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Teste ergoespirométrico: como realizar o exame e elaborar o laudo?

Tudo que você precisa saber sobre o teste ergoespirométrico, um teste de esforço que avalia as condições cardíacas e pulmonares.

O teste ergoespirométrico, também conhecido como teste cardiopulmonar, é uma ferramenta útil e completa na avaliação da capacidade funcional cardiovascular e respiratória de pacientes, sendo um importante exame diagnóstico em diversas condições médicas.

Este exame fornece informações valiosas sobre a resposta do organismo ao exercício, possibilitando a identificação de disfunções cardiovasculares, respiratórias e metabólicas. 

Neste texto, abordaremos os procedimentos necessários para a realização do teste ergoespirométrico e as diretrizes para a elaboração do laudo, visando auxiliar médicos na interpretação e aplicação clínica dos resultados.

Teste ergométrico x Teste ergoespirométrico: qual a diferença?

O teste ergométrico e o teste ergoespirométrico são ambos exames utilizados na área médica para avaliar a capacidade cardiovascular e respiratória dos pacientes, mas diferem em seus objetivos, métodos e informações fornecidas.

Teste ergométrico

O teste ergométrico, também conhecido como teste de esforço ou teste de esteira, tem como objetivo principal avaliar a resposta cardiovascular ao exercício físico. 

Durante o teste, o paciente realiza um esforço físico gradual em uma esteira rolante ou bicicleta ergométrica, enquanto seus sinais vitais, como frequência cardíaca, pressão arterial e eletrocardiograma (ECG), são monitorados.

Dessa forma, este exame fornece informações sobre a capacidade de resposta cardíaca ao exercício, a presença de arritmias cardíacas, a pressão arterial durante o esforço e a presença de sintomas como dor no peito, dispneia ou fadiga excessiva.

Leia mais sobre o assunto:

Teste ergoespirométrico

O teste ergoespirométrico é um teste ergométrico que  vai além da avaliação cardiovascular. Ele incorpora a mensuração de variáveis respiratórias, proporcionando uma visão mais abrangente da capacidade funcional do paciente. 

Além de incluir os componentes do teste ergométrico, o teste ergoespirométrico monitora a ventilação pulmonar, o consumo de oxigênio (VO2), a produção de dióxido de carbono (VCO2) e outras variáveis respiratórias enquanto o paciente realiza o exercício.

Assim, é possível analisar o sistema cardiovascular, respiratório, vascular pulmonar e músculo esquelético ao estresse físico. 

Imagem 1: Principais diferenças entre o teste ergométrico e o teste cardiopulmonar de exercício. Fonte: Atualização da Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte – 2019

Indicação e contraindicação do teste ergoespirométrico 

Indica-se o teste ergoespirométrico em uma variedade de situações clínicas, incluindo a avaliação pré-operatória de cirurgias de grande porte, investigação de dispneia de origem indefinida, avaliação de pacientes com insuficiência cardíaca, isquemia miocárdica entre outras condições. 

Na prática, a sua grande utilidade e indicação é para avaliar a capacidade funcional ou potência aeróbica, pelo consumo máximo de oxigênio e o limiar anaeróbio ventilatório. Assim, pode-se utilizar na avaliação de pessoas sedentárias, ativas, cardiopatas, pneumopatas, entre outras, observando, por exemplo, o condicionamento, a aptidão física e a evolução do paciente ao realizar uma atividade física.

Segundo a Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte de 2019, o teste cardiopulmonar pode ser relevante para:

  • Atletas master
  • Indivíduos com enfermidades cardiovasculares e/ou pulmonares que participem de atividades como maratonas, ciclismo, travessias aquáticas
  • Atletas profissionais. 

Nesses atletas, é possível identificar ainda fatores limitantes aos esforços máximos, com o objetivo de alcançar a melhor performance. 

