Posted on

Uso de medicações durante a gestação e ocorrência de pré-eclâmpsia: relação e riscos associados

Entenda como o uso de medicações pode oferecer riscos ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia durante a gestação e como o médico deve orientar sua paciente. Boa leitura! 

O uso de medicações durante a gestação é um tópico de orientações importante nas consultas de pré-natal. Como uma das principais complicações da gestação, a pré-eclâmpsia deve ser evitada, podendo também ser feito por orientar a paciente acerca do uso cuidadoso de medicações que não favoreça o quadro.

Tratamento da pré-eclâmpsia: quando é indicado?

O resultado do tratamento da pré-eclâmpsia dependerá de alguns pilares como: 

  • qualidade da assistência;
  • idade gestacional;
  • gravidade;
  • desordens médicas prévias materno-fetais.

É importante lembrar que a cura para a pré-eclâmpsia é o parto, sendo o tratamento apenas medidas de prevenção do avanço para a eclâmpsia. 

A condução hospitalar da gestante com pré-eclâmpsia deve considerar a idade gestacional, sendo: 

  • < 24 semanas: discussão com a família sobre uma possível interrupção;
  • 24-34 semanas: avaliar conduta conservadora;
  • >= 34 semanas: interrupção da gestação (parto). 
Descubra como a habilidade diagnóstica da ginecologista é essencial para identificar precocemente a pré-eclâmpsia. Na imagem, a médica avalia uma paciente gestante em seu consultório, garantindo um cuidado especializado.
Leia também: Como diagnosticar e fazer o acompanhamento dos casos da restrição de crescimento fetal seletiva

Tratamento farmacológico na pré-eclâmpsia 

Para discutir acerca das medicações arriscadas durante a gestação para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia, é importante relembrar quais são de fato indicadas para o quadro. 

Em quadros graves, o médico deve se concentrar em evitar o avanço da pré-eclâmpsia para uma eclâmpsia, bem como ainda o desenvolvimento de outras complicações, como a síndrome HELLP

Na vigência de uma pressão acima de 160×110 mmHg, está indicado o uso do anti-hipertensivo Hidralazina IV. Ainda, em casos de sinais de gravidade, recomenda-se a magnesioterapia entre a 24ª a 34ª semanas, na dose terapêutica de 4-7 mEq/L.

No entanto, existem potenciais riscos e efeitos colaterais dessa medicação como: 

  • abolição dos reflexos profundos;
  • paralisia respiratória;
  • depressão do SNC.  
Descubra também: Por que fazer uma especialização em ecocardiografia fetal?

Medicações e seu potencial impacto na pré-eclâmpsia: conheça as evidências

A relação entre medicamentos e pré-eclâmpsia pode ser complexa, sendo que diferentes substâncias e classes de medicamentos têm impactos variados na condição. 

Alguns estudos identificaram associações entre certos fármacos e um aumento do risco de desenvolver pré-eclâmpsia, mas é crucial observar que nem todos os casos são conclusivos ou universais para todas as gestações. 

Algumas medicações potencialmente associadas à pré-eclâmpsia incluem:

Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

O uso crônico ou prolongado de AINEs, como ibuprofeno e naproxeno, durante a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, pode estar associado a um aumento do risco de pré-eclâmpsia.

Corticosteroides

Alguns estudos sugerem que o uso prolongado de corticosteroides pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia. No entanto, esses medicamentos também são vitais em certos casos para o desenvolvimento pulmonar fetal em gestações de alto risco, e os benefícios podem superar os riscos.

Alguns antidepressivos

Algumas pesquisas indicaram uma possível ligação entre o uso de certos antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), e um aumento do risco de pré-eclâmpsia. No entanto, é importante pesar os riscos do tratamento da depressão durante a gravidez com os potenciais riscos da condição não tratada.

Medicamentos anti-hipertensivos

Em alguns casos, a própria condição de hipertensão arterial, que requer medicação para controle, pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia. Algumas classes de medicamentos anti-hipertensivos podem ter impactos variados na incidência de pré-eclâmpsia.

