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Laser endovenoso: como funciona, indicações e dados sobre eficácia

Tudo que você precisa saber sobre laser endovenoso, uma tecnologia nova que tem sido cada vez mais usada nas cirurgias vasculares. 

O avanço tecnológico na área médica tem proporcionado o desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos menos invasivos, visando melhorar a eficácia e o conforto do paciente. Dentre essas inovações, destaca-se o uso do laser endovenoso em cirurgias vasculares, especialmente em procedimentos para tratamento de varizes. 

Neste texto, exploraremos a história do uso do laser na medicina, suas aplicações gerais e, mais especificamente, seu papel nas cirurgias vasculares.

Contexto histórico do uso do laser 

A utilização do laser na medicina teve início na década de 1960, quando o físico Theodore Harold Maiman desenvolveu o primeiro laser funcional. Desde então, essa tecnologia tem sido empregada em diversas áreas, inclusive a medicina, medicina devido às suas propriedades únicas, como coerência, monocoloração e alta intensidade.

Inicialmente, o laser foi empregado na oftalmologia, dermatologia e odontologia, mostrando-se eficaz em procedimentos específicos:

  • Cirurgias: utilizado para cortar, vaporizar ou coagular tecidos
  • Dermatologia: tratamento de lesões cutâneas, remoção de tatuagens e rejuvenescimento facial.
  • Odontologia: procedimentos periodontais, endodônticos e estéticos.

Hoje já temos o seu uso muito bem consolidado no tratamento de processos infecciosos, câncer, retinopatia diabética, entre outros. 

Na cirurgia vascular, o uso do laser endovenoso foi autorizada pela Agência Americana FDA (Food and Drug Administration) em 2002 e desde lá essa técnica tem sido bastante utilizada, apresentando resultados excelentes, principalmente no tratamento de varizes com o laser endovenoso, telangiectasias com o laser transdérmico, hemangiomas e úlceras de membros inferiores. 

O que são varizes?

As varizes, conhecidas também como varicoses ou veias varicosas, são dilatações anormais e permanentes das veias, geralmente superficiais, que ocorrem devido à falha no funcionamento das válvulas venosas. Essas válvulas têm a função de direcionar o fluxo sanguíneo unidirecionalmente, impedindo o refluxo sanguíneo. Quando essas válvulas falham, o sangue tende a se acumular nas veias, levando ao aumento de pressão e à dilatação das mesmas.

Além disso, do ponto de vista anatômico, as varizes caracterizam-se por veias tortuosas, dilatadas e visíveis, especialmente nas extremidades inferiores. A condição é mais comum nas veias das pernas, onde o efeito da gravidade exerce maior pressão sobre o sistema venoso.

Etiologia e epidemiologia

A etiologia das varizes é multifatorial, incluindo fatores genéticos, alterações hormonais, gravidez, obesidade, sedentarismo e envelhecimento. Além disso, o comprometimento das válvulas venosas, associado a esses fatores, contribui para o desenvolvimento das varizes.

Estima-se que as varizes tenham uma prevalência de 30 a 35% na população mundial, chegando a 50% nas mulheres. 

Sintomas comuns em pacientes com varizes

Os sintomas associados às varizes podem incluir:

  • Dor
  • Sensação de peso nas pernas;
  • Inchaço;
  • Prurido;
  • Cãibras. 

Além disso, complicações mais graves podem surgir, como úlceras venosas, tromboflebite (inflamação das veias com formação de coágulos), e, em casos mais avançados, a formação de úlceras.

Diagnóstico e tratamento das varizes

O diagnóstico das varizes geralmente é feito clinicamente, através da observação visual e do relato de sintomas por parte do paciente. Além disso, exames complementares, como o ultrassom Doppler, podem ser utilizados para avaliar o funcionamento das válvulas venosas e a extensão do comprometimento vascular.

