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Saiba mais sobre a ginecologia natural

Muito se fala por aí na ginecologia natural: ela é frequentemente associada a um cuidado mais “caseiro”, com medicamentos naturais, ervas e muito do uso dos conhecimentos mais ancestrais das mulheres sobre sua saúde. E por isso mesmo, tende a ser desacreditada e subestimada por médicos, principalmente os ginecologistas. Mas será que eles têm o que aprender com esse método?

O que é a ginecologia natural?

Hoje a ginecologia natural é considerada uma terapia holística, tanto que não é aplicada necessariamente por médicos. No entanto, os ginecologistas podem se valer dos conceitos dela em sua clínica, aliando com os conhecimentos da medicina ocidental e alopática.

Basicamente, a ginecologia natural usa sabedoria ancestral sobre os ciclos do corpo feminino e visa tratá-los considerando sua natureza e não alterando-os com bloqueios hormonais, como as pílulas anticoncepcionais. Semelhante à medicina integrativa, ela visa tratar a paciente hoje e não apenas seus quadros de saúde – tanto que a tradução do nome desse movimento em inglês é “holistic gynecology”, ou seja, ginecologia holística.

O mercado em torno dessa técnica

A ginecologia natural vem ao encontro de pacientes que querem se conectar mais com seu corpo e retomar a vivência do ciclo menstrual, que é anulado quando se faz uso de contraceptivos hormonais. O que tem sido bastante observado em comunidades na internet e em alguns consultórios: na dissertação de mestrado “Adeus, hormônios’: concepções sobre corpo e contracepção na perspectiva de mulheres jovens”, defendida pela antropóloga Ananda Cerqueira na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em 2018, foi mapeado por que algumas mulheres têm feito essa escolha.

Cerqeira percebeu que as mulheres que preferiam não usar mais controle hormonal o faziam para ter um “autocontrole” maior e conhecerem melhor a natureza de seus corpos. Para prevenir a gestação, elas estavam adotando métodos como preservativo, DIU de cobre, método sintotermal e tabelinha (desta vez feita por aplicativos). O movimento é maior entre pacientes das regiões Sul e Dudeste e com até 34 anos de idade.

Em entrevista à Agência Universitária de Notícias da USP, Cerqueira analisa: “são mulheres tomando mais consciência sobre seus processos. Há um movimento de viver natural que a gente tem visto muito nas redes sociais, como o uso de produtos não testados em animais, comida natural orgânica, valorização do cabelo sem química. Na minha visão, tudo isso se relaciona. Pela análise dos discursos, não eram coisas descoladas. É um grupo de pessoas que está tentando aliar a crítica à forma de viver”.

Ginecologia natural tem só receitas caseiras?

Existem muitas pessoas ligadas à ginecologia natural que não são médicas e oferecem tratamentos com ervas. No entanto, quando conduzida por um ginecologista formado e sério, ele pode atender essa demanda que acabamos de apresentar com embasamento científico e cuidado.

Dentro dos preceitos da ginecologia natural está em conversar mais com sua paciente, tendo consultas mais longas e olhando-a como um todo. Isso inclui entender quais fatores no estilo de vida dela podem estar contribuindo para uma questão ginecológica atual ou futura.

Além disso, as opções contraceptivas costumam ser mais bem explicadas, para que a paciente faça sua escolha sobre como lidar com seu corpo. Muitas vezes o médico ginecologista natural consegue aliar tanto medicamentos quanto o conhecimento de ervas naturais para atender seus pacientes.

As técnicas como a mandala lunar ou os diários sobre o ciclo menstrual conectam a paciente com seu próprio ciclo, entendo melhor como seu corpo funciona. E mais, outro ponto importante da ginecologia natural está em olhar para o impacto ambiental das escolhas, incentivando a mulher a trocar os absorventes industriais por opções de pano ou coletores mentruais, produzindo menos lixo.

No final das contas, a ginecologia natural prega muito mais uma humanização do tratamento das mulheres, trazendo para elas mais informações sobre seu corpo, acolhimento a suas dores e promovendo autonomia.

Referências

AUN – Agência Universitária de Notícias. “Em busca de corpo ‘natural’, mulheres deixam de tomar anticoncepcional”. Disponível em: https://aun.webhostusp.sti.usp.br/index.php/2018/10/17/em-busca-de-corpo-natural-mulheres-deixam-de-tomar-anticoncepcional/. Consultado em: 15/03/2023

3 Replies to “Ginecologia natural: por que adotá-la em consultório?”

  1. Na verdade os médicos, especialistas ou não, vêm tendo cada vez menos tempo em ouvir as pessoas, apressando-se em passar uma série de exames sem justificação e uma receita com vários medicamentos, sem nenhuma explicação.
    Isso realmente vem ferindo o lado humano e natural dos problemas de saúde complicando mais ainda o sofrimento. De facto atitudes mais personalizaras de atenção, orientações, como boa alimentação, exercício físico ou até chás e relaxamento (no stress) poderiam resolver o problema.
    Há que humanizar a prática médica e fazê-la com menos danos possíveis.

  2. Uma excelente abordagem. Esse conhecimento agrega valor ao atendimento e auxília mulheres em outras esferas. O olhar para o todo, não apenas para queixas ginecológicas, é a única maneira de cuidar integralmente.

  3. Não deixa de ser interessante está abordagem mesmo por que muitas clientes querem informações sobre este tipo de abordagem. Mas me preocupa o fato de que todo modismo tende a banir o método anterior o que poderá levar uma negligência ao diagnóstico e tratamento de afecções de graves consequências tais como Hpv e as Dsts em geral.

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