Relação entre medicação e pré-eclâmpsia

É fundamental ressaltar que a relação entre medicação e pré-eclâmpsia está em constante revisão e atualização à medida que novas evidências surgem. Além disso, o médico deve avanliar cada caso de maneira individual, considerando os riscos e benefícios do tratamento para a mãe e o feto.

Recomenda-se que gestantes discutam quaisquer preocupações sobre medicação durante a gravidez com seus obstetras ou médicos, para poderem tomar decisões informadas sobre o tratamento mais adequado, considerando os riscos específicos associados a cada medicamento e sua condição médica.

Banner promocional: Conheça os cursos de especialização e pós-graduação no Cetrus.

Medicamento anti-hipertensivo causando doença hipertensiva: como é possível?

Embora pareça uma situação paradoxal, alguns medicamentos anti-hipertensivos podem estar associados ao desenvolvimento ou mesmo à piora de uma condição hipertensiva durante a gestação, como a pré-eclâmpsia. 

É crucial que o médico entenda essa relação, assim como a paciente, que pode ingenuamente recorrer a alguma medicação anti-hipertensiva acreditando no seu potencial benefício, sem conhecer seus riscos.

Resposta adaptativa do corpo

A redução excessiva da pressão arterial para níveis que comprometem o fluxo sanguíneo uteroplacentário é um deles. Isso pode levar a uma resposta adaptativa do corpo, desencadeando mecanismos compensatórios que, por sua vez, podem resultar em um aumento do risco de pré-eclâmpsia.

Outro mecanismo possível são as alterações na função vascular, em que ao influenciar diretamente a função vascular, podem desencadear mudanças na regulação do fluxo sanguíneo no útero e na placenta. Isso pode afetar a perfusão placentária e contribuir para o desenvolvimento de uma condição hipertensiva.

Uso de IECAs, BRAs: impactos e riscos associados

Outras medicações, ainda, como os IECAs e os BRAs, têm impacto direto nos sistemas renina-angiotensina-aldosterona e, por conta disso, influenciam no equilíbrio hidroeletrolítico, causando disfunção endotelial e contribuindo para a pré-eclâmpsia. 

Ainda, alguns medicamentos podem desencadear respostas imunológicas ou inflamatórias que, em certos casos, podem contribuir para a pré-eclâmpsia. Apesar disso, os mecanismos exatos ainda não são completamente compreendidos.

Todos os anti-hipertensivos têm potencial para causar pré-eclâmpsia?

Não, sendo importante ressaltar que nem todos os anti-hipertensivos têm o mesmo potencial de causar ou piorar a pré-eclâmpsia. Além disso, o risco pode variar amplamente entre os medicamentos e as condições clínicas específicas de cada paciente.

O manejo da pressão arterial durante a gravidez, especialmente em mulheres com condições pré-existentes, é um equilíbrio delicado entre o controle da hipertensão para proteger a mãe e o bebê e evitar a redução excessiva da pressão arterial, que pode desencadear complicações, como a pré-eclâmpsia.

Confira também: Como é feito o rastreamento de ventriculomegalia e principais pontos de observação no exame

Uso de medicações durante a gestação: aconselhamento

O médico poderá ajudar a avaliar os riscos potenciais do medicamento para o feto em comparação com os benefícios para a mãe. Em alguns casos, o benefício do tratamento pode superar os riscos, mas essa os médicos devem ponderar essa decisão de maneira cuidadosa.

O uso de medicamentos durante a gestação é uma questão delicada e deve ser cuidadosamente avaliada. É crucial que qualquer medicamento seja administrado durante a gravidez apenas sob supervisão médica. Alguns medicamentos podem representar riscos para o feto, enquanto outros podem ser considerados seguros, dependendo da fase da gravidez e da condição de saúde da mãe.

Medicamentos durante a gestação: devem ser desencorajados?

Em muitos casos, certos medicamentos são estritamente desencorajados durante a gravidez devido ao risco conhecido de defeitos congênitos ou complicações.