O tratamento das varizes pode ser conservador, incluindo medidas como o uso de meias elásticas, elevação das pernas, exercícios físicos e mudanças no estilo de vida. Entretanto, em casos mais avançados ou quando os sintomas são significativos, é indicado procedimentos médicos. Estes podem envolver técnicas minimamente invasivas, como o laser endovenoso, escleroterapia, e, em casos mais graves, procedimentos cirúrgicos tradicionais.

Uso Laser endovenoso em cirurgias vasculares

O laser endovenoso, também conhecido como EVLT (Endovenous Laser Treatment) ou Endolaser,  é uma técnica revolucionária e nova (desde 2002) no tratamento de varizes

Diferentemente dos métodos tradicionais, que envolvem a remoção cirúrgica das veias afetadas, o laser endovenoso visa tratar as varizes de forma menos invasiva, com menor tempo de recuperação e redução de complicações.

Imagem 1 – Consoles disponíveis no mercado: (A) Dornier MedTech, Kennesaw (940nm Dornier D940. (B) Biolitec AG, Jena, Germany (1470nm ELVeS). (C) Vascular Solutions, Minneapolis (810nm Vari-Lase). (D) AngioDynamics (VenaCure 1470nm Laser). Fonte: SILVA, SILVA, CARDOSO, 2011. 

Antes do seu uso, era comum a realização de uma cirurgia abertas e maiores, como:

  • Stripping para veia safena;
  • Flebectomia para as veias tributárias dilatadas;
  • Ligadura para as veias perfurantes. 

Laser transdérmico

Além do laser endovenoso, existe ainda o laser transdérmico que é também muito utilizado na cirurgia vascular. Recomenda-se este laser no tratamento de varizes menores e os profissionais o utilizam sobre a pele.

Indicação do laser endovenoso

Indaca-se o laser endovenoso para o tratamento de varizes causadas por refluxo venoso, uma condição na qual as válvulas venosas não funcionam adequadamente, levando ao acúmulo de sangue nas veias. Além disso, o procedimento pode ser utilizado em casos de insuficiência venosa crônica e outras condições vasculares.

Entretanto, a sua principal indicação é no tratamento da insuficiência das veias safenas, tanto a magna ou parva e, em trajeto varicosos calibrosos de difícil acesso. 

Como funciona o procedimento?

O procedimento consiste na introdução de uma fibra óptica através de uma pequena incisão na pele, guiando-a até a veia comprometida através do auxílio de um ultrassom. 

Imagem 2: Punção percutânea de veia safena guiada por ultrassom (modo B). Fonte: SILVA, SILVA, CARDOSO, 2011.

Uma vez posicionada, o laser emite luz de alta energia, causando a coagulação das paredes internas da veia, o que chamamos de ablação. Isso leva ao fechamento  (oclusão não trombótica) da veia afetada pelo emprego da energia endoluminal, o que destrói o endotélio e contrai o vaso. 

A hemoglobina é responsável por absorver a maior parte da energia, ocorrendo assim uma penetração tecidual mínima.
Para proteger as estruturas teciduais adjacentes, realizamos uma tumescência em volta da veia com um soro gelado. Essa ação faz a veia se afastar da pele e provoca o colapso dela em toda a extensão, dissipando o calor produzido.

Vantagens no uso do laser endovenoso

Os profissionais têm cada vez mais utilizado o laser na prática das cirurgias vasculares. Existem algumas vantagens quando comparadas às cirurgias tradicionais. De acordo com alguns estudos já realizados sobre a sua eficácia, é possível observar algumas delas: 

  • Recuperação rápida do paciente. Ex: de 7  a 14 dias para 4 a 7 dias em um procedimento na veia safena;
  • Retorno mais precoce às atividades laborais (após 24h);
  • Liberação para atividade física de 3 a 5 dias, para as de baixo impacto e 10 a 15 para as mais intensas;
  • Uso de anestesia local;
  • Redução do risco de lesões nervosas que é comum na extração cirúrgica; 
  • Menos dor durante o processo.

