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Aprendendo de forma prática a avaliação da fossa ilíaca direita

Conheça como fazer a avaliação ultrassonográfica das vísceras ocas localizadas na fossa ilíaca direita. Revise conceitos importantes para a análise!

Neste artigo você aprenderá sobre o papel da ultrassonografia na avaliação das vísceras ocas. Ao final dele você será capaz de reconhecer anatomia das camadas intestinais, avaliação da fossa ilíaca direita, diferenciação entre intestino grosso e delgado e entender os pontos anatômicos de referência para encontrar o apêndice através da ultrassonografia.

Você ainda será lembrado sobre os critérios para sugerir o diagnóstico de apendicite aguda no seu laudo, bem como seus principais diagnósticos diferenciais.

O que são vísceras ocas? 

As vísceras ocas são órgãos do corpo humano que possuem uma cavidade interna ou espaço vazio. Essas cavidades podem se expandir ou contrair para armazenar substâncias, conteúdos heterogêneos, como líquidos, gases, sangue, etc. 

As principais vísceras ocas do corpo humano fazem parte do trato gastrointestinal. São elas: 

  • Estômago
  • Intestino delgado: duodeno, jejuno e íleo
  • Intestino Grosso: ceco, cólon e reto

Além desses, ainda temos como vísceras ocas a vesícula biliar, bexiga e os vasos sanguíneos e linfáticos. 

Diante dessa variação do conteúdo dentro desses órgãos, é importante que se tenha um conhecimento bem consolidado sobre a parede dessa víscera, já que ela é fixa e ajudará a identificá-los e distingui-los na ultrassonografia.

Região da fossa ilíaca

A fossa ilíaca é uma região anatômica do corpo humano localizada na região abdominal, especificamente nas laterais do abdômen inferior, logo acima da crista ilíaca. Ela é dividida em duas partes: a direita e a esquerda. Essa região é de grande importância clínica, pois muitos órgãos e estruturas estão localizados nela.

Entre as regiões do abdome, a fossa ilíaca direita é uma das que os pacientes mais referem dores. Além disso, costuma ser uma região comum de traumas, devido à sua estrutura. Assim, o médico deve ter um bom conhecimento anatômico e histológico para ajudar nos diagnósticos diferenciais. 

Anatomia

A fossa ilíaca direita está localizada no lado direito do abdômen. A crista ilíaca, que é a parte superior do osso do quadril, forma a borda superior das fossas ilíacas.

As estruturas que formam essa região são: 

  • Apêndice: pequeno órgão em forma de tubo, parte do sistema digestivo. Quando inflamado, pode causar apendicite
  • Cólon ascendente: Esta é a parte inicial do intestino grosso que se estende verticalmente pela fossa ilíaca direita.
  • Parte inferior do rim direito: A parte inferior do rim direito se estende até a fossa ilíaca direita.
  • Parte do intestino delgado: A parte inferior do intestino delgado, conhecida como íleo, passa pela fossa ilíaca direita.
  • E parte do intestino grosso: A extremidade superior do cólon ascendente, parte do intestino grosso, também está localizada na fossa ilíaca direita.

Histologia da fossa ilíaca

Para conhecer bem as paredes dos órgãos que compõem essa região, é importante conhecer então a sua histologia. 

Basicamente vamos falar aqui da histologia do intestino grosso e do intestino delgado. De forma geral, o trato gastrointestinal tem como principais camadas e estruturas histológicas a serosa, muscular, submucosa, musculares da mucosa, mucosa. 

Existem algumas variações entre a histologia do intestino grosso e do delgado. Confira abaixo cada uma delas.

Histologia do intestino delgado

O intestino delgado é a parte do sistema digestivo onde ocorre a maior parte da digestão e absorção de nutrientes. Sua histologia inclui:

Mucosa

A mucosa possui pregas circulares e vilosidades, que aumentam a área de superfície para absorção. Além disso, tem as células de absorção, chamadas de enterócitos, revestem as vilosidades e têm microvilosidades (“borda em escova”) para maximizar a absorção.

As Glândulas de Lieberkühn estão presentes entre as vilosidades e secretam muco e enzimas.

Submucosa

Contém vasos sanguíneos e vasos linfáticos importantes para a absorção de nutrientes. Possui o plexo submucoso de Meissner, que controla as funções secretoras e a motilidade do trato gastrointestinal.

Túnica Muscular (Muscularis Externa)

Possui uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. Essas camadas são responsáveis pelos movimentos peristálticos que impulsionam o conteúdo através do intestino delgado.

Serosa o peritônio

A serosa é uma camada que reveste a superfície externa do trato gastrointestinal em partes que estão em contato com a cavidade peritoneal.

Histologia do intestino grosso

O intestino grosso é responsável pela absorção final de água e eletrólitos, bem como pela formação e eliminação das fezes. Sua histologia inclui:

Mucosa

A mucosa do intestino grosso não possui vilosidades como o intestino delgado, uma vez que ambas têm funcionalidades diferentes. 

Possui criptas de Lieberkühn, que são invaginações que contêm células caliciformes produtoras de muco e células secretoras.

