Posted on

Principais aspectos clínicos e ultrassonográficos dos distúrbios tireoidianos

Aprenda os principais aspectos clínicos e ultrassonográficos dos principais distúrbios tireoidianos e ofereça uma abordagem oportuna ao paciente. Boa leitura! 

As doenças da tireoide necessitam de uma abordagem clínica que, quando associadas à imagem ultrassonográficas, contribui para uma investigação mais abrangente. Por isso, é fundamental que os especialistas estejam familiarizados com os achados ultrassonográficos. 

Prinicipais distúrbios da tireoide e aspectos clínicos

Hipotireoidismo 

O hipotireoidismo é uma condição caracterizada pela diminuição da produção de hormônios pela glândula tireoide.

As suas causas podem variar, desde distúrbios autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto, até remoção cirúrgica da tireoide, deficiência de iodo na dieta ou complicações decorrentes de tratamentos com iodo radioativo.

Essa condição pode ter um impacto significativo na saúde do paciente. Além disso, o hipotireoidismo pode afetar o metabolismo basal, a regulação hormonal, a função cardíaca e a saúde mental, influenciando diretamente a qualidade de vida.

O diagnóstico envolve tanto uma avaliação clínica quanto exames laboratoriais. O histórico médico detalhado, juntamente com a avaliação dos sintomas e sinais físicos, é crucial para identificar a suspeita de hipotireoidismo. 

Os exames laboratoriais, principalmente os testes de função tireoidiana, como TSH e T4 livre, são fundamentais para confirmar o diagnóstico e determinar a gravidade do quadro.

O tratamento primário para o hipotireoidismo é a reposição hormonal com levotiroxina, um hormônio sintético que substitui o hormônio tireoidiano ausente. A dose é ajustada individualmente para cada paciente, visando normalizar os níveis hormonais e aliviar os sintomas. É um tratamento contínuo ao longo da vida.

Não tratar adequadamente o hipotireoidismo pode levar a complicações graves, como aumento do colesterol, problemas cardíacos, e, em casos raros e extremos, mixedema, uma forma grave de hipotireoidismo que pode representar risco de vida. 

Hipertireoidismo 

O hipertireoidismo ocorre quando a glândula tireoide produz quantidades excessivas de hormônios tireoidianos, principalmente T3 e T4. As origens podem variar, sendo a doença de Graves a causa mais comum, desencadeada por uma resposta autoimune que estimula a tireoide a produzir hormônios em excesso. Outras causas englobam nódulos tireoidianos hiperfuncionantes e, em casos menos frequentes, tumores na glândula.

Clinicamente, o hipertireoidismo exibe uma gama diversificada de sintomas, como: perda de peso, palpitações cardíacas, ansiedade e irritabilidade. Ocasionalmente, também há um aumento notável no tamanho da glândula tireoide, conhecido como bócio.

Diagnóstico

O diagnóstico do hipertireoidismo requer uma abordagem que combina exames clínicos e laboratoriais. O médico investiga o histórico do paciente e realiza um exame físico detalhado para identificar sintomas e sinais típicos da condição. 

Os exames laboratoriais, como a dosagem de TSH baixo e níveis elevados de T3 e T4, são fundamentais para confirmar o diagnóstico.

Opções terapêuticas de hipertireoidismo

As opções terapêuticas abrangem diferentes abordagens:

  • Tratamentos Medicamentosos: Os medicamentos antitireoidianos, como metimazol e propiltiouracil, são empregados para inibir a produção excessiva de hormônios pela tireoide. Podem ser usados como tratamento inicial ou como preparação pré-cirúrgica.
  • Radioiodoterapia: Envolve a ingestão de iodo radioativo, que é absorvido pela tireoide, visando destruir as células hiperativas e reduzir a produção hormonal. É uma escolha especialmente para quadros persistentes após tratamento medicamentoso ou como abordagem definitiva.
  • Cirurgia (tireoidectomia): Em circunstâncias específicas, como grandes bócios, intolerância aos medicamentos ou suspeita de câncer de tireoide, a remoção parcial ou total da tireoide pode ser recomendada.

A decisão sobre o tratamento depende da gravidade dos sintomas, da causa subjacente, do estado de saúde geral do paciente e de suas preferências. Após o tratamento, um acompanhamento médico regular é crucial para monitorar os níveis hormonais, garantindo a saúde tireoidiana e o bem-estar a longo prazo.

Nódulos Tireoidianos 

Os nódulos tireoidianos são crescimentos anormais na glândula tireoide, podendo ser benignos ou malignos. Quando detectados, a avaliação por ultrassonografia desempenha um papel crucial na compreensão desses nódulos.

Ultrassonografia no diagnóstico de nódulo tireoidiano

A ultrassonografia é essencial para examinar detalhadamente esses nódulos, fornecendo informações sobre seu tamanho, estrutura, presença de calcificações, vascularização e textura. 

Através desse exame, é possível diferenciar nódulos sólidos, císticos ou mistos, além de identificar características suspeitas que podem indicar malignidade. Diversos critérios são considerados na ultrassonografia para avaliar a possibilidade de malignidade em um nódulo. 

