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Ablação por radiofrequência de miomas: o que preciso saber?

Saiba mais sobre a ablação por radiofrequência de miomas: sua técnica, indicações e possíveis complicações. 

A ablação por radiofrequência (RF) emergiu como uma opção promissora no tratamento de miomas uterinos, oferecendo uma alternativa minimamente invasiva à cirurgia tradicional. Muitos esforços são realizados no intuito de obter escolhas mais seguras para as mulheres que possuem o desejo de engravidar. 

Sabemos que os miomas uterinos podem representar um desafio significativo para essas mulheres, uma vez que podem afetar a fertilidade e aumentar o risco de complicações durante a gravidez. Portanto, a disponibilidade de opções terapêuticas que permitam a preservação do útero e a maximização das chances de concepção é crucial. 

Este artigo visa fornecer uma compreensão abrangente desta técnica, abordando sua aplicabilidade, indicações, técnicas, complicações potenciais e resultados clínicos.

Entendendo os miomas

Os miomas, também conhecidos como leiomiomas uterinos, são tumores benignos que se desenvolvem no útero, sendo uma das condições ginecológicas mais comuns. Eles são tumores monoclonais que surgem das células lisas musculares e dos fibroblastos do miométrio. 

Eles são responsáveis por cerca de 300 mil cirurgias anuais de histerectomia, aponta a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). O quadro atinge 50% das mulheres em idade fértil e é importante conhecer possibilidades de tratamento além da remoção do útero.

Ainda de acordo com a FEBRASGO, hoje a histerectomia é a segunda cirurgia de médio e grande porte mais realizada em mulheres no mundo todo. Dados do DataSUS mostram que a média nos últimos 10 anos (de 2011 a 2020) foram de 40 milhões de histerectomias totais em todo o Brasil apenas pelo Sistema Único de Saúde. O Ministério da Saúde estima que 300 mil delas são devido a miomas uterinos.

No entanto, há muito tempo a remoção do útero não é a única possibilidade para quem sofre com o problema. A depender das condições da paciente, podem ser realizados tratamentos como a histeroscopia, miomectomia, embolização, ablação do endométrio e, mais recentemente, a ablação por radiofrequência.

Classificação

Classificam-se de acordo com sua localização: submucosos (dentro da cavidade uterina), intramurais (dentro da parede uterina) e subserosos (fora da parede uterina, projetando-se para a cavidade abdominal). Podem variar em tamanho, desde pequenos nódulos até grandes massas, e em número, podendo ser únicos ou múltiplos.

Pela classificação da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), eles podem ser classificados do tipo 0 ao tipo 8, sendo:

  • Miomas submucosos (FIGO tipo 0, 1 e 2):
    • 0: Completamente dentro da cavidade endometrial
    • 1:Estende-se menos de 50% no miométrio
    • 2: Estende 50 por cento ou mais dentro do miométrio
  • Miomas Intramurais (FIGO tipo 3,4, e 5)
  • Subserosos (FIGO tipo 6 e 7)
  • Miomas cervicais (FIGO tipo 8): localizado no colo do útero e não no corpo do útero. 

Epidemiologia e fatores de risco dos miomas

Os miomas são uma causa comum de morbidade em mulheres em idade reprodutiva. A maioria das mulheres sintomáticas apresenta mioma na 4ª e 5ª décadas de vida. Segundo dados da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (2017) do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Leiomioma de Útero, a incidência vai variar de acordo com método diagnóstico utilizado, podendo variar de 5 a 80%. 

Para a ultrassonografia transvaginal, a prevalência entre mulheres de 25-40 anos era de 5,4%, de 25-32 anos de 3,3% e 33-40 anos de 7,8%. No caso da histeroscopia exploratória após hemorragia anormal, 6 a 34% das mulheres apresentavam mioma submucoso. 

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de miomas são:

  • Nuliparidade
  • Obesidade (maior risco)
  • Etnia – mulheres negras são mais propensas a desenvolverem
  • Genética
  • História familiar
  • Alimentação: maior consumo de carnes vermelhas e pouco consumo de vegetais
  • Menarca precoce
  • Uso de anticoncepcionais orais.

Sintomas

Eles podem causar uma variedade de sintomas, incluindo sangramento menstrual anormal, dor pélvica, pressão sobre a bexiga e intestinos, além de complicações na parte reprodutiva, como infertilidade, abordo espontâneo e complicações obstétricas.

Apesar disso, a maioria se apresenta de forma assintomática, não necessitando de intervenções. 

Diagnóstico dos miomas

O diagnóstico de miomas uterinos é baseado na história clínica, exame físico e exames complementares de imagem, que são fundamentais para o diagnóstico definitivo. 

Na história clínica deve-se questionar sobre os sintomas, história familiar e fatores de risco. Ao exame físico, percebe-se, às vezes, o útero aumentado, móvel e com contorno irregular ao exame bimanual. Além disso, no exame abdominal é importante realizar a palpação e observar massas, tumorações e localização das dores. 