Contudo, existem algumas contraindicações, como a presença de instabilidade hemodinâmica, infarto agudo do miocárdio recente, embolia pulmonar não tratada, entre outras. É essencial revisar cuidadosamente o histórico clínico do paciente antes de indicar o teste.

Como funciona o teste?

Antes da realização do teste ergoespirométrico, é crucial realizar uma avaliação clínica completa do paciente. Informações sobre doenças prévias, medicações em uso, histórico de tabagismo e alergias são fundamentais. Além disso, oriente o paciente a não realizar refeições pesadas nas horas que antecedem o exame e a evitar o consumo de cafeína e tabaco.

Além disso, o teste deve ocorrer em um ambiente bem iluminado, limpo e com controle de temperatura ambiente (entre 18º e 22ºC) e umidade relativa do ar (entre 50 e 70%), objetivos alcançados por meio de equipamentos como refrigeração, aquecimento, umidificadores, aferidos por higrômetro e termômetro.

Aparelhos utilizados no teste ergoespirométrico

Utiliza-se um computador central, ergômetro que pode ser uma esteira ou um cicloergômetro), oxímetro, monitor de pressão, medidor de ventilação e analisadores de gases. 

Serão registradas as informações sobre: 

  • Consumo de oxigênio (VO2) e produção de gás carbônico (VCO2);
  • Equivalentes ventilatórios de oxigênio (VE/ VO2) e do gás carbônico (VE/ VCO2);
  • Pulso de oxigênio (VO2/FC);
  • Quociente respiratório (RQ ou R = VCO2/ VO2); Observação : Utiliza-se a sigla RQ até que o 1º limiar ventilatório seja atingido. Após o primeiro limiar ventilatório ser atingido, usa-se a sigla R.

É preciso ainda equipamentos de emergência, como desfibrilador e medicamentos. 

Quais as variáveis encontradas no teste?

O teste fornece informações cruciais para o treinamento, incluindo o consumo máximo de oxigênio e os limiares ventilatórios, que são indicadores importantes de condicionamento físico. 

O limiar anaeróbio (LAn), que reflete a aptidão física, pode ser utilizado tanto na prática clínica quanto no treinamento atlético. Ele é caracterizado pela intensidade de esforço acima da qual a produção de ácido lático supera sua remoção, causando hiperventilação, aumentando desproporcionalmente a glicemia, no lactato sanguíneo (lac) e na ventilação pulmonar (VE), ocasionando ainda uma diminuição no pH. 

O limiar anaeróbio é considerado um indicador vital do condicionamento em diversos grupos de indivíduos, sendo crucial nas ciências do exercício. Apesar disso, utiliza-se o limiar de lactato (LL) para avaliar o desempenho aeróbico do paciente. 

Já o VO2máx, que representa a potência aeróbica máxima, é fundamental para avaliar a capacidade funcional, indicando a quantidade máxima de energia que o metabolismo aeróbico pode produzir em uma unidade de tempo.

O Limiar Ventilatório (LV) representa a mudança do metabolismo energético e ele será o valor entre o Limiar ventilatório 1 (LV1) e o Limiar Ventilatório 2 (LV2). Para avaliarmos os militares ventilatórios, utilizamos o equivalente ventilatório (VE), equivalente ventilatório de O2 (VE/VO2) e o equivalente ventilatório de CO2 (VE/VCO2). Assim temos:

  • LV1: identificado pelo aumento do VE/VO2 e sem aumento de VE/VCO2
  • VL2: elevação de VE/CO2. 

O VL2 é chamado de ponto de compensação respiratória (PCR), já que representa no exercício físico o aumento da ventilação. 

Como analisamos o teste ergoespirométrico?

O laudo ergoespirométrico é dado pela identificação dos limiares ventilatórios, com base  nas variações da ventilação pulmonar (VE) com relação ao consumo de oxigênio (VO2) e a produção de dióxido de carbono (VCO2). 