No entanto, há situações em que a interrupção de um medicamento pode representar um risco maior para a mãe ou para o feto do que o próprio medicamento. Nesses casos, o médico pode pesar os benefícios e os riscos antes de decidir continuar ou interromper o tratamento.

Automedicação durante a gravidez

A automedicação durante a gravidez deve ser absolutamente evitada, pois muitos medicamentos têm potencial de causar danos ao feto em desenvolvimento, malformações e crescimento restrito. A decisão de usar qualquer medicamento durante a gestação deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa de riscos e benefícios feita pelo médico.

Além disso, é importante estar ciente de que alguns medicamentos podem afetar negativamente a fertilidade ou causar complicações durante o parto. Portanto, discutir com o médico sobre o uso de medicamentos antes, durante e após a gravidez é fundamental para garantir a saúde tanto da mãe quanto do bebê.

Ginecologista e profissional de medicina conferem alta a gestante com pré-eclâmpsia, garantindo cuidados especializados para uma gravidez saudável.
Entenda também: Ecocardiograma fetal e ultrassonografia transvaginal tornam-se obrigatórios no acompanhamento pré-natal

Caso clínico de uso de medicações durante a gestação potencial risco de pré-eclâmpsia

Esse caso clínico tem como paciente a Maria, de 28 anos, saudável e sem histórico significativo de problemas médicos. A idade gestacional é de 32 semanas, porém, durante o segundo trimestre de sua primeira gravidez, ela desenvolveu sintomas de ansiedade e insônia, para os quais seu médico prescreveu um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS).

Desenvolvimento

Maria estava tomando o antidepressivo conforme prescrito e não apresentava complicações até a semana 30 de gestação. No entanto, durante uma consulta de rotina, a paciente recebeu o diagnóstico de pré-eclâmpsia, devido a sintomas como:

  • pressão arterial elevada (140/90 mmHg);
  • presença de proteína na urina;
  • inchaço significativo nas mãos e no rosto.

Tratamento

A hospitalização de Maria ocorreu para um monitoramento mais próximo. Os médicos decidiram interromper o antidepressivo devido à possibilidade de associação entre ISRS e o desenvolvimento de pré-eclâmpsia, embora essa relação específica não seja completamente estabelecida.

A paciente iniciou em um regime de anti-hipertensivos para controlar a pressão arterial, sendo aconselhada a permanecer em repouso e fazer monitoramento frequente.

Desfecho

Após uma semana de cuidados intensivos, a pressão arterial de Maria estabilizou, e os médicos observaram uma diminuição na quantidade de proteína na urina. A liberação da paciente ocorreu, mas continuou o acompanhamento rigoroso para garantir a saúde dela e do bebê até o momento do parto.

Pré-eclâmpsia: discussão do caso clínico

Embora não haja uma relação definitiva entre o antidepressivo e a pré-eclâmpsia, a interrupção foi considerada uma medida de precaução. Os médicos enfatizaram a importância do acompanhamento próximo e do monitoramento constante da pressão arterial e dos sintomas.

Maria foi informada sobre os possíveis riscos e benefícios do uso do medicamento e aconselhada a discutir qualquer preocupação com seu médico antes de iniciar ou interromper qualquer tratamento durante a gravidez.

Descubra também: Por que fazer uma especialização médica com o Cetrus?

Avance na carreira em ginecologia com os cursos do Cetrus

A ginecologia é uma especialidade médica focada na saúde do sistema reprodutivo feminino. Ela abrange o diagnóstico, tratamento e prevenção de condições ginecológicas, além de cuidar da saúde da mulher em diferentes fases da vida, da adolescência à menopausa. 

Se você é medico e deseja acompanhar as novidades da ginecologia e em encontrar formas de trazê-las para sua prática clínica, a educação continuada é o melhor caminho. Para avançar na carreira, conheça o Cetrus e se aprofunde em conhecimentos técnicos em ginecologia.

Referências