Irregularidades nas margens do nódulo, microcalcificações, maior vascularização e um aspecto hipoecóico podem sugerir a necessidade de uma investigação mais aprofundada para determinar a natureza do nódulo.

Abordagem clínica e acompanhamento

A abordagem clínica depende da suspeita de malignidade. Nódulos suspeitos podem demandar uma biópsia por punção com agulha fina (PAAF) para análise citológica, auxiliando na determinação da natureza do nódulo.

Em nódulos benignos, o acompanhamento regular por ultrassonografia é indicado para monitorar quaisquer alterações no tamanho ou características do nódulo ao longo do tempo. No caso de nódulos malignos confirmados, o tratamento pode envolver a remoção cirúrgica do nódulo ou, em situações mais graves, a remoção parcial ou total da tireoide.

O acompanhamento clínico periódico é crucial para observar a evolução dos nódulos tireoidianos, detectar eventuais mudanças suspeitas e decidir sobre o tratamento adequado. 

A integração entre ultrassonografias regulares, análises citológicas e avaliação clínica é essencial para garantir uma abordagem precisa e oportuna dos nódulos tireoidianos.

Distúrbios tireoidianos: princípios gerais da ultrassonografia da tireoide 

A ultrassonografia da tireoide é uma técnica que exige não apenas habilidade, mas também conhecimento aprofundado de anatomia e patologia do pescoço

Se trata além de simplesmente capturar imagens para análise posterior. Na verdade, para obter resultados precisos, são necessárias informações detalhadas tanto do médico solicitante quanto do intérprete. 

Enquanto alguns endocrinologistas preferem conduzir pessoalmente a ultrassonografia, outros optam por encaminhar o paciente a um especialista em ultrassom ou radiologista. Nesse caso, é fundamental um relatório bem descrito da condição clínica do paciente, a fim de colaborar com a conclusão do radiologista.

Há casos em que a eficácia aumenta quando o próprio médico da área realiza o procedimento. Entretanto, independentemente de quem execute, os resultados às vezes podem ser ambíguos, o que pode ser um tanto enganoso.

O profissional que realiza ultrassonografias tireoidianas deve possuir um domínio excepcional em palpação, anatomia e fisiopatologia da tireoide, como comentamos acima. 

Além disso, é crucial ter um treinamento especializado em procedimentos de ultrassom, meticulosidade nos detalhes, tempo suficiente para realizar um exame completo e a capacidade de investir em equipamentos avançados e realizar uma quantidade significativa de estudos para aprimorar sua expertise.

Leia também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

Aspecto fisiológico da tireoide à ultrassonografia 

A ultrassonografia é um método excelente para avaliação da tireoide e identificação de distúrbios tireoidianos.

O transdutor ideal para a avaliação tireoideana é reto, ideal para visualização de estruturas mais superficiais, como a tireoide. A partir disso, algumas características são geralmente observadas em caso de uma tireoide saudável. 

Textura e ecogenicidade

Avaliação da homogeneidade da glândula e sua capacidade de refletir as ondas de ultrassom, indicando uma textura típica intermediária.

Tamanho e forma

Medição do tamanho da tireoide e análise da sua forma para identificar irregularidades, como aumento de volume ou presença de nódulos.

Em indivíduos adultos saudáveis sem deficiência de iodo, as dimensões médias de um lobo tireoidiano normal variam aproximadamente de 4 a 4,8 por 1 a 1,8 por 0,8 a 1,6 centímetros. Isso resulta em um volume total médio para ambos os lobos situado entre 8 a 10 mililitros, com variações amplas, de 3 a 20 mililitros.

É interessante observar que o tamanho da tireoide está diretamente relacionado com a área de superfície corporal, o que pode influenciar suas dimensões em diferentes indivíduos. 

Além disso, o sexo também desempenha um papel no volume tireoidiano, sendo que homens adultos tendem a apresentar glândulas tireoidianas maiores em comparação com as mulheres.

Vascularização

Utilização do Doppler para avaliar o fluxo sanguíneo na glândula, indicando possíveis condições como inflamação ou doenças específicas.

Identificação de nódulos

Observação e análise de nódulos presentes na tireoide, incluindo características como tamanho, forma, margens, presença de calcificações e vascularização.

Anatomia regional

Exame detalhado da anatomia circundante, como traqueia, fúrcula esternal e gânglios linfáticos, para determinar possíveis alterações ou anormalidades.

Visualização tridimensional

Possibilidade de uma visão tridimensional da glândula, fornecendo uma perspectiva mais abrangente e detalhada da sua estrutura e possíveis irregularidades.

Na imagem abaixo, todas essas características podem ser observadas. A tireoide mantém uma homogeneidade bilateral. Além disso, existe uma simetria, sem crescimento irregular ou como nódulos. Embora a imagem não conte com Doppler, não observamos edema na imagem, sugerindo que não existe processos inflamatórios associados

Ainda, vemos que a técnica foi bem aplicada, uma vez que outras estruturas adjacentes podem ser bem visualizadas e avaliadas na imagem. 

