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Lentes de contato: como conduzir a adaptação em casos especiais?

Lentes de contato: tudo o que você precisa saber para melhorar a adaptação do seu paciente ao uso desses dispositivos.

Nos últimos cinco décadas, a adoção das lentes de contato, que teve início de forma gradual em meados do século passado, espalhou-se por todos os países do mundo e tornou-se uma escolha cada vez mais comum não apenas entre adultos e jovens, mas também entre crianças e pacientes presbiópicos.

Apesar dos avanços na cirurgia refrativa, as lentes de contato continuam sendo uma opção popular e vantajosa em vários aspectos, permitindo que muitos pacientes vivam sem o uso de óculos, mesmo com presbiopia.

Quando indicar o uso de lentes de contato?


As lentes de contato podem ser recomendadas em uma variedade de situações, dependendo das necessidades individuais do paciente e das características de sua visão. Quando se trata de correção visual, elas oferecem uma alternativa versátil aos óculos. Por exemplo, para aqueles que praticam esportes ou participam de atividades recreativas, as lentes de contato proporcionam uma liberdade de movimento que os óculos muitas vezes não conseguem oferecer, além de proporcionar uma visão mais estável.

Além disso, em termos de estética, algumas pessoas preferem o aspecto discreto das lentes de contato em comparação com os óculos, especialmente em situações sociais ou profissionais. No entanto, vale ressaltar que as lentes de contato também podem ser uma opção para aqueles que têm problemas específicos de visão. Por exemplo, pacientes com ceratocone ou astigmatismo irregular podem obter uma visão mais nítida e confortável com lentes de contato do que com óculos tradicionais.

Quais os principais tipos de lente de contato?

A classificação das lentes de contato são de acordo com:

  • Material de composição
  • Programação de uso
  • Programação de descarte
  • Permeabilidade
  • Teor de água e tipo de correção.

Com a ampla gama de novos tipos de lentes disponíveis, há alternativas para ajudar a maioria dos pacientes a alcançar conforto no uso das lentes. Constantemente, novos tipos de lentes de contato são introduzidos com o propósito de reduzir os riscos de infecção, inflamação e trauma conjuntival, enquanto maximizam a correção da visão.

Lentes de contato hidrofílicas/gelatinosas

As lentes gelatinosas dominam o mercado, representando mais de 90% das prescrições no mundo. Essas lentes podem corrigir uma ampla gama de erros refrativos, abrangendo:

  • Miopia
  • Hipermetropia
  • Astigmatismo (com lentes tóricas)
  • Presbiopia (com lentes multifocais).

No entanto, nem todas as prescrições estão disponíveis em todos os materiais ou marcas, e certos problemas refrativos, como aqueles causados por ceratocone ou outras distorções corneanas, podem não ser corrigíveis com lentes gelatinosas.

Em geral, as lentes gelatinosas são notavelmente confortáveis e mais fáceis de se adaptar do que as lentes rígidas. No entanto, os pacientes que as utilizam necessitam de acompanhamento regular e devem aderir rigorosamente aos regimes de cuidados com as lentes para prevenir problemas oculares graves.

Lentes rígidas permeáveis a gases

Esse tipo de lente mantêm uma forma específica, embora possuam certa flexibilidade. Em comparação com as lentes de contato gelatinosas, essas lentes geralmente oferecem melhor acuidade visual e são mais duráveis, porém exigem um período de adaptação mais longo.

Estudos indicam que, embora a maioria dos pacientes se adapte às lentes após quatro a sete dias de uso, há uma variabilidade significativa no tempo de adaptação completa, que pode variar de 7 a 30 dias. Normalmente, as lentes RGP devem substituídas após dois a três anos de uso.

Essas lentes frequentemente são empregadas para alcançar a acuidade visual ideal em pacientes que não tiveram sucesso satisfatório com lentes gelatinosas. Além disso, geralmente são mais adequadas para indivíduos que sofrem de algum grau de olho seco.

Esclerais

As lentes esclerais têm um diâmetro maior (até 24 mm) e são prescritas para cobrir completamente a córnea. Dessa forma, essas lentes são projetadas para se estenderem além da córnea e repousarem na conjuntiva que reveste a esclera, proporcionando conforto ao usuário. Assim, por abrangerem completamente a superfície da córnea, elas retêm um reservatório de lágrimas entre o cristalino e a córnea.

As lentes esclerais são úteis para corrigir a visão em situações de córneas irregulares ou distorcidas, como em pacientes com:

  • Ceratocone
  • Ceratoplastia pós-penetrante
  • Uma cirurgia pós-refrativa
  • Cicatrizes na córnea e diversas doenças da superfície ocular (como olho seco grave, doença do enxerto-contra-hospedeiro, síndrome de Stevens-Johnson e penfigoide ocular).

O manuseio e a adaptação de lentes esclerais requerem treinamento especializado por parte dos profissionais para avaliar as características únicas e possíveis complicações relacionadas a essas lentes. Além disso, os pacientes que as utilizam necessitam de técnicas e soluções especiais para aplicação e remoção, bem como para o uso e cuidado adequados.