A ultrassonografia transvaginal é considerada o padrão ouro para o diagnóstico de miomas. Em casos selecionados, a ressonância magnética pode fornecer informações adicionais sobre a localização, tamanho e relação dos miomas com estruturas adjacentes. Outros exames, como histeroscopia ou histerossalpingografia, podem ser realizados para avaliar a cavidade uterina e determinar a presença de miomas submucosos.

A ressonância magnética magnética pode ser útil quando se tem muitos miomas e não consegue identificá-los bem nos outros métodos de imagem. 

Diagnóstico diferencial

É importante sempre excluir condições como:

  • Gravidez
  • Adenomiose
  • Leiomiossarcoma
  • Pólipos endometriais
  • Carcinoma endometrial
  • Entre outros.

Tratamento dos miomas

O tratamento dos miomas uterinos depende da idade da paciente, sintomas, desejo de preservação uterina, localização e tamanho dos miomas, além de outras considerações individuais. Assim, a escolha do tratamento deve ser individualizada, levando em consideração os objetivos da paciente e as características da doença.

Opções terapêuticas incluem: 

Medidas conservadoras

Indicamos que pacientes assintomáticas ou com sintomas leves, que não interferem significativamente na qualidade de vida, façam vigilância ativa dos seus miomas.

Indica-se fazer o acompanhamento com o ginecologista, para observar o tamanho, número e sintomas. 

Terapia medicamentosa 

Indica-se a terapia medicamentosa para mulheres que têm sintomas leves ou para aquelas que têm sintomas bem pronunciados, como sangramento menstrual anormal e dor pélvica, e para melhorar a sua condição até a realização de cirurgia. 

Os medicamentos podem incluir contraceptivos hormonais, agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) ou moduladores seletivos do receptor de estrogênio.

Esses medicamentos ajudam a reduzir o tamanho dos miomas e aliviar os sintomas, mas os sintomas geralmente retornam quando o tratamento é interrompido.

Práticas cirúrgicas e procedimentos minimamente invasivos

Indica-se as práticas cirúrgicas para pacientes com sintomáticas e em que as outras práticas terapêuticas não tenham melhorado a sua condição. 

Para pacientes que desejam engravidar e apresentam sangramento menstrual intenso e miomas submucosos, comenda-se a miomectomia histeroscópica como primeira opção. Caso os miomas não sejam submucosos, indica-se então a miomectomia laparoscópica ou uma incisão abdominal aberta. 

Recentemente, tem-se utilizado a ablação por radiofrequência em miomas como uma estratégia para este grupo de mulheres também. Falaremos mais sobre ele abaixo. 

Em pacientes que não desejam mais preservar a fertilidade, a primeira escolha é a ressecção histeroscópica para miomas submucosos. Este é um procedimento ambulatorial e possui baixo risco, com rápida melhora. Pode-se ainda realizar a embolização da artéria uterina, indicada principalmente para mulheres na pré-menopausa. 

Ablação por radiofrequência em miomas

A ablação por radiofrequência é uma técnica minimamente invasiva que utiliza energia de radiofrequência para aquecer e destruir tecido miomatoso. Durante o procedimento, insere-se uma sonda especial nos miomas sob orientação por imagem, geralmente por ultrassom. A energia de radiofrequência é então aplicada, aquecendo o tecido e causando necrose coagulativa, o que eventualmente leva à redução do tamanho do mioma e alívio dos sintomas.

Realiza-se a ablação por radiofrequência em ambiente ambulatorial, sob anestesia local ou sedação. O tempo de repouso dessa paciente é de aproximadamente 48h à uma semana, podendo logo em seguida retornar às suas atividades. 

O procedimento demora em média 30min. Geralmente o número de sessões de tratamento variam de acordo com o tamanho e o número de miomas. 

Procedimento de ablação por radiofrequência em miomas: como funciona?

Coloca a paciente em posição ginecológica. A ablação por radiofrequência guiada por ultrassom é uma técnica que pode ser realizada usando uma abordagem histeroscópica ou, mais comumente, laparoscópica. 

O procedimento começa com a inserção da sonda de radiofrequência no mioma alvo, guiada por ultrassom.  Ao identificá-lo, um conjunto de agulhas condutoras perfura o mioma. 

Uma vez posicionada corretamente, faz-se uma avaliação do mioma pelo sistema. Ele observa o volume do tecido fibroso e calcula a duração necessária para o tratamento. Após isso, a energia de radiofrequência é entregue de forma controlada, aquecendo o tecido de 85º a 100ºC, o que causa necrose coagulativa e destruição das células do mioma.

O que acontece após a realização da ablação por radiofrequência?

Após a realização do procedimento de ablação por radiofrequência, os miomas que sofreram necrose são reabsorvidos, tendo como consequência a diminuição do seu volume e redução dos sintomas. 

Espera-se uma redução de até 60% a 80% do tamanho do mioma em até 6 meses após o procedimento. 

Indicação, contraindicação e complicações da ablação por radiofrequência em miomas

A ablação por radiofrequência em miomas é uma técnica indicada para pacientes que têm miomas <8cm. Além disso, para pacientes que sejam sintomáticos e com desejo reprodutivo ou que não desejam retirar o útero. 

