laboratoriais para mulheres saudáveis. É preciso apenas que o médico tenha um treinamento e esteja apto a realizar a inserção e remoção do implante em pacientes. O procedimento leva em média dois minutos. 

No caso o implante de etonogestrel, os materiais necessários para a inserção são:

  • Uma agulha de calibre 25 conectada a uma seringa de 2 a 5 mL
  • Cloroprocaína ou lidocaína a 1% sem epinefrina
  • Solução anti-séptica 
  • Uma fita adesiva para fechamento do local da punção
  • Bandagem elástica de pressão 
  • Luvas cirúrgicas
  • Campo estéril
  • Aplicador do Implanon estéril e pré-carregado. 

Deve-se lembrar de aplicar a anestesia local antes de fazer a inserção do implante. 

Local de aplicação

Deve-se então posicionar o paciente, ou com braço reto com o paciente em decúbito dorsal ou de braço dobrado no cotovelo. 

Ao realizar a inserção do implante subdérmico, o operador deve estar sentado e posicionar-se lateralmente em relação ao dispositivo. Essa abordagem, especialmente eficiente para médicos sentados, minimiza o risco de inserção no sulco entre os músculos bíceps e tríceps. O local de inserção planejado deve ser de 8 a 10 cm acima do epicôndilo medial do braço não dominante, sobrepondo-se ao músculo tríceps.

Imagem I: Identificamos um local de inserção aproximadamente três dedos (6 a 8 cm) superior e lateral ao epicôndilo medial do úmero e 3 a 5 cm posterior ao sulco entre os músculos bíceps e tríceps. A região sombreada indicada pela seta representa o sulco, que deve ser evitado durante a inserção do implante. Fonte: DARNEY, 2024.

Após a inserção, é crucial verificar o posicionamento da haste palpando a pele para garantir que ambas as extremidades sejam palpáveis. O paciente também deve ser orientado a sentir o implante. Em seguida, aplica-se um fecho adesivo na punção de inserção, seguido por uma bandagem de pressão. O aplicador deve ser verificado para garantir a retirada completa do implante. Em caso de dúvida, é possível utilizar ultrassonografia ou a radiografia para confirmar a presença do implante, 

Acompanhamento da paciente após a inserção do implante

Algumas observações devem ser informadas à paciente após a inserção do implante. É importante deixar prescrito analgésicos para caso de dor e ainda sugerir uma contracepção por pelo menos 7 dias após o implante ou abstinência sexual. 

Além disso, é importante orientar a paciente a se observar e em caso de febre, dor de grande intensidade, falta de ar repentina, dormência nos braços ou pernas ou qualquer outro sintoma diferente procurar o médico que realizou o procedimento. 

Deve-se informar que a retirada do implante pode ocorrer a qualquer momento no consultório e requer apenas anestesia local. 

Implante subcutâneo para reposição hormonal na menopausa

A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é frequentemente considerada para aliviar os sintomas desconfortáveis associados à menopausa. Indica-se a TRH para mulheres saudáveis e sintomáticas, sendo especialmente benéfica quando os sintomas afetam significativamente a qualidade de vida.

As formas de se fazer a TRH é pela via oral, vaginal, transdérmica e mais recentemente, por implante subcutâneo. 

O implante, no mesmo formato e feito do mesmo material do implante contraceptivo, é constituído de hormônios em seu interior que ao ser depositado na camada de gordura abaixo da pele, começa a liberar esses hormônios através de microporos e vão agir nos seus respectivos receptores nos determinados órgãos alvos, fazendo a sua ação e levando à uma melhoria na qualidade de vida da paciente. 

Entre os hormônios disponíveis estão a gestrinona, testosterona, estradiol, nestorone e acetato de nomegestrol. 

Indicações para a reposição hormonal

  • Ondas de calor
  • Atrofia vaginal e disfunção sexual
  • Distúrbios do sono e alterações do humor
  • Prevenção da osteoporose

Considerações e riscos

É preciso individualizar caso a caso de indicações e é preciso um controle com o médico responsável pela implantação. 

Embora a TRH seja eficaz no alívio de sintomas, também está associada a alguns riscos, como aumento do risco de coágulos sanguíneos, câncer de mama e doenças cardiovasculares. Deve-se considerar cuidadosamente esses riscos durante a tomada de decisão.

Implante subcutâneo para reposição hormonal em outras situações clínicas

Após alguns estudos, a terapia de reposição hormonal com o implante subcutâneo tem sido utilizada em algumas situações como:

  • Síndrome pré-menstrual 
  • Endometriose
  • Melhoria da atividade sexual. 

Curso intensivo em Implantes Hormonais Subcutâneos: Teoria e Prática

O número de mulheres aderindo ao implantes hormonais subcutâneos aumentou muito nos últimos anos. Aprender a técnica e estar capacitado para fazer a inserção desse dispositivo é algo importante na carreira do médico ginecologista. É uma forma de ampliar o seu mercado de trabalho e ainda poder oferecer atendimento completo à sua paciente. 

Assim, o Cetrus criou o curso intensivo em Implantes Hormonais Subcutâneos: Teoria e Prática ministrado pelo Dr. Renato Zucchi, ginecologista e obstetra. Após o curso, esse médico terá aprendido: 

  • Sobre Indicações e contraindicações do implante subdérmico;
  • Revisado temas como farmacologia, fisiologia hormonal, reposição hormonal feminina e masculina;
  • A técnica de inserção e retirada dos implantes subdérmicos com qualidade e total segurança;
  • O conhecimento necessário para o uso de terapias hormonais por meio de implantes subdérmicos, absorvíveis e inabsorvíveis, em homens e mulheres;
  • As principais complicações relacionadas ao método.

Conheça mais sobre o curso abaixo: 

Referências

  1. ALMEIDA, A. et al. Implante subcutâneo como melhor método anticonceptivo: uma revisão sistemática. 
  2. ACUÑA, M.C. Implantes hormonais e terapia de reposição hormonal na menopausa: uma revisão de literatura. João Pessoa, 2021.
  3. DARNEY, P. D. Contraception: Etonogestrel implant. UpToDate, 2024.
  4. MANICA, D.; NUCCI, M. Sob a Pele: implantes subcutâneos, hormônios e gênero. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 23, n. 47, p. 93-129, jan./abr. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832017000100004 
  5. MORAES, M.S.T. et al. Efeitos adversos em usuárias de implante contraceptivo. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2015 | vol 43 | nº 1. 
  6. Ministério da Saúde incorpora no SUS implante para prevenção da gravidez por mulheres entre 18 e 49 anos — Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde – CONITEC
  7. Nahas EA, Nahas-Neto J. Terapêutica hormonal: benefícios, riscos e regimes terapêuticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Ginecologia nº 54/Comissão Nacional Especializada em Climatério).
  8. FEBRASGO. Contracepção reversível de longa duração. 3ª série de orientações e recomendações Febrasgo. Nº1 – volume 3 – Novembro 2016.