Lentes de contato híbridas

Os diversos designs de lentes híbridas podem ser adaptados para corrigir:

  • Miopia
  • Hipermetropia
  • Astigmatismo
  • Presbiopia (com design multifocal)
  • Ceratocone
  • Olhos pós-cirúrgicos
  • E outros casos de astigmatismo irregular.

Dessa forma, as vantagens das lentes híbridas incluem excelente acuidade visual, maior conforto em comparação com as lentes rígidas permeáveis a gases e uma ampla variedade de parâmetros e designs disponíveis. Por outro lado, as desvantagens das lentes híbridas envolvem a aplicação e remoção mais desafiadoras e custos mais elevados em comparação com outras opções de lentes.

Como a adaptação das lentes de contato em casos especiais deve ser realizada?

A adaptação de lentes de contato é uma feita por médicos oftalmologistas. Uma avaliação completa antes da adaptação é essencial para identificar fatores de risco e determinar a melhor combinação de lentes e cuidados para garantir conforto, visão adequada e manutenção fácil a longo prazo.

Uma avaliação completa pré-adaptativa deve abranger diversos aspectos, incluindo:

  • Refração e medição da acuidade visual
  • Ceratometria
  • Topografia corneana
  • Avaliação biomicroscópica da córnea, conjuntiva e pálpebras
  • Adaptação empírica e/ou diagnóstica
  • Instruções detalhadas sobre aplicação/remoção, cuidados com as lentes e soluções de limpeza, tanto presencialmente quanto através de materiais instrucionais como vídeos pré-gravados, instruções escritas e links para recursos online.

Após a primeira entrega das lentes, as avaliações de acompanhamento devem incluir:

  • Avaliação biomicroscópica da córnea, conjuntiva e pálpebras com e sem as lentes de contato
  • Medição da acuidade visual
  • Revisão dos procedimentos de cuidado, manuseio e desinfecção.

Geralmente, novos usuários de lentes de contato devem ter consultas na primeira semana, após um mês, seis meses e, subsequentemente, anualmente. No entanto, a frequência dessas consultas pode variar dependendo do tipo de lente, horário de uso e condição ocular específica que está sendo tratada.

Quando é necessário substituir as lentes de contato?

Geralmente, as lentes de contato são classificadas em três tipos principais em termos de programação de substituição:

  • Lentes descartáveis diárias: são lentes de contato projetadas para uso único durante um dia e devem ser descartadas após cada uso. Elas não exigem limpeza ou desinfecção, proporcionando praticidade e reduzindo o risco de contaminação.
  • Descartáveis frequentes: são usadas por um período determinado, geralmente entre uma semana e um mês, antes do descarte. Dessa forma, são removidas, limpas e armazenadas adequadamente todas as noites.
  • Lentes reutilizáveis convencionais: são utilizadas por um período mais longo, geralmente entre seis meses e um ano, antes de serem substituídas. As lentes são limpas diariamente e armazenadas durante a noite.

Além disso, a frequência de substituição das lentes de contato também pode variar de acordo com as necessidades individuais do paciente, o tipo de correção visual necessária e a saúde ocular geral.

Quais as principais complicações que uma adaptação inadequada pode causar?

As lentes de contato oferecem uma solução conveniente para a correção visual, mas é importante que os médicos estejam cientes das complicações potenciais associadas ao seu uso. Entre essas complicações, destacam-se úlceras da córnea, abrasões corneanas e ceratite infecciosa, exigindo uma avaliação oftalmológica imediata diante de sintomas como visão turva, dor ou fotofobia.

O uso de lentes de contato e soluções para cuidados oculares pode desencadear diversas reações adversas, incluindo:

  • Irritação ocular
  • Depósitos nas lentes
  • Corpos estranhos sob as lentes
  • Reações alérgicas aos conservantes presentes nas soluções de limpeza.

No entanto, seguir procedimentos adequados para o cuidado das lentes de contato pode ajudar a minimizar o risco de infecção. Entre os problemas oculares comumente relatados estão a vermelhidão, coceira, olho seco induzido por lentes de contato, reações alérgicas, e diferentes formas de conjuntivite.

Para casos leves de vermelhidão ou coceira sem comprometimento da visão ou dor, a recomendação inicial é remover as lentes de contato e usar colírios lubrificantes, como lágrimas artificiais ou colírios anti-histamínicos de venda livre. Os pacientes tem o dever de relatar qualquer agravamento dos sintomas ou surgimento de novos. Assim, após a resolução dos episódios menores, ajustes no cronograma de substituição, tempo de uso ou tipo de lente podem ser necessários para evitar recorrências.

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Referência bibliográfica

  • Cope JR, Collier SA, Rao MM, et al. Dados demográficos e comportamentos de risco de usuários de lentes de contato para infecções oculares relacionadas a lentes de contato – Estados Unidos, 2014. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2015; 64:865. Disponível aqui. Acesso em 03 de Março de 2023.
  • Nicholas JJ, Starcher L. Lentes de contato 2019. Cont Lens Spec 2020. Disponível aqui. Acesso em 03 de Março de 2023.