Algumas pesquisas mostram que o número máximo de miomas para serem tratados com este procedimento é de três. Além disso, o tipo de mioma que melhor mostra resultados são os intramurais, não sendo indicada para miomas subserosos e submucosos.

São contraindicados para essa técnica os miomas que possam ser retirados sem dificuldade histeroscópica, miomas atípicos e miomas maiores que 8-9cm. 

Complicações

Embora a ablação por radiofrequência seja geralmente segura, existem complicações potenciais associadas ao procedimento. Apesar de serem raríssimas e ter baixo risco de acontecerem, as relatadas pela literatura são:

  • Infecção;
  • Lesão intestinal;
  • Lesão de bexiga.

Vantagens da ablação por radiofrequência em miomas

A vantagem do uso desta técnica minimamente invasiva é que a paciente tem um retorno mais rápido às suas atividades, não precisa ser submetida à anestesia geral e nem ser internada, sendo realizada ambulatorialmente. 

Além disso, é uma técnica que tem uma taxa de sucesso em torno de 90%, podendo ser uma boa estratégia para preservação da fertilidade. 

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Referências

  1. BRADLEY, L.D. Uterine fibroids (leiomyomas): Hysteroscopic myomectomy. Uptodate, 2024. 
  2. Ablação dos Miomas por Radiofrequência – Centro de Mioma
  3. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Leiomioma de Útero. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (CONITEC). Ministério da Saúde, 2017. 
  4. GUASTELLA, Fernando. Radiofrequência para tratamento dos miomas. Site do Dr. Fernando Guastella, 2020. 
  5. FEBRASGO. Miomas: a importância de se discutir alternativas à histerectomia. FEBRASGO, 2020. 
  6. PARKER, W.H. Uterine fibroids (leiomyomas): Laparoscopic myomectomy and other laparoscopic treatments. Uptodate, 2024
  7. PARKER, W.H. Uterine fibroids (leiomyomas): Laparoscopic myomectomy and other laparoscopic treatments. Uptodate, 2024
  8. STEWART, E.A.; LAUGHLING-TOMMASO, S.K. Uterine fibroids (leiomyomas): Epidemiology, clinical features, diagnosis, and natural history. Uptodate, 2024. 
  9. STEWART, E.A.Uterine fibroids (leiomyomas): Treatment overview. Uptodate, 2024. 

16 Replies to “Ablação por radiofrequência de miomas: o que preciso saber?”

  1. 5 anos atrás fiz miomectomomia .E agora surgui um mioma dentro do utero.E que fazer?

  2. Oi meu nome é Gleiceane moro em fortaleza tenho 36 anos e tenho várias dores e emorragia no mês e comprovado um mioma de 22cm e gostaria de assistir uma cirurgia

  3. Olá, tenho 46 anos, quero engravidar e estou com mioma num tamanho de 10 a 15 cm e ele está tão grande q não foi possível ver o ovário esquerdo e não tenho nenhum tipo de sangramento exagerado, menstruo normalmente e até o mês de nov de 2021 não sentia nada e apartir de nov minha menstruação atrasou por quase 3 meses e veio em jan e agora está atrasada novamente e qdo fiz intravaginal descobri o mioma e venho sentindo apenas dores no baixo ventre e do lado direito e bacia e gostaria de um meio. De tratar p engravidar. Vcs podem me ajudar ?

  4. Boa tarde . Meu nome é Vanessa estou grávida de 10 semanas e ontem ao fazer o ultrassom descobri que tenho um mioma enorme muito grande mesmo . O que deve ser feito nesse caso a gravidez está ao lado esquerdo do utero e o mioma ao lado direito isso tem riscos ?? Tem cura ?

  5. Eu tenho 23 anos e estou com com suspeita de mioma na parede uterina

  6. Tenho 40 anos ,e tenho múltiplos miomas no útero , tanto que meu útero está pesando meio quilo,oque devo fazer?

    1. Unha de gato e uxi amarelo ajudam a reduzir. Minha mãe teve e não apresenta mais sintomas.

      1. Oi eu tenho 2 miomas e gostaria de saber como faz esse chá, obrigada 🙂.

  7. Tenho 44 anos fiz uma trans e detectou q Tenho um mioma o médico disse q tenho q operar mais tenho receio da cirurgia .

  8. Tenho mioma desde 2007, todos os meses minha menstruação vem com hemorrágia dois a três dias e depois vai acabando até terminar de vez, tenho 52 anos, devo fazer a cirurgia, ou espero amenopausa pra que ele reduza?

    1. Boa noite..meu nome é alciares tenho 39anos tenho o mioma so nao sei quer tamanho tem..pelo meu fisico ele nao se encontra muito grande e nao tenho muito sangramento.queria saber se tem. Outro método de nao fazer cirurgia. .

  9. Bom dia
    Solicito informações sobre o curso de Ablação por radio frequência de miomas

    1. Tenho 56 anos e a 3 dias comecei a sangra não menstruo a mais de três anos será que pode ser o que no mês de setembro fiz ultrassom e não deu nada será que e o que ?

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