Ultrassonografia da tireoide mostrando a anatomia da tireoide na visão transversal. Em (A) Visão convexa virtual de toda a tireoide. (B) Visualização linear tradicional do lobo esquerdo da tireoide. Fonte: Sipos et al., 2023.

Distúrbios tireoideanos: ultrassonografia em nódulos tireoideanos 

A ultrassonografia é uma ferramenta valiosa para mapear e caracterizar os nódulos na glândula tireoide, fornecendo informações cruciais sobre sua morfologia e características.

Tamanho

A técnica ultrassonográfica permite uma medição precisa do tamanho dos nódulos. 

Por outro lado, estudos apontam certa discordância nas dimensões reveladas pela ultrassonografia quando comparadas à excisão cirúrgica, especialmente em nódulos maiores.

Ecogenicidade

A descrição dos nódulos sólidos é feita com base na comparação com o tecido tireoidiano normal. A ecogenicidade varia de acordo com a capacidade do nódulo de transmitir ou refletir o sinal ultrassônico. 

Nódulos hipoecóicos têm mínima reflexão do sinal, enquanto os hiperecóicos refletem uma maior proporção.

Nódulo hiperecóico (setas) mais brilhante que o tecido tireoidiano circundante. Cortesia de Jennifer A Sipos, MD.

Já os nódulos isoecóicos têm interação semelhante ao tecido tireoidiano normal.

Nódulo sólido isoecóico com pequenos espaços císticos. Cortesia de Jennifer A Sipos, MD.

Leia também: Como Laudar um Nódulo Tireoidiano Pelo ACR TI-RADS

Distúrbios tireoidianos: câncer de tireoide e aspectos ultrassonográficos 

A ultrassonografia desempenha um papel crucial no diagnóstico e na diferenciação do câncer de tireoide, particularmente na detecção de linfonodos cervicais anormais

(A) Linfonodos malignos tendem a ser mais arredondados, com microcalcificações internas e sem hilo ecogênico. (B) Doppler colorido mostra vascularização central e periférica anormal dentro do linfonodo. (C) Linfonodo maligno com degeneração cística

Quando linfonodos suspeitos são identificados em pacientes com nódulos ou câncer de tireoide, a probabilidade de malignidade aumenta substancialmente. Em alguns casos, a aspiração por agulha fina é realizada nos linfonodos cervicais anormais em vez dos próprios nódulos.

A biópsia aspirativa guiada por ultrassom dos linfonodos cervicais aumentados oferece uma diferenciação crucial entre metástases de câncer de tireoide e linfadenopatia inflamatória. 

Além disso, testar a tireoglobulina nos lavados das agulhas aspiradas pode indicar a presença de câncer de tireoide metastático, mesmo que a citologia seja negativa.

No entanto, é importante ressaltar que lavar uma agulha usada para aspirar um nódulo tireoidiano não oferece informações conclusivas, já que os tecidos tireoidianos contêm tireoglobulina independentemente da presença de câncer. Portanto, essa distinção é crucial na interpretação dos resultados, influenciando a abordagem clínica nos casos de linfonodos cervicais e nódulos tireoidianos durante a ultrassonografia.

Ultrassonografia da tireoide: câncer papilar de tireoide com extensão extratireoidiana . (A) Extensão extratireoidiana de um pequeno carcinoma papilífero de tireoide no istmo. As margens anteriores do nódulo estão invadindo a musculatura da faixa circundante (pontas de seta). (B) Pequeno câncer papilar de tireoide com margens de nódulos focalmente infiltrativos (setas).

Variações ao Longo do Tempo

A ultrassonografia é usada para comparar as mudanças de tamanho dos nódulos ao longo do tempo. 

Contudo, essa comparação deve ser interpretada com cautela devido à dificuldade na reprodução exata dos planos de imagem. Estudos mostram variações nas determinações do volume do nódulo, mesmo entre ultrassonografistas experientes.

É importante ressaltar que a ultrassonografia é uma técnica útil para identificar, caracterizar e monitorar os nódulos tireoidianos. No entanto, a interpretação dos resultados deve levar em consideração essas nuances e discrepâncias nas medições ao longo do tempo para garantir uma avaliação precisa e confiável.

Quer se especializar para o diagnóstico de distúrbios tireoidianos?

Você pode aprimorar seus conhecimentos e levar sua carreira médica para outro patamar com o Cetrus. O Centro de Ensino Médico, localizado em São Paulo, oferece uma série de opções de cursos de especialização em medicina. Uma opção é o curso de Ultrassonografia em Tireoide, Cervical e Glândulas Saliares. Com essa capacitação, o médico aprende a:

  • Identificar, diferenciar e descrever patologias difusas na tireoide.
  • Identificação dos nódulos tireoidianos, discernindo os de maior risco de malignidade.
  • Analisar patologias das glândulas salivares e muito mais.

Não perca a oportunidade de aprimorar suas habilidades em ultrassonografia e garantir diagnósticos mais precisos e eficazes. Venha conhecer os cursos do Cetrus!

Referência do artigo 

  1. Technical aspects of thyroid ultrasound. Jennifer A Sipos, MD. UpToDate