Deve-se ainda fornecer informações sobre:

  • Pressão expirada final de oxigênio (PetO2) e de dióxido de carbono (PetCO2)
  • VE/VO2 
  • VCO2/VO2

O Lan é identificado no momento que ocorre mais de uma variação em determinados  índices ventilatórios: perda da linearidade entre a produção de VCO2 e o consumo de  VO2(VCO2/VO2), perda da linearidade entre VE e o VO2(VE/VO2) e menor valor de  PetO2 acompanhado de um aumento.

Imagem 2: Determinação do limiar anaeróbio. Fonte: YAZBEK Jr. et al, 1998.   

Identifica-se o PCR analisando o equivalente ventilatório de dióxido de carbono  (VE/VCO2) e a pressão expirada final de dióxido de carbono (PetCO2), sendo identificado  o  PCR no ponto onde perde-se  a linearidade da relação de VE e VCO2 e/ou o maior valor de PetCO2 antes de uma queda abrupta. 

Na imagem abaixo é possível observar como essas variáveis aparecem no monitor do computador: 

Imagem 3: Variáveis observadas durante a prova espirométrica. Fonte: YAZBEK Jr. et al, 1998. 

Assista ao vídeo e veja como funciona na prática

Laudo do teste ergoespirométrico

Ao elaborar o laudo do teste ergoespirométrico, é crucial fornecer informações claras e objetivas que orientem o médico solicitante na tomada de decisões clínicas. O laudo deve conter os seguintes elementos:

  1. Dados do Paciente: Inclua informações básicas, como nome, idade, sexo, peso e altura.
  2. Histórico Clínico: Sumarize o histórico clínico relevante do paciente, destacando condições médicas prévias, medicações em uso e sintomas relatados.
  3. Procedimento do Teste: Descreva detalhadamente o protocolo de exercício utilizado, a duração do teste, os sintomas apresentados pelo paciente durante o exame e qualquer intercorrência significativa.
  4. Parâmetros Ergoespirométricos: Apresente os valores obtidos durante o teste, incluindo o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx), o limiar anaeróbio, a frequência cardíaca máxima atingida e outros parâmetros relevantes. Descreva todas as variáveis analisadas.  
  5. Avaliação Interpretativa: Análise dos resultados à luz das condições clínicas do paciente, fornecendo insights sobre a capacidade funcional cardiovascular e respiratória. Destaque qualquer anormalidade observada.
  6. Recomendações e Considerações Clínicas: Com base nos resultados, forneça recomendações para a conduta clínica, tratamento ou encaminhamentos adicionais. Destaque possíveis limitações do teste, se aplicável.
  7. Comparação com Valores de Referência: Compare os resultados do paciente com valores de referência normativos para a faixa etária e o sexo, destacando discrepâncias significativas.
  8. Assinatura e Carimbo: Finalize o laudo com sua assinatura, carimbo e data, garantindo sua validade legal e profissional.

Ergoespirometria e Reabilitação Cardiovascular

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Referências

  1. Ghorayeb N, Stein R, Daher DJ, Silveira AD, Ritt LEF, Santos DFP et al. Atualização da Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019; 112(3):326-368.
  2. HOSSRI, C.A.C.; ARAKAKI, H. Indicações do Teste Cardiopulmonar na Avaliação de Pacientes com Insuficiência Coronária. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 12 — No 1 — Janeiro/Fevereiro de 2002
  3. SOUZA, F.G.; JAIME, P.J.D.C.; CUNHA, R.M. Teste ergoespirométrico aplicado à prática do exercício físico: um estudo de revisão. Revista Movimenta ISSN:1984-4298 Vol 6 N2 (2013). 
  4. GUIMARÃES, J.I. et al. Normatização de técnicas e equipamentos para realização de exames em ergometria e ergoespirometria .  Arq. Bras. Cardiol. 80 (4) • Abr 2003
  5. YAZBEK Jr, P. et al. Ergoespirometria. Teste de Esforço Cardiopulmonar, metodologia e interpretação. Arq Bras Cardiol 6 volume 71, (nº 5), 1998.