Submucosa

Semelhante à submucosa do intestino delgado, contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e o plexo submucoso de Meissner.

Túnica Muscular (Muscularis Externa)

Possui uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso, semelhante ao intestino delgado.

No entanto, a camada longitudinal externa é organizada em faixas musculares chamadas de “taenias”.

Apêndices Epiplóicos

Os apêndices epiplóicos são pequenos acúmulos de gordura e tecido linfático ao longo da serosa.

Serosa

A serosa reveste a maior parte do intestino grosso e é contínua com a membrana serosa do peritônio.

Doenças que atingem as vísceras ocas 

Dores na fossa ilíaca direita podem ser causadas por uma variedade de condições médicas. É importante ressaltar que o diagnóstico preciso requer avaliação por um profissional de saúde. Algumas das possíveis causas de dores na fossa ilíaca direita incluem:

  • Apendicite: A inflamação do apêndice é uma das causas mais comuns de dor na fossa ilíaca direita. A dor geralmente começa de forma vaga ao redor do umbigo e, com o tempo, migra para a fossa ilíaca direita, tornando-se mais aguda e intensa.
  • Doença Inflamatória Intestinal: Condições como a doença de Crohn ou a colite ulcerativa podem causar dor na região da fossa ilíaca direita, acompanhada de outros sintomas, como diarreia, perda de peso e desconforto abdominal.
  • Infecções Urinárias: Infecções no trato urinário, como uma infecção na bexiga ou no trato urinário inferior direito, podem causar dor na fossa ilíaca direita. Isso geralmente é acompanhado por sintomas como dor ao urinar e vontade frequente de urinar.
  • Hérnia Inguinal: Uma hérnia inguinal ocorre quando parte do intestino protrai através de uma fraqueza na parede abdominal. Isso pode causar dor e inchaço na região da fossa ilíaca direita.
  • Distúrbios Ginecológicos: Em mulheres, problemas ginecológicos, como cistos ovarianos, doença inflamatória pélvica ou gravidez ectópica, podem causar dor na fossa ilíaca direita.
  • Diverticulite: A diverticulite ocorre quando os pequenos bolsos na parede do intestino, chamados divertículos, ficam inflamados ou infectados. Isso pode causar dor na fossa ilíaca direita.
  • Gases ou Distensão Abdominal: Acúmulo de gases no intestino ou distensão abdominal pode causar desconforto e dor na região da fossa ilíaca direita.
  • Outras Causas: Outras condições, como problemas renais, problemas musculoesqueléticos ou até mesmo problemas da coluna vertebral, podem causar dor referida na fossa ilíaca direita.

Leia mais: você sabe quais são os achados de apendicite aguda à ultrassonografia?

Avaliação ultrassonográfica da fossa ilíaca direita: dica na prática

A ultrassonografia é um exame de imagem com alta precisão no diagnóstico diferencial da dor na fossa ilíaca direita. Ela tem a vantagem de ser de baixo custo, inócua, podendo ser levada ao paciente. Saber manuseá-la e realizar um bom exame ajuda nos diagnósticos diferenciais do pacientes do paciente. 

Após entendermos de que é composta cada parte da parede das estruturas da fossa ilíaca direita, é importante entender como iremos identificá-las na imagem do ultrassom. 

A serosa, juntamente com a submucosa vão se apresentar de forma ecogênica. Já a muscular e a musculares da mucosa, de forma hipoecogênica. A mucosa, por sua vez, será hiperecogênica. 

Para analisar de forma prática a fossa ilíaca, compreendendo a posição do avaliador, do paciente e como identificar cada estrutura, assista a videoaula abaixo. Ela tem todo o passo a passo que o médico deve seguir para uma boa avaliação dessa região. 

Ultrassonografia do Trato Gastrointestinal

Realizar ultrassonografia do sistema digestivo é um desafio complexo para ultrassonografistas, já que nem todos têm conhecimento adequado sobre sua aplicação correta. Para enfrentar essa questão, o Cetrus oferece um curso de Ultrassonografia do Trato Gastrointestinal, no qual os alunos terão a oportunidade de:

  • Dominar a realização segura do exame em situações como apendicite, diverticulite e outros processos inflamatórios;
  • Adquirir habilidades para identificar patologias pediátricas relevantes, como estenose hipertrófica do piloro e enterocolite necrosante;
  • Desenvolver a capacidade de analisar imagens ultrassonográficas do trato gastrointestinal de forma competente.

Referências 

  1. Gartner, L. P. & Hiatt, J. L. Tratado de Histologia em Cores. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
  2. Junqueira, L.C. & Carneiro, J. Histologia Básica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
  3. MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R.. Anatomia orientada para a clínica. 8 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019, 1095 p.

11 Replies to “Ultrassonografia das vísceras ocas: avaliação da fossa ilíaca direita”

  1. Professora Elizabeth obrigada pela aula! muito competente e didática nota10!!👏👏

  2. Excelente aula. Prof Elizabeth Ayub sempre muito competente e didática!

    1. Muito bom o material, a didática e o conhecimento da professora, parabéns.
      Gostaria de ver aulas de músculo esquelético, se possível.

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