Como desvantagem do procedimento, é preciso que tenha uma equipe especializada em laser endovenoso, ultrassonografia vascular e materiais específicos. 

Dados sobre eficácia do laser endovenoso

Estudos clínicos têm demonstrado a eficácia do laser endovenoso no tratamento de varizes. Os resultados indicam taxas de sucesso superiores a 90%, com melhora significativa dos sintomas, como dor, inchaço e sensação de peso nas pernas. Além disso, os pacientes relatam alta satisfação com o procedimento, devido à sua natureza minimamente invasiva.

A eficácia do laser endovenoso é também evidenciada pela redução das taxas de recorrência de varizes em comparação com métodos mais tradicionais. Além disso, a capacidade de tratar varizes de maneira menos invasiva e com resultados duradouros posiciona o laser endovenoso como uma opção atrativa no cenário da cirurgia vascular.

Embora seja uma técnica nova, a primeira publicação realizou-se em 2001. Desde então, muitos estudos investigaram a eficácia do tratamento. O foco principal das pesquisas é a análise dos tipos de laser disponíveis e a identificação do mais eficaz, utilizando o sucesso tardio do tratamento como parâmetro.

Laser endovenoso de diodo de 1940 nm

Um exemplo disso é um estudo conduzido no período de 2012 a 2015, que avaliou o uso do laser endovenoso de diodo de 1940 nm para correlacionar a durabilidade do desfecho anatômico. A pesquisa envolveu 37 mulheres, representando 90,2% do grupo selecionado, com média de idade de 53,3 anos e veias de calibre até 10mm. A população foi acompanhada por 803 dias. Os resultados indicaram que a taxa de sucesso imediato das veias tratadas foi de 100%, e a longo prazo foi de 95,1%, com apenas duas recanalizações aproximadamente 12 meses após a ablação.

Assim, o laser 1940 nm mostrou-se seguro e efetivo, em médio e longo prazo, para os parâmetros propostos, em segmentos venosos com até 10 mm de diâmetro.

Além deste estudo, muitos outros tentam encontrar padrões de uso, analisando os calibres das veias, duração do procedimento e tipo de aparelhos disponíveis no mercado. Cada vez mais a ciência reune esforços para proporcionar técnicas menos invasivas aos seus pacientes. 

Pós-Graduação em Ecografia Vascular com Doppler

Uma das desvantagens do uso do laser endovenoso, como já abordamos aqui no artigo, é a falta de profissionais qualificados na técnica e na ultrassonografia vascular. Dessa forma, o Cetrus criou uma Pós-Graduação Ecografia Vascular com Doppler sobre a coordenação do Dr. José Olímpio Dias Júnior (Ecocardiografia e Ecografia) e Dr. Marcos Roberto Godoy (Cirurgião Vascular).  

Não perca tempo e saiba mais sobre o curso:

Referências

  1. BUENO, K.S. et al. Endolaser venoso – estudo série de casos. J Vasc Bras 2012, Vol. 11, Nº 4
  2. SILVA, M. A. M; SILVA, S.G.J.; CARDOSO, R.S. O Uso do Laser em Cirurgia Vascular. Revista Ciências em Saúde v1, n 3 nov 2011
  3. VIARENGO, L.M.A.; MEIRELLES, G.V.; FILHO, J.P. Tratamento de varizes com laser endovenoso: estudo prospectivo com seguimento de 39 meses. J Vasc Bras 2006, Vol. 5, Nº3
  4. Viarengo LMA, Viarengo G, Martins AM, Mancini MW, Lopes LA. Resultados de médio e longo prazo do tratamento endovenoso de varizes com laser de diodo em 1940 nm: análise crítica e considerações técnicas. J Vasc Bras. 2017 Jan-Mar;16(1):23-30. Portuguese. doi: 10.1590/1677-5449.010116. PMID: 29930619; PMCID: PMC5829688.